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Outubro 2009               Índice Geral do BLOCO

O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão  Celld-group e WirelessBR. Participe!


07/10/09

• Rádio Digital (49) - Sugestão à Mídia: Entrevistas com técnicos e radiodifusores

de Helio Rosa <rosahelio@gmail.com>
para Celld-group@yahoogrupos.com.br, wirelessbr@yahoogrupos.com.br
data 7 de outubro de 2009 11:30
assunto Rádio Digital (49) - Sugestão à Mídia: Entrevistas com técnicos e radiodifusores

Olá, ComUnidade WirelessBRASIL!

01.
Desde 2005 acompanhamos a "escolha" do sistema de Rádio Digital a ser implantado no Brasil.

02.
O primeiro "post" do nosso BLOCO sobre o assunto está aqui:
22/09/05
• Rádio Digital (01) - Anatel autoriza primeiros testes

03.
Em 2007, o jornalista Renato Cruz, do Estadão, escreveu esta matéria: Rádio enfrenta o desafio de ser digital e recortamos o trecho:
(...) Segundo Ronald Barbosa, diretor de Rádio da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), além das 17 emissoras que já testaram o rádio digital, há entre 40 e 50 que importaram o equipamento, mas não testaram os transmissores. (...)

Este "parque instalado", seja qual for o número atual de "emissoras IBOC", por si só já se constitui um escândalo.
E "não deu outra": isto está sendo citado, inclusive pelo ministro Costa, como "fator favorável de escolha":
(...) Segundo Costa, a maioria das grandes emissoras de rádio já possui o equipamento para o sistema Iboc, o que apressaria a implantação desse sistema no país.(...)

04.
Se as emissoras realizaram efetivamente os testes, "ninguém sabe ninguém viu" e não temos conhecimento que a Anatel, entidade autorizatária, tenha divulgado algo organizado sobre o resultado.
O "vício do processo" é o mesmo quando, numa fase posterior, delegou-se à ABERT testar o IBOC em S. Paulo, ou seja, como citei anteriormente, "raposas realizando testes no galinheiro".
E, de certo modo, o "vício" continua, neste momento em que a DRM está ou "vai estar testando" seus equipamentos por conta da "consulta pública em andamento".

05.
Ao mesmo tempo, não há como deixar de perguntar: por que essas emissoras continuam "transmitindo IBOC", culminando com a inauguração recente (prestigiada pela presença do ministro Costa) da "emissora digital" Globo Cultura, de Uberlândia, MG?
Sem ouvintes e receptores, o objetivo só pode ser criar uma situação "de facto" (usando este termo emprestado do noticiário sobre Honduras).  :-)
Olá, Dona Anatel! Pelo que consta, a autorização para funcionamento era só para os testes!

06.
Helio Costa, magnânimo, declarou recentemente:
(...) “Para fazer um processo democrático, aberto, temos que assegurar as mesmas condições que oferecemos aos americanos. Eles [os europeus] terão que fazer os testes e mostrar que o sistema DRM é bom”, disse.(...)

Perdão, ministro mineiro Costa, para assegurar as "mesmas condições que oferecemos aos americanos", no mínimo, seria preciso convencer mais algumas dezenas de emissoras a importar, com recursos próprios, equipamentos DRM para uma mesma bateria de testes, némessm? Que "processo democrático" é esssô?

07.
Esta longa "introdução" é para dizer que respeito a opinião de Hilton Alexandre
mas não concordo quando ele cita:
(...) "O que me alegra é que as autoridades responsáveis pela decisão estão se portando de forma exemplar, cautelosos como a questão exige e interessadas na melhor solução e no menor tempo possível e responsável, aliás, agindo até mais interessadas do que muito radiodifusor brasileiro".

