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Fevereiro 2007 Índice Geral do BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão Celld-group e WirelessBR. Participe!
• WiMAX (2) - Artigo: WIMAX em 3,5 GHz + Conversa de participantes: Elis entrevista José Roberto - Transcrição de mensagem para nossos Grupos vinculados:
Atualização: As matérias
estão transcritas mais abaixo!
Assunto 02:
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TELEFONIA DE CONTRASTES
O Brasil tem 100 milhões de celulares, mas a telefonia fixa estagnou e novas
tecnologias estão paradas na Anatel: cenário de telecom no país é confuso
Elis Monteiro
O mercado brasileiro de telecomunicaçõ
O dado principal: em telefonia móvel, embora o número de assinantes aumente a
cada dia, a cobertura geográfica dos serviços pouco muda. E aí vai uma notícia
triste: nada menos que 42% dos municípios brasileiros sequer têm cobertura de
telefonia móvel.
Nas regiões onde não há redes disponíveis, moram apenas 18 milhões de
brasileiros. Ass operadoras não se interessam por tais áreas, que vão gerar
menos lucro, e o governo não age como deveria, universalizando os serviços de
telecomunicaçõ
Paralisia da Anatel pode ser responsável por deficiências
De quem é a culpa pelo cenário? Pode parecer lugar-comum, mas é do governo,
principalmente da Agência Nacional de Telecomunicaçõ
- O ponto-chave do processo é que a Agência não está atuando de forma
independente. Eu tive a oportunidade de participar do primeiro texto da Lei
Geral das Telecomunicaçõ
- O Ministério das Comunicações deve traçar as políticas e à agência cabe
regulamentar. Mas o ministério não tem se antecipado para traçar as políticas,
esperando que a Anatel o faça. Mas esta é um órgão técnico. A questão é que o
governo não tem dado a devida importância à agência, a única que garante
segurança aos investidores. O governo passa, a agência, não.
Por que o mercado brasileiro não tem recebido tecnologias não só de telefonia
móvel (caso do 3G) mas também de operações fixas, como WiMax, IPTV (TV pela
internet) e mais banda larga? Muito se discute, pouco se faz. No 3G, por
exemplo, há pouco interesse por parte das operadoras GSM, principalmente
aquelas que investiram recentemente em redes novas. Se estas não querem,
outras estão à espreita, tencionando abrir novas frentes no mercado e prestar
serviços diferenciados. Mas sem os leilões, nada feito.
- Tem de haver equilíbrio entre a prestação do serviço e as oportunidades que
vão surgir em novos modelos. Por que os leilões estão paralisados? Não há
diálogo, não há equilíbrio entre as partes (operadoras, Anatel e governo). Não
existe um trabalho profundo na Agência que caracterize o IPTV, por exemplo,
como um serviço de telecom - diz José Roberto.
Em banda larga, a situação é tragicômica: enquanto nos grandes centros a
competição fica cada vez mais acirrada, com a disputa entre as empresas de TV
a cabo e operadoras de telefonia fixa, no resto do país sequer há linhas
telefônicas, quiçá DSL ou cable modem.
- A questão da banda larga é ridícula. Há dois grandes monopólios (empresas de
TV a cabo e operadoras de telefonia fixa) e pouca competição entre empresas
locais, que estão de olho só nas classes A e B1. As operadoras limitam o
crescimento de ofertas em função de sua capacidade operacional. Estamos na
faixa dos cinco milhões de usuários de banda larga, mas a rede telefônica tem
40 milhões de linhas. Há capacidade, sem necessidade de investimentos, para 20
milhões terem acesso ao DSL - diz José Roberto.
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MUITOS CELULARES, POUCAS LINHAS FIXAS
Orelhão ainda é saída para quem não tem (e nem vai ter) linha em casa
Elis Monteiro
Se banda larga ainda é sonho de muitos e realidade de poucos e o 3G fica
parado nas gavetas da Anatel, o cenário da telefonia fixa é ainda pior.
Simplesmente não há solução à vista. Para a população que não recebe linhas, a
única saída é o telefone público. Isso mesmo, o orelhão velho de guerra ainda
é a opção para milhões de brasileiros.
