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Novembro 2007 Índice Geral do BLOCO
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• TV Digital (14) - Leitura obrigatória: Íntegra do artigo no Teleco - "Os mitos por trás de uma escolha"
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Comentário de Rogério Gonçalves, da ABUSAR
----- Original Message -----
From: Rogerio Gonçalves
To: wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Tuesday, November 20, 2007 1:17 PM
Subject: [wireless.br] Re: TV Digital (14) - Leitura obrigatória: Íntegra do
artigo no Teleco - "Os mitos por trás de uma escolha"
Oi Hélio,
Com certeza, este é o melhor artigo que eu já li sobre a tv digital.
Concordo contigo. Leitura obrigatória para todos que quiserem realmente
saber o que está rolando. Especialmente para quem já comprou ou vai comprar
tvs de plasma ou lcd.
Um abraço
Rogério
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Parte 1
Introdução
Muito se tem falado sobre HDTV, o Sistema de Televisão em Alta Definição,
cujo padrão foi recentemente definido para o Brasil. Porém, nas diversas
vezes que eu procurei alguma informação sobre este assunto, constatei um
profundo desconhecimento.
Manifestações politizadas e acusações sem fundamento técnico permearam as
discussões. Acabei por concluir que meu conhecimento estava muito acima
daquele disponível pelas pessoas que normalmente ocupam espaço na mídia, e
resolvi apresentar alguns pontos de vista que, acredito, sejam inéditos
nessa discussão.
Primeiramente é necessário distinguir o que é HDTV e o que é Televisão
Digital. Estes dois conceitos estão envolvidos nesta discussão, porém eles
significam coisas totalmente diferentes. HDTV é um novo sistema de
televisão, cuja principal característica é a qualidade da imagem,
representada tecnicamente pela resolução, ou número de linhas que compõe a
imagem. No padrão tradicional a imagem é composta por 480 linhas visíveis
na tela, enquanto que nos padrões de HDTV este número de linhas chega a
1080.
Este refinamento apresenta imagens mais nítidas, com mais definição de
detalhes, porém exige mais recursos para seu armazenamento, transmissão e
reprodução. Por outro lado, Televisão Digital significa um sistema de
televisão em que a transmissão dos sinais e o tratamento das imagens
ocorrem no formato digital, e não mais no formato analógico
tradicionalmente utilizado.
Os sistemas digitais geralmente possuem superioridade tecnológica sobre os
sistemas analógicos. Isto quer dizer que eles oferecem uma qualidade
superior por menor preço. No nosso mundo, sempre que algo assim acontece
determina o desaparecimento do sistema de qualidade inferior, pois ninguém
quer pagar mais por algo que oferece menos. Os sistemas digitais somente
se tornaram viáveis a partir do desenvolvimento da indústria de circuitos
integrados, ocorrida nos últimos 20 anos.
Com isso, observa-se uma tendência quase que generalizada de migrar os
sistemas existentes, criados com tecnologia analógica, para a tecnologia
digital. Assim como ocorre com a Telefonia, também no caso da Televisão, o
que dificulta esta transição é a existência de todo um parque criado com
equipamentos projetados para funcionar dentro de padrões estabelecidos há
várias décadas atrás, quando nem mesmo o transistor era conhecido.
No caso do sistema de televisão, a transição da tecnologia para o formato
digital representa uma evolução natural que, de certa forma, já vem
ocorrendo há algum tempo. Note-se, por exemplo, o desaparecimento dos
vídeos cassetes, que gravam os sinais no formato analógico, para dar lugar
aos aparelhos de DVD, que oferecem um resultado bastante superior a um
custo cada vez menor.
Neste particular, fica bastante evidente a vantagem da tecnologia digital,
especialmente quando ocorre uma popularização dos produtos, pois o custo
de produção cai extremamente. Por outro lado, nas geradoras e
retransmissoras de TV, os sinais são processados e retransmitidos na forma
digital. Apenas as transmissões para os aparelhos receptores domésticos é
que ainda utilizam o formato analógico, devido à ubiqüidade destes
equipamentos.
Um outro aspecto que incentiva a transição dos sinais analógicos de vídeo
para o formato digital é sua maior conformidade com os sistemas de
computação e integração com a Internet. Além disso, existe um recurso
bastante valioso para a difusão, que é o espectro de freqüências.
