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Maio 2008
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21/05/08
• BACKHAUL E PGMU (08) - Opiniões de
Flávia Lefrève e Miriam Aquino
01.
Este é o "Serviço
ComUnitário" sobre o Decreto Presidencial 6424 que determina
uma mudança nos contratos de concessão com as operadoras do
Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC). Pelas novas regras, acordadas
com as operadoras, estas deixam de estar obrigadas a instalar os PSTs -
Postos de Serviços Telefônicos (exceto no caso de cooperativas
rurais), mas passam a ter que colocar seus backhauls em todas
as sedes municipais brasileiras.
02.
O tema é polêmico e para estimular o debate
que ainda não ocorreu em nossos fóruns transcrevemos esta matéria na
última mensagem:
03.
A nossa participante Flávia Lefèvre
Guimarães é advogada do ProTeste e representante dos usuários no
Conselho Consultivo da ANATEL.
Sobre a matéria do Tele.Síntese, recebemos esclarecimentos da Flávia que
estão transcritos no final desta mensagem (texto atualizado em relação ao
registrado na última mensagem).
04.
Enviamos cópia da nossa mensagem à jornalista Miriam
Aquino, autora do artigo que, gentilmente retornou com explicações
adicionais.
Obrigado, Miriam, pela cortesia da mensagem e pela disposição ao debate.
Parabéns à equipe do Portal
Tele.Síntese pelo excelente
trabalho!
05
Mais abaixo, estão estes textos:
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Fonte: Tele.Síntese
[22/04/08]
Ação da Pro Teste quer manter o passado por Miriam
Aquino
A entidade insurge-se, equivocadamente, contra a troca de metas de
universalização, que substitui os velhos postos de telecomunicações pela
infovia de banda larga. A ação civil pública promovida pela Pro Teste –
Associação Brasileira de Defesa do Consumidor pede que sejam declarados
nulos todos os artigos dos decretos presidenciais (de 2003 e de 2008) que
estabelecem, como meta de universalização das concessionárias de telefonia
fixa, a construção da rede de banda larga (o backhaul).
Na ação, que tramita na Justiça Federal do
Distrito Federal, a entidade responsabiliza a União, a Anatel e as
empresas – Brasil Telecom, Telemar, Telefônica e CTBC – por estarem
promovendo uma “ilegalidade” e pede que a justiça paralise a implantação
dessa rede até o julgamento final da ação, para que fique assegurado o
acesso ao “serviço de telefonia fixa comutado aos cidadãos brasileiros.”
A entidade, que pretende representar os
consumidores, quer manter como obrigação contratual das concessionárias a
instalação de postos de serviços de telecomunicações – orelhões um pouco
mais sofisticados, mas que só oferecem o acesso à internet pela vagarosa
linha discada. Ou seja, a Pro Teste quer manter o passado e condenar o
país a adiar a construção dessa auto-estrada para o conhecimento.
Para justificar sua posição, a Pro Teste chega
a argumentar que, embora seja favorável à inclusão digital, não pode
concordar com a troca de metas porque o governo não apresentou como prova
qualquer instrumento contratual que assegure que as operadoras irão
conectar gratuitamente as 55 mil escolas públicas brasileiras.
Ora, convenhamos, achar que o governo iria
aceitar “de mentirinha” a conexão destas milhares de escolas é nem mesmo
acreditar nas inúmeras instâncias de fiscalização da sociedade e dos
próprios poderes constituídos.
A Pro Teste, para se posicionar contra a
construção desta rede, que irá chegar, em três anos, a 3.516 municípios
que não têm qualquer infra-estrutura de banda larga, argumenta também que
os usuários da telefonia fixa irão “bancar” a construção desta rede, e
“enriquecer” os cofres das operadoras.
