No Portal
Thesis o registro do material publicado está aqui:
Estamos fechando o "Especial" mas o Debate continua
aberto.
Aguardamos a participação de todos: este é o momento de compartilhar o
conhecimento, de expor a "visão", de emitir a opinião; e de perguntar e
responder, que são as atividade básicas de nossos fóruns.
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa /
Thienne Johnson
Concluímos o mês dedicado ao Especial WiMAX
com uma certeza: o conteúdo que publicamos ao longo destes dias arranha a
superfície do mercado mundial, latino-americano e local do padrão. E não
poderia ser diferente. As grandes linhas de ação dos principais players do
setor para a nova tecnologia sem fio e móvel se mantêm em algumas gavetas
seguramente fechadas e nas cabeças de uns poucos stakeholders. O que 'vaza'
não é mais do quê eles desejam que se divulgue.
Muitos destes stakeholders realizam um jogo de
brinkmanship - ou a capacidade de se equilibrar no precipício contra todas
as probabilidades, muito comum na época da Guerra Fria entre capitalistas e
comunistas. Isto significa que alguns destes líderes da indústria mundial
sabem que defendendo esta ou aquela tecnologia, esta ou aquela estratégia
eles não fazem mais do que manter posição em terreno conhecido, esticando ao
máximo o lucro que podem obter - e vêm obtendo.
A 29 de março passado, a Comissão Européia
divulgou estudo que registra que as assinaturas de telefonia de móvel da
União Européia (EU) ultrapassaram o número de cidadãos pela primeira vez,
desde a criação do mercado de telefonia móvel. Com 478.4 milhões de
celulares em serviço, a penetração na Europa hoje é de 103% da população,
contra 95% em 2005.
É claro que os europeus também têm seus
contrastes. Na França, por exemplo, esta taxa é de 82%. E oito países
acusaram níveis de penetração - desta vez no segmento de banda larga -
inferiores a 10%. Ou seja, a telefonia celular é um caso de sucesso
inconteste. Mas a provisão de serviços de dados em banda larga ainda é
desafio.
Não é difícil concluir que os players europeus
(a maioria deles proprietários de operadoras multinacionais) corram para os
países em desenvolvimento para atingir novas taxas de penetração de
telefonia celular, em locais onde a população não dispõe de recursos de
primeiro mundo e aceitarão bem tecnologias de segunda geração. E menos
difícil ainda será concluir que, com taxas baixas de penetração em banda
larga não será fácil aos players do Velho Continente permitir que outras
soluções de provisão de banda larga móvel, mais baratas, se expandam em
níveis incontroláveis.
O que não significa que o WiMAX - ou qualquer
outra tecnologia móvel - seja panacéia para solução de todos os problemas de
acesso de dados em banda larga. O fato é que o padrão é uma solução de rádio
percebida como alternativa de baixo custo ao cabo e ao DSL e particularmente
útil para conexão à internet nas regiões pouco populosas, esquecidas das
operadoras. Graças a este novo padrão, o desenvolvimento de acesso à
internet tende a se generalizar e permitir a instalação de redes
metropolitanas (Metropolitan Access Network - MAN) ou ainda atualizar
rapidamente zonas não cobertas pela banda larga "clássica" (ADSL, cabo,
rádio local, além das soluções via satélite de custo ainda muito elevado).
Isto é um fato. Mas, como disse acima, não há
como ter acesso aos planos de longo prazo de quem investe no WiMAX. Ao lado
das questões industriais - produção e lançamento dos novos equipamentos e
produtos, licenciamento de bandas de radiofreqüência, harmonização das
diversas redes etc. - algo mais está em jogo nos países emergentes, como o
Brasil. Para tornar a modernidade acessível a todos, as tecnologias em ondas
de rádio - Wi-Fi, WiMAX e outras - se impõem. Elas podem transportar
informações à grande distância, sem que nenhuma estrutura pesada seja
necessária. Uma base leve, uma antena e fonte de energia são suficientes
para trazer internet, e-mail e Voz sobre IP às zonas rurais ou a cidades
cujos orçamentos anuais não permitem investimento pesado em infra-estrutura
de telecom.
Mas é necessário que alguém pague pela sua
instalação e exploração. É preciso que o governo, operadores e usuários
institucionais cubram os custos nos primeiros anos, até o tempo de
demonstrar sua utilidade, já que a rentabilidade é, evidentemente, o
objetivo principal. Empresas como a Intel, que não é filantrópica, já
implanta serviços com este fim - o PC Classmate é um exemplo. Em São Paulo,
Rio de Janeiro, Minas Gerais, Amazônia etc. os primeiros operadores
encontram-se em fase operacional com suas soluções WiMAX. Enfim, o
capitalismo trabalha.
Assim, a preocupação de membros da comunidade
ligada ao WiMAX, fora do ambiente industrial, é de que não aconteça com o
padrão apenas um jogo de equilíbrio no precipício com finalidades
exclusivamente de lucro. Ao lado de outras tecnologias, o fenômeno WiMAX
representa uma aposta comercial da qual um número de administrações,
empresas e operadores esperar tirar proveito, bem longe das idéias
comunitárias defendidas pelos pioneiros desta tecnologia.
É preciso lembrar, porém, que havia mais do
que objetivos comercias quando, em 1997, os engenheiros do IEEE, instituto
internacional de padronização, definiram a norma 802.11. Este padrão, que
precisava as freqüências de rádio e os canais utilizados para estabelecer
uma rede local sem fio a curta distância (num raio de uma centena de
metros), mais tarde batizado com o nome comercial de Wi-Fi, foi o ponto de
partida para a elaboração dos padrões 802.16. Em seu início, a pesquisa de
um padrão móvel para banda larga em ampla escala e de baixo custo visava
mais do que um novo nicho comercial. Detectou-se, há dez anos, a necessidade
de se criar uma maneira rápida e barata de levar tecnologia de ponta a
usuários tão diferentes quanto o camponês, o fazendeiro, o criador de gado
etc.
Após um mês tentando decifrar as estratégias
comerciais e de governo sob as inúmeras siglas técnicas, um verdadeiro
banquete de letras, concluímos que o crucial que levantamos foi esta
preocupação de que o WiMAX não ‘descambe' para um modelo puramente
comercial; que o licenciamento de freqüências não vise exclusivamente os
interesses comerciais e políticos e que seu desenvolvimento seja encarado,
por aqui, como ferramenta real de democratização do acesso a dados banda
larga. Foi o que alguns executivos (as) que entrevistamos nos
confidenciaram. Teríamos o maior prazer em abrir esta gaveta, mas, num
momento de definições de quem é quem no mercado brasileiro de WiMAX, muita
gente prefere contar o milagre e esconder o santo.