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Setembro 2009 Índice Geral do BLOCO
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30/09/09
• Rádio Digital (48) - "Hélio Costa recoloca o IBOC na disputa pelo rádio digital" + Artigo técnico sobre IBOC
01.
Quem acompanha as andanças e "falastranças" do ministro Helio
Costa não se surpreende com mais nada. Principalmente quando o assunto é
Rádio Digital.
Seria bom que fosse antes mas, depois que o ministro deixar o ministério e o
governo, tudo virá à tona... um dia... possivelmente.
No caso, refiro-me à desistência (ou des-insistência) do ministro em
relação ao padrão americano IBOC ocorrida no final do ano passado.
Ao reconhecer, em artigo de próprio punho, as deficiências do IBOC,
implicitamente, reconheceu também (mas não escreveu) que esteve enganado ou
mal-assessorado por vários anos: um incompetência generalizada no ministério
que quase levou o pais a adotar um uma tecnologia de Rádio Digital
deficiente.
E não foi por falta de alerta por parte da mídia e dos especialistas que se
manifestaram.
02.
Neste período, a Anatel concedeu várias autorizações para testes
experimentais do sistema americano IBOC e do europeu DRM.
Não está bem claro como foram trazidos os equipamentos para os testes e por
conta de quem correram as despesas.
Não consegui também, em meus arquivos de notícias, a relação de todas as
emissoras autorizadas e se as mesmas realizaram os testes.
O que se pode imaginar é que, com o aval do ministro e da ABERT, as
emissoras que optaram pelo IBOC contavam como certas as favas da implantação
do sistema americano, o que se configuraria uma vantagem em relação às
demais.
03.
Em determinado momento a Anatel teve que intervir (o que deveria
ter feito desde o início) para padronizar os testes das emissoras, para que
pudessem obedecer aos mesmos critérios e serem, então, passíveis de
comparação.
No DO de 17 de fevereiro de 2006 a Faculdade de Tecnologia da UnB recebeu
autorização para testar o sistema DRM. A UnB deveria apresentar relatório
preliminar em 30 dias e definitivo em uma ano.
Não tenho notícias deste relatório nem das demais emissoras.
04.
Transcrevo matéria de ontem do Tele.Síntese:
Fonte: Tele.Síntese
[29/09/09]
Hélio Costa recoloca o Iboc na disputa pelo padrão de rádio digital -
por Lúcia Berbert
Os testes com o sistema europeu de rádio digital devem
começar nas próximas semanas, em São Paulo. Segundo o ministro das
Comunicações, Hélio Costa, a decisão final sobre o padrão sairá depois de
novembro, quando acaba o prazo da consulta pública para os testes.
Além do sistema DRM (Digital Radio Mondiale), da Europa, o Brasil testou o
norte-americano, o Iboc (In Band on Channel), por dois anos, mas que
apresentou problemas de interferências. Além do mais, o sistema Iboc não
trabalha com Ondas Curtas (OC), essenciais para atingir a região amazônica.
Já o sistema europeu, que trabalha com OC, ainda não obteve a homologação da
transmissão em FM pela UIT (União Internacional de Telecomunicações). “Acho
que eles conseguem a homologação em poucos meses, assim como os
norte-americanos podem resolver as questões das sombras nas transmissões,
verificadas nos testes”, disse Costa, recolocando o sistema Iboc na disputa.
Segundo Costa, a maioria das grandes emissoras de rádio já possui o
equipamento para o sistema Iboc, o que apressaria a implantação desse
sistema no país. Ele avalia que a implantação do sistema europeu demore pelo
menos um ano. “Para fazer um processo democrático, aberto, temos que
assegurar as mesmas condições que oferecemos aos americanos. Eles [os
europeus] terão que fazer os testes e mostrar que o sistema DRM é bom”,
disse.
