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18/06/08

• Fusão Oi/BrT e PGO (12) - Flávia Lefèvre: " Os negócios e as leis no Brasil

----- Original Message -----
From: Helio Rosa
To: Celld-group@yahoogrupos.com.br ; wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Cc: Flávia Lefèvre
Sent: Wednesday, June 18, 2008 11:23 PM
Subject: Fusão Oi/BrT e PGO (12) - Flávia Lefèvre: " Os negócios e as leis no Brasil
 
De: Flávia Lefèvre <flavialefevre@yahoo.com.br>
Assunto: OS NEGÓCIOS E AS LEIS NO BRASIL
Para: rosahelio@gmail.com
Data: Terça-feira, 17 de Junho de 2008, 1:52
 
Prezado Helio
 
Achei pertinente transcrever trecho de matéria publicada domingo, 15 de junho, na página J3, do caderno Aliás -  no Estadão, com o título "Amigos, compadres e negócios, ilustrada com uma bela foto onde vemos os donos da VarigLog, Roberto Teixeira e Lula no gabinete da Presidência da República, após a operação de compra da Varig.
 
Acredito que a dinâmica das negociações da Varig têm muito a ver com a dinâmica que envolve as negociações do PGMU, PGO e aquisição da Brasil Telecom pela OI:
 
'Escreve Palmer [representante do fundo Matlin Patterson] para Lap Chan, 11 dias depois de a Varig ter sido arrematada pela Log, em 2006: "Como você diz, bem-vindo ao mundo em tempo real dos mercados emergentes, onde inteligência e rapidez se sobrepõem às leis e normas na definição dos negócios".'
 
Qual ou quais serão os compadres no segmento  das  telecomunicações?
 
Abraço a todos.
 
Flávia Lefèvre Guimarães
 
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Fonte: Estadão
[15/06/08]   Amigos, compadres e negócios
 
Como diz o operador Lap Chan, bem-vindos ao mundo onde inteligência e rapidez se sobrepõem às leis
 
Francisco Foot Hardman* - O Estado de S.Paulo
*Francisco Foot Hardman é professor titular do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp
 
SÃO PAULO - Sejamos justos: a permeabilidade entre corporações sindicais ou empresariais e meganegócios conduzidos a partir do poder de Estado não é criação do governo Lula, tampouco apanágio exclusivo de sociedades periféricas como a brasileira.
 
Tome-se, por exemplo, a Itália de todo o período democrata-cristão e, mais ainda, a da tenebrosa era Berlusconi: os casos de flagrante atentado à lei e à Constituição em nome de interesses privatistas escusos, ora mais ora menos mafiosos, mais ou menos clandestinos, repetem-se à exaustão. Com o avanço da globalização, o termo "máfia" migrou com maior velocidade, em tempo vírtuo-real, do que na fase anterior de gangsterismo afeito a territórios limitados e chefes identificáveis. Na Rússia pós-URSS encontrou, entre outros lugares, terreno fértil para prosperar, antes e com Putin, como sopa no mel. Nos EUA da era Bush, nunca se vira antes tamanha interconexão entre política belicista e altos negócios do complexo industrial-militar geridos a partir de interesses financeiros compartilhados pelos próprios integrantes, familiares e agregados da presidência e vice-presidência. Se a era Clinton aprofundara a prática de lobbies financistas junto às altas esferas do poder, com Bush o que há de mais sinistro é que essa teia de meganegócios tem na produção e manipulação da guerra, vale dizer, do genocídio administrado, seu principal esteio.
 
Na América Latina, processos similares repetem-se, muitas vezes renovando métodos e ampliando campos de atuação. A Argentina do peronismo persistente na manutenção corporativista de um Estado sindical corrupto e o México, que ainda preserva a herança de um Estado-Partido em que política institucional, corrupção do aparato repressivo e acumulação capitalista circunscrevem-se a uma elite dirigente com traços de camarilha, são apenas dois dos exemplos mais candentes.
 
