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Maio 2009 Índice Geral do BLOCO
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03/05/09
• Rádio Digital (41) - Falta de sintonia: O ministro condena e a ABERT absolve o padrão IBOC + "Conclusões" e "Recomendações" do Relatório da ABERT + "Ressurreição à vista?"
01.
O "Serviço ComUnitário" acompanha o tema "Radio Digital" desde setembro de
2005 com registro no
BLOCO - Blog ComUnitário.
Reunimos estes registros numa
Seção Rádio Digital
do site WirelessBR.
Após a leitura desta mensagem creio que todos concordarão que o Minicom, a
Anatel, o Instituto Presbiteriano Mackenzie e a ABERT devem explicações públicas
sobre o assunto "Rádio Digital".
Temos uma longa tradição na ComUnidade de acompanhamento de programas
governamentais na nossa área de atuação, com cuidado para não resvalar para
política partidária, sempre com um olhar crítico visando ajudar a "fazer
funcionar", como temos repetido à exaustão.
É o caso do Rádio Digital, onde criticamos e muito a escolha "não
técnica" de um padrão estrangeiro sem a imprescindível passagem pela nossa
competente Academia.
Devido à escandalosa preferência e forte atuação para impor o padrão IBOC, o
"vilão" natural desta novela sempre foi o atual ministro das Comunicações Helio
Costa.
Mas ele não está ou estava sozinho: como "vilã companheira" sempre teve ao seu
lado - ou na retaguarda - mas com menos holofotes da mídia, a ABERT - Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão.
Aqui está a mensagem anterior:
21/04/09
• Rádio
Digital (40) - Ressurreição à vista? - A ABERT faz apresentação nos EUA sobre a
"experiência brasileira" com o padrão IBOC de Rádio Digital!
02.
Fiz um "dever de casa" - não muito trabalhoso, afinal tudo está
registrado na ComUnidade -, e reuni algumas referências à ABERT vinculadas ao
tema Rádio Digital a partir de 2007. Está mais abaixo.
03.
Com vimos na mensagem anterior, nas vésperas do Ano Novo, o Ministro veio à
publico e, em
artigo do próprio punho,
desistiu do Rádio Digital.
Eis um "recorte":
(...) Os mais recentes testes do rádio digital, realizados
na cidade de São Paulo pela Universidade Mackenzie, concluíram, em julho último,
que o IBOC, em ondas médias, apresenta sérios problemas de propagação, com áreas
de sombra maiores do que as que são observadas no sistema analógico. (...)
No site da ABERT encontrei o
Relatório de Rádio Digital,
em formato PDF.
Recorto das "Conclusões":
(...) Os resultados alcançados pelo padrão IBOC nos testes
realizados no Brasil, nos permitem concluir que ele é adequado à necessidade
premente de digitalização das estações brasileiras. (...)
E também recorto das "Recomendações":
(...) A principal recomendação ao final deste trabalho é
que seja adotado o padrão de transmissão IBOC no Brasil, tanto para AM quanto
para FM, permitindo às emissoras colocarem a tecnologia digital nas suas
transmissões.(...)
O Relatório esta assinado por Engª TEREZA DE MACEDO MONDINO, TM Consultoria em
Telecomunicações Ltda; Prof. GUNNAR BEDICKS, Instituto Presbiteriano Mackenzie e
Engº RONALD SIQUEIRA BARBOSA, Associação Brasileira de Emissoras de Radio e
Televisão.
Consta que este Relatório foi entregue ao ministro em 09 Dez 08, antes,
portanto, da sua "desistência".
Constatação: O Instituto Presbiteriano Mackenzie que "não
considerava correto nem possível recomendar um padrão sem conhecer o desempenho
dos demais com a mesma profundidade" mudou de ideia e assinou o
relatório.
O conceito e a credibilidade do Instituto exigem uma explicação pública!
04.
Assim, ou o ministro fez uma "retirada estratégica" para evitar
mais desgaste ou "perdeu a sintonia" com a ABERT neste assunto.