- Em número de clientes, a telefonia fixa no Brasil é estável, reflexo da
estabilidade econômica. Mas as operadoras ampliaram suas redes e esgotou-se a
capacidade aquisitiva da população. Quem pode ter telefone já tem. O mercado
atingiu a saturação - diz José Fernandes Pauletti, presidente da Abrafix
(Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo
Comutado).
Orelhão é a saída para a população sem telefone
Como sair da enrascada? Segundo Pauletti, com crescimento econômico e melhoria
da renda. A alternativa? Telefones populares, que dão isenção do pagamento da
assinatura básica, não resolveram o problema, porque os cidadãos não podem
pagar a conta, mesmo sem assinatura.
- O telefone público (orelhão) é que tem dado conta. O tráfego de uso deste
vem crescendo. Em qualquer localidade com mais de cem habitantes tem que haver
um telefone público. Outra alternativa é a telefonia móvel. Hoje, o serviço de
voz está se transferindo para o celular, por isso as operadoras estão
começando a oferecer tarifas de fixo no telefone móvel. Este é o primeiro
sintoma da convergência - diz.
Ou seja, a telefonia fixa está migrando para a móvel. Segundo o Atlas da
Teletime, o grande desafio da telefonia fixa é justamente chegar onde é menos
interessante para o mercado em termos financeiros, ou seja, os mais de 5.400
municípios fora dos grandes centros urbanos. É cada vez maior o número de
empresas recebendo sinal verde do governo para exploração nos locais não
atendidos, mas estas empresas acabam decidindo atuar exatamente onde já há
cobertura das concessionárias tradicionais. O resultado?
- As autorizações crescem onde já há empresas ofertando os serviços. E elas
acabam não os levando para onde não estão as classes A e B, não ampliam as
camadas atingidas. Socialmente, isso é muito ruim - diz Pauletti.
E, se a rede fixa não evolui, não é capaz de trazer consigo todas as benesses
a que, em países desenvolvidos, os consumidores já têm acesso.
Mesmo assim, ainda há esperança. Segundo o Atlas de Telecomunicaçõ
A tecnologia mais usada é a GSM, adotada por TIM, Brasil Telecom, Claro e Oi
(e, agora, Vivo, embora ainda de forma tímida). As redes com capacidade para
transmissão de dados ainda aparecem pouco - estão em 91 municípios. Mas o
cenário está mudando aos poucos. Já há 2.846 cidades usando tecnologia GPRS
(evolução do GSM). Destas,1.774 usam EDGE. Já em CDMA, há 1.861 com redes
1xrtt e 18 adotaram o EVDO. Ou seja, a passos lentos o Brasil caminha rumo à
adoção dos serviços diferenciados.
TELEF0NIA FIXA FICA ESTAGNADA
Elis Monteiro
Enquanto o mercado de telefonia móvel segue de vento em popa, o de telefonia
fixa estagnou e ficou mais concentrado nos grandes centros urbanos. Segundo o
Atlas de Telecomunicaçõ
A densidade de linhas em relação ao número de habitantes está em 27,2%. Este é
o número total de linhas instaladas, mas há que se considerar que nem todas
estão em serviço - pensando em teledensidade, apenas 20,8% delas estavam
funcionando em 2006. Ou seja, a maioria absoluta da população não tem acesso a
telefone fixos, mesmo com toda a concorrência e com promoções como isenção de
assinatura básica e cobrança por minutos em vez de pulsos.
Mais do que escassez de telefones fixos, o cenário se agrava por conta da
concentração: a maioria das linhas está instalada na Região Sudeste, tanto as
ofertadas por operadoras concessionárias quanto por autorizadas. Das 2, 668
milhões de linhas das autorizadas, 1,34 milhão estão no Sudeste, seguida por
Sul (571 mil linhas em serviço), Nordeste (449,8 mil), Centro-Oeste (196 mil)
e Norte (107,3 mil). O maior número de linhas está em São Paulo, pelo
potencial econômico e tamanho da população.
As concessionárias sempre concentraram o maior número de linhas,
principalmente por conta do tempo maior de exploração do serviço. No Sudeste,
estas empresas são responsáveis por 21,816 milhões de linhas, num total de
23,160 milhões. Já na Região Norte as incumbents oferecem 1,481 milhão. Ou
seja, a telefonia fixa no Brasil estagnou e parou de avançar Brasil adentro,
mesmo com o aumento da concorrência, com novas entrantes disputando o mercado
com as originais.
