----- Original Message -----
Sent: Sunday, October 05,
2008 7:42 PM
Subject: TV Digital (31) -
Interatividade e Ginga - Dois artigos sobre TV Digital
01.
Alguns participantes estranham que alguns assuntos
trazidos aos Grupos não têm a esperada repercussão.
Este "fenômeno" é bem identificado e tem até nome:
"estrondoso silêncio". :-)
Nada preocupante: os membros não tem obrigação de
participar ativamente.
Mas tudo que é colocado aqui é lido atentamente,
discutido, meditado, encaminhado e opiniões são
formadas.
Alguns temas repercutem mais nos bastidores do que no
"plenário" dos fóruns. :-)
Agradeço a todos que colaboram com sugestões, correções
e indicação de novas matérias sobre o "post:
[01/10/08]
TV Digital (30) - Interatividade e Ginga: Resumo +
Coleção de notícias
Estou trabalhando no novo resumo mas, em
adiantamento, aqui estão duas indicações
recebidas, matérias preciosas, muito atuais, um exemplo
de "mídia não pautada": :-)
Estão transcritas mais abaixo.
02.
Este é o "Serviço Comunitário" sobre "TV
Digital.
O objetivo do "Serviço" é informar
e estimular o "compartilhamento" das opiniões,
conhecimentos e experiências dos participantes.
O "Serviço" se completa com o debate do tema.
Estamos também em "campanha" para incentivar a
interação de nossos membros com as autoridades,
entidades públicas e da sociedade civil e com a mídia.
Neste "maravilhoso novo mundo conectado" a
participação individual é possível e faz uma enorme
diferença!
02.
É uma longa "tradição" na ComUnidade: acompanhamos
programas governamentais sem fazer política
partidária, com espírito crítico, para "ajudar a dar
certo".
De um modo geral, independente do governo de plantão,
os programas são bons mas não vingam por
incompetência e má administração, falta de
acompanhamento e auditoria e, não raro, muita
malandragem e corrupção.
Estamos acompanhando a
implantação da TV Digital.
Sem maiores considerações, vemos que a imposição de um
padrão sem levar em conta os estudos anteriores
patrocinados pelo próprio governo e a precipitada
implantação parecem obedecer à fatores outros que não
os diretamente ligados ao interesse da população.
O início prematuro das
transmissões, a ausência de estudos sobre os canais
de retorno no "mundo real" e a venda de conversores
capengas é simplesmente um escândalo.
Mas está aí e veio para ficar.
Agora tem que dar certo, com transparência, sem
enganação ou prejuízo para o consumidor.
No momento, nossa ajuda é procurar entender.
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Fonte:
Tele.Síntese
[04/12/07]
As decepções da TV digital por Lia Ribeiro
Marcado por pompa e circunstância, o início da transmissão
da TV digital no Brasil, na noite de domingo, 2 de
dezembro, representa, sem dúvida, um novo capítulo na
história da comunicação de massa no país. Telespectador
assíduo, o brasileiro, que consome 3 horas e 43 minutos do
seu dia em frente à tevê (dados de 2006, do Ibope Mídia),
vai poder receber um sinal de muito melhor qualidade e até
em alta definição. Vai também poder assistir tevê no
celular, no ônibus ou trem, na ida para o trabalho ou no
retorno para casa. E fazer uma série de operações a partir
do conversor de sinais, o setop box: interagir com o
programa a que está assistindo, marcar consulta na rede
pública de saúde, ver se a aposentadoria foi depositada,
entre muitos outros serviços.
Mas tudo isso é futuro. A TV
digital começa limitada a poucos telespectadores não só
porque a transmissão digital, por enquanto, só cobre a
Grande São Paulo. É limitada também porque poucos usuários
têm televisores digitais preparados para a recepção
digital, comercializados por volta de R$ 7 mil, ou
investiram na compra do conversor que, acoplado à TV
analógica, permite receber os sinais digitais. Ao
contrário das promessas do governo, os conversores
chegaram ao mercado com preço salgado: o modelo mais
simples, da Positivo, foi lançado por R$ 499,00.
Além do preço, que deve
cair, os conversores padecem de um outro mal. Não trazem
recursos de interatividade, porque não incorporam o
software, no caso o Ginga, o middleware desenvolvido no
país, com recursos públicos, que faz a interface entre o
sistema operacional e os programas aplicativos. Isso
significa que quem comprar agora o conversor vai ter de
trocá-lo mais à frente, se quiser novos recursos. Para
evitar a chamada base legada, os órgãos de defesa do
consumidor estão sugerindo à população não comprar os
conversores agora, mas esperar pela nova geração com
recursos de interatividade. Segundo os desenvolvedores do
Ginga, ele já está sendo embarcado em produtos de
diferentes fabricantes, que devem chegar ao mercado a
partir de maio/junho de 2008.
