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Outubro 2007
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O conteúdo do BLOCO tem
forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão
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28/10/07
•TV Digital (13) - Leitura obrigatória:
Novo artigo no Teleco - "Os mitos por trás de uma escolha"
Iniciamos aa mensagens anteriores deste "Serviço
ComUnitário" tentando colocar alguns assuntos em perspectiva.
01.
Lembramos na ocasião que temos em andamento duas
"Séries" de mensagens sobre TV:
1. "TV Digital", com ênfase nos problemas
técnicos como "padrão", espectro, "middleware", "set top box", início das
transmissões, etc).
2. "TV Pública" ou "TV Brasil" ou "TV Lula" ou "TV do PT",
significando a nova rede "Empresa Brasil de Comunicação" com nome de
fantasia "TV Brasil", resultante da fusão de duas empresas já existentes -
Radiobrás e Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) que o
governo criou por Medida Provisória para operar como TV Estatal.
E citamos também que há um "tema genérico sobre
TV pública" na mídia que abrange o universo das emissoras públicas,
educativas, culturais, universitárias, legislativas e comunitárias.
02.
Tem mais TV na mídia. :-)
Na era digital tudo "converge" mas a TV digital também tem seus "sabores
divergentes" no noticiário: :-)
1. "TV Digital propriamente dita", com
"sinal digital aberto" (padrão japonês) que vai chegar diretamente aos novos
receptores digitais ou via "set top box" aos aparelhos analógicos atuais.
2. IPTV ou
"TV via Internet" ou "TV via Banda Larga" que chega ao computador pelo
"cabo", pelo "fio de telefone" ou via rádio ("wireless").
3. "TV no Celular" :
a. via Estação Rádio Base (ERB) com "conteúdo sob demanda" fornecido pelas
operadoras.
b. com o sinal da TV Digital aberta chegando ao celular de modo
independente das operadoras; neste caso o celular passa a conter um
mini-receptor de TV.
03.
Transcrições de hoje:
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Thienne
Johnson
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A 60 dias do início das transmissões de
televisão com sinal digital, o sistema brasileiro não está preparado para
ser muito mais do que uma imagem com qualidade de DVD. Os recursos que
tornam o modelo brasileiro o "melhor do mundo", segundo a indústria do
setor, não vão chegar às casas da Grande São Paulo no dia 2 de dezembro.
O padrão japonês foi escolhido, segundo o
presidente da Eletros (associação da indústria eletroeletrônica), Lourival
Kiçula, por permitir interatividade, mobilidade e portabilidade. O
espectador pode enviar informações, comprar pela TV ou assisti-la em carros
ou pelo celular, por exemplo.
Mas a plataforma que permitirá a interatividade
- o software Ginga - e as negociações com operadoras de telefonia para a
conexão e a transmissão móvel não foram concluídas nem têm data para
começar.
"Isso [lançamento com tecnologia parcial] não é
interessante para o consumidor", diz Daniel Kawano, analista de produto da
Panasonic. Para ele, há mais chances de comprar um produto e logo ter de
trocá-lo para receber outros recursos.
A partir do dia 2 de dezembro, o espectador
poderá, por exemplo, ver a escalação dos jogos e informações sobre a
programação -a chamada interatividade remota-, por ser a base de informações
enviadas pela emissora. Já comprar pela TV está descartado porque depende de
conexão.
"Se for realmente plena [a interatividade], será
necessária a presença das operadoras [de telefonia]", afirma o
vice-coordenador do módulo de mercado do Fórum Brasileiro de TV Digital,
José Marcelo Amaral. O grupo tem representantes da cadeia como fabricantes
de produtos e emissoras, e ajuda na implantação da TV digital.
Segundo ele, as teles não conseguiram
dimensionar os resultados que a TV móvel trará. Mas ele diz que as
operadoras e os fabricantes de celulares foram chamados para discutir, no
fórum, o uso de mais recursos na TV digital. Os bancos também devem ser,
para viabilizar as compras via TV digital.
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Sobre o autor:
Graduado em engenharia eletrônica pela UNICAMP em 1985. Recebeu os títulos
de mestre e doutor em Comunicação de Dados também pela UNICAMP em 1988 e
1995. Ingressou na UNESP em 1990, onde trabalhou na implantação da UnespNET.
Também é responsável pelos projetos de Videoconferência e de Telefonia IP.