Iboc
Os testes realizados com o sistema Iboc, sob a coordenação da Abert
(Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), demoraram dois
anos, porém, o trabalho foi reprovado pela Universidade Mackenzie, que reúne
os maiores especialistas de rádio digital no Brasil. Além de não transmitir
em OCM, o padrão norte-americano também ainda não superou os problemas das
“sombras” nas transmissões em grandes cidades, como São Paulo e Rio de
Janeiro. Além disso, não foi solucionada a questão referente a royalties, já
que é um sistema proprietário.
05.
Sobre o relatório ABERT/Instituto Machenzie reproduzo parte de
meu "post"
Radio Digital (41):
(...)
Com vimos na mensagem anterior, nas
vésperas do Ano Novo, o Ministro veio à publico e, em
artigo do próprio punho,
desistiu do Rádio Digital.
Eis um "recorte":
(...) Os mais recentes testes do rádio digital,
realizados na cidade de São Paulo pela Universidade Mackenzie, concluíram,
em julho último, que o IBOC, em ondas médias, apresenta sérios problemas de
propagação, com áreas de sombra maiores do que as que são observadas no
sistema analógico. (...)
No site da ABERT encontrei o
Relatório de Rádio Digital,
em formato PDF.
Recorto das "Conclusões":
(...) Os resultados alcançados pelo padrão IBOC nos
testes realizados no Brasil, nos permitem concluir que ele é adequado à
necessidade premente de digitalização das estações brasileiras. (...)
E também recorto das "Recomendações":
(...) A principal recomendação ao final deste trabalho
é que seja adotado o padrão de transmissão IBOC no Brasil, tanto para AM
quanto para FM, permitindo às emissoras colocarem a tecnologia digital nas
suas transmissões.(...)
O Relatório esta assinado por Engª TEREZA DE MACEDO MONDINO, TM Consultoria
em Telecomunicações Ltda; Prof. GUNNAR BEDICKS, Instituto Presbiteriano
Mackenzie e Engº RONALD SIQUEIRA BARBOSA, Associação Brasileira de Emissoras
de Radio e Televisão.
Consta que este Relatório foi entregue ao ministro em 09 Dez 08, antes,
portanto, da sua "desistência".
Constatação: O Instituto Presbiteriano Mackenzie que "não
considerava correto nem possível recomendar um padrão sem conhecer o
desempenho dos demais com a mesma profundidade" mudou de ideia e
assinou o relatório.
O conceito e a credibilidade do Instituto exigem uma explicação pública!
(...)
06.
Quem esteve atento nesta "novela radiofônica digital" sabia que era questão
de tempo que se usasse o "parque instalado IBOC" para justificar a adoção do
sistema.
Mas não se esperava que tal desfaçatez viesse do próprio ministro:
(...) Segundo Costa, a maioria das grandes emissoras de rádio já possui o
equipamento para o sistema Iboc, o que apressaria a implantação desse
sistema no país. Ele avalia que a implantação do sistema europeu demore pelo
menos um ano. “Para fazer um processo democrático, aberto, temos que
assegurar as mesmas condições que oferecemos aos americanos. Eles [os
europeus] terão que fazer os testes e mostrar que o sistema DRM é bom”,
disse. (...)
Ah, nossos arquivos implacáveis... :-)
Vejam o que registrei num "post" (Voo
panorâmico de 2007):
(...)
O ministro nunca se cansa de ostentar sua "isenção" na linha do "para o IBOC
tudo, para o DRM, nada!"... :-)
Fonte: Estadão
[03/08/07]
Sistema de rádio digital só será escolhido após testes
(...) Hélio Costa afirmou, no
entanto, que não tem como esperar a realização de testes com o sistema
europeu Digital Radio Mondiale (DRM). "Os testes DRM tem que ser feitos por
eles (técnicos que defendem o sistema europeu). Eles têm que trazer um
transmissor da Europa, colocar em São Paulo, fazer o teste, indicar para as
emissoras que estão dispostas a montar o sistema. Se não trazem esse
transmissor até São Paulo, não tem teste. Ou eles fazem os testes, ou não
tem como participar". (...)
