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Dezembro 2009 Índice Geral do BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão Celld-group e WirelessBR. Participe!
27/12/09
• Revista Teletime: Leitura obrigatória: "Engarrafamento" (...há no país uma falha sistêmica nos serviços de voz e dados móveis...)
de Helio Rosa <rosahelio@gmail.com>
para Celld-group@yahoogrupos.com.br,
wirelessbr@yahoogrupos.com.br
cco daniel@convergecom.com.br
data 27 de dezembro de 2009 16:53
Olá, ComUnidade
WirelessBRASIL!
Leitura de Festas... :-)
Matéria de fôlego! Excelente!
Leitura obrigatória!
Parabéns, Daniel Machado!
Fonte: Revista Teletime
[Nov 2009]
Engarrafamento - por Daniel Machado
(daniel@convergecom.com.br)
Comentários?
Ao debate!
Boa leitura!
Boas Festas!!!
Ótimo 2010!!!
Um abraço cordial
Helio
Rosa
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Fonte: Revista Teletime
[Nov 2009]
Engarrafamento - por Daniel Machado
(daniel@convergecom.com.br)
Em 18 de setembro, o que até então não passava de uma percepção geral ganhou
chancela oficial da Anatel: há no país uma falha sistêmica nos serviços de voz e
dados móveis gerada pela alta demanda da banda larga móvel.
Neste dia, a área técnica da agência reguladora tornou público um relatório
informando que registros como “erro de conexão”, “falta de sinal” e “quedas nas
chamadas” nos serviços das operadoras móveis se tornaram comuns desde o início
do ano em diversas capitais e estariam sendo provocados pelo forte tráfego
gerado pelos serviços de terceira geração (3G) nas estações radiobase (ERBs).
Na ocasião, o superintendente de serviços privados da Anatel, Jarbas Valente,
admitiu publicamente que o avanço da 3G ocorreu acima de todas as expectativas,
inclusive as da própria agência reguladora, e que, para resolver o problema
seria necessário de cada operadora um investimento médio de R$ 1 bilhão para a
ampliação da capacidade da infraestrutura.
Ou seja, o setor de telefonia móvel teria que desembolsar de R$ 4 bilhões a R$ 5
bilhões a mais do que os investimentos previstos para colocar a oferta da 3G nos
trilhos. O posicionamento oficial das operadoras foi controverso, com um tom de
tranquilidade.
A Vivo informou que “não demonstrava preocupação com o crescimento de sua base
de assinantes na banda larga móvel”.
A TIM revelou que sua “rede de terceira geração fora dimensionada para atender
às demandas dos usuários de dados, ficando a rede de segunda geração (2G)
somente para os serviços de voz” e, portanto, apostava na “expansão da cobertura
e na manutenção da sua (boa) qualidade de sinal”.
A Oi garantiu que “contava com capacidade suficiente para suportar o crescimento
do tráfego e do número de usuários sem prejuízos para seus serviços de voz”.
Na mesma linha, a Claro informou que “os investimentos em sua rede 3G estavam
focados no aumento da capacidade a fim de suportar o crescimento de assinantes e
de tráfego, bem como na expansão e ampliação da rede de dados”.
Diante disso, TELETIME procurou especialistas no assunto, de institutos de
pesquisa e órgãos de defesa do consumidor a consultorias e integradores e
fornecedores de soluções de redes dessas operadoras para entender a razão da
divergência. E o que se ouviu foi bem diferente do que dizem as teles móveis.
3G em xeque
Estudo da Nielsen Telecom Practice Group, divisão de telecomunicações da empresa
de pesquisas Nielsen, revelou que o índice de queda de chamadas efetuadas a
partir de aparelhos 3G nas capitais brasileiras é, em média, de quatro a cinco
vezes maior em relação aos handsets só de voz (2G). O mesmo levantamento apontou
que aproximadamente 12% das ligações de celulares 3G na região metropolitana do
Rio de Janeiro não são completadas por falta de sinal. “O índice máximo
aceitável de não-completamento de chamadas é de 2%, ou seja, seis vezes menor”,
destaca Thiago Moreira, gerente regional de produtos da Nielsen para a América
Latina, que coordenou o estudo.
Ele revelou também que entre as operadoras Vivo, Claro, TIM e Oi foram
detectados 34 pontos no Rio de Janeiro com queda de chamada e 71 localidades com
telefonemas mal sucedidos.
