BLOCO
Blog dos Coordenadores ou Blog Comunitário
da
ComUnidade WirelessBrasil

Novembro 2009               Índice Geral do BLOCO

O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão  Celld-group e WirelessBR. Participe!


30/11/09

• Telebrás, Eletronet e "Plano de Banda Larga" (98) - Mensagem de Clóvis Marques

de Clóvis Marques <clovis1@terra.com.br>
para Celld-group@yahoogrupos.com.br, wirelessbr@yahoogrupos.com.br
data 30 de novembro de 2009
assunto Re: [Celld-group] Telebrás, Eletronet e "Plano de Banda Larga" (97) - Artigo de Virgílio Freire: "O Nebuloso 'Plano de Banda Larga' do Ministro Helio Costa"

Prezados participantes dos grupos Celld e Wirelessbr,

Há tempos não me manifesto publicamente nos Grupos, mas tenho acompanhado as mensagens e sinto-me motivado a expor minhas opiniões sobre este assunto. Por isso peço licença ao Helio Rosa e, com o devido respeito às opiniões dos colegas, coloco os seguintes temas para reflexão e debate:

1. A Competição na Área de Telecom Fixa nunca existiu no Brasil e é escancarada a atuação das Concessionárias Fixas no sentido de bloquear toda e qualquer iniciativa para que isso ocorra de maneira transparente. Inicialmente, durante o período em que eram responsáveis pela Operação de Telecom no Brasil as Concessionárias do Sistema Telebras, cada uma atuava em seu respectivo Estado, com investimentos somados que raramente passavam de US$ 3 Bilhões anuais, no máximo, simplesmente não atendiam a demanda nacional. Após as privatizações, houve um breve período (no máximo 5 anos) de grande crescimento e investimentos privados, que permitiram saldar o deficit de linhas telefônicas fixas no país, conforme planejado pelo então Ministro Sergio Motta, mesmo que sem competição, pois havia obrigações de universalização a serem cumpridas.
Contudo, as Concessionárias, com o objetivo voraz de proteger seu investimento e evitar que outros empreendedores tivessem acesso ao mercado brasileiro, tem agido sempre no sentido de eliminar concorrentes, postos de trabalho e demais condições para que a Área de Telecomunicações possa continuar crescendo para atender as necessidades do país. Relembro aqui a criação das Licenças Espelho e Espelhinhos (da qual a única sobrevivente foi a GVT, ainda que de forma limitada, coroada com a grande expectativa em torno da chegada da Vivendi ao Brasil).
As Concessionárias, além de se "respeitarem" mutuamente por não entrarem uma no território da outra, o que já poderia ter ocorrido desde o cumprimento das Metas de Universalização, optaram por se unir no mesmo objetivo de eliminar a concorrência (lembram quando, em Consórcio, tentaram comprar a Embratel??). A mesma Embratel, que comprada inicialmente pela Worldcom/MCI e posteriormente pelo mexicano, nunca demonstrou real apetite por brigar pelo mercado local no Brasil, entrando no joguinho das Concessioárias locais. Tudo isso ocorre sob as barbas do Governo, que em alguns casos, chega a fomentar essa ação canibalizadora (preciso mencionar a o que me refiro?)

2. Essa mesma cultura inútil ao país, chegou às celulares. Após um período inicial de grandes investimentos que levou praticamente ao atendimento de grande parte da demanda por celulares no Brasil. A competição arrefeceu, com a compra das Operadoras Celulares pelos mesmos grupos econômicos dominantes na Telefonia Fixa, onde, há alguns anos (pelo menos 4), tranformando-se em "Acordos Operacionais". Hoje as Operadoras Móveis não apresentam diferenciações relevantes na sua oferta de serviços e, um pelo outro, acabam cobrando preços muito similares dos usuários. Basta fazer um comparativo dos Planos e Serviços oferecidos por todas elas para perceber que o custo do minuto cobrado de pessoa física é praticamente o mesmo e o custo de serviços de dados é exatamente o mesmo, variando apenas nas promoções para aquisição de novos clientes (os antigos continuam pagando muito caro). Lembrando ainda que o último leilão de licenças realizado pelo Governo, estabeleceu obrigação de cobertura a todos os Municípios Brasileiros até o final do ano, por pelo menos uma Operadora. Estamos chegando ao final do ano e até agora, nenhuma Operadora declarou ter cumprido essa obrigação, muito menos a Anatel divulga o acompanhamento dessa atividade.

