Fonte: Estadão
HELSINQUI – A Finlândia é o primeiro país do
mundo a retirar do ar a TV analógica e só transmitir programas com
tecnologia digital. A informação é da ministra das Comunicações deste
país, Suvi Lindén, em entrevista ao Estado. “Em menos de 4 anos,
conseguimos realizar esse objetivo. Não foi fácil, mas vale a pena. Os
maiores problemas que tivemos foram na área dos sintonizadores digitais
(set top boxes). As camadas de menor renda reclamaram dos preços e da
impossibilidade de utilizar o mesmo aparelho tanto para a TV aberta
quanto para a TV por assinatura. Vamos ter que resolver essa situação,
substituindo esses conversores.”
O padrão utilizado na Finlândia é o europeu
(Digital Video Broadcasting ou DVB), que permite elevado grau de
interatividade e mobilidade em sua versão DVB-H. Segundo a ministra
Lindén, a Europa não deu prioridade ao desenvolvimento da TV de alta
definição, embora o padrão DVB já o permita. Na opinião de alguns
especialistas finlandeses, a TV de alta definição ainda é um luxo,
porque exige receptores mais caros, mais sofisticados e, principalmente,
maior oferta de conteúdo, o que ainda não ocorre. Para eles, as imagens
digitais européias, com 700 pixels por linha (e não 1.080) são
plenamente satisfatórias.
RÁDIO, NÃO
Quanto ao rádio digital aberto,
surpreendentemente, a ministra das Comunicações da Finlândia não
acredita na viabilidade prática da migração da tecnologia analógica de
rádio para a digital. “O problema é a exigência de se trocar tudo –
equipamentos das emissoras e receptores dos ouvintes. Isso exigiria até
a mudança de faixa de freqüências e a interrupção das atividades das
emissoras Nem o padrão europeu nem o norte-americano satisfazem. No
futuro, as transmissões de rádio serão todas via internet ou associadas
à TV digital”.
As telecomunicações da Finlândia estão entre
as mais avançadas do mundo. Até as residências mais modestas da zona
rural ou as aldeias da Lapônia, no norte do país, dispõem de comunicação
telefônica, fixa ou celular. Nas regiões mais remotas, o serviço é o
mais simples possível, inclusive na telefonia celular, que utiliza o
sistema mais antigo, de telefonia móvel nórdica em 450 MHz (NMT 450, na
sigla comercial), mas que é também o mais econômico para cobertura de
grandes áreas com baixa densidade populacional, segundo a ministra Suvi
Lindén.
“As telecomunicações finlandesas – diz ela
– vêm sendo privatizadas há mais de duas décadas. A única empresa ainda
com grande participação estatal é a Telia-Sonera, uma das
concessionárias de telefonia fixa, de cujo capital participam os
governos da Finlândia e da Suécia, com um total de 60% das ações, sendo
restante capital privado”.
O maior avanço do setor, entretanto, está na
área da telefonia móvel, em que o país ostenta a impressionante
densidade de 124 celulares por 100 habitantes. Numa tendência oposta, a
telefonia fixa vai reduzindo sua participação para menos de 50%, como
ocorre, aliás, na maioria dos países.
Embora seja um país com pouco mais de 5
milhões de habitantes, a Finlândia tem empresas poderosas na área da
telefonia celular, entre as quais a Nokia, detentora da fatia de 41% da
produção mundial de aparelhos celulares, com 10 fábricas espalhadas pelo
mundo, inclusive uma em Manaus, no Brasil.
Uma característica curiosa e quase única da
telefonia fixa da Finlândia é o fato de o país já ter conseguido abrir a
infra-estrutura de rede de cabos e centrais à participação de todas as
operadoras, enquanto o mundo ainda continua discutindo o
compartilhamento da infra-estrutura.
No jargão de telecomunicações, esse
compartilhamento recebe o nome de unbundling (desempacotamento, em
inglês) e permite um grau muito maior de competição. Por essa razão, o
país tem hoje mais de uma centena de operadoras fixas. Muitas dessas
operadoras podem obter licenças e prestar praticamente todos os tipos de
serviços de comunicações, de telefonia fixa a celular, TV por
assinatura, TV sob demanda (Video on Demand), acesso de banda larga e
internet. Apenas a radiodifusão (rádio e TV abertas) exige concessões
exclusivas.
Raros países têm o índice de acesso à
internet tão elevado quanto a Finlândia: mais de 60% da população
utilizam regularmente a rede mundial. E, de cada 100 usuários, 70
dispõem de acesso em banda larga, segundo a ministra das Comunicações.
O país tem pelo menos três indicadores
extraordinários que tornam possível seu estágio de desenvolvimento: o
menor grau de corrupção governamental (segundo a organização
Transparência Internacional), o melhor padrão de educação e a terceira
posição mundial em investimentos em pesquisa e desenvolvimento em
relação ao seu produto interno bruto (PIB), só atrás de Israel e
Cingapura.
PERFIL RARO
Embora seja integrante do Parlamento da
Finlândia, como deputada representante da região do Ártico, a ministra
Suvi Lindén tem grande experiência e envolvimento nas áreas de
telecomunicações e novas tecnologias.