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Novembro 2007 Índice Geral do BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão Celld-group e WirelessBR. Participe!
- José Ribamar Smolka
- Luciano Cadaval
Basso
Luciano:
A Telemig e a Claro lançaram comercialmente o 3G no
Brasil e ambas colocam como diferencial, além da alta taxa de transmissão
de dados, alguns serviços como TV e vídeo chamada. Só que nas duas
operadoras estes serviços são cobrados e bem cobrados. Eu imaginava que a
vídeo chamada por exemplo fosse uma aplicação P2P sobre o link de dados,
como de fosse um telefone VoIP, mas como as operadoras tarifam a chamada
com certeza tem um servidor controlando tudo. E aí vieram minhas dúvidas:
Smolka:
Em geral as operadoras de telecom (fixas ou móveis) usam esta abordagem de
ofertar serviços do tipo "closed garden", onde os componentes client e
server da aplicação são fornecidos por elas, e a experiência do usuário
fica restrita ao grupo fechado de usuários assinantes do serviço. Isto tem
vantagens e desvantagens. No lado positivo, desta forma dá para garantir
melhor a qualidade do serviço prestado, mas do lado negativo esta forma de
operar restringe a liberdade do usuário escolher a aplicação que atenda
melhor às suas necessidades.
Talvez isto mude no futuro, mas não tenho muitas esperanças a médio prazo
(próximos 5 anos).
Luciano:
Alguém saberia me dizer que protocolo é usado (HS.323)?
Smolka:
Não sei detalhes, mas muito provavelmente não. O H.323 foi proposto
dentro do contexto B-ISDN, e foi muito usado até uns 5 anos atrás,
principalmente em aplicações de videoconferência. De lá para cá que tem
ganhado terreno é o SIP, que tenho 99% de certeza que é o que deve estar
sendo usado. Mas, porquê não 100%? Porque existe a possibilidade (burra,
se realmente estiver ocorrendo) de ser usado um protocolo de sinalização
proprietário.
Luciano:
A operadora só controla a sinalização ou os
pacotes saem de uma plataforma?
Smolka:
Não sei se entendi direito a sua dúvida. Mas aplicações do tipo que vc
descreveu, em ambiente padrão 3GPP, a sinalização (SIP/RTP/IP) é trocada
entre a parte cliente da aplicação e a plataforma IMS, que media a
autenticação do usuário e a abertura da sessão de transferência de dados
entre o cliente e o servidor. O stream de dados é transferido diretamente
entre a parte cliente e a parte servidor da aplicação (payload/RTP/IP).
Luciano:
Existe algo que evite um usuário utilizar um
skype ou voip para falar, pagando o tráfego de dados mas não o serviço?
Smolka:
Em princípio não. Já vi isto funcionando (especificamente, usando
Skype) em redes 1X e EV-DO. E redes UMTS? Também pode, desde que exista,
pelo menos, suporte a HSDPA. Porém a experiência de uso que o usuário vai
ter depende de vários fatores. A aplicação usada convive bem com a alta
latência imposta pela interface aérea UMTS? Existe banda suficiente para a
aplicação nos dois sentidos (Considerando que no HSDPA/HSUPA/HSPA existe
assimetria entre o downlink e o uplink)? A operadora dá suporte, é neutra
ou interfere negativamente no tratamento de QoS dos pacotes em trânsito de
aplicações que não sejam homologadas por ela?
Luciano:
O que, além de é claro a câmera, o telefone tem
que ter para suportar esse serviço?
Smolka:
Um sistema operacional que suporte a aplicação que vc deseja usar, e
dê acesso para a aplicação usar o microfone o alto-falante e a câmera do
handset como dispositivos de entrada/saída. Se vc estiver usando um laptop
isto é simples. Para handsets celulares, depende do fabricante e do
modelo.
Luciano:
Obrigado pelas respostas, a maioria eu tinha uma
idéia mas queria confirmação (pelo menos 2 com a mesma idéia deve ser mais
próximo da verdade).
Smolka:
De nada, mas sempre é bom lembrar de Nélson Rodrigues: "toda unanimidade é
burra" :-)
Luciano:
Quanto aos protocolos fiquei na dúvida pois li um
white paper da Huawei que diz que utiliza H.323
(
http://www.huawei.com/publications/view.do?id=228&cid=90&pid=61
).
Pesquisando hoje achei um protocolo específico pra vídeo no 3g, o 3G-324M.