O fato é que, com base na declaração do ministro, é licito crer que a
conclusão do Relatório está sob suspeita.
E, pelo que se depreende do noticiário, a ABERT não desistiu do Rádio Digital
padrão IBOC.
Sobre a "suspeita", não estou sozinho:
Fonte: Observatório
do Direito à Comunicação
[04/07/08]
Ministério e Anatel não se entendem sobre rádio
digital por Lucas Krauss
(...) Se a intenção da entidade é clara, as dúvidas em relação aos testes ficam
por conta da participação do Instituto Mackenzie. “O professor que vem
conduzindo os trabalhos lá é uma pessoa séria, mas talvez ele esteja sendo muito
cauteloso. Ele não vai querer bater de frente com os interesses da Ibiquity
(empresa proprietária do Iboc)”, diz o colunista do jornal O Estado de São
Paulo, Ethevaldo Siqueira. “Sabe-se que ele vai registrar os problemas, mas as
conclusões serão redigidas pela Abert e aí não há isenção.”
Para Diogo Moyses, do Intervozes, a Abert pode elaborar quaisquer tipos de
pareceres, sejam eles jurídicos, técnicos, e enviar ao ministério. “O que não
pode é o Estado brasileiro aceitar tais relatórios como definidores para a
decisão pelo padrão. A Abert é um grupo de interesse, ela não representa o
interesse público”, diz.
Sobre a "não desistência" da ABERT,
lembro o registro que fizemos desta notícia recente sobre a apresentação da
ABERT na NAB Show 2009 em Las Vegas:
Fonte: Rádio Fandango
[19/04/29]
Sistema Fandango Comunicação presente em feira de radiodifusão em
Las Vegas
(...) No painel Relatório sobre os resultados dos
testes em estações AM e FM que utilizam o padrão IBOC, será apresentado o
resultado de nove meses de trabalho de campo e de análise de especialistas da
Abert e do Laboratório de TV e Rádio Digital da Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Segundo Barbosa, a exposição será importante para que outros países
conheçam a experiência brasileira com o padrão digital. Os testes foram
realizados em emissoras AM e FM de Belo Horizonte, Ribeirão Preto e São Paulo.
Foram analisadas as condições de transmissão e recepção e a robustez do sinal,
com acompanhamento de engenheiros do Ministério das Comunicações e da Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel). (...)
E temos esta notícia mais recente ainda (o
grifo é meu):
Fonte: Senado
[28/04/09]
Abert convida Sarney para abrir encontro do setor
(...) O presidente do Senado, José
Sarney, recebeu, na manhã desta terça-feira (28), convite da Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) para participar da abertura
do 25º congresso que a instituição realiza, de 19 a 21 de maio, em Brasília. No
encontro, 1.300 empresários e profissionais do setor discutirão o ambiente
econômico, a evolução tecnológica, a implantação da TV Digital e a futura
definição do rádio digital, entre outros assuntos. (...)
05.
Assim, creio que o Minicom, a Anatel, o Instituto Presbiteriano Mackenzie e a
ABERT devem explicações públicas sobre o assunto "Rádio Digital".
Que tal um "Comunicado Oficial" do Minicom sobre o tema?
Todos que estudaram e debateram o assunto merecem uma explicação definitiva além
do "artigo de desistencia" do ministro!
Repito também a opinião de sempre: apesar dos pesares, temas polêmicos como este
devem ser levados ao Congresso, que deve ser prestigiado como instituição.
07.
E a Mídia precisa se dedicar a este tema!!!
Na Seção
Rádio Digital, com registros desde 2005, podem ser garimpados todos
os profissionais, parlamentares e autoridades que manifestaram sobre o assunto.
Vamos entrevistá-los novamente?
Que tal obter um depoimento de "todos" os proprietários das emissoras que
compraram transmissores digitais IBOC?
08.
