Para Wellington Salgado, debater
o processo de implantação da rádio digital no Brasil será
importante para orientar, no futuro, projetos de lei
voltados para a qualificação e o aperfeiçoamento do setor.
Segundo matéria do jornal O
Globo, esse conselho consultivo terá seis meses para
apresentar um relatório conclusivo sobre a implantação do
sistema de rádio digital. O organismo conta com 26 membros,
entre representantes da União; dos serviços de radiodifusão
comercial, educativa, comunitária e pública; da indústria;
dos usuários; do meio acadêmico e de anunciantes.
A reportagem informava ainda, em
março passado, que mais de 15 emissoras AM e FM no país
estavam testando a tecnologia Sistema de Radiodifusão Sonora
Digital IBOC (In Band On Channel). Já a Faculdade de
Tecnologia da UnB e a Radiobrás estavam experimentando outro
sistema: o Digital Radio Mondiale (DRM). Os testes nos dois
sistemas foram autorizados pela Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel).
(...)
04.
Duas perguntinhas básicas:
Por que esta "correria" para implantar o "Rádio Digital" no
país?
Por que a "academia" não foi chamada a estudar o problema?
05.Sobre a competência da nossa "academia" recomendo a leitura da
matéria abaixo sobre o "padrão brasileiro de TV digital".
Vale mesmo conferir!!!
Depois convido a todos para meditar e fazer a "transferência"
do que poderia ser o resultado de um esforço organizado e bem
financiado de nossas universidades e institutos de pesquisa.
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Em entrevista ao Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC) o professor da PUC-RS Fernando de Castro
afirma que em breve o Brasil poderá ser um dos maiores
exportadores de software voltados para televisão digital.
Castro, que é oordenador das pesquisas do Laboratório
Multidisciplinar para Tecnologias da Informação e
Telecomunicações (LMTIT) do Instituto de Pesquisas Científicas
e Tecnológicas (IPCT) da PUCRS sobre TV Digital, afirma que há
um padrão nacional tão bom quanto os estrangeiros.
Abaixo segue a entrevista:
"Em audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia da
Câmara dos Deputados, no dia 31/1, o ministro das
Comunicações, Hélio Costa, disse que a PUCRS sugeriu a adoção
de “um padrão de TV Digital que não existe”. Ele se referia ao
sistema de modulação Sorcer, genuinamente nacional,
desenvolvido nos laboratórios da instituição gaúcha e
recomendado para utilização no Sistema Brasileiro de TV
Digital (SBTVD). Para Fernando de Castro, coordenador das
pesquisas da universidade, a instituição obedeceu ao que foi
encomendado pelo governo. “Sendo inovador, o sistema proposto
não poderia contemplar qualquer padrão já existente”,
argumenta. O descontentamento do ministro tem explicação: os
dois outros consórcios que desenvolveram soluções para o
padrão de modulação da TV Digital utilizaram como base o
japonês.
Além de eliminar a necessidade de adoção de um dos três
padrões internacionais de modulação, a adoção do Sorcer traria
benefícios como a redução de custos ao consumidor, a livre
divisão do canais para diversas aplicações e a recepção móvel
em velocidades superiores a 120km/h. Trabalhos como esse
demonstram o potencial do Brasil para figurar entre os países
exportadores de tecnologia, garante Castro, nosso entrevistado
deste mês.
Qual sua avaliação sobre a contribuição da universidade
brasileira para o SBTVD? As pesquisas estão sendo valorizadas
como deveriam?
Fernando de Castro – O SBTVD estabeleceu um marco divisório:
pela primeira vez na história brasileira a academia se uniu em
torno de um grande desafio tecnológico, apresentando soluções
inovadoras, que nada deixam a desejar em termos do desempenho
comparativo às soluções estrangeiras. Todo este rol de novas
tecnologias desenvolvidas, estivéssemos nós no primeiro mundo,
já estariam protegidas por patentes internacionais e trancadas
a sete chaves em cofres de grandes conglomerados empresariais.