Hilton Alexandre é radiodifusor de emissora AM no interior do Estado do Rio de Janeiro. Economista e advogado, atua há 30 anos no setor. É presidente da AERJ – Associação das Emissoras de Rádio e TV do Estado do Rio de Janeiro e publicou um interessante artigo (apesar da conclusão acima citada) no Portal Tele.Síntese, com esta referência::
Fonte: Tele.Síntese
[02/10/09] Uma tecnologia nacional para o Rádio Digital - por Hilton Alexandre (transcrição mais abaixo)

No seu texto Hilton sugere:

(...) O Rádio Digital brasileiro poderia ocupar o canal 14 da TV Digital (470 MHz à 476 MHz). Esses 6 MHz abrigariam com tranqüilidade as Rádios de toda uma Região metropolitana, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, transmitindo em Digital, com todas as vantagens agregadas apresentadas pelo IBOC ou DRM. O custo seria bem menor que as adaptações na transmissão simultânea. Para se ter uma idéia, uma emissora que opera em 10 000 w de potência precisaria de algo em torno de 400 w para ter a mesma cobertura, e isso com um transmissor em VHF (470 MHz) que não custaria muito mais do que R$ 8.000,00. É evidente que ainda haveria o custo de antenas e software, mas com certeza bem mais baratos do que das outras tecnologias.(...)

08.
Esta sugestão "acendeu uma sinapse" já enferrujada e lembrei-me de outro artigo veiculado em nossos fóruns em que Higino Germani perguntava e também sugeria:

(...) Não será possível criarmos uma Nova Radiodifusão em todos os sentidos e não apenas inserir as técnicas digitais no Rádio existente?
Onde reside a maior dificuldade ? Na faixa de operação desta Nova Radiodifusão. Em que freqüências as estações exclusivamente digitais operariam?
Cremos que, sem querer, esta nova faixa está surgindo ao natural:
Com a criação de mais dois canais de Radio Comunitária (87,7 e 87,5 MHz) estamos “invadindo” a banda do canal 6 de TV.
Já com o canal “oficial” de RadCom (88,7 MHz) o conflito com o canal 6 já existia e agora se tornou maior ainda. É de se prever que o futuro nos aponta para a extinção do canal 6 de TV.
Com isto, resulta que teremos uma maravilhosa banda de 6 MHz (de 82 a 88 MHz) e na faixa de VHF (a melhor para a radiodifusão, quer em termos de comprimento de onda quer em
termos de características de propagação), à disposição para criarmos uma Nova Radiodifusão.
Podem fazer idéia de quantos canais exclusivamente digitais e o que será possível fazer nos mesmos em termos de qualidade de áudio e informações suplementares (dados) numa banda de 6 MHz na faixa de 82 a 88 MHz ? É tudo os que sonham com o Rádio Digital pediram ao Criador ...(...)


Anotamos o "resumo biográfico" de Higino Germani na época:
"O engenheiro eletrônico Higino Germani, diretor técnico da Fundação Cultural Piratini Rádio e Televisão. Nos anos 1970, ele foi chefe da área técnica de Radiodifusão no antigo Departamento Nacional de Telecomunicações e diretor técnico da Rádio Nacional de Brasília (atual Radiobrás) para a implantação da 1ª Etapa do Sistema de Alta Potência em Ondas Médias e Ondas Curtas. Concebeu, projetou e implantou o primeiro sistema de Radiovias no Brasil, na BR-290, em 2003. 
Germani é responsável técnico pelo projeto de mais de 300 emissoras de rádio, TV e retransmissoras e aproximadamente o mesmo número em projetos de sistemas de radiocomunicação. 
Em fevereiro deste ano, ele publicou o estudo "Rádio Digital: Uma Outra Opção Não Seria Possível" (...)

09.
Isto posto...

Olá, D. Mídia!
Vamos seguir o exemplo do Tele.Síntese e entrevistar engenheiros, pesquisadores e radiodifusores, buscando o "contraditório"?
Lembro que nesta e nas mensagens anteriores foram citadas, entre outras, autoridades técnicas como Takashi Tome, Higino Germani e Marcus Manhães...

Olá, ComUnitários!
Cadê nossos estudantes e professores de telecom para opinar sobre os aspectos técnicos?

Ao longo do tempo tenho sugerido a participação da "Academia" neste processo.
Na ausência de uma convocação governamental da "Academia", lembro que nós, Mídia e ComUnitários, somos os "acadêmicos informais"...  :-)

Ao debate!