(...)
07.
Mais um recorte do "post"
Voo panorâmico:
(...)
O ministro Helio
Costa, nestes três anos, tem citado somente o padrão americano
iBiquity que é um sistema IBOC (In-Band On-Channel).
Nos "States" este sistema é conhecido como "HD
Radio" (Hybrid Digital Radio) mas na nossa mídia
ganhou o apelido de "IBOC" mesmo. :-)
Um "pequeno" detalhe: iBiquity é uma empresa americana proprietária do
sistema "IBOC": para usar, tem que pagar royalties...
(...) Segundo o presidente da Abert, o
modelo de negócio definido pela Ibiquity para o Brasil prevê que não
seja cobrada a licença. O consórcio irá ter remuneração apenas sobre os
transmissores e receptores. De acordo com ele, o mercado no Brasil é de
cerca de 200 milhões de receptores.
(...) Fonte:
Agência Brasil
"Remuneração" sobre 200 milhões de receptores...uau!!!
A escolha não-técnica de um "padrão proprietário" corresponde, em última
análise, à contratação de uma empresa sem licitação.
Tudo pode estar sendo feito com a maior lisura mas é preciso muiiiiita
transparência...
(...)
08.
Que conclusão se permite tirar "um leitor colecionador de
notícias" como eu, face o acima exposto?
Arrisco:
A mal explicada "desistência ministerial" em relação ao IBOC pode ter sido
um "tropeço" mas tudo logo voltou ao "normal" e, aparentemente, a consulta
em andamento com os novos testes é puro jogo de cena pois haverá forte
pressão para adoção do sistema IBOC.
Já classifiquei este imbróglio do "Rádio Digital" como um "escândalo que foi
sem ter sido".
O ministro e a ABERT estão trabalhando duro para que o mesmo venha a se
concretizar.
09.
A mídia, ao enfocar as falações de políticos e empresários
interessados no tema, está noticiando mas não informando.
Num tema sensível, polêmico e até escandaloso como este, os órgãos
noticiosos têm obrigação profissional de registrar os antecedentes para
recordação e ambientação dos leitores.
O ministro das Comunicações, a ABERT, a
ANATEL, a UnB, o Instituto Mackenzie e a mídia devem explicações à sociedade
sobre os estudos e projetos para a implantação do Rádio Digital no Brasil.
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Matéria de 2006
Fonte: Fórum PCs - Origem: Agência Brasil
[20/02/06]
Anatel autoriza UnB a testar transmissão de rádio digital - por Ana
Paula Marra
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) concedeu mais uma
autorização para realização de testes científicos e experimentais do Sistema
de Radiodifusão Sonora Digital. Dessa vez, a concessão, que foi publicada
nesta sexta (17) no Diário Oficial da União foi para a Faculdade de
Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB).
Essa é a 12ª autorização que a Anatel concede a empresas de radiodifusão
para testarem os padrões estrangeiros aprovados pela União Internacional de
Telecomunicações (UIT) de transmissões radiofônicas digitais.
Segundo a agência reguladora, ao contrário das autorizações anteriores, a
UnB será a primeira a realizar testes do sistema Digital Radio Mondiale (DRM),
um dos aprovados pela UIT. Esse sistema, um padrão europeu, necessita de uma
freqüência diferente da que a emissora opera na rádio analógica para
realizar as transmissões digitais. Com os testes, a Faculdade de Tecnologia
pretende avaliar a qualidade do áudio digital, a área de cobertura e a
potência do sinal digital em onda curta (OC) com relação a ruídos e
interferências.