Não que haja negligência do governo brasileiro quanto a este
aspecto. Muito pelo contrário: providências estão sendo
tomadas pelo Grupo Gestor do SBTVD no que tange à propriedade
intelectual. A alusão à situação é apenas uma alegoria ao alto
valor intrínseco das inovações que resultaram do SBTVD. E é
justamente neste aspecto que o momento histórico parece
transcender o SBTVD, na medida em que, se a atual conjuntura –
desencadeada pelo SBTVD – for adequadamente explorada pelo
nosso governo, poderemos em poucos anos colocar o Brasil na
lista dos países exportadores de tecnologia. Isto não é uma
utopia nacionalista, visto que em sua esmagadora maioria as
grandes inovações tecnológicas recentes, nos mais variados
ramos da atual atividade humana, são basicamente processos ou
algoritmos implementados em software. O hardware está
gradativamente ocupando a posição de um mero substrato de
silício, com uma arquitetura lógica cada vez mais genérica e
de custo cada vez mais reduzido, sobre o qual um determinado
sistema é completamente caracterizado e definido pelo
respectivo software. Um exemplo disto é a tecnologia empregada
em telefonia celular. Justamente esta particular contingência
atual é que nos coloca em igualdade de condições com centros
de pesquisa tecnológica há séculos mais desenvolvidos: a
criatividade da mente brasileira. Pergunte-se a qualquer
centro de pesquisa e desenvolvimento de software a nível
mundial qual a nacionalidade preferida para seus pesquisadores
e desenvolvedores e notaremos que a nação tupiniquim ocupa uma
posição preponderante. O fomento desta área no Brasil aliado a
parcerias com a indústria certamente seria de efeito benéfico
na balança comercial brasileira, seja pela redução com gastos
em royalties, seja pela captação de royalties gerados por
tecnologia nacional utilizada no contexto internacional.
O ministro Hélio Costa sugeriu recentemente que a PUCRS
desenvolveu “um padrão que não existe”. Qual sua opinião sobre
este posicionamento público contra seu trabalho?
FC – Em 1933, Edwin Armstrong solucionou o problema do ruído
atmosférico que dificultava a recepção de rádio AM mediante o
uso de uma técnica inovadora denominada FM. Somente em 1937, a
indústria admitiu a validade da nova forma de modulação – o FM
–, apesar da queixa generalizada dos ouvintes quanto ao ruído
atmosférico. Qual seria a razão deste estranho comportamento?
Ocorre que as grandes indústrias, como a RCA e a Westinghouse,
ainda não haviam tido retorno sobre o capital investido no
desenvolvimento do AM. É o ferrenho conflito entre inovação e
padronização que se manifestava já naquela época. A PUCRS
recebeu a incumbência do governo brasileiro de desenvolver um
sistema de modulação de caráter inovador. Sendo inovador, o
sistema proposto não poderia contemplar qualquer padrão já
existente.
Quais foram os trabalhos de pesquisa realizados na PUCRS para
o desenvolvimento do SBTVD e qual foi o grau de inovação
alcançado por sua equipe?
FC – A PUCRS foi responsável por duas linhas de pesquisa,
desenvolvimento e inovação no contexto do SBTVD: uma é o
projeto Saint (Sistema de Antenas Inteligentes) e a outra é o
projeto Sorcer (Sistema OFDM com Redução de Complexidade por
Equalização Robusta). O Saint foi concebido de forma a prover
robustez adicional ao receptor de televisão digital. Em termos
simples, a ação dele consiste em efetuar ajustes na antena
receptora da mesma maneira que um usuário faria manualmente
objetivando a melhor qualidade de imagem. A diferença é que o
Saint faz eletronicamente esses ajustes, de forma automática,
sem o movimento de partes mecânicas e sem qualquer intervenção
do usuário. Isto permite redução de custo no receptor, e,
portanto, ao usuário final.
O Sorcer é um sistema de transmissão e recepção (modulação)
inovador, genuinamente nacional, concebido de forma a permitir
recepção de televisão digital em alta definição fixa e móvel,
a mais de 120 Km/h. Diferentemente dos demais sistemas OFDM
(sigla em inglês de Multiplicação Ortogonal por Divisão de
Frequência, tecnologia de transporte de dados por ondas de
rádio) para transmissão de televisão que utilizam um grande
número de portadoras (normalmente mais de 8000), o Sorcer
utiliza apenas 2048 portadoras, permitindo uma considerável
redução de custo no receptor, e, portanto, ao usuário final.
Quais foram os resultados obtidos? O que foi encaminhado ao
Comitê de Desenvolvimento do SBTVD?