Apesar da topologia acidentada do Rio de Janeiro e da vasta orla marítima, que
desfavorece a propagação dos sinais, e de a aferição ter sido realizada em
dezembro do ano passado, os números não fogem da realidade atual de outras
grandes capitais.
Em Fortaleza, a queda de chamadas dos celulares 3G é cinco vezes maior na
comparação com os de 2G, na medição dos serviços de uma das duas operadoras que
atuam na região. Esse levantamento é ainda mais recente, de julho de 2009.
Segundo o diretor de um grande fabricante de equipamentos de redes, essas
estatísticas poderiam ser ainda mais alarmantes, pois algumas operadoras
utilizam sistemas que silenciam a chamada tão logo a ligação cai. “O usuário
acha estranho e desliga o telefone, dessa forma a ligação não é contabilizada no
relatório de chamadas perdidas, solicitado periodicamente pela Anatel”, revela.
O estudo da Nielsen, encomendado por uma tele móvel, também revelou que diversas
áreas das cidades pesquisadas ainda não contam com cobertura 3G, apesar de as
operadoras anunciarem o contrário. “O usuário que se desloca no ônibus ou em um
táxi, por exemplo, vê seu sinal despencar de 900 kbps para 90 kbps, a Internet
fica lenta, a voz cai ou registra má qualidade, enfim a experiência não é nada
boa”, diz Moreira. “Os dados foram coletados por meio de veículos dotados de
equipamentos de última geração, capazes de captar sinais 2G e 3G de todas as
operadoras”, acrescenta.
Pequenos e médios municípios também foram estudados. No município de Marabá, no
Pará, não foram identificadas quedas de chamadas na rede 2G, contra 0,88% da
rede de terceira geração. Já os serviços 3G no município não passam dos 195 kbps,
em uma operadora, e 254 kbps, em outra. Portanto, conforme a União Internacional
de Telecomunicações (IUT), não podem ser classificados como banda larga móvel,
uma vez que devem exceder os 256 kbps.
Na berlinda
Preocupada com a má qualidade da 3G no país, a Anatel exigiu das operadoras
iniciativas práticas para a melhoria dos serviços, em tom de ameaça. “Enviamos
cartas para as quatro grandes operadoras, informando que se os serviços não
melhorassem, elas seriam alvo da mesma punição aplicada à Telefônica”, disse
Nelson Takayanagi, gerente especial de comunicações pessoais terrestres da
Anatel.
Em meados deste ano, a agência proibiu a Telefônica de comercializar seu produto
de banda larga (Speedy) até que fossem implementadas medidas que assegurassem a
efetiva regularização do serviço, medidas essas que deveriam ser aprovadas pela
Anatel. Com isso, a operadora ficou pouco mais de dois meses sem vender o
serviço de banda larga.
A agência chegou a sugerir que as operadoras reduzissem a publicidade da 3G,
fato negado pelas teles. Porém, em comunicado oficial recente a TIM informou que
interrompeu a comercialização do serviço de terceira geração em áreas onde não é
possível garantir a qualidade do sinal. O diretor de marketing da operadora,
Rogério Takayanagi, declarou que não se pode vender um produto sem boa cobertura
sob o risco de arranhar a imagem da empresa (ver entrevista nesta edição).
Na Claro, a diretriz vem do próprio presidente João Cox: “Suspendemos a
comercialização sempre que percebemos que a rede está se aproximando do nível
adequado para garantir uma boa qualidade do serviço”, diz o chefe da operadora.
Essas e outras proposições práticas para a resolução dos problemas passaram a
ser discutidas entre as operadoras em reuniões periódicas na Anatel.
Foram criados dois grupos de negociação, um de caráter estratégico (formado
pelos presidentes das teles) e outro técnico, que reúne os diretores de redes e
operações dessas empresas.
Segundo Takayanagi, da Anatel, três reuniões foram realizadas desde o início do
ano, uma estratégica e duas técnicas. Um novo encontro com os mandatários das
operadoras está planejado para acontecer no final de novembro, em função da
proximidade do Natal, quando aumentam o tráfego de voz e de SMS e a venda de
novas linhas móveis. Dois temas foram levantados nas reuniões realizadas até
aqui: a autonomia entre os serviços de voz e dados e o compartilhamento das
infraestruturas de rede.
Um novo modelo de compartilhamento
Segundo estimativas da Huawei, fabricante de equipamentos de redes, o Brasil
deve terminar 2009 com 5,9 milhões de acessos 3G.
