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From: bruno@openline.com.br
To: wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Saturday, September 27, 2008 11:09 AM
Subject: Re: [wireless.br] A mídia "pautada" (2)
Olá
O mundo realmente mudou. E o jornalismo mudou com ele.
Quando a informação deixou de ser o objetivo e passou a ser
o capitalismo puro e simples ("ganhar dinheiro"), ocorreram
várias coisas.
Primeiro, ao invés de manter equipes caras e especializadas,
a informação transformada em commoditie descartável, grupos
passaram a comprar matérias em agências de noticias, a
trocar profissionais gabaritados por versões "mais baratas",
ou seja, houve uma diminuição de custo puro e simples, e com
ele o fim da análise
independente por inanição.
Em segundo lugar, vários grupos foram adquiridos por
multinacionais, notadamente os grandes jornais e tvs
adquiridos pelo Rubert Murdoch (que detém também
participação em empresas de telecom, como Sky e Directv,
também do grupo Fox entre outros), que tem interesse em
divulgar seus pontos de vista apenas.
Esses fatores possibilitam no mínimo a parcialidade da
análise da informação, como pôde ser verificado na 1a
eleição de Bush Jr, onde determinado canal de News começou a
dizer que ele tinha ganho sem que ele tivesse os votos e
culminou na mudança que o elegeu, inclusive com os problemas
de contagem de votos e impedimento de acesso de eleitores da
Florida, onde o governador era o irmão do candidato.
Era interesse de quem dominava a mídia e aconteceu.
Nas terras tupiniquins, outro exemplo. Um grupo nacional
publicou a alguns anos um editorial no principal jornal
televisivo do pais e uma de suas atrizes mais conhecidas
prestou um depoimento no horário político sobre o "medo" que
teria se determinado candidato fosse eleito. Pauta da elite
dominante desde os idos do governo militar, por sinal, e deu
certo.
Atualmente uma determinada revista de grande circulação
planta escândalos o tempo inteiro, talvez com o objetivo de
trazer mais anúncios pagos pelas estatais e governos, quase
como uma extorsão.
Um jornal aqui da minha cidade também faz isso, contra o
governo do estado.
Dou outro exemplo "mais na nossa área", o wi-max. Tem muito
burburinho a anos e o produto não chega ao mercado, muito
menos a falada interoperabilidade, com vários pré-wi-max
proprietários vendidos. O que se mais lê sobre wi-max é
pauta.
Nessa área de tecnologia, inclusive, pautar a mídia
significa montanhas de dinheiro para quem cair no conto e
investir nessa ou naquela tecnologia. Ou impedir que se
invista na tecnologia concorrente.
Em software, tivemos a pouco tempo outra campanha, desta vez
contra um sistema operacional aberto, custeada por uma
companhia monopolística, que dizia que o software livre
violava patentes e que todos que o usassem seriam
processados. O termo usado para esse tipo de campanha é
"semear FUD" (Fear, Uncertain, Doubt), e o objetivo, galgar
mercado e barrar a concorrência. Muitas pautas sobre isso
também circularam sem nenhuma análise mais aprofundada da
questão, como por exemplo será que não foi o software
proprietário que copiou o código aberto, violando sua
licença, como várias empresas fazem, aliás?
E qual seria o "bom combate" do jornalista interessado?
Aprofundar as pautas com análises de institutos
independentes? Bem, já houveram casos de estudos publicados
com patrocínio financeiro de interessados nesse ou naquele
resultado.
Que tal consultar profissionais da área e publicar suas
opiniões apoiando ou criticando pontos da matéria, de
preferência ambas?
E no caso destes profissionais parecerem tendenciosos,
procurar na área acadêmica doutores nos temas?
Parecem-me boas soluções, muito embora o jornalista que
ganha pouco e que tem pouco tempo para fechar cada matéria,
em tempos de notícias descartáveis, não tenha condições de
investigar nada a fundo e acabe por simplesmente aceitar as
pautas em nome do pão nosso de cada dia.
Lanço outro pensamento, portanto. Quantos dos 4 mil membros
dos blocos efetivamente se integra as discussões e faz uma
análise mais aprofundada dos importantes temas apresentados
aqui? Vamos participar mais?
[]s, !3runo Cabral
P.S. sou empresário da área de tecnologia e telecom, não sou
jornalista. A maioria das noticias que leio são on-line e a
única revista que assino é Carta Capital, embora esteja um
pouco decepcionado pela cobertura nula da revista sobre a
mudança do PGO e os desmandos das teles, da parcialidade do
ministro e da inapetência da agência fiscalizadora.