3. Na Banda Larga, assim como no setor de TV paga, não é diferente. Apesar de algumas tentativas (frustradas) de alguns empreendedores locais, a oferta de banda larga está totalmente concentrada em área geográfica muito limitada e nas mãos dos mesmos grupos econômicos dominantes na Telefonia Fixa, que insistem em não ampliar a oferta e manter preços elevados, limitando sempre as opções aos usuários. Some-se a isso, as constantes interrupções dos serviços, que deixam os usuários à mercê das poucas e caras opções disponíveis (quando disponíveis). Não dá para dizer que temos oferta suficiente de Banda Larga no Brasil atualmente. Assim como, não dá para dizer que o Plano do Ministro Hélio Costa vá mudar esse cenário em curto espaço de tempo. Muito pelo contrário, esse Plano tem todas as chances de se tornar apenas um grande arrecadador de fundos com fins eleitoreiros, por atender as demandas das Operadoras, sem as devidas contrapartidas e planejamento adequado de médio e longo prazos para a disponibilização dos serviços a todos os Brasileiros com preços compatíveis com a realidade brasileira.

4. Em complemento a essas deficiências, agrego a falta de eficiência, de eficácia, de abrangência e de competência, apresentados pelo Orgão Regulador dos serviços de Telecomunicações no Brasil, que nos últimos anos tem se limitado a atuar de maneira reativa às demandas dos grandes grupos econômicos que dominam o setor no país, deixando de cumprir com seu papel. Basta lembrar que todas as Operadoras sabem quando vão ser fiscalizadas pela Anatel e se preparam (até manipulando dados) para apresentar suas "melhores práticas" apenas nesse intervalo de tempo. Outra demonstração é a falta de "vontade" de regular assuntos importantes, com continuados pedidos de vistas à itens que deveriam ser amplamente conhecidos e dominados pelos Conselheiros da Agência para rápida ação e não reação. É lamentável que um Orgão que foi criado para zelar pelo setor tenha chegado a esse ponto.

O setor de Telecomunicações no Brasil urge pela remodelação, modernização e adequação às necessidades atuais e futuras do país, já que nos últimos 10 anos não houve ações relevantes nesse sentido. Deixando claro que não me refiro ao tipo de tecnologia empregada, pois a Regulamentação do Setor tem que ser independente e acima das tecnologias utilizadas.

Pelos motivos expostos acima, sou favorável à criação de uma Rede unificada para provimento dos serviços essenciais de telecomunicações (que obviamente inclui a Banda Larga), que permita a oferta dos serviços a todos os cidadãos e entidades públicas e privadas, de maneira universal e com custos compatíveis, financiada com verbas privadas e do FUST e gerida na forma de PPP (que pode ser através da própria Telebrás); com o objetivo de, no mínimo, voltar a fomentar a competição e o crescimento do setor de Telecom no Brasil. Obviamente, essa ação não pode servir apenas aos objetivos de um Governo ou dos grandes grupos econômicos e por isso tem que ser planejada e executada com foco em atender as necessidades do país. Pessoas altamente capacitadas para essa tarefa temos em abundância no Brasil.

Atenciosamente,

Clóvis A. Marques


 [Procure "posts" antigos e novos sobre este tema no Índice Geral do BLOCO]            ComUnidade WirelessBrasil