Então, mais abaixo, estão:
- A ABERT na mídia: Coleção de referências sobre o forte envolvimento da ABERT
com o Rádio Digital padrão IBOC;
- Relatório parcial da ABERT sobre os testes com o Rádio Digital padrão IBOC:
"Conclusões" e "Recomendações";
- Notícia de 2008:
Ministério e Anatel não se entendem sobre rádio digital
E, novamente, o "artigo da desistência":
- E o rádio digital? Uma
análise responsável por Hélio Costa
Ao debate!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio
Rosa
A ABERT na mídia: Coleção de referências sobre o forte envolvimento da ABERT com o Rádio Digital padrão IBOC:
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Fonte: Observatório do
Direito à Comunicação
[12/03/07]
Rádio digital avança sem debate público
por Ana Rita Marini e Laura Schenkel - Redação FNDC
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Em sua aberta defesa, a Associação Brasileira de Rádios e Televisão, Abert, tem incentivado experiências com o padrão norte-americano. Todavia, o consultor técnico da associação, Djalma Ferreira, reconhece que o Iboc possui notáveis falhas no que diz respeito à transmissão de ondas médias. Falhas estas acentuadas no período noturno. Ainda assim, Djalma Ferreira afirma ser uma "alternativa indesejável" aguardar conclusões sobre o padrão DRM.
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Relatório parcial da ABERT sobre os testes com o Rádio Digital padrão IBOC: "Conclusões" e "Recomendações":
CAPÍTULO VIII -
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
VIII.1 – Conclusões
Os resultados alcançados pelo padrão IBOC nos testes realizados no
Brasil, nos permitem concluir que ele é adequado à necessidade premente
de digitalização das
estações brasileiras.
Essa necessidade não é somente dos radiodifusores, mas também de toda a
sociedade, que tem no Rádio o principal veículo de comunicação social, e
mantê-lo como tal é um dos objetivos centrais de todo esse trabalho.
Atualmente, não há outro padrão disponível, em situação operacional,
para a digitalização do Rádio, principalmente se levarmos em conta o
interesse da Radiodifusão Brasileira em dispor de um padrão que atenda,
ao mesmo tempo, a FM e a OM.
O padrão IBOC é o que proporciona a transição de tecnologia com o menor
impacto possível, tanto para as emissoras como para o público em geral:
- A emissora opera no seu próprio canal, não implicando novo
planejamento de canais e reforçando a fidelização do público ouvinte;
- Não há necessidade imediata para o público ouvinte de adquirir novos
receptores, uma vez que as transmissões híbridas permitirão que ele
aguarde até que os preços lhe sejam acessíveis;
- Mais de dez fabricantes mundiais, entre eles os maiores, já têm o
padrão IBOC em sua linha de produção;
Cada radiodifusor poderá iniciar a transição de acordo com sua
disponibilidade, mas levando em conta a necessidade de manter o seu
público ouvinte.
A digitalização do Rádio traz a oportunidade de as emissoras recuperarem
a competitividade no mercado nacional, conquistando um público que já
nasceu na era
digital.
VIII.2 – Recomendações
Em função dos testes realizados, dos resultados obtidos, das observações
e análises deles decorrentes, consideramos importante apresentar algumas
recomendações,
conforme apresentamos a seguir.
- A principal recomendação ao final deste trabalho é que seja adotado o
padrão de transmissão IBOC no Brasil, tanto para AM quanto para FM,
permitindo às emissoras colocarem a tecnologia digital nas suas
transmissões.
- A segunda recomendação é que a adoção do padrão seja feita no menor
prazo possível, de modo a não retardar ainda mais o ingresso do Rádio na
tecnologia digital, para que ele não perca a capacidade de competição
com os outros meios de comunicação, todos digitais.
- Diante da constatação das enormes fontes de ruído existentes nos
grandes centros, recomendamos que seja planejado e executado um
levantamento de ruídos radioelétricos em todas as faixas de freqüências
em que haja serviços autorizados de telecomunicações, incluindo os de
radiodifusão, de modo a permitir um maior controle sobre suas causas,
preservando a qualidade na prestação dos serviços.