Em agosto último, informa o levantamento, o serviço já estava disponível para
64% da população, porém somente em 12% dos municípios brasileiros.
As operadoras, de acordo com as regras estabelecidas pela Anatel no edital de
licitação da 3G, têm até 2016 para cobrir a totalidade dos 5.560 municípios
brasileiros com o serviço de telefonia 2G e, com 3G, todos com mais de 30 mil
habitantes e 60% dos municípios com menos de 30 mil habitantes. Para as
operadoras, aí está o maior desafio, pois mais de 80% dos municípios brasileiros
têm abaixo de 30 mil habitantes. “Nesses locais, o investimento é muito alto e a
receita baixa. É simples, a conta tem que fechar, é uma questão de lógica, vou
vender aquilo que oferece a melhor margem”, diz Hermano Pinto, head de
estratégia e desenvolvimento de negócios da Nokia-Siemens para a América Latina,
que não descarta a negociação de algumas metas do edital de 3G entre operadoras
e Anatel.
Para estender a oferta de banda larga móvel às pequenas cidades até 2016, onde
há baixo interesse econômico, o compartilhamento das redes entre as teles surgiu
nas reuniões técnicas e estratégicas realizadas na agência como um dos itens
mais importantes da agenda da 3G.
Não se trata, porém, apenas da partilha das torres, como sugere o próprio edital
e que já é feito por todas as operadoras, mas o compartilhamento da rede de
dados.
Esse modelo funcionaria da seguinte maneira: as cidades com menos de 30 mil
habitantes seriam divididas em quatro lotes, ficando cada parte sob a
responsabilidade de uma tele. A operadora “A”, nas cidades acordadas como sendo
de sua “jurisdição”, construiria as novas redes 3G e permitiria que as outras
três (“B”, “C” e “D”) compartilhassem o acesso.
Dessa forma, todo e qualquer custo de instalação, manutenção e operação ficaria
a cargo dessa operadora.
Num outro grupo de municípios, a operadora “B” faria o mesmo e assim
sucessivamente. “Essa ideia surgiu das próprias operadoras e houve consenso,
afinal cada uma construirá 25% dessas redes e usufruirá de 100% do serviço”,
revelou Takayanagi. “Além do mais, elas terão seus custos reduzidos em 75%, o
que é muita coisa”, completa.
A desvantagem dessa solução, no entanto, é o acerto entre as operadoras no que
diz respeito à divisão dos lotes e da administração das redes, que não podem
privilegiar uma tele em detrimento das demais. Porém, o benefício é grande para
todas e essas questões podem ser negociadas.
Claro e Vivo, juntamente com Embratel, já dividem seus sistemas de transmissão
na região Sul e pretendem estender o modelo para outras áreas. A Claro agora
estuda compartilhar sua rede com a Oi em São Paulo.
Ambas as empresas, inclusive, consideram a possibilidade de construir
conjuntamente uma rede nova em São Paulo.
As conversas, conforme informou ao noticiário TELETIME o diretor de engenharia e
operações de redes da Oi, Francisco Santiago, foram iniciadas em meados do ano e
caminham bem.
Para Tarcísio Ribeiro, vice presidente da Tellabs para a América Latina e
Caribe, outro modelo que deve vingar é o do compartilhamento de links ópticos
com as empresas de energia (utilities). “Em geral, as teles têm a tendência de
construir redes ópticas próprias, mas isso leva tempo, além de demandar grande
investimento.
Elas podem alugar a capacidade já existente das distribuidoras de energia
elétrica, por exemplo, que dispõem de boa capilaridade e imensos anéis de fibra
óptica”, diz. Além do compartilhamento, a disponibilidade de mais espectro e a
facilitação para instalação de infraestrutura de rede móvel por parte dos
estados e municípios, além das parcerias público-privadas, também foram
discutidas em reuniões da Anatel com os chefes das operadoras. A desoneração
tributária também constou na pauta das discussões.
Autonomia
A conta é simples: é possível estabelecer uma comunicação de voz, com protocolos
de compactação, com 16 kbps.
Já a transmissão de pacotes de dados na rede de telefonia móvel pode chegar a
7,2 Mbps na tecnologia HSPA, ou seja, uma taxa 450 vezes maior.