Um canal de televisão convencional utiliza 6 MHz de faixa espectral, e
esta faixa pode ser reduzida para apenas um quarto através da transmissão
digital, mantendo-se a mesma definição da imagem. Esta característica
representa um grande apelo na competição pelo uso do espectro, pois seria
possível multiplicar por quatro o número de canais no espaço hoje
reservado para o sistema aberto de televisão, mantendo-se a atual
definição.
Concluindo esta questão inicial, é preciso notar que existe uma
necessidade premente de abandonar o padrão atual analógico de Televisão,
seja para manter o sistema na mesma qualidade de imagem, seja para evoluir
para um padrão de Alta Definição. Ou seja, a grande discussão que houve
para a escolha de um novo sistema de TV foi para a definição de um padrão
de Televisão Digital.
Este novo padrão de televisão digital abre a possibilidade de se fazer
transmissões HDTV, as quais possuem uma qualidade superior de imagem. É
claro que a Alta Definição é o grande apelo desta transição e também é
fácil imaginar que em breve futuro este sistema deverá prevalecer a ponto
de extinguir o existente atualmente.
Embora o padrão escolhido realmente disponha de meios para a transmissão
de TV na definição convencional, acredito que isto não represente um
grande estímulo para a fabricação de televisores digitais com a resolução
tradicional.
Em linhas gerais, o sistema de televisão atualmente em uso no Brasil
utiliza imagens que se enquadram em uma matriz de 480 linhas por 640
colunas, o que resulta em 307 Kilopixel em cada quadro da imagem. O
sistema de HDTV utiliza uma tela com um aspecto mais retangular, com a
proporção de 9 X 16 ao invés do tradicional 3 X 4.
O número de pixeis na tela é dado por uma matriz de 1080 linhas por 1920
colunas, o que resulta em aproximadamente 2 Megapixel por quadro. Em ambos
os sistemas ocorre a exibição de 30 quadros por segundo. É fácil concluir
que esse aumento na definição da imagem implica em um aumento de quase
sete vezes na quantidade de informação, o que significa canais com taxas
de transferência ampliadas nesta mesma proporção.
Além disso, os conteúdos com vídeo em alta definição também exigem muito
mais espaço de memória para serem armazenados. Já existe uma nova geração
de DVD, capaz de fazer frente às novas exigências da HDTV e que amplia em
várias vezes a capacidade do atual formato de DVD. Também neste caso temos
ao menos dois padrões concorrentes disputando este promissor mercado de
mídia digital: O HD DVD e o Blu-ray.
Como conseqüência de uma maior taxa de transferência de informação, os
canais de HDTV também exigem uma maior faixa do espectro de freqüências.
Um canal de HDTV normalmente ocupa 6 MHz, que é a mesma faixa até então
utilizada no sistema analógico. Dessa forma, a faixa espectral que
comporta um canal de HDTV pode comportar até quatro canais digitais de TV
com a definição tradicional.
O padrão brasileiro de Televisão Digital
É possível que o Brasil tenha feito uma escolha acertada no padrão de
Televisão Digital. Entretanto, a componente benéfica desta dúvida reside
mais no acaso e nas incertezas do futuro do que nos esforços envolvidos na
escolha, pois as diretrizes não foram razoáveis e menos razoáveis ainda
foram os motivos que pretenderam justificar a escolha com base nestas
diretrizes.
Não se escolhe um padrão que deverá estabelecer por muitas décadas a forma
de fabricação dos equipamentos utilizados por milhões de pessoas em um
país sob uma ótica tão imediatista. Este sistema de Televisão Digital será
utilizado por nossos filhos, netos e bisnetos. Os maiores usuários deste
sistema serão constituídos de gente que ainda nem nasceu.
É lamentável ver representantes do governo virem a público mencionar que
"existe uma empresa que se comprometeu a fabricar os set-top-boxes por R$
20,00 a menos caso o sistema X seja escolhido". É claro que existem coisas
ainda mais lamentáveis: que o setor público delegue para pessoas sem
qualquer conhecimento técnico poderes para decidir sobre assuntos que
absolutamente desconhecem.