10.
Transcrições mais abaixo:

Fonte: Tele.Síntese
[02/10/09]   Uma tecnologia nacional para o Rádio Digital - por Hilton Alexandre

Observatório da Imprensa
[
08/08/05]   Rádio Digital - A um passo da democracia nas ondas sonoras

Fonte: SJSC
[Fev 2005]   Rádio Digital: Uma outra opção não seria possível? - por Eng. Higino Germani

Fonte: FNDC
[29/07/06]   Dona do padrão IBOC de rádio digital quer ampliar uso do espectro - por Júlia Pitthan

Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa

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Fonte: Tele.Síntese
[02/10/09]   Uma tecnologia nacional para o Rádio Digital - por Hilton Alexandre

Hilton Alexandre é radiodifusor de emissora AM no interior do Estado do Rio de Janeiro. Economista e advogado, atua há 30 anos no setor. É presidente da AERJ – Associação das Emissoras de Rádio e TV do Estado do Rio de Janeiro.

Após seis anos de testes e debates sobre o Rádio digital, apenas um consenso sobrevive: O Rádio tem que se digitalizar para sobreviver à convergência das mídias que se aproxima. As vantagens para o Rádio são mais visíveis nas emissoras de Amplitude Modulada, pois a qualidade de áudio tem uma melhora bem perceptível, mais do que nas de Freqüência Modulada. Para ambas o ingresso na tecnologia digital poderá trazer mais serviços agregados.

Como radiodifusor de AM e apaixonado pelo serviço que ela presta à comunidade, cultivo uma preocupação quanto ao seu futuro. Primeiro pelas crescentes perturbações e ruídos que se alastram nos grandes centros, tornando em algumas áreas o AM inaudível; segundo, pelas mudanças na geografia das cidades e nas características do solo em volta dos parques transmissores que prejudicam a propagação das Ondas Médias. Por fim, a péssima qualidade dos receptores colocados à disposição dos consumidores, na maioria chineses, via Paraguay, não conseguem sintonizar todas as emissoras AMs.

As Tecnologias apresentadas

Até hoje chegou ao país de forma mais concreta apenas duas tecnologias para o Rádio Digital: O DRM e o IBOC. Não pretendo me aprofundar tecnicamente neles, mas pondero que as duas tecnologias não servem para o radiodifusor brasileiro que opera na faixa das Ondas Médias. Elas têm sua irradiação baseadas na plataforma de AM, que pelos motivos comentados anteriormente, sofrem interferência, com ruídos e chiados no analógico e no digital ficariam mudos. O IBOC e o DRM também apresentam os problemas da transmissão simultânea, na mesma faixa, do analógico e do digital, um atrapalha o outro. Levando em consideração que seriam necessários pelo menos dez anos para que houvesse a transição completa pelo consumidor do analógico para o digital, teríamos uma década de transmissão ainda pior no Rádio AM analógico e um Rádio AM Digital cheio de problemas.

O analógico e o digital não conseguem conviver com qualidade na mesma banda. Acredito que a audiência acabaria por debandar para outro serviço. A solução seria uma transição para uma freqüência livre onde o digital operaria "full", enquanto continuaria com a transmissão analógica até o momento da transição final. O AM poderia ir para os canais 5 e 6 da TV analógica (76 MHz à 88 MHz), e as FMs migrariam para onde? Parece que essas tecnologias estão condenadas pela transição.

Uma Tecnologia Nacional

A TV enfrentava também os mesmos problemas do Rádio, a atual faixa levava dificuldades para a migração, os dirigentes e engenheiros de televisão foram buscar o caminho mais apropriado tecnologicamente e politicamente para a migração. O Rádio começou a discutir o sistema digital bem antes da TV no Brasil e ainda não chegou a nenhuma conclusão.

Venho defendendo uma guinada no rumo das discussões do Rádio Digital. Cada vez mais me convenço que devemos seguir o exemplo bem sucedido (na migração) da TV Digital. O Rádio deve ocupar uma freqüência consignada, nova, livre, e aos poucos ir fazendo a sua migração, sem prejudicar o analógico, sem apressar o pequeno e distante radiodifusor.

Imaginemos se o Rádio utilizasse uma nova freqüência, com seu transmissor digital “full”, podendo fazer seus ajustes, testes e investimentos na velocidade da sua praça e nível de exigência dos seus consumidores, este é o ambiente ideal para a migração.

Continuando o exercício de criarmos em nossas mentes o ambiente ideal para o novo Rádio brasileiro, imaginemos que, além do Rádio ser digitalizado e se ele pudesse dar um passo simultâneo à convergência das mídias? Ou seja, estar numa freqüência que pudesse agregar outras formas de mídias. Existe um ambiente assim para o Rádio, uma tecnologia de menor custo e nacional, desenvolvida no Brasil.