Não é a toa que com frequência os serviços 3G prejudicam as chamadas de voz. “No
levantamento que fizemos, os serviços de banda larga móvel foram a âncora que
puxou a média de quedas e não completamento de chamadas para baixo”, lembra
Thiago Moreira, da Nielsen.
Para Marcelo Motta, diretor de tecnologia da Huawei, “as redes móveis no Brasil
têm suas soluções de backhaul e backbone aptas para suportar somente o tráfego
de voz”.
Além disso, “o mundo dos dados é muito mais complexo que o de voz”, acrescenta
Luiz Minoru Shibata, diretor de consultoria da Promon Logicalis “Na voz, é
possível dimensionar o espaço ocupado na rede por usuário. Na banda larga isso é
impraticável”, diz.
É por esse motivo, diz Nelson Takayanagi, que se discute na Anatel com as
operadoras a separação das ERBs 2G e 3G, a fim de garantir autonomia dos
serviços de voz e de dados nas redes das operadoras. “Se a rota de dados
congestionar, a chamada de voz não pode cair”, diz.
E, se continuar assim, continuará caindo.
Segundo dados da Anatel, o brasileiro consome cerca de 8 Gb por mês nos serviços
3G, média considerada elevadíssima no comparativo com outros países. Erasmo
Rojas, diretor da 3G Americas para a América Latina e Caribe, aponta os maiores
culpados: os smartphones, aparelhos que consomem maior taxa de dados, e o uso
inadequado que se faz da banda larga móvel. “O problema é que muitos usuários
consomem banda larga móvel como se fosse a fixa”, diz. A culpa, naturalmente,
não é do usuário, mas da oferta deficiente de banda larga fixa, que força as
pessoas a recorrerem aos modems USB das móveis.
De fato, o brasileiro tem substituído a banda larga fixa pela móvel. Estudo
realizado pela consultoria Yankee Group no último mês de julho apontou que 51%
dos assinantes de 3G não têm banda larga fixa em casa. Esse dado corrobora a
previsão de outra consultoria, a Pyramid Research, que prevê que já em 2011 o
total de usuários de serviços de banda larga móvel no país atingirá a casa dos
18 milhões e finalmente ultrapassará o número de clientes de serviços fixos de
acesso rápido à Internet, que totalizará cerca de 17 milhões. “O problema é que,
ao contrário da fixa, os serviços 3G necessitam de espectro e o link é
compartilhado entre os assinantes”, acrescenta Rojas. Segundo ele, uma conexão
ativada por somente 15 minutos consome cerca de 100 Mb, o equivalente a mil
minutos de voz. O diretor geral de estratégia da NEC, Murilo Arakaki, concorda.
“O acesso móvel não foi feito para ser fixo, não tem largura de banda para isso.
O consumo indiscriminado dessa banda prejudica outras aplicações e os usuários”,
diz o executivo, que concorda com a prática das operadoras de restringir a
velocidade da conexão do usuário a partir de uma determinada taxa de
transferência de dados. No caso da Claro e da TIM, essa taxa é de 1 Gb, já para
a Vivo é de 2 Gb. Apesar de comum, a prática foi condenada pelo Instituto de
Defesa do Consumidor (Idec) - ver box.
Com mais de 36 anos de experiência no setor de telecomunicações, o consultor
Newton Scartezini, da Horizontes Consultoria, defende um outro modelo de
restrição. “Não simpatizo com nenhum tipo de medida que restrinja o uso. Como é
que uma operadora pode limitar o que ela vende? Mas, como se trata de uma medida
emergencial, que sejam praticados preços diferenciados por megabit excedido”,
diz.
Qualidade
Há quem acredite que a má qualidade dos serviços 3G no Brasil faz parte de um
jogo mercadológico friamente calculado pelas operadoras. É o caso de Hermano
Pinto, da Nokia-Siemens.
Segundo ele, as teles, principalmente Claro e Vivo, colocaram os serviços de
banda larga móvel na faixa dos 850 MHz, mesmo com espectro saturado, pois essa
infraestrutura já estava disponível e viabilizaria o rápido lançamento do
serviço.
