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13/07/08
Como funciona a Internet (17) - Mapeando os "nossos" backbones (06) - Nova mensagem de Bruno Cabral

----- Original Message -----
From:
bruno@openline.com.br

To: wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Sunday, July 13, 2008 8:47 PM
Subject: Re: [wireless.br] Mapeando os "nossos" backbones (2)

Prezados Prof. Smolka e demais colegas,

(...) Mas as interconexões AS-AS mostram apenas a organização lógica da Internet. Por baixo disto (e muito mais obscura) está a estrutura física de encaminhamento do tráfego. É um fato (e não só no Brasil) que a posse física dos meios de conexão interfere muito na maneira como as coisas ocorrem na prática. Vamos ver, como exemplo, a RNP (ASN 1916). Ela é dona dos seus roteadores, mas os links que os conectam certamente não são de sua propriedade. Então, no mapa que mostra a topologia da RNP (e também o seu "estado de saúde") em  http://www.rnp.br/ceo/trafego/panorama.php, podemos ver que no nó principal de tráfego SP existem conexões para a Embratel (ASN 4230) e para a Global Crossing (ASN 3549). Supondo que os roteadores destes dois AS também estejam localizados em SP, existe uma forte possibilidade que os dois links passem pela infra-estrutura da rede MPLS da Telefónica, e tenham caído juntos durante o meltdown. (...)

Sim, os links podem ser de propriedade de outras teles. Por outro lado, como exemplifiquei ao falar sobre o movimento de concentração de tráfego de cada tele dentro sua própria rede, elas costumeiramente não "alugam" portas MPLS das outras, se utilizando de links físicos  dedicados para comunicação (o antigo SLDD, em menor escala, ou espaço
em fibra ótica, quer "apagada" ou na hierarquia SDH, onde há isolamento  entre as conexões, em maior escala).

Felizmente(?) então a suposta pane no MPLS da Telefônica não afetou os outros backbones, mas apenas a comunicação destes com a rede IP daquela empresa. Como a rede da Telefônica é gigante, claro, muita coisa "caiu" junto, mas não "toda" a Internet do Brasil (eu tenho um POP em SP e ele sobreviveu ao evento, assim como todos que mantêm
ligação com os PTT de lá).

Por outro lado a pouco tempo houve um problema com outra rede IP, menos (ou nada) noticiado, onde ela inadvertidamente se anunciou  como trânsito nacional para o exterior. Como os links dela não agüentaram o tranco do tráfego de todos os outros backbones (nem poderiam, a tele não era tão grande) houve uma parada por saturação do tráfego internacional, esta felizmente identificada e sanada com o isolamento do AS em questão até que a configuração do mesmo foi consertada e sem causar o celeuma deste episódio (quem quiser saber
mais sobre esse caso deve consultar o histórico da lista GTER do Grupo de Engenharia de Redes do registro.br)

Eu não me sinto conhecedor o suficiente para sugerir ao NIC.BR, ao Comitê Gestor ou a quem quer que seja uma intervenção maior nessa questão dos PTTs, mas me admira bastante a ANATEL ter feito pressão pelo peering entre a Intelig e a Embratel no berço da privatização (quando todas ainda tinham "medo" da LGT, o que hoje já não tem) e não ter feito o mesmo entre as outras teles fixas (não só em IP, acho o mesmo na interconexão STFC) ou entre estas e as empresas detentoras de licenças SCM.

Com isso chegamos ao absurdo da tarifa de interconexão Classe V (*) de IP custar de mais de R$1200 por mega enquanto as teles cobram dos usuários finais (de ADSL) cerca de 10 a 15% desse valor. Ou existirem SCM pagando R$450 o mega enquanto outros pagam de R$1500 (no Nordeste) a R$14000 (em Manaus!) pelo mesmo mega de Internet.

Dá para criar um ambiente de competição sério e benéfico para o consumidor com tanto disparate no preço do insumo? E a solução para a competição será concentrar ainda mais o mercado?

[]s, !3runo Cabral

(*) o nome pomposo de uma tele trocar tráfego com a outra, onde a que tem maior tamanho cobra uma tarifa pelo excedente do que fornecer para a menor. A tele que não tem o volume para justificar interconexão precisa pagar trânsito como um cliente qualquer.

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