Que a televisão digital
seria voltada a uma elite, no início das transmissões,
todos sabiam. Afinal, o governo brasileiro escolheu o
padrão japonês (e com alterações em relação ao middleware
e ao sistema de compressão de sinais), que tem uma base
muita limitada – só está operacional no Japão e, mesmo
assim, em poucas cidades. Para contornar a falta de
escala, o país precisava ter definido uma política
industrial agressiva. Mas não o fez. Mais uma vez
prevaleceram os interesses regionais, e o conversor foi
enquadrado como bem de imagem e som. Ou seja, seus
fabricantes só têm benefícios fiscais, se estiverem
instalados na Zona Franca de Manaus.
Promessas não cumpridas
Da mesma forma que não
construiu uma política para que os conversores chegassem
ao mercado ao preço prometido pelo ministro das
Comunicações, Hélio Costa, menos de R$ 200,00, o governo
também falhou no que se refere à interatividade. Aliás,
esse foi um dos principais argumentos, ao lado da
mobilidade, que o governo brasileiro apresentou na defesa
do padrão japonês, o preferido dos radiodifusores, pois,
ao permitir a transmissão, na mesma faixa de espectro,
para pontos fixos e móveis, mantém intacto o modelo de
negócios desse setor. Ou seja, os radiodifusores não têm
que dividir com outras redes a transmissão dos programas
e, portanto, os recursos publicitários que os patrocinam.
A interatividade é
importante do ponto de vista do desenvolvimento de uma
política de inclusão digital. Diante da elevada taxa de
penetração da televisão no país – ela está presente em 91%
dos domicílios brasileiros --, usar o televisor, na versão
da transmissão digital, como canal de difusão de programas
de governo, de programas educacionais, de serviços da
Previdência, para citar um exemplo, pode significar uma
revolução social de proporções não imaginadas.
Mas, embora no discurso o
governo tenha destacado a importância da interatividade ,
na implementação do processo, ela não mereceu a prioridade
devida. O governo, que financiou desenvolvimentos para a
TV digital com recursos do Funttel, o fundo de
desenvolvimento das telecomunicações, não traçou uma
política para garantir a industrialização dos conversores
com a incorporação do Ginga, desenvolvido pelas equipes da
PUC do Rio e pela Federal da Paraíba, e do sistema de
compressão MPEG. Só assim seria possível ter um conversor
popular, de baixo custo e com os recursos da
interatividade. O governo também não se preocupou em
montar um programa coordenado de desenvolvimento de
aplicativos sociais para rodarem no Ginga, e serem
utilizados pela população. Pelo que se sabe, só a Caixa
Econômica Federal e o Banco do Brasil têm projeto nesse
sentido.
Por fim, também não há um
trabalho organizado de definição do canal de retorno, que
hoje só pode ser feito via redes telefônicas (fixas, no
domicílio que contar com uma linha), ou celular, ambas
pagas. Para aplicações sociais, seria importante que o
canal de retorno fosse gratuito (reservando-se espaço para
uma rede pública nas freqüências de 3,5 GHz ou mesmo em
700 MHz), ou patrocinado pelo provedor do serviço.
Há muitos outros equívocos no modelo de televisão digital
definido para o Brasil. Como o fato de ter privilegiado a
alta definição no lugar da multiprogramação, o que limitou
o número de emissoras praticamente às existentes – só
houve espaço para a criação de quatro novos canais
públicos. Também as anunciadas contrapartidas do governo e
empresas japonesas à adesão ao seu padrão deixaram muito a
desejar. Da hipotética fábrica de difusão de
semicondutores ao centro de desenvolvimento de design de
chip, passando pela garantia de mercado a produtos
fabricados aqui. Ao final das negociações, a montanha
pariu um rato.
Se, em relação a esses
pontos, não há nada o que fazer, o governo Lula pode ainda
corrigir a rota da TV digital, para que ela não sirva
apenas aos interesses dos radiodifusores brasileiros – e
também dos telespectadores que puderem pagar por um sinal
de muito melhor qualidade e facilidades que virão no
futuro. É preciso que se monte um programa para fazer, da
interatividade na TV para programas sociais, um objetivo
estratégico do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre.
Aí, sim, a TV digital vai fazer uma diferença que vai
muito além da imagem sem chuviscos. Ela vai ser a porta de
entrada para a Sociedade da Informação.
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Instituições se queixam de
descontinuidade de programas e da burocracia para liberar
recursos para as pesquisas
Acadêmicos esperavam que
introdução da tecnologia trouxesse mais recursos para
pesquisa na área; governo diz que há verba
Depois da euforia inicial do
meio acadêmico com a decisão do governo de implantar a
televisão digital com inovações tecnológicas desenvolvidas
no país, as universidades se decepcionaram com o atraso na
liberação de recursos federais para custeio das pesquisas.
O Instituto Mackenzie, de São Paulo, aguarda há 16 meses a
assinatura de um contrato de R$ 1 milhão com a Finep
(Financiadora Projetos e Pesquisas, do Ministério da
Ciência e Tecnologia) para construir a Estação
Experimental da Televisão Digital, que medirá a qualidade
de recepção dos sinais da TV digital transmitidos pelas
emissoras.
A Finep disse que o contrato está em vias de ser assinado.