Murilo Arakaki concorda e lembra que, apesar do crescimento vertiginoso, a
teledensidade da 3G ainda é pequena e que 2010 será mais um ano de busca de
assinantes, com forte disputa por aumento de market share. “A oferta de
qualidade, como um item obrigatório no 3G, só ocorrerá em 2011, quando a
teledensidade nacional da telefonia móvel se aproximar de 100%. A partir daí, o
churn orientará as estratégias, as redes passarão a ficar mais maduras e velozes
e o mercado de conteúdo e novas aplicações explodirá”, diz. Segundo ele, a
qualidade será o fator decisivo para a mudança de operadora (ver gráfico
abaixo). “Atualmente, menos de 6% do orçamento das operadoras, exceto licenças e
infraestrutura, é investido em plataformas de novos serviços”, acrescenta
Arakaki.
Porém, para Hermano Pinto, alguns investimentos em qualidade já deveriam estar
sendo feitos, pois nem sempre implicam altas cifras. “Às vezes é possível
melhorar a capacidade da rede sem investir em infraestrutura, com a otimização
da rede, por exemplo. Ela requer baixos investimentos, pois demanda apenas a
contratação de engenheiros especializados em estudar e otimizar essa rede
constantemente”, explica. O executivo informa que se investe pouco atualmente no
Brasil em inteligência de rede. “Conheço uma operadora que em 2003 tinha uma
equipe de engenharia de rede de 50 pessoas. Hoje são sete profissionais, com uma
rede seis vezes maior”, revela. “É preciso, por exemplo, analisar a topologia e
a morfologia das redes, por meio do test-drive (sistema que utiliza um carro com
antena utilizado para medir a emissão e recepção de sinais de voz e dados na
planta externa da operadora)”, diz. “Você tem de educar o cachorro enquanto ele
está pequeno, porque depois ele cresce e fica mais complicado”, observa.
Thiago Moreira, da Nielsen, revela que nos EUA a empresa possui 35 veículos que
rodam mais de 1,6 milhão de quilômetros por ano. “Aqui no Brasil isso
praticamente não existe”, lamenta.
2010: o ano do backhaul
Dez entre dez especialistas garantem que 2010 será o ano do backhaul para as
operadoras móveis. Todas elas, sem exceção, devem investir a maior parte de seu
orçamento na ampliação da capacidade das redes, a fim de garantir a vazão
necessária para o bom escoamento do tráfego entre as ERBs e o backbone. “Hoje
existem mais deficiências no backhaul do que no backbone das operadoras. Além
disso, a rede do backbone é menos complexa, por ser de menor capilaridade
geográfica e mais simples para ampliar capacidade”, explica Marcelo Motta, da
Huawei. Shibata, da Promon, faz uma analogia interessante para ilustrar a
situação do backhaul. “Nos serviços de voz, tínhamos algumas ruas de terra. Com
o ingresso da banda larga móvel, asfaltaramse essas vias, mas esqueceu-se de
alargar as avenidas (backhaul). As operadoras investiram bastante na rede de
acesso, as casas hoje são boas, as pessoas têm carros melhores, mas não há
avenidas para comportar todo o trânsito da cidade”, diz. Esse tráfego de dados
cresce exponencialmente, de seis a dez vezes por ano, dependendo da pesquisa. “A
banda larga móvel é a tecnologia que mais cresce no mundo e, até 2014 deve
crescer 70% somente no Brasil e atingir cerca de 60 milhões de acessos”, diz
Motta.
Para suportar toda essa demanda, Murilo Arakaki, da NEC, acredita na
substituição de rádios digitais no backhaul por sistemas ópticos. Segundo ele, a
fibra óptica atualmente está presente em 10% do backhaul das teles e, no ano que
vem, terá essa presença ampliada em 5%. “Já a demanda por rádios digitais
sofrerá queda na mesma proporção”, garante. Tarcísio Ribeiro, da Tellabs,
confirma a informação: “uma das operadoras que atendemos tem 70% de suas redes
operando em rádio digital, 20% em cobre e 10% em links ópticos”, revela.
“Acredito em um crescimento das soluções de fibra óptica, mas as encomendas dos
rádios digitais continuarão em alta, pois é impossível em um país grande como o
Brasil substituir tudo por fibras ópticas”, diz. O diretor da NEC garante que os
sistemas ópticos podem oferecer de 10 a 100 vezes mais desempenho em relação aos
rádios digitais, informação que Pedro Galhano, gerente de produtos de
transmissão da Huawei, rebate. “Há hoje no mercado rádios digitais de alta
capacidade que podem atingir throughput de 800 Mbps a até 1,7 Gbps, com banda
fixa dedicada para cada ERB de 155 Mbps”, diz.