A tecnologia evolui muito rapidamente, permitindo que produtos
inicialmente fabricados a um custo elevado se tornem brevemente muito
acessíveis. Os fatores que determinam os custos dos produtos devem ser
levados em conta com bastante ênfase, porém não os custos atuais, que nada
representam em um cenário de médio prazo. Questões de monopólio, reservas
de mercado e facilidades de importação são fatores mais preponderantes
sobre a determinação do custo dos equipamentos do que o preço de produção
atual, que está a apenas um palmo do nariz.
Outra idéia estranha que foi bastante disseminada e ridiculamente
repetida, é que o padrão a ser escolhido deveria promover a "inclusão
digital", significando este requisito que a escolha deveria privilegiar o
sistema mais acessível ao público de baixa renda. Eu não deixo de louvar a
beleza de coração contida nesta preocupação, mas acredito que essa faixa
da população tenha outras prioridades, não relacionadas com a definição de
imagem de seus programas de vídeo.
A qualidade técnica do padrão a ser escolhido é um item que deve merecer
bastante atenção. E neste aspecto o Brasil conta com o benefício de estar
atrasado em relação aos países do primeiro mundo, podendo escolher uma
tecnologia melhor desenvolvida. Entretanto, deve-se tomar cuidado para que
a escolha não seja dominada por um preciosismo tecnicista, pois sabemos
que os padrões em uso atualmente atendem às necessidades de seus usuários,
sendo cosméticas as diferenças de desempenho entre estes padrões.
Outra questão de relevância nesta discussão é a nacionalização
tecnológica. O Brasil chegou a desenvolver um sistema de Televisão Digital
que recebeu o nome SORCER. Este sistema, que apresenta características
similares aos demais padrões existentes em qualidade poderia perfeitamente
ser adotado, ficando o Brasil com um sistema de Televisão Digital
independente e único no mundo. Contudo, é importante lembrar que uma
medida como esta representa a imposição de uma reserva de mercado.
Se por um lado privilegia a indústria nacional, por outro lado também cria
um isolamento que deixa o mercado consumidor nas mãos de um oligopólio.
Além disso, uma decisão deste tipo exigiria o empenho do governo no
desenvolvimento do parque industrial brasileiro e no controle de abusos
por parte dos fornecedores, visando a proteção dos consumidores.
Infelizmente, o Brasil não tem um bom histórico de gerir políticas que
favoreçam seu próprio interesse ou o de sua população.
E por último, a questão que mais me chama a atenção, que é a exigência de
contrapartidas para a adoção deste ou daquele padrão. Eu não entendo por
que alguém ou algum organismo externo ao nosso país estaria disposto a
pagar para que fizéssemos a melhor escolha. Além disso, se existe um
padrão que seja superior, é nosso dever prestigiá-lo, sem que cobremos
nada por este ato de reconhecimento. A forma como o Brasil negociou o
padrão de Televisão Digital me lembra mais um processo de prostituição do
que de escolha de um padrão.
É certo que a digitalização do sistema de TV envolverá investimentos da
ordem de muitos bilhões de reais, o que é expressivo para a economia
nacional. E exatamente por este motivo, esta escolha deveria contabilizar
exclusivamente o interesse da sociedade brasileira, e não o de fabricantes
e investidores internacionais. A abertura para oferta de contrapartidas
acabou reduzindo a definição do padrão de Televisão Digital brasileiro a
um leilão em que prevaleceram os interesses econômicos das grandes
corporações.
O aspecto de maior importância, e que ficou praticamente esquecido em toda
a discussão, reside basicamente na essência da palavra "padronização", que
deveria significar a busca por um sistema que fosse único no mundo.
Qualquer brasileiro que viaja para a Europa levando seu telefone celular
entende como foi sábia a implantação do sistema GSM de telefonia celular
no Brasil.
A adoção de um mesmo padrão por diferentes países representa capacidade de
entendimento entre os povos, permite que equipamentos de origens
diferentes, produzidos em países diferentes, possam integrar um mesmo
sistema. Desnecessário mencionar os benefícios que uma padronização
inteligente oferece ao comércio entre países e à integração mundial.
Nesse contexto, a padronização de um sistema exclusivo para o Brasil não
faz o menor sentido. A padronização deveria se limitar a escolher um dos
sistemas atualmente em uso e adotá-lo integralmente. Eventuais
modificações no sentido de adaptá-lo à nossa realidade poderiam ser
implementadas, desde que não o tornasse incompatível com o sistema
original.