O Rádio Digital brasileiro poderia ocupar o canal 14 da TV Digital (470 MHz à 476 MHz). Esses 6 MHz abrigariam com tranqüilidade as Rádios de toda uma Região metropolitana, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, transmitindo em Digital, com todas as vantagens agregadas apresentadas pelo IBOC ou DRM. O custo seria bem menor que as adaptações na transmissão simultânea. Para se ter uma idéia, uma emissora que opera em 10 000 w de potência precisaria de algo em torno de 400 w para ter a mesma cobertura, e isso com um transmissor em VHF (470 MHz) que não custaria muito mais do que R$ 8.000,00. É evidente que ainda haveria o custo de antenas e software, mas com certeza bem mais baratos do que das outras tecnologias.

O Receptor

A transmissão pelo canal de TV Digital é viável e possível, entretanto, os mais críticos veriam dificuldades nos receptores, afinal é uma tecnologia nacional e não há disponíveis receptores de Rádio nessa freqüência. É verdade, ainda não existem, mas também até há bem pouco também não existiam receptores e setup box para a TV Digital brasileira -- hoje já disponíveis nas lojas de todo o país. O receptor viria naturalmente, pois o mercado nacional é significativo no consumo de eletroeletrônico. Os países do Mercosul (Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai) e ainda Peru, Bolívia e Venezuela que adotaram o padrão brasileiro de TV Digital, iriam com certeza nos seguir no Rádio Digital também.

Convergência

No momento em que a TV e o Rádio estão em desvantagem na tendência de convergência de mídias, com perspectivas de perda de espaço para as Teles e a internet, a união dos dois meios de comunicação numa mesma freqüência, permitirá que o Rádio e a TV compartilhem as recepções em portáteis, celulares e televisores de última geração. Essa união fortaleceria a radiodifusão livre e gratuita do Brasil.

As Vantagens

A possibilidade de abrigar as Rádios Digitais num canal de TV Digital só traria vantagens ao país: teríamos resolvido a transição do Rádio Digital, permitiríamos que cada radiodifusor fizesse o investimento à seu tempo e necessidade, uniríamos a radiodifusão livre e gratuita e, ainda, estaríamos gerando emprego e exportando para o mundo a tecnologia.

Ainda é cedo para prevermos para onde caminhará a digitalização do mais popular e querido meio de comunicação, pois os “lobbies” estão se acotovelando para conquistar o segundo mercado mundial de radiodifusão, que é o Brasil, só perdemos para os EUA. O que me alegra é que as autoridades responsáveis pela decisão estão se portando de forma exemplar, cautelosos como a questão exige e interessadas na melhor solução e no menor tempo possível e responsável, aliás, agindo até mais interessadas do que muito radiodifusor brasileiro.

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Observatório da Imprensa
[08/08/05]   Rádio Digital - A um passo da democracia nas ondas sonoras
 
Reproduzido do e-Fórum nº 58 (5 a 11/8/2005), boletim de divulgação do FNDC - Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
 
Mas o passo que está para ser dado pode ser para frente ou para trás. 

Entrevista com o engenheiro Higino Germani mostra como o Brasil pode definir de forma açodada a transição do serviço de radiodifusão sonora, criando uma situação de fato que tende a contribuir para tornar os canais de rádio ainda mais inacessíveis a novos atores e dificultar a reestruturação desta mídia tão fundamental para a cidadania. 

Em pleno andamento dentro dos órgãos de governo, este debate está distante de diversos atores interessados e, ainda mais, dos cidadãos.
 
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, anunciou esta semana que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) liberará em breve a implantação do rádio digital em 12 capitais brasileiras, em caráter experimental. "Nós já temos condições técnicas para fazer a rádio digital funcionar", disse o ministro, que também é proprietário de emissora de rádio. 

O anúncio surpreendeu as entidades e organizações ligadas à democratização da comunicação pelo fato de não ter havido, até hoje, um chamamento à discussão pública sobre como deverá se dar esta transição tecnológica no Brasil. 
A digitalização do serviço de radiodifusão sonora, uma realidade em poucos países do mundo, permitirá ao ouvinte de rádio receber um sinal de melhor qualidade, bem como ler textos noticiosos e ter acesso a informações sobre programação e outros serviços interativos de texto. 