Dois links interessantes sobre ele são a boa e velha wikipedia (é nova mas
ficou tão íntima que já chamo de velha) http://en.wikipedia.org/wiki/3G-324M
e um tutorial muito interessante em
http://www.commsdesign.com/design_corner/OEG20030121S0009
.
Smolka:
Este comentário tem de ser um pouco mais extenso. Segundo o artigo da
Huawey que vc citou, a solução deles foi lançada em 2003. Até esta época o
H.323 era a "bola de segurança" (pra quem nunca jogou vôlei, esta é a bola
que o levantador puxa quando as coisas não saem de acordo com os planos -
supondo que vc tem no time um atacante que resolva a parada nestas horas).
E isto está de acordo com o que falei antes. De lá pra cá, o SIP ganhou
força e o H.323 perdeu importância como principal opção para a sinalização
no estabelecimento de sessões de serviços multimedia.
O que está ocorrendo no Brasil agora é a implantação de redes UMTS 3GPP
release 6. Neste release o packet switching (PS) domain ainda não é
preponderante sobre o circuit-switching (CS) domain. E soluções baseadas
na especificação 3G-324M do 3GPP são voltadas para o CS domain.
Embora o IMS já faça parte do release 6 do 3GPP, a verdade é que
provavelmente não veremos (ainda) serviços primariamente voltados para o
PS domain. Mas, quando eles acontecerem, não tenho dúvidas que a melhor
opção de sinalização será o SIP.
O tutorial que vc citou é muito bom, mas é da mesma época, e ainda traz um
ranço a mais. A visão de que redes IPv4 não seriam capazes de oferecer a
QoS necessária para aplicações multimedia "carrier-class". Meu comentário
para esta postura (que persiste, embora diminuída, até hoje) é:
carrier-class my ass. :-)
Já publiquei alguns artigos (que estão disponíveis no site www.wirelessbr.org)
que mostram as ferramentas para o suporte de QoS por uma rede IPv4. E,
pelo menos por enquanto, ainda não é mandatória a migração para IPv6 para
conseguir uma rede all-IP que funcione. O problema real é outro: o desejo
que uma rede PS se comporte como se fosse CS. Enquanto os fornecedores
continuarem nesta visão de "circuitização de pacotes" (que por tabela
afeta também os órgãos de padronização, afinal são os mesmos caras que
comandam as áreas de R&D dos fornecedores que vão representá-los nos
comitês que escrevem as normas) as coisas não vão mudar de verdade.
É interessante observar o grau de commitment de cada fornecedor com as
mudanças de paradigmas na transição CS-PS. O grau de reticência que cada
fornecedor mostra em público com relação a esta ou aquela tecnologia é
diretamente proporcional à provável perda de receita que ele pode ter se o
paradigma mudar. Quer um exemplo? Observe as diferenças de discurso entre
os principais fornecedores de equipamentos/serviços de telecom com relaçào
ao WiMAX. Só isso já dá para mais um novo post.
Luciano:
Tem alguém da Claro aqui na lista que pode
simplesmente dizer se é esse protocolo que é usado aqui no Brasil pras
vídeo chamadas?
Smolka:
Como eu não trabalho nem na Claro nem na Telemig Celular, não posso ajudar
nisso. Mas também estou curioso. Se alguém aparecer para explicar melhor
as soluções que foram adotadas em cada caso, também estou interessado em
ouvir.
Luciano:
Pra fechar (ou
abrir) o assunto tive a confirmação que realmente as implementações 3G se
utilizam do protocolo 324M.
Ou seja as operadoras, baseadas nos standards, vão utilizar circuitos para
transportar um conteúdo basicamente IP. Esta estrutura é ótima para a
operadora tradicional pois garante uma sobrevida aos seus equipamentos de
comutação além de manterem o controle sobre as ligações e serviços.
Mas pensando na tecnologia e nos clientes me parece uma solução fraca pois
além de ser cara (equipamentos de comutação são caros e as operadoras
cobram por isso) a própria tecnologia embarcada nos telefones 3G permite
uma alta taxa de transmissão (ainda assimétrica) de dados e acesso à
internet, ou seja, para que o usuário vai pagar caro para a operadora se
pode instalar um software no seu aparelho e fazer a mesma chamada pagando
apenas pelos dados? O pessoal do Skype já percebeu isso e lançou seu
aparelho na Europa...
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