Atualmente coordena a área de TI do projeto GridUNESP. De 1997 a 2004 atuou
como coordenador do curso de Mestrado em Ciência da Computação na UNG, onde
também exerceu atividades de docência e pesquisa.
Parte 1
Introdução
Muito se tem falado sobre HDTV, o Sistema de
Televisão em Alta Definição, cujo padrão foi recentemente definido para o
Brasil. Porém, nas diversas vezes que eu procurei alguma informação sobre
este assunto, constatei um profundo desconhecimento.
Manifestações politizadas e acusações sem
fundamento técnico permearam as discussões. Acabei por concluir que meu
conhecimento estava muito acima daquele disponível pelas pessoas que
normalmente ocupam espaço na mídia, e resolvi apresentar alguns pontos de
vista que, acredito, sejam inéditos nessa discussão.
Primeiramente é necessário distinguir o que é
HDTV e o que é Televisão Digital. Estes dois conceitos estão envolvidos
nesta discussão, porém eles significam coisas totalmente diferentes. HDTV é
um novo sistema de televisão, cuja principal característica é a qualidade da
imagem, representada tecnicamente pela resolução, ou número de linhas que
compõe a imagem. No padrão tradicional a imagem é composta por 480 linhas
visíveis na tela, enquanto que nos padrões de HDTV este número de linhas
chega a 1080.
Este refinamento apresenta imagens mais nítidas,
com mais definição de detalhes, porém exige mais recursos para seu
armazenamento, transmissão e reprodução. Por outro lado, Televisão Digital
significa um sistema de televisão em que a transmissão dos sinais e o
tratamento das imagens ocorrem no formato digital, e não mais no formato
analógico tradicionalmente utilizado.
Os sistemas digitais geralmente possuem
superioridade tecnológica sobre os sistemas analógicos. Isto quer dizer que
eles oferecem uma qualidade superior por menor preço. No nosso mundo, sempre
que algo assim acontece determina o desaparecimento do sistema de qualidade
inferior, pois ninguém quer pagar mais por algo que oferece menos. Os
sistemas digitais somente se tornaram viáveis a partir do desenvolvimento da
indústria de circuitos integrados, ocorrida nos últimos 20 anos.
Com isso, observa-se uma tendência quase que
generalizada de migrar os sistemas existentes, criados com tecnologia
analógica, para a tecnologia digital. Assim como ocorre com a Telefonia,
também no caso da Televisão, o que dificulta esta transição é a existência
de todo um parque criado com equipamentos projetados para funcionar dentro
de padrões estabelecidos há várias décadas atrás, quando nem mesmo o
transistor era conhecido.
No caso do sistema de televisão, a transição da
tecnologia para o formato digital representa uma evolução natural que, de
certa forma, já vem ocorrendo há algum tempo. Note-se, por exemplo, o
desaparecimento dos vídeos cassetes, que gravam os sinais no formato
analógico, para dar lugar aos aparelhos de DVD, que oferecem um resultado
bastante superior a um custo cada vez menor.
Neste particular, fica bastante evidente a
vantagem da tecnologia digital, especialmente quando ocorre uma
popularização dos produtos, pois o custo de produção cai extremamente. Por
outro lado, nas geradoras e retransmissoras de TV, os sinais são processados
e retransmitidos na forma digital. Apenas as transmissões para os aparelhos
receptores domésticos é que ainda utilizam o formato analógico, devido à
ubiqüidade destes equipamentos.
Um outro aspecto que incentiva a transição dos
sinais analógicos de vídeo para o formato digital é sua maior conformidade
com os sistemas de computação e integração com a Internet. Além disso,
existe um recurso bastante valioso para a difusão, que é o espectro de
freqüências.
Um canal de televisão convencional utiliza 6 MHz
de faixa espectral, e esta faixa pode ser reduzida para apenas um quarto
através da transmissão digital, mantendo-se a mesma definição da imagem.
Esta característica representa um grande apelo na competição pelo uso do
espectro, pois seria possível multiplicar por quatro o número de canais no
espaço hoje reservado para o sistema aberto de televisão, mantendo-se a
atual definição.
Concluindo esta questão inicial, é preciso notar
que existe uma necessidade premente de abandonar o padrão atual analógico de
Televisão, seja para manter o sistema na mesma qualidade de imagem, seja
para evoluir para um padrão de Alta Definição. Ou seja, a grande discussão
que houve para a escolha de um novo sistema de TV foi para a definição de um
padrão de Televisão Digital.