Mas, assim como se dá no caso da transição da TV aberta, existem opções econômicas, sociais e tecnológicas a serem feitas que podem resultar em um processo de desenvolvimento e implantação mais ou menos democrático, mais ou menos custoso, mais ou menos excludente.
 
Com essa realidade batendo à porta dos brasileiros, o esperado era que ocorresse um debate público sobre os novos conceitos de produção de conteúdos, canalização e interatividade, que são os grandes desafios na migração das tecnologias de comunicação social eletrônica. 

Prevalecendo o silêncio, pode imperar a posição defendida pelo lobby de um grupo de empresas norte-americanas que quer ver o padrão In-Band On-Channel (Iboc) de rádio digital em alta definição implantado no Brasil de forma rápida. 

O canto da sereia [conheça as empresas que financiam este lobby mundial clicando aqui] deste conglomerado parece ter seduzido boa parte dos empresários do setor e de autoridades públicas, uma vez que o comparativo entre o Iboc e os padrões europeus (DAB e DRM) e o japonês (ISDB Tn) de rádio digital está passando ao largo das principais decisões. 
Ao contrário da TV Digital, onde a Anatel realizou testes de campo e de laboratório com todos os padrões existentes, no rádio a situação é outra.
 
Soluções alternativas para a implantação do rádio digital existem. 
Para apresentar algumas delas, dentro de uma perspectiva democrática, o e-Fórum entrevista nesta edição o engenheiro eletrônico Higino Germani, diretor técnico da Fundação Cultural Piratini Rádio e Televisão. 
Nos anos 1970, ele foi chefe da área técnica de Radiodifusão no antigo Departamento Nacional de Telecomunicações e diretor técnico da Rádio Nacional de Brasília (atual Radiobrás) para a implantação da 1ª Etapa do Sistema de Alta Potência em Ondas Médias e Ondas Curtas. 
Concebeu, projetou e implantou o primeiro sistema de Radiovias no Brasil, na BR-290, em 2003. 
Germani é responsável técnico pelo projeto de mais de 300 emissoras de rádio, TV e retransmissoras e aproximadamente o mesmo número em projetos de sistemas de radiocomunicação. 
Em fevereiro deste ano, ele publicou o estudo "Rádio Digital: Uma Outra Opção Não Seria Possível", cujas linhas principais são abordadas abaixo. 
Solicite uma cópia do estudo escrevendo para (
imprensa@fndc.org.br)
 
O que o senhor pensa sobre essa decisão da Anatel anunciada pelo ministro?
 
Higinio Germani – Aparentemente, as experiências seriam baseadas no Iboc (in-band on-channel), ou seja, um sinal digital inserido juntamente com o sinal analógico nas emissoras de ondas médias (AM). 
Vejo como muito boa iniciativa pois os possíveis problemas e vantagens ficarão demonstrados nas experiências.
 
No estudo divulgado em fevereiro, o senhor defende a utilização do canal 6 do VHF para alocar as emissoras digitais de rádio. Por quê? Quantas estações digitais caberiam neste canal sem que houvesse risco de interferência?
 
H.G. – A Anatel já está realocando os canais 6 de TV. A banda do canal vai de 82 a 88 MHz e fica, portanto, ao lado da faixa de FM (88 a 108 MHz). Já existem três canais de rádio comunitária dentro do canal 6 de TV (87,9; 87,7 e 87,5 MHz); o que fazer com o restante da banda? Ora, a faixa é ideal para propagação de rádio com comprimento de onda bem adequado. Seria possível inserir nesta faixa mais de uma centena de canais digitais com 50 KHz de largura cada um, o que possibilitaria efetivamente criarmos uma nova radiodifusão e não uma adaptação da faixa antiga de AM (1 MHz) para a era digital com todos os seus inconvenientes.
 
Por que o senhor condena o padrão americano Iboc?
 
H.G. – Não condeno. Apenas existem questões ainda não respondidas, como, por exemplo: Como as emissoras vão operar com um delay (atraso no sinal) da ordem de 8 segundos? Qual a vantagem de operarmos na mesma faixa de AM atual se os receptores terão que ser compulsoriamente substituídos? Teremos que sempre pagar royalties pelo sistema? Como fica a interferência em canais adjacentes durante o dia e durante a noite ? Todas são questões muito importantes e sérias e que exigem resposta antes de adotarmos qualquer sistema. As experiências autorizadas serão de grande ajuda para esclarecer estes pontos.
 