Outra inconsistência. Pelas próprias regras
estabelecidas já se sabe que as receitas adicionais a serem geradas com a
prestação desse novo serviço (a venda da capacidade do backhaul para que
terceiros ofereçam acesso a banda larga) terão que ser revertidas em mais
rede de banda larga, justamente porque, agora, são metas de
universalização. Ou seja, mais serviços universais, mais redes. Não é
disso que o país precisa?
Competição
A entidade se manifesta ainda em defesa da
competição, preocupação justificada, mas os argumentos são inconsistentes.
Segundo a Pro Teste, as pequenas empresas que têm licenças de Serviço de
Comunicação Multimídia (SCM) se propuseram a construir o backhaul. O que
não foi bem assim. Os provedores de acesso à internet ofereceram ao
governo o que sabem fazer: o acesso à internet e a disponibilização de
contas de e-mail para as escolas. Em contrapartida, queriam um preço mais
barato pela conexão do backhaul a ser construído.
O risco da ampliação do monopólio existe, mas
este novo plano de metas abriu a chance para o controle de preços no
atacado, hoje livres. Recentemente, o conselheiro da Anatel Pedro Jaime
Ziller de Araujo afirmou que a agência vai criar tarifas para a conexão
deste backhaul, uma medida que será muito bem-vinda, pois irá permitir que
as pequenas empresas locais contratem a um preço justo essas conexões. E,
assim, poderão ampliar a oferta da última milha da banda larga para
diferentes comunidades. Não há nada que justifique a condenação desta
medida, que certamente irá trazer muitos benefícios para a sociedade
brasileira.
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Mensagem de Flávia Lefrève em 18/05/08
(texto atualizado em 20/05/08)
Caro Helio
Gostaria apenas de esclarecer alguns pontos equivocados na matéria feita
pela Miriam Aquino:
1. A Pro Teste pede na ação a declaração de
nulidade dos arts. 13 e seguintes não só do Decreto 6.424/2008, mas também
do Decreto 4.769/03, o que significa que não queremos nem PSTs e nem backhaul
como metas de universalização.
2. Entendemos que a universalização do STFC já foi feita; JÁ HÁ
INFRA-ESTRUTURA DE STFC nos mais de 5.640 municípios brasileiros. Queremos
redução de tarifa, especialmente da assinatura básica. Queremos uma tarifa
flat de 10 reais, para que o usuário fique livre para fazer ligações locais.
Só pagaria a mais do que isso pelas chamadas de longa distância, para
celular e os serviços adicionais.
3. Além disso, não somos pelo passado. Muito pelo contrário, só queremos que
a teledensidade da telefonia fixa saia dos 20% atuais - menor do que a da
Argentina - e passe ao patamar de 60%, o que é razoável, tendo em vista que
pagamos 10 anos de assinatura básica com valor altíssimo que excluiu os
cidadãos mais pobres da condição de usuários desse serviço básico. Queremos
chegar no futuro; na teledensidade do STFC comparável a dos países de
primeiro mundo, como França, Espanha e outros que têm teledensidade de STFC
superior a 70%.
4. É claro que queremos a universalização da banda larga. Mas a Pro Teste,
respeitando a LGT - art. 64, entendente que para se universalizar a banda
larga é necessária uma revisão na lei, transformando a banda larga em
serviço prestado em regime público. Porém, de qualquer forma será necessária
a instauração de nova licitação para a contratação da construção da rede de
transporte de dados, sob pena de se atropelar o inc. XXI, do art. 37, da
Constituição Federal e, ainda, se desrespeite o princípio da legalidade e
impessoalidade.