- Diante das discrepâncias encontradas entre os valores previstos
teoricamente e os medidos, principalmente na faixa de onda média,
recomendamos que seja promovido um levantamento dos dados do Brasil,
especialmente no que respeita à condutividade do solo e ao comportamento
da ionosfera, de modo que possamos contribuir internacionalmente com a
nossa base de dados para um melhor aproveitamento dos modelos de
internacionalmente reconhecidos.
- Outro importante passo a ser dado é incentivar a indústria nacional de
receptores a produzir a tecnologia IBOC no Brasil, ao mesmo tempo
inserindo seus produtos em todas as mídias.
Engª TEREZA DE MACEDO MONDINO
TM Consultoria em Telecomunicações Ltda.
Prof. GUNNAR BEDICKS
Instituto Presbiteriano Mackenzie
Engº RONALD SIQUEIRA BARBOSA
Associação Brasileira de Emissoras de Radio e Televisão
Fonte: Observatório do
Direito à Comunicação
[04/07/08]
Ministério e Anatel não se entendem sobre rádio
digital por Lucas Krauss
O Ministério das Comunicações e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
não vêm se entendendo muito bem sobre a definição do padrão de rádio digital a
ser adotado no Brasil. O ministro Hélio Costa afirma que a decisão sobre a
tecnologia a ser adotada ocorrerá ainda no segundo semestre a partir dos testes
feitos por empresas privadas e avalizados pelo órgão regulador. Só que o
ministro, ao que tudo indica, esqueceu de combinar com a agência reguladora. A
Anatel informa que não tem acompanhado tais testes e ainda espera receber
informações do ministério.
Em 24 de junho, Costa declarou que até setembro deverá enviar ao presidente Lula
o parecer que definirá a escolha do Executivo -- provavelmente o norte-americano
HD Radio IBOC para as faixas AM e FM e o padrão europeu DRM (sigla para Digital
Radio Mondale) para as transmissões em Ondas Curtas. Em entrevista ao programa
“Bom dia, ministro”, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Costa disse ainda
que testes recentes feitos pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão (Abert) teriam sido acompanhados por “diversas entidades”, incluindo o
Instituto Mackenzie, de São Paulo, além do Ministério das Comunicações e da
Anatel.
Na tentativa de entrevistar o engenheiro Ara Minassian, superintendente de
Comunicação de Massa da Anatel, o Observatório do Direito à Comunicação obteve a
seguinte declaração da assessoria de imprensa: “O superintendente não vai falar
porque não acompanhou esses testes. Ninguém aqui acompanhou esses testes. O
relatório da Abert e do Mackenzie será entregue para nós e, então, faremos o
nosso para depois encaminharmos ao Ministério.”
Desde o final do ano passado, o entrosamento entre governo e Anatel não é dos
melhores quando a questão da digitalização do rádio vem à tona. Pressionado
pelos radiodifusores comerciais, Hélio Costa vem tentando há tempos convencer a
agência de que o padrão Iboc é a melhor alternativa para o país. Os engenheiros
da Anatel, no entanto, protelam sua avaliação. Eles pedem mais tempo para o
desenvolvimento dos testes com as cerca de 20 emissoras comerciais que pediram
autorização governamental para realizá-los.
Durante audiência pública na Câmara dos Deputados, em setembro do ano passado,
Minassian disse que os resultados até então apresentados à agência não
garantiriam tecnicamente a implementação do padrão Iboc. Além de reconhecer as
boas resoluções que o padrão DRM obteve em outros países, disse ainda que novas
pesquisas poderiam ser pedidas à universidades e centros de pesquisa. Uma das
preocupações do engenheiro à época dizia respeito ao alcance do sinal digital.
“Ninguém conseguiu responder se uma rádio analógica, hoje com alcance de 70
quilômetros, cobrirá com o sinal digital essa mesma distância ou se parte dos
ouvintes ficará sem o sinal”, afirmou. A preocupação do engenheiro mantêm-se até
hoje, já que passados 9 meses o problema não foi solucionado. “No analógico, o
normal é atingir até 50 quilômetros de cobertura. No digital, atingimos uns 20
quilômetros. Num raio de 4 a 5 quilômetros vai bem, mas depois começa a esbarrar
com outras”, diz o engenheiro Alfredo Marcouizos, do grupo CBS de São Paulo.