Existem apenas quatro sistemas de TV digital aberta em uso no planeta:
ATSC (adotado nos Estados Unidos, Canadá, México, Guatemala, Honduras e
Coréia do Sul), DVB-T (utilizado em cerca de 60 países, incluindo União
Européia, Rússia, Índia, Filipinas, Malásia, Arábia Saudita, Turquia,
Vietnã, Nova Zelândia, Austrália e Irã), BMD (china) e ISDB (Japão).
Qualquer um destes sistemas poderia perfeitamente ser adaptado para o
Brasil. Entretanto, é preciso notar que os sistemas BMD e ISDB são
utilizados em um único país e não constituem aquilo que deveríamos
entender como um padrão de aceitação internacional.
A atitude que se devia esperar do Brasil era a de convocar os demais
países da América do Sul, talvez utilizando o Mercosul, para eleger um
padrão de Televisão Digital a ser implantado em todos os países do
continente, talvez corrigindo um erro histórico que foi a adoção do
sistema de TV em cores no Brasil. Uma escolha deste tipo iria beneficiar o
comércio e muitos outros aspectos das relações entre estes países.
Parte 2
Críticas à escolha do padrão brasileiro
No início da década de 70 o Brasil realizou um processo para a definição
de um padrão para a transmissão de sinais de TV em cores. Este processo
culminou com a definição do padrão PAL-M sob a justificativa de que este
era um padrão tecnicamente superior. Devo concordar que era mesmo, pois
incorporava algumas inovações para correção de desvio de fase da portadora
de croma.
É possível que com isso os brasileiros assistiram a imagens de melhor
qualidade nos últimos 30 anos, embora este diferencial técnico não seja
muito perceptível na tela da TV. Porém, tiveram que amargar os problemas
de incompatibilidade de sistema quando surgiram os primeiros aparelhos de
vídeo cassete, que eram NTSC e necessitavam de conversores para serem
utilizados.
Na década de 80 surgiu no Brasil uma verdadeira indústria de
transcodificação, que adaptava aparelhos de vídeo importados, com saída
NTSC, para o padrão de vídeo PAL-M. A mesma coisa se repetiu quando
surgiram os primeiros vídeo games. Os DVDs já não encontraram este
problema, por que a partir de certo momento os fabricantes brasileiros
passaram a incorporar dois sistemas de cores nos televisores nacionais.
O Brasil insiste em repetir os mesmos erros do passado. Em breve os
computadores portáteis terão todos um módulo para recepção de sinais de
Televisão Digital. Não é necessário ter muita imaginação para prever isso,
além de muitas outras facilidades que a convergência digital deve trazer
muito em breve. Infelizmente, o brasileiro estará novamente sujeito aos
inconvenientes da incompatibilidade de sistemas e escravo da extorsão de
preços praticada pelo mercado nacional.
É possível que os produtos brasileiros passem a incorporar vários padrões
para minimizar os efeitos dessa escolha. Porém, os países que adotaram
padrões consagrados dificilmente pensarão em compatibilizar seus produtos
com a nossa escolha. Por sorte o Japão é um grande exportador de produtos
eletrônicos, de forma que ao menos os produtos de origem japonesa terão
compatibilidade com o nosso sistema.
Muito se tem especulado sobre a opção brasileira, inclusive dizendo que o
padrão escolhido beneficiaria tecnicamente as grandes emissoras de TV. É
certo que houve um lobby muito forte destas emissoras e de todas as
grandes corporações interessadas na nova tecnologia de televisão, porém,
não é verdade que o padrão ISDB traria alguma vantagem técnica que poderia
privilegiar este ou aquele setor.
Os fabricantes estão capacitados a produzir equipamentos qualquer que seja
o padrão escolhido, não havendo razão para se preocuparem. As grandes
emissoras, que claramente exerceram as maiores pressões em favor desse
padrão, também teriam o mesmo trabalho e as mesmas dificuldades, não
importando a particular escolha. Na certa teriam que se valer de
fornecedores diferentes para se equiparem, e esta sim seria uma boa razão.
Talvez a maior preocupação das grandes emissoras é que surgisse alguma
idéia inovadora que alterasse totalmente o modelo de retransmissão de
sinais de vídeo adotado atualmente no país para algo mais eficaz e que
mudasse o paradigma de distribuição existente.