Este novo padrão de televisão digital abre a
possibilidade de se fazer transmissões HDTV, as quais possuem uma qualidade
superior de imagem. É claro que a Alta Definição é o grande apelo desta
transição e também é fácil imaginar que em breve futuro este sistema deverá
prevalecer a ponto de extinguir o existente atualmente.
Embora o padrão escolhido realmente disponha de
meios para a transmissão de TV na definição convencional, acredito que isto
não represente um grande estímulo para a fabricação de televisores digitais
com a resolução tradicional.
Em linhas gerais, o sistema de televisão
atualmente em uso no Brasil utiliza imagens que se enquadram em uma matriz
de 480 linhas por 640 colunas, o que resulta em 307 Kilopixel em cada quadro
da imagem. O sistema de HDTV utiliza uma tela com um aspecto mais
retangular, com a proporção de 9 X 16 ao invés do tradicional 3 X 4.
O número de pixeis na tela é dado por uma matriz
de 1080 linhas por 1920 colunas, o que resulta em aproximadamente 2
Megapixel por quadro. Em ambos os sistemas ocorre a exibição de 30 quadros
por segundo. É fácil concluir que esse aumento na definição da imagem
implica em um aumento de quase sete vezes na quantidade de informação, o que
significa canais com taxas de transferência ampliadas nesta mesma proporção.
Além disso, os conteúdos com vídeo em alta
definição também exigem muito mais espaço de memória para serem armazenados.
Já existe uma nova geração de DVD, capaz de fazer frente às novas exigências
da HDTV e que amplia em várias vezes a capacidade do atual formato de DVD.
Também neste caso temos ao menos dois padrões concorrentes disputando este
promissor mercado de mídia digital: O HD DVD e o Blu-ray.
Como conseqüência de uma maior taxa de
transferência de informação, os canais de HDTV também exigem uma maior faixa
do espectro de freqüências. Um canal de HDTV normalmente ocupa 6 MHz, que é
a mesma faixa até então utilizada no sistema analógico. Dessa forma, a faixa
espectral que comporta um canal de HDTV pode comportar até quatro canais
digitais de TV com a definição tradicional.
O padrão brasileiro de Televisão Digital
É possível que o Brasil tenha feito uma escolha
acertada no padrão de Televisão Digital. Entretanto, a componente benéfica
desta dúvida reside mais no acaso e nas incertezas do futuro do que nos
esforços envolvidos na escolha, pois as diretrizes não foram razoáveis e
menos razoáveis ainda foram os motivos que pretenderam justificar a escolha
com base nestas diretrizes.
Não se escolhe um padrão que deverá estabelecer
por muitas décadas a forma de fabricação dos equipamentos utilizados por
milhões de pessoas em um país sob uma ótica tão imediatista. Este sistema de
Televisão Digital será utilizado por nossos filhos, netos e bisnetos. Os
maiores usuários deste sistema serão constituídos de gente que ainda nem
nasceu.
É lamentável ver representantes do governo virem
a público mencionar que "existe uma empresa que se comprometeu a fabricar os
set-top-boxes por R$ 20,00 a menos caso o sistema X seja escolhido". É claro
que existem coisas ainda mais lamentáveis: que o setor público delegue para
pessoas sem qualquer conhecimento técnico poderes para decidir sobre
assuntos que absolutamente desconhecem.
A tecnologia evolui muito rapidamente,
permitindo que produtos inicialmente fabricados a um custo elevado se tornem
brevemente muito acessíveis. Os fatores que determinam os custos dos
produtos devem ser levados em conta com bastante ênfase, porém não os custos
atuais, que nada representam em um cenário de médio prazo. Questões de
monopólio, reservas de mercado e facilidades de importação são fatores mais
preponderantes sobre a determinação do custo dos equipamentos do que o preço
de produção atual, que está a apenas um palmo do nariz.
Outra idéia estranha que foi bastante
disseminada e ridiculamente repetida, é que o padrão a ser escolhido deveria
promover a "inclusão digital", significando este requisito que a escolha
deveria privilegiar o sistema mais acessível ao público de baixa renda. Eu
não deixo de louvar a beleza de coração contida nesta preocupação, mas
acredito que essa faixa da população tenha outras prioridades, não
relacionadas com a definição de imagem de seus programas de vídeo.