5. Outro equívoco no artigo da Miriam Aquino é dizer que a Pro Teste está
equivocada quando afirma que o custo do backhaul é bancado pelo
pagamento da assinatura básica e FUST. Basta ler o art. 81, da LGT, para
verificar que a afirmação da Pro Teste é a mais absoluta verdade. A leitura
de documentos relativos à universalização também é suficiente para se
concluir que é a receita da exploração do STFC que sustenta o custo do
cumprimento das metas de universalização;
6. Ainda, é equivocada a afirmação de que não há empresas, além das
concessionárias, interessadas em construir backhaul e a última milha
para prestar o serviço gratuito de banda larga para as escolas. A Pro Teste
juntou em sua ação documentos produzidos pelas empresas comprovando o que
afirmou;
7. Curioso também o fato de a jornalista ter dado tão pouca importância para
a questão da competição, que está seriamente comprometida com essa nova
política que reforça a posição de dominância das concessionárias e lhes
garante esse cenário por pelo menos mais 5 anos, o que contraria garantias
constitucionais de proteção à pequena e média empresas. A política é
concentradora de renda indiscutivelmente, mas o Telesíntese não se atentou
para esse aspecto;
8. O artigo da Telesintese também não menciona o fato de que a equivalência
econômica entre os PSTs e o Backhaul não ficou devidamente
comprovada, o que gera desequilíbrio econômico-financeiro do contrato, em
prejuízo do Poder Concedente;
9. Por fim, a Pro Teste não "pretende" defender o consumidor. Ela de fato
defende. Alguns exemplos:
a) conseguimos garantir a tarifa social de energia elétrica para milhões de
consumidores brasileiros, por meio de Ação Civil Pública, contra o que a
ANEEL sequer recorreu;
b) conseguimos, também por meio de ação civil pública, obrigar a Telefonica
a discriminar as chamadas locais nas contas telefônicas por tempo
indeterminado, pois a concessionária entendia que o consumidor tinha de
pedir expressamente cada vez que pretendesse ter a conta discriminada e que
deveria pagar por isso;
c) a Pro Teste realiza testes de produtos e serviços e, diversas vezes,
obteve sucesso retirando produtos e serviços perigosos aos consumidores do
mercado;
d) a Pro Teste produz revista distribuídas entre seus 200 mil associados - é
a maior associação de defesa de consumidor da América Latina - por meio da
qual orienta o consumidor a respeito de seus direitos.
É surpreendente a postura do Telesíntese, de querer comprometer a imagem de
associação de defesa do consumidor, hoje com mais de 6 anos e que ao longo
desse tempo vem se esforçando em fazer frente aos abusos do mercado.
Vale esclarecer que, antes de escrever o artigo a jornalista não procurou
ninguém da Pro Teste para que pudéssemos deixar claros nossos pontos de
vista.
Segue em anexo o arquivo com a inicial da ACP da Pro Teste.
Abraços e até mais.
Flávia Lefrève
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Mensagem de
Miriam Aquino em 20/05/08
Prezado Hélio,
Obrigada por sua correspondência.
Entendo que o papel da sociedade, e de sua
comunidade, é este mesmo, fiscalizar, acompanhar, denunciar e formular
propostas para a construção de um país menos desigual.
Entendo também que todos têm o direito a expressar
sua opinião. Eu, por exemplo, acredito que a troca de metas de
universalização dos postos telefônicos pela estrada de banda larga é um
dos programas mais importantes do governo, pois, além de levar a nova
rede para os milhares de municípios brasileiros que ainda não contam com
ela, irá conectar as escolas públicas.
Entendo também que empresa concessionária deve ser
usada como instrumento de política pública, por isso, a concessão da
União para a iniciativa privada.
Quanto à matéria da Abrafix, acho que ela ficou fora
de contexto, pois uma coisa é o presidente da entidade defender uma
tesa, outra é entender que a sua tese está confirmada.
Embora haja a denúncia da Pro Teste sobre se o backhaul é ou não
reversível, acredito que seria um absurdo se esta rede não fosse um bem
reversível. Por isso, também nós fomos atrás da informação, e com todos
as fontes que falamos, em nenhum momento a reversibilidade da rede de
banda larga ficou sob questionamento ou sem garantia no contrato de
concessão e nas demais regras da Anatel. Mas acho também que cabe à
Anatel e à Justiça confirmar de vez esta questão.
Abraços
Miriam Aquino
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