Via fibra ou pelo ar, o fato é que todas as teles já anunciaram que estão
investindo e continuarão a fazê-lo a fim de ampliar a capacidade de suas redes.
Somente no último trimestre deste ano, a TIM investirá R$ 1 bilhão em suas
operações, sendo 65% em aumento da capacidade da rede. A operadora programou
investimentos de R$ 2,3 bilhões para 2009 e também aposta muito na integração
com a Intelig para a redução dos custos de aluguel de redes de terceiros e
reforço do seu backbone.
A operadora, no entanto, surpreendeu ao informar que em 2010 priorizará os
investimentos em serviços de voz 2G, medida totalmente na contra-mão em relação
ao que as concorrentes estão planejando para o próximo ano.
A Vivo também pretende realizar um aporte de R$ 1 bilhão no último trimestre do
ano, em um total de R$ 2,7 bilhões. Boa parte disso vai para o upgrade da rede,
também em função de seu uso mais intenso em dezembro e janeiro. A Oi, que teve
sua capacidade de investimento comprometida por conta da aquisição da Brasil
Telecom, trabalha com cifras mais realistas: R$ 1 bilhão entre 2009 e 2010. Os
planos, no entanto, são audaciosos. A gigante pretende lançar o chamado “quad
play” nacionalmente em 2010 e conquistar 5 milhões de clientes em São Paulo até
o encerramento do próximo ano, mercado onde ingressou no segundo semestre. A
estratégia para alcançar o feito é o lançamento do serviço 3G, com a ampliação
da rede dados, e a oferta da banda larga móvel na modalidade pré-paga, a exemplo
do que já fazem a Claro e a TIM.
A Claro não deixa por menos e anunciou um plano de investimentos para o Brasil
de US$ 1 bilhão em 2009, sendo 95% desse valor direcionado à rede 3G. Para
Hermano Pinto, da Nokia-Siemens, a Oi e a Claro, por terem apostado e aportado
mais na faixa dos 2,1 GHz, gozarão de vantagem estratégica em 2010, com o
crescimento da 3G. “Esse espectro ainda conta com grande potencial para a oferta
de novos serviços, portanto essas operadoras farão menores investimentos na
ampliação da capacidade em relação à concorrência”, diz.
Oferta frustrante
Se a qualidade dos serviços da 3G não está indo bem, a comercialização desse
produto também está longe de agradar. Pelo menos é o que apurou recente pesquisa
do Idec.
De acordo com o levantamento, a oferta da banda larga móvel da Oi, Claro, TIM e
Vivo é insatisfatória e frustra as expectativas do consumidor.
Um dos itens apurados foi a falta de transparência, ou seja, as operadoras só
informam as restrições de uso do serviço no contrato ou no website, que nem
sempre são verificados pelo usuário no ato da compra. “O pior de tudo é que as
empresas possuem cláusulas contratuais que as eximem da responsabilidade de
garantir a velocidade de acordo com a oferta”, diz a doutora Estela Guerrini,
advogada do Idec e coordenadora da pesquisa. “A propaganda da Claro, por
exemplo, oferece velocidade de banda larga, conexão rápida, mas no site e no
contrato, a empresa diz que só garante 10% da banda contratada”.
A propaganda e o website da Oi indicam que a velocidade de conexão é de “até 1
Mbps” e o tráfego de dados de até 10 GB. “Pior faz a Vivo, que alega que todos
os planos têm ‘até 1 Mbps’, mas não especifica em nenhum momento qual é o valor
real da velocidade”, diz.
Outra oferta contestada foram os chamados planos ilimitados. A Claro, a TIM e a
Vivo alegam em seus contratos que quando a transferência de dados for superior a
1 GB, no caso da Claro e da TIM, e a 2 GB, no da Vivo, elas poderão reduzir a
velocidade de conexão até o início do próximo faturamento. Assim, prossegue o
texto conclusivo do estudo, “a propaganda dos planos ‘ilimitados’ é enganosa”.
A pesquisa revela também que a Vivo, em uma de suas cláusulas contratuais,
proíbe o usuário de fazer uploads de grandes arquivos e utilizar VoIP (voz sobre
IP). “O consumidor tem direito à livre utilização de um serviço legalmente
contratado, desde que de acordo com a legislação vigente”, lembra. As
operadoras, procuradas por esse noticiário, informam que esclarecem corretamente
seus usuários sobre as condições do serviço.
Daniel Machado
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