A qualidade técnica do padrão a ser escolhido é
um item que deve merecer bastante atenção. E neste aspecto o Brasil conta
com o benefício de estar atrasado em relação aos países do primeiro mundo,
podendo escolher uma tecnologia melhor desenvolvida. Entretanto, deve-se
tomar cuidado para que a escolha não seja dominada por um preciosismo
tecnicista, pois sabemos que os padrões em uso atualmente atendem às
necessidades de seus usuários, sendo cosméticas as diferenças de desempenho
entre estes padrões.
Outra questão de relevância nesta discussão é a
nacionalização tecnológica. O Brasil chegou a desenvolver um sistema de
Televisão Digital que recebeu o nome SORCER. Este sistema, que apresenta
características similares aos demais padrões existentes em qualidade poderia
perfeitamente ser adotado, ficando o Brasil com um sistema de Televisão
Digital independente e único no mundo. Contudo, é importante lembrar que uma
medida como esta representa a imposição de uma reserva de mercado.
Se por um lado privilegia a indústria nacional,
por outro lado também cria um isolamento que deixa o mercado consumidor nas
mãos de um oligopólio. Além disso, uma decisão deste tipo exigiria o empenho
do governo no desenvolvimento do parque industrial brasileiro e no controle
de abusos por parte dos fornecedores, visando a proteção dos consumidores.
Infelizmente, o Brasil não tem um bom histórico de gerir políticas que
favoreçam seu próprio interesse ou o de sua população.
E por último, a questão que mais me chama a
atenção, que é a exigência de contrapartidas para a adoção deste ou daquele
padrão. Eu não entendo por que alguém ou algum organismo externo ao nosso
país estaria disposto a pagar para que fizéssemos a melhor escolha. Além
disso, se existe um padrão que seja superior, é nosso dever prestigiá-lo,
sem que cobremos nada por este ato de reconhecimento. A forma como o Brasil
negociou o padrão de Televisão Digital me lembra mais um processo de
prostituição do que de escolha de um padrão.
É certo que a digitalização do sistema de TV
envolverá investimentos da ordem de muitos bilhões de reais, o que é
expressivo para a economia nacional. E exatamente por este motivo, esta
escolha deveria contabilizar exclusivamente o interesse da sociedade
brasileira, e não o de fabricantes e investidores internacionais. A abertura
para oferta de contrapartidas acabou reduzindo a definição do padrão de
Televisão Digital brasileiro a um leilão em que prevaleceram os interesses
econômicos das grandes corporações.
O aspecto de maior importância, e que ficou
praticamente esquecido em toda a discussão, reside basicamente na essência
da palavra "padronização", que deveria significar a busca por um sistema que
fosse único no mundo. Qualquer brasileiro que viaja para a Europa levando
seu telefone celular entende como foi sábia a implantação do sistema GSM de
telefonia celular no Brasil.
A adoção de um mesmo padrão por diferentes
países representa capacidade de entendimento entre os povos, permite que
equipamentos de origens diferentes, produzidos em países diferentes, possam
integrar um mesmo sistema. Desnecessário mencionar os benefícios que uma
padronização inteligente oferece ao comércio entre países e à integração
mundial.
Nesse contexto, a padronização de um sistema
exclusivo para o Brasil não faz o menor sentido. A padronização deveria se
limitar a escolher um dos sistemas atualmente em uso e adotá-lo
integralmente. Eventuais modificações no sentido de adaptá-lo à nossa
realidade poderiam ser implementadas, desde que não o tornasse incompatível
com o sistema original.
Existem apenas quatro sistemas de TV digital
aberta em uso no planeta: ATSC (adotado nos Estados Unidos, Canadá, México,
Guatemala, Honduras e Coréia do Sul), DVB-T (utilizado em cerca de 60
países, incluindo União Européia, Rússia, Índia, Filipinas, Malásia, Arábia
Saudita, Turquia, Vietnã, Nova Zelândia, Austrália e Irã), BMD (china) e
ISDB (Japão).
Qualquer um destes sistemas poderia
perfeitamente ser adaptado para o Brasil. Entretanto, é preciso notar que os
sistemas BMD e ISDB são utilizados em um único país e não constituem aquilo
que deveríamos entender como um padrão de aceitação internacional.
A atitude que se devia esperar do Brasil era a
de convocar os demais países da América do Sul, talvez utilizando o
Mercosul, para eleger um padrão de Televisão Digital a ser implantado em
todos os países do continente, talvez corrigindo um erro histórico que foi a
adoção do sistema de TV em cores no Brasil. Uma escolha deste tipo iria
beneficiar o comércio e muitos outros aspectos das relações entre estes
países.
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