A conclusão do estudo é cruel: o Brasil tem 36,3 milhões de linhas sendo
oferecidas pelas concessionárias, mas, desse total, 62% estão em apenas cem
municípios. E o Brasil tem 5.561 cidades. Nestas cem cidades estão 40% da
população brasileira. E um terço dos telefones estão em apenas dez municípios.
Já nos 5.348 restantes, que representam 50% da população brasileira estão só
27% deles.
Resumo da ópera? Uma brecha entre os que têm telefone e os que sequer têm
previsão de ter.
CHEGADA DO 3G: ATRASO QUE PARECE ETERNO
Elis Monteiro
Afinal, por que estamos tão atrás do resto do mundo?
Alguma coisa acontece nos porões da Agência Nacional de Telecomunicaçõ
A agência está passando por um momento de mudanças - de conselheiros e até de
sua presidência. Enquanto isso, as empresas correm atrás da opinião pública
para que ela se sensibilidade e toque os projetos adiante.
Segundo Marco Aurélio Rodrigues, presidente da Qualcomm no Brasil (empresa
criadora do CDMA), há uma expectativa muito grande do mercado pelas mudanças
nos quadros da Agência, principalmente depois do lançamento do Plano de
Aceleração do Crescimento (PAC).
- Há um esforço grande do governo para comunicar ao mercado de que há
interesse no desenvolvimento econômico. O problema é que o 3G devia estar
incluído no PAC e não está. Ele vai gerar um novo ciclo de investimentos por
parte da iniciativa privada - diz.
Marco Aurélio se refere aos leilões das faixas de freqüência para o 3G, que
estão reservadas desde o ano 2000.
- Não existe nada de negativo nos leilões. O governo não perde nada. Já há
mais grupos anunciando seu interesse em participar dos leilões. Muitas
empresas precisam de novas freqüências. A Anatel já estruturou um desenho das
licitações, mas precisa levar adiante - diz.
O presidente da Qualcomm, claro, está fazendo o papel dele: defender sua
principal cliente no Brasil - a Vivo, única operadora CDMA em atuação, é a
principal prejudicada pelo atraso nos leilões, já que com isso vê frustrados
seus planos de expansão de cobertura. O grande problema - e talvez a
explicação para o entrave - é que as operadoras GSM (TIM, Claro e Oi) precisam
de novas licenças para prestar serviços 3G.
Os resultados negativos do atraso nos leilões do 3G? Em primeiro lugar, o
mercado brasileiro fica descompassado em relação ao que já é realidade no
exterior, principalmente na Europa. Em segundo lugar, o Brasil é um importante
exportador de aparelhos (foram US$3 bilhões em 2006) e, sem a adoção do 3G,
perdemos mercado.
- O agravante é que o 3G vai se disseminando e a tendência é que nossos
aparelhos pé-de-boi deixem de ser competitivos.
O terceiro motivo diz respeito ao preço dos serviços prestados em 3G, é o que
diz o presidente da Qualcomm. Segundo ele, quando se fala em banda larga, o
preço do bit é mais barato quando ofertado em alta velocidade.
- Com o 3G, as operadoras também podem criar pacotes de serviços mais baratos
para o consumidor. Todos ganham.
Tecnologia ainda está na fase de consulta pública
E a quantas anda a adoção do 3G, afinal? A tecnologia ainda está na fase da
consulta pública, cujo término está previsto para o primeiro semestre deste
ano. Enquanto isso, na Europa, mais de 80% dos novos assinantes já contam com
serviços 3G. Ou seja, o "gap" entre o Brasil e a Europa é cada vez maior.
A GSM Association, que defende as operadoras GSM no Brasil, também defende o
uso do 3G nos mercados de massa - para tanto, criou o programa "3G for All". A
instituição aposta no 3G como alternativa para projetos de inclusão digital,
inclusive com a venda de terminais de baixo custo (US$85). Aposta ainda na
adoção da tecnologia HSDPA, a banda larga do UMTS/WCDMA. A idéia é que não só
celulares possam ter acesso à banda larga sem fio, mas também notebooks, que
receberiam placas HSDPA para acesso em alta velocidade.
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