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Abril 2008
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09/04/08
• TV Pública
(13) - Estadão: "A TV chapa branca"
01.
Recomendamos a leitura do
Editorial do Estadão de hoje (transcrição mais abaixo):
Fonte: Estadão
[08/04/08]
A TV chapa branca
02.
Em setembro do ano passado, nosso "Serviço ComUnitário" iniciou uma série de
mensagens sobre a "TV Pública".
Costumamos repetir a "Introdução" das
mensagens seriadas em atenção aos recém-chegados.
Estamos continuando a numeração mas abreviando o "Assunto" que constou
das mensagens anteriores: "TV Pública" ou "TV Brasil" ou "TV Lula" ou
"TV do PT".
Temos uma tradição de longa data de acompanhar
programas governamentais sem fazer política partidária.
No entanto, no atual conjuntura, está difícil referenciar ou transcrever
matérias sobre estes temas quando o governo de plantão se confunde com um
partido político. Seguimos com cautela mas sem omissão.
Nesta "Série" pretendemos chamar a atenção
para possíveis "intenções ocultas" do governo na criação da "TV
Pública", preocupação esta que encontramos em muitos textos da mídia.
Mas vamos divulgar também as matérias que tratam do enorme potencial
desta experiência, se bem conduzida.
O objetivo das mensagens é permitir que o
leitor/participante forme sua opinião e, eventualmente possa interagir com
congressistas e autoridades [vide nossa mensagem Democracia Digital Direta
transcrita.
Para os recém-chegados e para os que estão
se interessando agora pelo tema, temos em andamento duas "Séries" sobre
TV:
1. "TV Digital", com ênfase nos
problemas técnicos como "padrão", espectro, "middleware", "set top box",
início das transmissões, etc).
2. "TV Pública" ou "TV Brasil" ou "TV Lula" ou "TV do PT",
significando a nova rede "Empresa Brasil de Comunicação" com eventual
nome de fantasia "TV Brasil", resultante da fusão de duas empresas já
existentes - Radiobrás e Associação de Comunicação Educativa Roquette
Pinto (Acerp) que o governo criou por Medida Provisória.
E lembramos também que há um "tema genérico sobre TV pública" na mídia,
que abrange o universo das emissoras públicas, educativas, culturais,
universitárias, legislativas e comunitárias.
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Thienne Johnson
Se havia ainda alguma dúvida com relação ao risco de instrumentalização
política da TV Pública, ela foi desfeita por dois fatos recentes. O primeiro
fato foi a demissão do jornalista Luiz Lobo, editor-chefe do primeiro e
único programa que a TV Brasil produziu desde sua estréia, em dezembro de
2007. Ele foi afastado do cargo na sexta-feira por se recusar a interferir
no noticiário, em favor do Palácio do Planalto. O segundo fato é o relato
que o jornalista Eugênio Bucci faz no livro A guerra entre a chapa-branca e
o direito à informação, que chega esta semana às livrarias, sobre as
dificuldades que teve para manter um padrão de isenção na Radiobrás, nos
quatro anos em que dirigiu a empresa, no primeiro mandato do presidente
Lula.
Os dois fatos compõem uma tendência que derrota
o argumento invocado pelo chefe do governo para justificar a criação da TV
Pública. Para Lula, seu objetivo seria apenas divulgar programas culturais e
didáticos, não podendo jamais ser convertida em instrumento de promoção. 'Eu
sonho grande, não sei se a gente vai conseguir construí-la. E que não seja
coisa chapa branca, porque chapa branca parece bom, mas acaba enchendo o
saco. Não é coisa para falar bem do governo, é para informar. A informação
tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa', disse Lula em 28 de março de
2007, quando deu posse ao ministro encarregado de implementar esse projeto,
Franklin Martins.
As razões que levaram à demissão do jornalista
Luiz Lobo mostram a distância existente entre a retórica do presidente e a
realidade. 'Existe, sim, interferência do Planalto dentro da TV Brasil. Há
um cuidado que vai além do jornalismo', disse ele ao jornal Folha de
S.Paulo. Segundo Lobo, todos os textos sobre Lula, sobre política e sobre
economia passam na TV Brasil pelo crivo de uma jornalista que é casada com
um dos assessores de imprensa do presidente da República. 'É ela quem edita.
Existe um poder dentro daquela redação. Eu era editor-chefe, mas perdi a
autonomia até para fazer as manchetes do telejornal', afirma.
Lobo conta que as pressões, que sempre
existiram, aumentaram ainda mais nas últimas semanas, após a eclosão da
crise dos cartões corporativos e da epidemia de dengue no Rio de Janeiro.
'Não podíamos falar em dossiê, mas em 'levantamento' sobre uso dos cartões.
Depois, a orientação era falar em 'suposto' dossiê', conta ele. Nas
reportagens sobre a dengue, a orientação era para informar que a epidemia
decorria de cortes orçamentários resultantes do fim da CPMF, cuja derrubada
foi uma vitória da oposição. Segundo Lobo, a idéia era eximir o governo de
responsabilidade em matéria de deficiências de saúde pública.
O depoimento de Eugênio Bucci é igualmente
esclarecedor. O jornalista narra as pressões que sofreu do então chefe da
Casa Civil, José Dirceu, após a descoberta de que o assessor Waldomiro Diniz
fora flagrado em vídeo pedindo propina a donos de bingo e após a eclosão da
crise do mensalão. Nas duas ocasiões, o Planalto tentou interferir no
noticiário da Radiobrás. 'Todos os dias o abominável era noticiado (...) As
denúncias de corrupção explodiam no meio da rua ou na cozinha de qualquer um
(...) Ministros caiam como abacates (...) Havia um bueiro se exumando à
nossa volta. A gente tinha vergonha de se olhar no espelho.'
Bucci também conta como assessores do círculo
íntimo de Lula o pressionaram para enviesar ideologicamente o noticiário da
Radiobrás e relata que, em busca da popularidade perdida após a crise do
mensalão, o presidente seguiu à risca o conselho de seus marqueteiros
políticos. 'Na era do marketing, governar é fazer campanha eleitoral
permanente, é fazer publicidade de obras a inaugurar, recém-inauguradas ou
nem mesmo existentes.' Numa das passagens mais importantes do livro, Bucci
explica por que não se afastou do cargo assim que começou a ser pressionado.
'Um sentimento me segurou. Eu tinha um trabalho e não iria abandoná-lo às
hienas, aos oportunistas reconvertidos à utilidade pública da Voz do Brasil,
aos cabos eleitorais transformados em assessores de luxo.'
A demissão do jornalista Luiz Lobo e o
depoimento do jornalista Eugênio Bucci deixam claro que não há antídotos
para impedir a TV Pública de ser convertida em emissora chapa branca e em
palanque eletrônico. Afinal, não pode haver isenção e ética jornalísticas em
redações de órgãos oficiais de comunicação controladas a ferro e fogo pelos
governantes.
[Procure "posts"
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