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12/02/09

• Portabilidade Numérica (28) - Luciano Cadaval Basso faz uma "radiografia" do planejamento e implantação: sucessos e dificuldades

----- Original Message -----
From: Luciano Cadaval Basso
To: Celld-group@yahoogrupos.com.br ; wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Thursday, February 12, 2009 12:39 PM
Subject: [Celld-group]

Hélio:

Estou acompanhando, como fornecedor de soluções de TI e de redes, o processo de portabilidade desde seu início e posso passar minhas impressões:

1) A Anatel surpreendeu todo o mercado quando não se curvou às pressões das grandes operadoras, notadamente "prejudicadas" pela portabilidade e manteve o cronograma desde o seu início. Posso dizer que os lobbies não foram poucos e as ameaças catastróficas de que tudo ia dar errado foram recorrentes. Bom, palmas e mais palmas para a Anatel e que isso se repita em todos os outros processos (infelizmente como sabemos não tem se repetido).

2) Acho que o "sucesso" também se deveu ao modelo de adotar uma entidade independente da Anatel para gerenciar a portabilidade, a ABR. É importante ter um administrador privado, financiado pelas próprias operadoras, que garanta um tratamento igualitário a todas e seja menos imune a pressões políticas(não vire um cabide de empregos). Também credito o sucesso técnico ao pessoal da Cleartech (cria do CPQD), que pegou uma solução americana (Neustar) e a adaptou com sucesso ao modelo brasileiro. Não vou dizer que foi tudo a mil maravilhas, no início havia divergências e mal entendidos entre as operadoras e a ABR, mas com um diálogo (nem sempre tranqüilo) as soluções foram saindo.

3) Do lado das operadoras posso dizer que poucas acreditavam nos prazos (pressionaram a Anatel para extendê-los) e a grande maioria teve que correr para se adaptar às regras.
Na parte de redes quase todas tiveram que trocar seus PTS (Pontos de Transferência de Sinalização) por equipamentos mais modernos, o que gerou um custo expressivo. Adaptar a rede à realidade de que o número do terminal não pode mais ser base para o roteamento das chamadas foi uma quebra importante de paradigma, principalmente nas operadoras fixas.
Já na parte de TI, onde as operadoras têm que trocar informações de portabilidade e sincronizar com o BDR (Banco de Dados de Referência) da ABR a situação foi mais complicada. Primeiro na criação do processo de interconexão com a ABR, onde muitas definições e bugs só foram acordados e corrigidos já na fase de testes; as soluções de gateways das operadoras para se comunicar com a entidade administradora deram dor de cabeça a muitos e pelo menos um dos grandes players teve que "jogar fora" a sua solução existente e comprar de outro fornecedor há um mês do prazo final dos testes.

4) Outro ponto da parte de TI, que separo por estar impactando ainda a portabilidade, é a interconexão dos gateways citados acima com os sistemas legados das operadoras. É um processo complexo, pois influi em todos os sistemas e fluxos de cadastro, de tarifação, CRM, retenção, fraude, bilhetagem, BI, aprovisionamento, etc... Essa integração e os fluxos ainda estão sendo adaptados e isso gera ruído nos processos de portabilidade.
Os cadastros internos nem sempre batem e muitas informações que as operadoras possuem dos clientes não batem com a realidade ou estão defasadas. Considerando que a operadora doadora é quem indica divergência de informações e que ela é a parte não interessada na portabilidade acredito que esses problemas de cadastro serão uma praxe por um bom tempo. E tem muita informação errada fornecida pelos clientes, principalmente nos pré-pagos, onde por muito tempo o cadastro era feito via Ura, onde o cliente falava seus dados e CPF. Nesse processo muita gente deu informações incompletas, falsas ou simplesmente o reconhecimento da informação era impossível por problemas de dicção, ruídos ou falhas sistêmicas.

5) As empresas pequenas, espelhinhos e SMCs não estão preparadas para a portabilidade.
Na parte de TI elas possuem a prerrogativa de simplesmente receber os dados da BDR via FTP e utilizar uma interface manual (web) para o processo de doação ou recepção de números portados. Como não possuem BSSs e OSSs complexos a TI não terá um impacto sério para a maioria das pequenas.
Já na parte de redes elas têm um problema, afinal para as que têm rede TDM colocar PTS intrusivos se torna proibitivo pelo custo e a opção de alugar e utilizar a estrutura de uma operadora grande vai fazer que a operadora grande tenha a informação de 100% da pequena, além de ser custoso. As maiores (entre as menores) só agora, já com a portabilidade iniciada, estão se mexendo, obtendo soluções de rede baseados em SCPs (Ponto de Controle de Sinalização) ou instalando softswitch com sistemas de portabilidade. As menores, pelo que eu saiba, tentam se juntar para estabelecer uma solução única, porém a diversidade de modelos de negócio e a falta de capital, ainda atrapalhadas pela falta de um plano de numeração SCM. Se bem que nas redes VoIP a solução seja bem mais simples que na TDM.
Neste ponto vejo a situação como muito ruim, pois várias destas pequenas poderiam "roubar" contas de clientes insatisfeitos com as STFCs e não vão poder fazer isso pelo menos no curto prazo.
E as menores estão prejudicadas também pela não regulamentação do unbundling, ficando a última milha ainda restrita aos grandes players.

6) Quanto ao marketing ainda insipiente acredito que deve aumentar somente depois que a área 11 entrar na portabilidade (a 21 entrou a pouco) e as operadoras estivem com seus processos maduros. Acredito que as celulares devem sair na frente, até pela facilidade de não ter que pensar na última milha. De qualquer forma a regulamentação só exige que as operadoras divulguem a portabilidade 60 dias depois de completamente implantada (60 dias depois de 2 de março) E deve ficar claro que a portabilidade é mau negócio para as maiores operadoras, pois a tendência é que elas percam clientes. E obviamente quem tem mais poder na mídia são as grandes.

7) Concluindo eu acredito que a portabilidade vai fazer um bem à telefonia do país, mas nada revolucionário (quem sabe com o marketing, massificação VoIP e o unbundling vire uma revolução). Para nós que trabalhamos na área foi (e está sendo) uma garantia de movimentação do mercado, gerando negócios e empregos. A modernização das redes e os sistemas de negócio melhor conectados também devem gerar novos serviços e produtos.

Abraços,

Luciano Cadaval Basso
 


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