Sem critérios públicos
É bom lembrar que em março de 2007 a Anatel abriu consulta pública para definir
a metodologia a ser utilizada nos testes feitos com o Iboc-AM. Além dos
resultados não terem sido divulgados até hoje, sequer foram abertas consultas
públicas para a metodologia de testes com FM e Ondas Curtas. “Não há parâmetros
públicos. As consultas públicas da Anatel sinalizaram uma política de Estado
para se ter regras mínimas para a realização de experimentos. Mas o que o
Ministério faz? Terceiriza os testes para a Abert, diz Diogo Moyses, do
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social. “Ou seja, o Estado
brasileiro não vai ter opinião. Se a Abert disser que tudo bem, então o Iboc
será o escolhido.”
Se ainda não há plena aceitação dos radiodifusores comerciais com o padrão
norte-americano, as poucas experiências feitas com o padrão DRM no Brasil também
ainda não foram concluídas. Os testes, iniciados ano passado pela Universidade
de Brasília (UnB), sob coordenação do professor Lúcio Martins, foram
praticamente abandonados. “Foram feitos testes em Ondas Curtas e Médias (AM),
sendo que os de Ondas Médias foram interrompidos no meio do processo.
Precisaríamos de mais tempo e seriam necessários mais testes”, diz Martins.
Para ele, o argumento do Ministério das Comunicações e da Abert de que o Iboc é
o único sistema que opera em FM, já não tem mais sustentação. “O consórcio DRM
elaborou um sistema para o FM, que transmite analógico e digital juntos, que não
está sendo considerado. Ele foi testado em alguns países da Europa e tudo indica
que seja um sistema mais flexível que o americano”, diz.
Para este ano, porém, o professor não acredita que os testes na UnB serão
reiniciados. “Não há vontade por parte do Ministério das Comunicações. Ano
passado, a UnB tomou a iniciativa e entrou em contato com o consórcio europeu
para a realização dos testes. Agora, não temos mais recursos e a Universidade
não tomará mais a iniciativa”, completa.
Testes sem isenção
Já que ainda há testes de emissoras comerciais com o Iboc que não foram
entregues à Anatel e que os experimentos com o padrão DRM foram desconsiderados
pelo ministério, a solução emergencial apresentada por Hélio Costa e Abert foi
recorrer ao Instituto Mackenzie, de São Paulo. De março a junho deste ano, foram
realizados testes de campo nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto e Belo
Horizonte, comandados por Ronald Barbosa, engenheiro de telecomunicações da
Abert, e acompanhados pelo Laboratório de TV e Rádio Digital do Mackenzie.
Os testes feitos com o padrão Iboc em AM e FM já foram concluídos e estão em
fase de finalização dos relatórios. Segundo matéria publicada no site da Abert
no dia 30 de junho, os resultados finais serão entregues nas próximas semanas.
Se a intenção da entidade é clara, as dúvidas em relação aos testes ficam por
conta da participação do Instituto Mackenzie. “O professor que vem conduzindo os
trabalhos lá é uma pessoa séria, mas talvez ele esteja sendo muito cauteloso.
Ele não vai querer bater de frente com os interesses da Ibiquity (empresa
proprietária do Iboc)”, diz o colunista do jornal O Estado de São Paulo,
Ethevaldo Siqueira. “Sabe-se que ele vai registrar os problemas, mas as
conclusões serão redigidas pela Abert e aí não há isenção.”
Para Diogo Moyses, do Intervozes, a Abert pode elaborar quaisquer tipos de
pareceres, sejam eles jurídicos, técnicos, e enviar ao ministério. “O que não
pode é o Estado brasileiro aceitar tais relatórios como definidores para a
decisão pelo padrão. A Abert é um grupo de interesse, ela não representa o
interesse público”, diz.