A estação deveria ter sido
implantada antes do lançamento da televisão digital
(ocorrida no último domingo, em São Paulo), o que não foi
possível por falta de verba.
Segundo o coordenador do projeto, Gunnar Bendicks,
professor da Escola de Engenharia da Universidade
Mackenzie, uma das funções da estação será informar à
população as áreas em que os sinais não funcionam. ""As
emissoras fazem a medição, mas não têm interesse em
divulgá-las", diz ele.
A mais famosa contribuição
da academia para a televisão digital, o software da
interatividade, chamado de Ginga, teve as pesquisas
custeadas pela PUC do Rio de Janeiro por vários anos. O
projeto tem a participação da Universidade Federal da
Paraíba.
Um dos criadores do Ginga,
Luiz Fernando Gomes Soares, da PUC do Rio, diz que a
descontinuidade dos programas leva à desarticulação das
equipes de pesquisadores. Ele disse que o projeto também
sofreu atrasos nos repasses da Finep.
Por isso o andamento das pesquisas também atrasa.
O Inatel (Instituto Nacional
de Telecomunicações), de Santa Rita do Sapucaí (MG),
assinou um convênio, de R$ 7 milhões com a Finep há cinco
anos para desenvolver o laboratório de homologação dos
sistemas de TV digital.
Segundo o presidente da Fundação Inatel, Adonias Costa, o
projeto era de três anos, mas o prazo vem sendo adiado,
por falta de verba. Ainda está pendente uma parcela de R$
630 mil. A Finep alega que o Ministério das Comunicações
não repassou o dinheiro.
Em 2004, o governo mobilizou
as universidades para apresentar soluções tecnológicas
para o sistema brasileiro de televisão digital. Foram
formados 21 consórcios. As universidades dizem que quando
essa etapa terminou, em 2005, faltou uma ação do governo
para dar continuidade às pesquisas.
Ano da desarticulação
O ano de 2006, em que o governo fez a escolha pelo padrão
japonês, é considerado como o da desarticulação dos
projetos na área acadêmica.
As discussões passaram ao âmbito do fórum da TV digital,
no qual indústrias e radiodifusores têm maior peso de
votos, e cada universidade passou a agir isoladamente para
tentar aprovar projetos na Finep.
O professor Marcelo Zuffo,
do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da
Escola Politécnica da USP, que havia coordenado o
consórcio de discussão sobre o terminal de acesso,
apresentou à Finep projeto para desenvolvimento da caixa
conversora (set top box) em janeiro de 2006.
A USP esperou uma resposta da Finep até outubro deste ano,
quando foi comunicada da recusa do pedido.
"Foi um processo muito desgastante. A discussão da TV
digital acabou politizada, e nosso papel é científico. Não
recorremos da decisão da Finep, porque a TV digital já foi
lançada, e inovação tecnológica exige "timing" ", afirma
Marcelo Zuffo Ele diz que a USP continua as pesquisas do
conversor, com recursos próprios, e que deve anunciar uma
novidade nessa área em breve.
O conversor é o "calcanhar de Aquiles" da TV digital, pelo
seu alto preço. O equipamento chegou ao mercado com preços
entre R$ 499 e R$ 1.100, e o próprio governo pediu que os
consumidores não o comprem antes que o preço caia.
Ministério diz que não há
falta de recursos
O Ministério das
Comunicações diz que não faltam recursos para o custeio
das pesquisas da TV digital e que não vê morosidade nem
excesso de burocracia por parte da Finep, no repasse do
dinheiro para o meio acadêmico.
A verba para custeio das pesquisas sai do Funttel (Fundo
para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações),
formado pela arrecadação de 0,5% sobre o faturamento de
todas as empresas do setor.
Desde a criação do fundo, em 2000, o governo já arrecadou
R$ 707,84 milhões. A maior parte do dinheiro está com a
União e financia as contas públicas.
O secretário-executivo do grupo gestor do Funttel, Carlos
Paiva, do Ministério das Comunicações, diz que a dotação
orçamentária do fundo neste ano é de R$ 105 milhões, dos
quais 30% ficarão com o Cpqd (Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Telecomunicações), e que o restante da
dotação será usada ainda neste ano.
Finep e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social) são agentes repassadores dos recursos do
Funttel. Para Paiva, os projetos da Finep estão com
cronograma em dia, contrariando o entendimento das
universidades.
Finep
A Finep afirmou, por intermédio de sua assessoria, que a
última parcela do convênio com o Inatel (de R$ 630 mil)
não foi paga porque não foi liberada pelo Ministério das
Comunicações. Carlos Paiva, do ministério, afirmou que
desconhecia a informação.
Em relação ao financiamento das pesquisas do Ginga, a
Finep disse que firmou um contrato com a PUC do Rio de
Janeiro de dezembro de 2006, no valor de R$ 1,7 milhão,
dos quais liberou R$ 1 milhão, pago em duas parcelas. A
liberação da terceira parcela, segundo a Finep, depende de
exame da prestação de contas da universidade, ainda a ser
feito pelos auditores.
A Finep não comentou as razões da demora na assinatura do
contrato com o Instituto Mackenzie.