Emissoras do Sistema Globo de Rádio, Bandeirantes, Jovem Pan, RBS e Eldorado
adotaram a nova tecnologia de transmissão nas cidades de Brasília, São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba. Segundo
Edilberto de Paula Ribeiro, presidente da Associação das Emissoras de Rádio
e Televisão do Estado de São Paulo (Aesp), algumas delas ainda estão
regulando o equipamento, mas "o conteúdo da rádio digital será transmitido
com uma qualidade de áudio muito melhor do que no rádio analógico".
Ribeiro comparou o ganho, para o usuário, com o da transição dos telefones
celulares analógicos para os digitais. E explicou que os cidadãos não
perceberão diferença nas rádios, já que é necessário possuir um aparelho
digital para captar a nova tecnologia.
Mas quem usa rádio analógico não será prejudicado, segundo Ribeiro, porque
haverá transmissão simultânea dos dois tipos de sinais. "Nós não vamos mudar
de freqüência, vai ser a mesma sintonia, sem nenhuma alteração",
acrescentou.
O presidente da Aesp disse acreditar que em 30 dias chegarão às lojas os
aparelhos com capacidade para sintonizar as rádios digitais. Eles estarão
disponíveis nos automóveis a partir do ano que vem.
No futuro, o sistema digital permitirá disponibilizar informações escritas
em um visor no próprio rádio, o que esta poderá ser uma importante forma de
acesso à informação para os portadores de deficiências auditivas. "Você
poderá fornecer o nome do cantor, o nome da música, informações de
temperatura, até mesmo informações de trânsito ou cotações de moedas,
informações do que estiver ocorrendo", exemplificou.
Apesar dos protestos de parte do governo, dos radiodifusores
comunitários e dos movimentos pela democratização das comunicações, as
emissoras de rádio comerciais já decidiram e começarão a testar, no
final de setembro, a tecnologia digital utilizando o padrão
norte-americano IBOC, criado por uma empresa dos Estados Unidos chamada
iBiquit. Os testes começarão por São Paulo. Atualmente, a transmissão de
rádio no Brasil é feita de forma analógica. O sinal digital ocupa menos
espaço no espectro de freqüência de radiodifusão e sofre poucas
interferências. Isso faz com que o rádio possa transmitir dados e ganhe
qualidade do áudio muito superior.
Os radiodifusores comerciais, representados pela Abert (Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), argumentam que o padrão
IBOC é o que melhor atende às suas necessidades, porque permite que
migrar para a tecnologia digital sem mudar de canal. Podem ocupar a
mesma faixa de freqüência e manter o número no dial (IBOC significa
In-Band On-Channel, no mesmo canal). Essa facilidade, na opinião de
Ronald Barbosa, assessor técnico da Abert, simplifica a implantação da
rádio digital e reduz os custos com a substituição de tecnologia. A
migração se daria apenas numa troca de equipamentos, que depende da
disposição financeira de cada emissora, mas independe de regulamentação
da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
A Casa Civil e os movimentos de defesa da radiodifusão comunitária,
contudo, não entendem assim. Apenas essa troca de equipamentos é
estimada em cerca de R$ 75 mil (US$ 30 mil), valor proibitivo para
rádios comunitárias. Para os defensores da democratização das
comunicações, a tecnologia digital pode mudar a radiodifusão no país e
abrir espaço para novos operadores e serviços diferentes e para a
popularização da produção e veiculação de conteúdos.
Mas o padrão IBOC é proprietário. Exige o pagamento de taxas (chamadas
royalties) aos fabricantes da tecnologia, o que significa custos altos
para os radiodifusores comunitários ou que não têm o poder de mercado
das grandes emissoras. Sem falar que a escolha do IBOC poderia encarecer
o aparelho de rádio digital. “A implantação da rádio digital não é tão
simples quanto trocar um equipamento. O rádio vai mudar com a tecnologia
digital e serviços multimídias poderão ser agregados”, ressalta André
Barbosa, assessor especial da Casa Civil para assuntos de
comunicação eletrônica de massa.
André Barbosa questiona a disposição das emissoras de testar apenas o
padrão IBOC, e a pressa com a qual a rádio digital poderá ser
introduzida no país sem uma discussão ampla entre governo,
radiodifusores e movimentos sociais. Para ele, outros padrões, como o
europeu DRM (Digital Radio Mondiale), não-proprietário, também têm que
ser testados. O Ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse que o
padrão DRM deverá ser testado por emissoras das principais capitais
brasileiras. Por não ser proprietário, permite que seus consorciados
(várias rádios públicas européias, como a BBC ou a Radio France)
desenvolvam pesquisas sobre a base tecnológica oferecida.
Já a Anatel argumenta que não há mais espaço no espectro de freqüência
de radiodifusão – isto é, não há mais lugar no dial para novas emissoras
ou para mudar de lugar as atuais – e, por isso, ao se fazer a
digitalização do rádio, é preciso uma solução que permita às emissoras
permanecer no mesmo canal. Segundo Ara Apkar Minassian, superintendente
de Comunicação de Massa da agência, o IBOC permite usar o mesmo canal.