Para a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), uma decisão
arbitrária, se concretizada, deverá resultar em ações do Ministério Público
Federal. “Essa pressa sem necessidade vai permitir que se consigam decisões
judiciais para barrar isso. Vai atingir a questão do direito do consumidor, do
livre mercado. É ilegal”, diz Joaquim Carlos Carvalho, ex-assessor jurídico da
entidade. “O padrão Iboc não atende os interesses da sociedade brasileira”,
avalia.
Problemas para as pequenas emissoras
Carvalho refere-se ao fato de que a tecnologia desenvolvida pela Ibiquity para o
Iboc “seqüestra” espectro. Para transmitir uma programação em FM hoje, o sinal
analógico ocupa uma faixa de 200 khz. A transmissão no padrão Ibco deverá ocupar
uma faixa de 400khz. “Haverá desperdício de banda com o Iboc”, afirma Lúcio
Martins.
Para o professor da UnB, o FM desenvolvido pelo padrão europeu – que, em
princípio, ocuparia uma faixa de 100 khz para cada programação – deve ser melhor
estudado justamente para evitar essa maior concentração do espectro e a
conseqüente eliminação da possibilidade de entrada de novos atores. “A questão é
que no Brasil a decisão política poderá se sobrepor aos fatores técnicos. Se
isso acontecer, boa parte da população sairá prejudicada, inclusive boa parte
dos radiodifusores”, analisa.
Carvalho compartilha da mesma opinião. Para ele, a defesa do padrão americano
não está sendo feita pela entidade Abert, mas sim por um grupo dominante na
associação. “Acredito que os pequenos e médios radiodifusores, que são maioria
na Abert, não estejam acompanhando essa discussão. O grupo que está no poder não
deve estar repassando informações do que realmente pode acontecer com a maioria,
que não vai ter dinheiro para a transição”, diz.
A título de exemplo, a tese de mestrado “Implantação do Rádio Digital no Brasil:
Testes, Impacto e Perspectivas”, da jornalista Patrícia Rangel, defendida na
Faculdade Cásper Líbero em 2007, mostra bem o tamanho do obstáculo. O
investimento total realizado pela Rádio CBN, de São Paulo, para a transição,
chegou a US$ 150 mil, o equivalente a cerca de R$ 240 mil. Detalhe: nem mesmo a
emissora comercial conseguiu financiamento e teve que arcar todas as despesas
com recursos próprios.
Dúvidas sobre a demanda
Além da preocupação com o preço dos transmissores, há ainda o fator produção em
escala. Se a tecnologia Iboc for mesmo a escolhida, o preço dos aparelhos
receptores poderá chegar a R$ 400,00 e, se não houver interesse na compra, o
preço não diminuirá com o passar do tempo. “O usuário ainda não vê nenhuma
vantagem no digital. Eu entrevistei alguns ouvintes e eles não estão
interessados em comprar um novo rádio digital”, diz Ethevaldo Siqueira.
Para demonstrar a dificuldade que será a produção em grande escala dos aparelhos
digitais, Siqueira apresenta os números nos EUA, pátria mãe do IBOC: “Das 15 mil
emissoras que atuam lá, 90% não aderiram ao padrão. Apenas 2% dos consumidores
compraram o HD Radio. A Ibiquity não consegue massificar a produção”, diz.
Mesmo que o governo brasileiro ofereça subsídios aos radiodifusores ou às
empresas fabricantes de receptores no Brasil, os problemas técnicos referentes
ao padrão persistem (saiba mais ) e dificilmente serão solucionados no curto
prazo.
Mas perguntas anteriores precisam ser feitas, segundo Diogo Moyses, do
Intervozes. “Na TV Digital você tinha um processo de digitalização mundial
acontecendo. No rádio não há nem isso”, avalia Moyses, lembrando ainda que em
nenhum país a digitalização do rádio avançou simplesmente porque não há demanda.
“As próprias pesquisas andam a passo de tartaruga porque não há demanda, não há
justificativa para uma migração para o rádio digital que mantenha o mesmo modelo
que nós temos hoje. Qual o interesse público na digitalização do rádio hoje no
Brasil?”, pergunta.
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