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28/06/09
• Teletime:" Provedores: ter ou não ter?" por Mariana Mazza
Fonte: Teletime
[Março 2009]
Provedores: ter ou não ter? por Mariana Mazza
Em 1995, a Internet engatinhava no Brasil. Naquele ano, a Embratel, ainda
estatal, lançava comercialmente seu primeiro pacote de acesso à rede e apenas
algumas dezenas de milhares de brasileiros estavam conectados via dial-up ou
linha dedicada. Sem concorrentes à vista, o governo decidiu então abrir o
mercado de oferta de conexão à Internet. Para isso editou uma norma, a 04/1995
do Ministério das Comunicações. O documento, revolucionário para a época,
tinha a missão de organizar a entrada na rede pública de telecomunicações,
criando um serviço específico de provimento, capaz de ser prestado também por
empresas privadas.
O então ministro Sérgio Motta rompia assim pela primeira vez um monopólio
estatal de serviço. Só que o que parecia o calçamento para um futuro tranquilo
na oferta de acesso à Internet tornou-se um dos maiores esqueletos das
telecomunicações pós-privatização.
Nesses quatorze anos que separam os dias atuais da edição da Norma 04/95 pouco
foi escrito para organizar a oferta dos serviços de Internet no Brasil, a
despeito da inegável mudança de mercado que aconteceu nessa quase década e
meia.
Fala-se hoje em universalizar o acesso à banda larga e o internauta brasileiro
já tem o maior tempo médio de navegação do mundo.
A diversidade de oferta de serviços de conexão à Internet, que fizeram o
Brasil chegar à casa dos 40 milhões de acessos em 2008, dos quais mais de 10
milhões em banda larga e quase 2 milhões por redes móveis, dá uma idéia de
como uma norma de 1995 pode deixar brechas para problemas em um cenário tão
diferente daquele em que foi editada.
Nos últimos anos, dezenas de ações chegaram aos tribunais de todo o país
questionando a obrigatoriedade do uso de provedores de Internet criada pela
04/95.
Pelo menos dois ciclos são identificáveis como motivadores desses protestos
judiciais.
O primeiro foi o crescimento da oferta de serviços em banda larga pelas
concessionárias de telefonia fixa.
O segundo, a entrada das operadoras de TV a cabo nesse filão.
Em comum a esses dois momentos, uma atitude das empresas: a cada nova oferta
de Internet colocada no mercado, a desconsideração da norma em vigor que
obriga a existência de provedores para intermediar a conexão.
Assim, por ironia talvez, a antiga norma estaria em perfeita saúde para domar
a oferta de Internet mesmo tantos anos depois, argumentam os defensores da
manutenção da regra de provimento de Internet.
O problema seria que, à sombra desta robustez, os órgãos de controle do
mercado descansaram e deixaram de fiscalizar o cumprimento da regra pelos
mercados que aos poucos vinham nascendo. "A Anatel não fez uma análise dos
outros mercados. Esses outros grupos estão se aproveitando de uma defasagem
regulatória", diagnostica a responsável pela Procuradoria Especializada da
Anatel, procuradora Ana Luiza Valadares.
Indefinição
O grande drama do momento é que a defasagem continua, e sem perspectiva de ser
resolvida.
Para agravar a situação, o embate entre provedores de Internet e prestadores
de serviços de telecomunicações cresce em um terreno onde abundam opiniões,
mas faltam posicionamentos claros sobre a necessidade de manutenção da Norma
04/95 ou a decretação de sua obsolescência.
Criado no mesmo ano que a norma que hoje gera tanto debate, o Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br) jamais fechou uma posição sobre a necessidade ou
não dos provedores, apesar de ter nascido justamente para orientar a
normatização da área de Internet.
O tema sequer foi colocado em pauta nos últimos anos, mesmo com as inúmeras
disputas jurídicas surgindo a todo tempo.
Membro do CGI.br, o presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA),
Alexandre Annenberg, conta que pediu recentemente para que a polêmica fosse
encarada pelo grupo. "Acho da maior importância um posicionamento do comitê
gestor sobre este aspecto da oferta de Internet".
O setor de TV por assinatura tem uma peculiaridade: é o único que tem uma
regra específica sobre provedores quando o tema é banda larga.
Trata-se da Resolução 190, de 1999, que estabeleceu a possibilidade da
prestação de Serviços de Valor Adicionado por redes de TV por assinatura,
exigindo-se, no caso de acesso banda larga, a autenticação por meio de
provedor de acesso.
Note-se que a mesma regra nunca foi colocada aos prestadores de SCM (Serviço
de Comunicação Multimídia, que podem ser os próprios operadores de TV paga) ou
de SMP (celular).
Mas ao ser questionado em nome da ABTA, Annenberg opta pelo silêncio.
O tema é explosivo entre as operadoras de TV por assinatura, que ainda hoje
não se manifestam publicamente sobre sua visão dos provedores.
Nos bastidores, existem posições conflitantes das empresas.
Na prática, a oferta de serviços de banda larga por empresas de TV paga
continua em crescimento.
E invariavelmente sem o uso de provedores, já que elas prestam o serviço
conforme as regras do SCM.
Informalmente, as empresas alegam que a Norma 04/95 não seria explicitamente
aplicável às concessionárias de TV a cabo. Até há pouquíssimo tempo, a Anatel
não havia tomado uma decisão para reformar esse entendimento das operadoras de
TV ou confirmá-lo.
Somente no início deste ano, a agência reguladora tomou uma providência, ainda
que inicial: abriu pelo menos cinco processos contra a Net pela falta de uso
de provedores em sua oferta de banda larga. Mas como a própria agência costuma
destacar, a abertura de processos administrativos não significa certeza de
infração, apenas a averiguação de indícios de problemas.
Regra vs. Prática
Há mais tempo como protagonistas dessa briga, as concessionárias de telefonia
fixa parecem ter mais tranquilidade para emitir um posicionamento contrário à
obrigação de uso dos provedores.
Apesar de dizer que o assunto não faz parte das discussões recentes nesse ramo
das telecomunicações, o presidente da Associação Brasileira das
Concessionárias do Serviço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix), José Fernandes
Pauletti, não faz rodeios sobre a sua opinião do caso. "O que eu acho é que
não tem mais nenhum sentido ter provedores de acesso na banda larga", afirma.
"É preciso avaliar qual a racionalidade disso, de ser apenas um intermediário,
um autenticador."
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