Dependendo do padrão digital estabelecido, poderá ficar inviável às rádios comunitárias, em termos materiais, migrarem para o sistema digital uma vez que quase não possuem acesso a fontes de financiamento. Como ficarão essas rádios que não puderem se digitalizar?
 
H.G. – Creio que o horizonte de implantação do rádio digital ficará em no mínimo 5 anos, talvez 10 anos. Neste período, os custos devem cair e se tornarem mais acessíveis. Não acredito em rádio digital para as emissoras de FM, pois o ganho de qualidade não será tão compensador em relação à situação atual.
 
E os receptores, será difícil produzi-los? Quais serão as vantagens da digitalização para os cidadãos?
 
H.G. – O rádio não terá mais ouvintes e sim assinantes (se isto vai ser cobrado ou não, é impossível saber agora). Cada assinante se cadastrará na emissora e dará suas preferências em termos de informação, música, etc. O rádio avisará antecipadamente que informação do interesse do ouvinte vai vir (ou aumenta o volume automaticamente, ou liga sozinho, ou ainda grava a informação). Tudo isto é possível através de técnicas digitais já dominadas. O custo do receptor (atualmente da ordem de US$ 70) deve cair à medida que o sistema for implantado.
 
Se a Anatel permitir a implantação do rádio digital já em setembro estaremos (ouvintes de rádio) preparados para receber a programação?
 
H.G. – "Remember" o AM estereo! Muitas emissoras investiram um bom dinheiro em sistemas de transmissão estereofônicos e o resultado foi: "Esqueceram o receptor!!!" Espero que no caso da digitalização da radiodifusão não aconteça o mesmo. É necessário e indispensável que fábricas de receptores digitais sejam implantadas paralelamente à implantação de emissoras digitais. Estas fábricas têm que existir no Brasil, caso contrário, o preço será inacessível à maioria dos brasileiros.
 
Do ponto de vista da democratização da comunicação, qual padrão de rádio digital pode promover maior inclusão?
 
H.G. – Aquele que proporcionar o maior número de emissoras e maior pluradidade na programação. Do antigo "broadcast", migramos para o "narrowcast". Da programação eclética, migramos para a programação segmentada. Da segmentada, migraremos, compulsoriamente, para o "personalcast". 
Os radiodifusores se transformarão, também compulsoriamente, em radioinformadores. Se os atuais radiodifusores tivessem aberto espaço em suas grades de programação para programas comunitários, o fenômeno "Rádio Comunitária" não teria surgido. 

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Fonte: SJSC
[Fev 2005]   Rádio Digital: Uma outra opção não seria possível? - por Eng. Higino Germani

Já fazem algumas décadas que ouvimos falar que o futuro do Rádio AM e FM será a digitalização. No entanto, esta espera já está por demais longa...

Os esforços concentram-se no Rádio AM e com razão : as emissoras de FM proporcionam qualidade de áudio muito boa e tem disponíveis sub-canais que, em sua grande maioria, ainda não foram suficientemente explorados.

Desde as primeiras pesquisas a respeito, sempre ouvimos falar em sistemas “in band”, ou seja, ocupando o mesmo canal que as AM’s atuais. Examinemos as características deste canal :

- largura de cada canal de apenas 10 KHz : o que podemos esperar de banda tão estreita e ainda compartilhada com um sinal analógico ?

- faixa de OM de 535 KHz a 1705 KHz : a relação entre a freqüência mais baixa e a mais alta é de cerca de 3 vezes, o que demonstra características de propagação muito diferentes entre as freqüências “baixas” e as “altas”; dependência da condutividade do solo a qual tem valores cada vez menores em função do aumento da urbanização; propagação diurna pelo solo e noturna pelo solo e pela ionosféra o que gera sinais interferentes a longas distâncias.

- sistemas de transmissão que exigem áreas de vários hectares próximas às áreas urbanas, o que se torna cada vez mais difícil.

- necessidade de potências cada vez maiores para compensar a queda de condutividade e nível de ruído elevado (característico da faixa).

- necessidade de torres irradiantes altas devido ao grande comprimento de onda o que conflita cada vez mais com a proteção dos aeródromos.

Com estas características, perguntamos : Porque insistir em sistema “in band” ?

Os ouvintes não terão que adquirir um novo receptor para ouvir os sinais digitais ? Como a resposta é obviamente afirmativa, cremos que boa parte das argumentações da opção “in band” cai por terra.