Sejamos justos: o PT não inventou esse círculo estreito de corporativismo partidário-sindical em que se sobressaem grandes golpes de assalto a fundos de pensões, cooperativas e outros estoques de capital. Se o caso antigo da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários, do sindicato dessa categoria em São Paulo, Osasco e região), que tem entre seus membros mais sorridentes Berzoini e Lula, vem agora à baila, com retoques sombrios, pode tratar-se aqui de tudo, menos de práticas originais. O PTB da era Vargas já tinha inaugurado entre nós a síndrome do sindicalismo de Estado, inclusive no quesito sinistro. E o PDT do Paulinho da Força fez sempre jus a essa herança voraz dos senhores proprietários do sacrossanto imposto sindical, cláusula pétrea de nossos entulho parafascista mais renitente, hoje a serviço da democracia à la CUT e do capitalismo financeiro à la ornitorrinco, para lembrar a análise sempre lúcida dessa mecânica por Francisco de Oliveira. Tudo, claro, sob pressão do governo e conivência reiterada do Congresso Nacional.
 
Sejamos justos, repito. Roberto Teixeira não é o primeiro primeiro-compadre da história do Brasil, nem esse suporte decisivo que seu escritório deu aos negócios suspeitíssimos da VarigLog foi o primeiro aporte aos interesses do progresso da Nação e de sua aviação comercial, em particular. Já havia antes a Transbrasil, e o primeiro-compadre parece ter vocação meritória para socorrer empresas aéreas em queda vertical e para ajudar a converter pó em milhões de dólares num piscar de olhos. Como também não se poderá atribuir, jamais, ao smart sócio de fundos e operador Lap Chan o epíteto de primeiro testa-de-ferro da aviação brasileira. Jamais. Pois havia Audi, Haftel e Gallo atrás (ou na frente?) dele.
 
Lap Chan tem os pés no chão, os anos de Escola Britânica, em São Paulo, assim o formaram. É um homem-dispositivo dos mais bem acabados de nosso tempo. Por isso, permitam-me, em sua homenagem, transcrever essa pérola do real thinking, num e-mail que trocou com o advogado Palmer, representante do fundo Matlin Patterson, que foi quem papou afinal a VarigLog e a venda milionária da Varig à Gol, deixando para trás, com a cumplicidade de parlamentares, juristas e juízes, o passivo da empresa de R$ 7 bilhões, parte disso em dívidas trabalhistas e previdenciárias com centenas de funcionários da companhia. Escreve Palmer para Lap Chan, 11 dias depois de a Varig ter sido arrematada pela Log, em 2006: "Como você diz, bem-vindo ao mundo em tempo real dos mercados emergentes, onde inteligência e rapidez se sobrepõem às leis e normas na definição dos negócios!"
 
Sejamos justos, pois, amigos. A profissão de testa-de-ferro não foi inventada agora. Será mais recente que a de prostituta, certamente, mas ainda assim muito antiga. Testa-de-ferro de capitais estrangeiros como forma de burlar a lei, então, nem se diga. No século 19 já tínhamos exemplos copiosos. Lap Chan não parece ser imprudente, não pisaria em terreno minado ou pantanoso, por ainda informe. Tradição em tempo real. Fraudes em atas e faxes com inteligência e rapidez. Eis a fórmula certa, que combina know-how com boa dose de voluntarismo. E escolha dos parceiros certos, dos sócios precisos para cada empreitada. Com bons advogados, de livre-pensamento e trânsito, então, a coisa decola. O que parece não ter decolado, aqui, foi a solidariedade dos laranjas tupiniquins. Isso acontece, Freud explica.
 
Aliás, quando Lula comentou, nessa quinta-feira, a propósito do depoimento no Senado da ex-diretora da Anac, que "só Freud explica as mentiras", o presidente estava, mais uma vez, coberto de razão. Razão de Estado ou de compadrio, quem poderia saber? Mas, afinal, é possível separar esses dois entes, para saber algo de fato? Não, não saberemos a que razão ou a que verdade se referia o presidente. Não é culpa sua, sejamos justos, que não possamos afinal saber. A tragédia brasileira moderna e global tem esse nome e esse ponto-limite, que é o da interrogação: Freud, para quem?
 
Bem-vindos ao maravilhoso mundo da mentira democrática em tempo real. Como queria Sade, antes de Freud: tempo dos virtuosos no crime e criminosos na virtude.

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