Modelos que aproveitassem os recursos disponíveis pelas empresas de
telecomunicações, que criassem novos atores no cenário da distribuição de
sinais, ou que permitissem que os canais fossem transportados em bloco até
o consumidor final, criando uma TV aberta nos mesmos moldes técnicos que
funciona a TV por assinatura.
Entretanto, não obstante o clima de suspeita que acometeu todo o processo
de escolha, houve ao menos uma pessoa que deixou sua posição absolutamente
clara depois de encerrado o processo de escolha.
Foi o ministro das comunicações que, se esquecendo de sua função à frente
de uma pasta que representa o poder público, passou a defender sem
qualquer pudor os interesses das emissoras de TV, pretendendo alterar o
padrão já escolhido de forma a incluir um mecanismo DRM, de proteção à
cópia.
A pretensão do ministro, de incluir um mecanismo proprietário de restrição
tecnológica em um sistema público de radiodifusão representa uma apoteose
cômica para um processo iniciado sob a quixotesca bandeira da "inclusão
digital".
É preciso ter bem claro o que é uma TV aberta e nunca esquecer que seus
detentores são agentes que receberam uma concessão do estado para
entretenimento público. Aquilo que passa na TV aberta é para ser público.
E sendo público, o consumidor tem o direito de gravar. E tendo gravado,
ele tem o direito de fazer edições para guardar este material da forma que
melhor lhe aprouver.
Por outro lado, é um absurdo que um ministro de estado pactue com idéias
que ferem frontalmente o direito dos consumidores. Quem adquire um
equipamento para efetuar gravações pessoais tem o direito de usá-lo
plenamente e de decidir sobre o que deseja e o que não deseja gravar. Não
é a emissora que deve governar estas decisões, e sim o expectador.
Querer que ele pague mais caro para ter um sistema que somente funciona
quando a emissora deseja é um disparate somente comparável ao de
considerar a gravação de TV aberta como uma ação de pirataria. Ou então de
imaginar que pirataria se combate com aborrecimentos aos consumidores.
O estado atual do sistema de Televisão Digital
Segundo o cronograma oficial de implantação da Televisão Digital no
Brasil, as primeiras transmissões deverão ocorrer em dezembro deste ano,
começando pela cidade de São Paulo.
Espera-se que em 10 anos o sistema analógico, atualmente em uso, esteja
totalmente convertido e possa ser desativado. Durante este período as
emissoras deverão realizar duas emissões: uma para os receptores
convencionais e outra para os equipamentos digitais.
Ainda não existem televisores disponíveis para a recepção dos sinais
digitais. Inicialmente as transmissões, que deverão privilegiar HDTV,
serão recebidas usando-se set-top-boxes: pequenas caixas que convertem o
sinal digital recebido pela antena para sinal de vídeo, a ser aplicado aos
televisores.
Os receptores de plasma ou de LCD atualmente disponíveis nas lojas, mesmo
aqueles que possuem alta definição, não serão suficientes para a recepção
destes sinais, pois em geral não se adaptam ao padrão de Televisão Digital
definido para o Brasil.
Conclusão
Muito embora o processo de definição do padrão de Televisão Digital tenha
pecado no estabelecimento de seus objetivos e sofrido uma excessiva
interferência de interesses alheios ao da população, é possível que o
Brasil ainda assim tenha feito uma boa escolha.
Em meu entender um processo de padronização deve buscar a compatibilidade
dos sistemas ao nível mais elevado possível, para que os consumidores
obtenham plena utilização de seus equipamentos. Essa deveria ser a
principal meta a ser perseguida.
Entretanto, pouca atenção foi dada a este aspecto, chegando-se ao extremo
da principal autoridade envolvida no processo propor mecanismos para
restrição, para bloqueio, para evitar que funcione, em uma total inversão
do que se devia esperar de um mecanismo constituído para a definição de um
padrão aberto.
Não acredito que a investida do ministro Hélio Costa contra a liberdade
dos consumidores venha a ter êxito pelo flagrante absurdo que ela
representa, mas fica uma sensação de que a sociedade deveria ter mais
controle sobre questões de seu interesse, especialmente quando aspectos de
complexidade técnica estão envolvidos.
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