Será verdadeiramente viável que, após um certo período de transição, o sinal analógico deixará de ser transmitido, permanecendo apenas o digital ? Ou será que, para cobrir
deficiências da cobertura digital teremos que manter no ar permanentemente trambolhos de dezenas de quilowatts com alto consumo de energia elétrica ?

Nos vemos em situação semelhante ao advento da máquina a vapor nas embarcações : inicialmente as instalaram em veleiros com resultados obviamente desastrosos; ou então com o advento do motor a combustão interna : não foi projetado um automóvel e sim instalado o motor em carruagens, no lugar dos cavalos ...
Estaríamos agora colocando turbinas em veleiros ou em carruagens ?!

Não será possível criarmos uma Nova Radiodifusão em todos os sentidos e não apenas inserir as técnicas digitais no Rádio existente ?

Onde reside a maior dificuldade ? Na faixa de operação desta Nova Radiodifusão. Em que freqüências as estações exclusivamente digitais operariam ?

Cremos que, sem querer, esta nova faixa está surgindo ao natural :

Com a criação de mais dois canais de Radio Comunitária (87,7 e 87,5 MHz) estamos “invadindo” a banda do canal 6 de TV.
Já com o canal “oficial” de RadCom (88,7 MHz) o conflito com o canal 6 já existia e agora se tornou maior ainda. É de se prever que o futuro nos aponta para a extinção do canal 6 de TV.

Com isto, resulta que teremos uma maravilhosa banda de 6 MHz (de 82 a 88 MHz) e na faixa de VHF (a melhor para a radiodifusão, quer em termos de comprimento de onda quer em
termos de características de propagação), à disposição para criarmos uma Nova Radiodifusão.

Podem fazer idéia de quantos canais exclusivamente digitais e o que será possível fazer nos mesmos em termos de qualidade de áudio e informações suplementares (dados) numa banda de 6 MHz na faixa de 82 a 88 MHz ? É tudo os que sonham com o Rádio Digital pediram ao Criador ...

Como operacionalizar isto ?

Ora, existe um Plano de Canais para TV Digital em elaboração. Certamente está prevista uma solução para o canal 6 (no Plano de Geração de TV no Brasil existem apenas 24 outorgas !).

Estabelecida a nova canalização de canais digitais (de 82 a 88 MHz) – deixando obviamente uma margem para os canais de RadCom – e estabelecidas as Normas Técnicas correspondentes, estes canais seriam objeto de “leilões”, primeiramente para os atuais radiodifusores que desejarem operar digitalmente e, posteriormente, para outros interessados.

Parte do valor arrecadado nestes leilões seria canalizado para indenizar os custos de migração para outro canal dos atuais concessionários de TV que operam no canal 6. Com um cronograma bem estabelecido, pode-se fazer com que esta migração coincida com a implantação da TV Digital o que evitará prejuízos às empresas que operam no canal 6.

Os radiodifusores que operarem digitalmente desativarão suas estações analógicas quando julgarem que o mercado de receptores digitais já atingiu a grande maioria do público. O próprio
público será beneficiado pois terá tempo de sobra para trocar de receptores (e esgotar a vida útil dos atuais).

Quanto aos receptores, não cremos que possa haver dificuldade em seu desenvolvimento e produção uma vez que a faixa de operação é de tecnologia dominada e será equipamento
exclusivamente digital sem a parte analógica. Existirá tempo mais que suficiente para o desenvolvimento deste novo receptor na área industrial paralelamente à implantação das regras para o novo serviço de tal forma que não venha a ocorrer novamente o desastre que foi a implantação do AM Estéreo quando havia emissoras mas não havia receptores no mercado...

Um grande debate a respeito poderia ser levado a efeito pelo Poder Concedente para se avaliar os prós e contras de cada opção existente para a efetiva implantação do RÁDIO DIGITAL de forma segura, viável econômica e empresarialmente – e não só tecnicamente – a qual venha a contemplar o público com todos os recursos e possibilidades que a NOVA RADIODIFUSÃO nos acena.
Fev/2005
Eng. Higino Germani

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Fonte: FNDC
[29/07/06]   Dona do padrão IBOC de rádio digital quer ampliar uso do espectro - por Júlia Pitthan

A empresa Ibiquity, proprietária norte-americana do padrão IBOC de rádio digital, protocolou no dia 5/7 pedido de ampliação do uso de espectro de 200kHz para 250kHz. Se for concedida pela Comissão Federal de Comunicações (FCC, sigla em inglês) – agência reguladora dos setores de radiodifusão e telecomunicações nos EUA – a ampliação de freqüência pode significar a redução de cerca de 30% no total de canais FM hoje disponíveis naquele país.