FC – Quanto o Saint, sua concepção é tal que o sistema é capaz
de perceber o cenário de ondas eletromagnéticas interferentes
que incidem na antena receptora, cancelando ondas
interferentes provenientes de até duas direções distintas da
direção em que o sinal desejado é recebido. Isto significa que
o Saint aumenta a imunidade do receptor às inúmeras reflexões
do sinal ("fantasmas") que inevitavelmente ocorrem em regiões
urbanas. Ele permite a recepção do sinal desejado com menos da
metade da potência em relação ao nível de ruído sem que seja
afetada a qualidade da imagem. Além disso, quando implementado
em plástico metalizado (em escala industrial), o custo é
similar a qualquer antena interna passível de ser adquirida no
varejo. Quanto ao Sorcer, ele é altamente imune às inúmeras
reflexões do sinal ("fantasmas") que inevitavelmente ocorrem
em regiões urbanas. Ele é capaz de prover recepção móvel em
alta definição (HDTV, taxa de transmissão= 20 Mb/s) com o
receptor movendo-se a mais de 120Km/h. Também permite
subdividir livremente o espectro de 6MHz (um canal de
televisão) em quantos segmentos se deseje, cada um deles com
uma ocupação espectral, taxa de transmissão e robustez
configuráveis. Isto permite a transmissão de inúmeras
programações e conteúdos diversos simultaneamente dentro do
mesmo canal de 6MHz, como por exemplo, dados, rádio, televisão
em definição padrão (SDTV), etc... Além disso, o sistema de
equalização robusta do Sorcer determina o canal em todas as
freqüências possíveis, de modo que qualquer degradação em
freqüência é precisamente compensada, seja a degradação
imposta pelo canal seja a degradação imposta por
filtros/amplificadores de etapas analógicas do transmissor
e/ou receptor. Isto permite, por exemplo, que o Sorcer utilize
filtros com corte abrupto (fase não-linear) no transmissor,
obtendo-se máxima eficiência espectral com isto. A equalização
robusta desenvolvida para o Sorcer é passível de ser aplicada
aos demais sistemas OFDM nos quais o receptor estima o canal
com base na medição e interpolação de portadoras piloto em
apenas algumas freqüências do canal. O resultado obtido será
um aumento significativo da robustez do sistema OFDM ao
multipercurso dinâmico. Note que apenas o receptor necessita
ser alterado, o transmissor e parâmetros de transmissão
permanecem os mesmos. O processo de desconvolução de canal
adotado no Sorcer também é passível de ser aplicado a sistemas
single carrier como o ATSC (padrão americano), também sem a
necessidade de se alterar qualquer parâmetro ou característica
do transmissor. Da mesma forma que para sistemas OFDM, o
resultado obtido será um aumento significativo da robustez ao
multipercurso dinâmico (recepção móvel). O Sorcer foi testado
e validado em um ambiente de simulação especialmente
desenvolvido e que simula fielmente as condições de operação
encontradas em território brasileiro. Todos os processos
implementados foram avaliados quanto à sua complexidade
computacional de modo a não onerar a complexidade da
implementação em hardware. Inúmeros testes foram realizados,
onde estressou-se o sistema quanto ao multipercurso estático e
dinâmico, sempre buscando a taxa de transmissão alvo de 20
Mb/s, a qual viabiliza a recepção de HDTV. Uma avaliação
qualitativa preliminar do Sorcer indica um custo de
implantação intermediário entre um sistema single carrier e um
sistema OFDM usual. Todos os resultados obtidos foram
encaminhados ao CPqD, que deverá fazer o relatório ao Comitê
de Desenvolvimento do SBTVD.
Quais foram as principais dificuldades encontradas durante as
pesquisas?
FC – O atraso no repasse dos recursos originado pela tardia
assinatura dos convênios. O projeto Saint recebeu o repasse de
recursos em julho de 2005 e o projeto Sorcer em outubro de
2005. Isto dificultou sobremaneira a importação de
equipamentos e a contratação de recursos humanos.
Quais são as principais dificuldades de uma possível
implementação das soluções sugeridas por sua equipe?
FC – Sob o ponto de vista técnico, nenhuma. Tanto o Sorcer
quanto o Saint são tecnologias wireless (sem-fio) com plenas
condições de serem implementadas em qualquer plataforma de
hardware compatível com o conceito de Software Defined Radio (SDR,
ou Rádio Definido por Software, em português). O SDR está se
tornando uma quebra de paradigma e uma forte tendência na
indústria de telecomunicações a nível mundial.
Até que ponto o padrão de modulação escolhido, considerando
inclusive o Sorcer, pode determinar a configuração do restante
do modelo, principalmente dos modelos de negócios e de
serviços da TV Digital?
FC – Com certeza, em maior ou menor grau, o padrão de
modulação influenciará nestes aspectos. O Sorcer, devido à sua
flexibilidade, principalmente por permitir a transmissão de
inúmeras programações e conteúdos diversos simultaneamente
dentro do mesmo canal de 6MHz, impõe um baixo grau de
condicionamento na configuração dos modelos de negócios e
serviços.
Sobre o entrevistado: Fernando de Castro é doutor em
engenharia elétrica, professor universitário e coordenador das
pesquisas do Laboratório Multidisciplinar para Tecnologias da
Informação e Telecomunicações (LMTIT) do Instituto de
Pesquisas Científicas e Tecnológicas (IPCT) da PUCRS sobre TV
Digital."
Eduardo Lorea - Redação FNDC
Data da publicação: 13.02.2006