Isto porque o IBOC (In Band, On Channel) opera com o sinal analógico e digital transmitidos ao mesmo tempo e no mesmo canal de freqüência. A ampliação da banda digital é um requisito técnico para que o sistema funcione sem interferência. Mas se este aumento for concedido para uma determinada emissora outras terão que sair para dar espaço a ela.

O IBOC é o padrão preferido de 13 emissoras brasileiras que já iniciaram testes de rádio digital no país. Para o representante da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), Josué Lopes, a notícia só agrava o quadro de entrave ao processo de democratização da comunicação. “Além de ser um padrão que já excluiria pela questão econômica, em função do alto custo dos royalties, agora exclui pela questão técnica”, disse Josué.

Demanda técnica

Para que a transmissão simultânea aconteça é preciso linearizar o sinal analógico, ou seja, fazer com que menos sinais espúrios provocados pelo emissor analógico sejam transmitidos. Isso provoca uma redução na qualidade sonora recebida, pois diminui a amplitude do sinal de modulação e reduz a relação entre o nível do sinal recebido e o nível do ruído existente no canal. O sinal do transmissor digital, sobreposto ao sinal analógico linearizado, compõe o que tecnicamente chama-se de máscara de emissão. Duas bandas laterais digitais são inseridas na emissão do sinal analógico (veja gráfico na fonte).

Na prática, estudos detectaram a interferência do sinal digital sobre o analógico, e entre canais distintos da mesma localidade. Uma das soluções vislumbradas para reduzir o problema das interferências seria a ampliação desta banda digital, como a Ibiquity está solicitando. “A ampliação é uma demanda técnica, sem a qual o padrão não apresentará um desempenho satisfatório”, diz o técnico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Marcus Manhães.

Caixa de sapato

A necessidade da elevação na potência de transmissão, demanda que surge com a interferência ente os canais, acarreta também no obrigatório replanejamento do espectro na forma que hoje está distribuído. Segundo Manhães, caso os EUA procedam com a implementação total do padrão IBOC, está prevista a redução de cerca de 30% dos canais hoje disponíveis, conforme Manhães.

No Brasil, algo semelhante aconteceria caso o padrão norte-americano fosse adotado já com esta nova largura de banda. Em localidades como Rio de Janeiro e São Paulo, onde o espectro está lotado, alguns canais acabariam sendo despejados. “A redução do número de canais aconteceria de forma indiscriminada, não apenas os comunitários e educativos, mas também os comerciais”, diz Manhães, que também é diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa no Estado de São Paulo (SinTPq).

Para o engenheiro de telecomunicações e diretor técnico da rádio FM Cultura e da TVE/RS, Higino Germani, a tentativa de realocar os mesmos canais analógicos para o padrão digital usando o sistema "in band" é o mesmo que tentar acomodar um elefante em uma caixa de sapato. No artigo "Rádio Digital: uma outra opção não seria possível?", Germani defende a criação de um paradigma em radiodifusão completamente novo. "Podem fazer idéia de quantos canais exclusivamente digitais e o que será possível fazer nos mesmos em termos de qualidade de áudio e informações suplementares (dados) numa banda de 6 MHz na faixa de 88 MHz?", questiona Germani.

Debate urgente

Para Josué Lopes, da Abraço, é premente a normatização do debate sobre a questão do rádio digital. "É preciso que o presidente Lula publique um decreto que institua o início de um processo de pesquisa e discussão sobre qual o melhor padrão de rádio digital para o Brasil", disse. "Está visto que o IBOC só favorece às grandes empresas", avaliou Josué. O representante da Abraço lembra que não só as cerca de 15 mil emissoras comunitárias existentes hoje no país, mas também as pequenas rádios comercias e as educativas correm o risco de ficar excluídas do processo de digitalização caso a escolha não se dê de forma responsável. "Um momento que deveria ser de democratização, pode acabar se tornando de exclusão", considera o representante da Abraço.


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