As autorizações anteriores foram concedidas para realização de testes do
sistema IBOC, o outro padrão aprovado pela união internacional. O IBOC é um
padrão norte-americano que utiliza a mesma freqüência do sistema analógico
para as transmissões digitais. Ambos os sistemas estão em teste no Brasil. A
Anatel informa, no entanto, que os dois padrões não concorrem entre si, uma
vez que cada um se aplica de acordo com o tipo de transmissão utilizada.
De acordo com a agência, a Faculdade de Tecnologia da UnB deve apresentar no
prazo de 60 dias o relatório inicial em que conste, no mínimo, as
características que serão utilizadas na transmissão digital e a descrição
dos testes. No final dos experimentos, daqui a um ano, ela deverá apresentar
outro relatório, acompanhado de laudo conclusivo e considerações finais
abrangendo todas as atividades desenvolvidas.
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Fonte: Sete
Pontos
IBOC – Sistema de Rádio Digital nos Estados Unidos
Takashi Tome 1
1. Introdução
A tecnologia para o rádio
digital adotada nos Estados Unidos é conhecida como IBOC (In-Band-On-Channel).
O serviço em si passou por diversos nomes: primeiro foi o DARS (Digital
Audio Radio Service); depois DAB (Digital Audio Broadcasting),
"emprestado" dos europeus; e, mais recentemente, parece ter se estabilizado
em HD Radio (High Definition Radio).
Da mesma forma que os outros sistemas de rádio digital (DAB Eureka 147,
ISDB-Tsb, DRM), a idéia é levar ao ouvinte um som de melhor qualidade (como
no CD), além de possibilitar a inclusão de outras informações por meio de um
fluxo de dados ou mesmo um segundo canal de áudio independente.
Entretanto, ao contrário dos demais sistemas, o IBOC foi concebido para
possibilitar a transmissão simultânea dos sinais digitais dentro da mesma
banda alocada para o sinal analógico da emissora. No modo híbrido, ambos os
sinais – o analógico e o digital – convivem dentro do mesmo canal. Na etapa
posterior, o sinal analógico seria desativado, tendo-se uma transmissão
totalmente digital ocupando todo o canal. Existem duas versões do IBOC: uma
para a faixa de ondas médias (IBOC AM) e outra para a faixa de 88-108 MHz (IBOC
FM). Ambas adotam a mesma filosofia, o mesmo codificador de áudio e o mesmo
processo de modulação, diferindo em alguns detalhes como a configuração de
parâmetros ou a alocação do espectro. Em tese, por usar a mesma arquitetura
e o mesmo codificador de áudio, um receptor "IBOC AM" e outro "IBOC FM”,
ambos digitais, teriam boa parte de seus circuitos em comum para as duas
faixas.
Para a emissora, existem dois grandes atrativos. O primeiro é que ela pode
usar o espectro de que já dispõe. O segundo é que o acréscimo de equipamento
necessário para a transmissão digital é mínimo. Bem, essas são as vantagens
que os defensores do IBOC alegam (as desvantagens serão abordadas na parte
final deste artigo).
Este artigo versa sobre o IBOC FM. Embora do ponto de vista de circuitaria,
como observado acima, o IBOC AM seja similar, o ambiente de ondas médias
apresenta problemas distintos, que trataremos em outra ocasião. Para
facilitar a compreensão dos leitores, apresentaremos inicialmente uma breve
descrição técnica do sistema e, em seguida, o processo histórico de sua
elaboração.
O que é surpreendente para muitos de nós, que vimos estudando esse tema há
algum tempo, é que o rádio digital nos Estados Unidos, embora venha sendo
implantado e testado em diversas estações, ainda não é um sistema
consolidado e homologado pela FCC (como é, por exemplo, a TV Digital).
Essa questão será tratada na seção 3.
2. A tecnologia IBOC
2.1. O FM analógico
Para se entender o IBOC (FM), é útil revermos alguns conceitos do FM
analógico. Basicamente, no FM, pega-se um sinal de rádio-freqüência (RF),
batizado de portadora, e varia-se a sua freqüência conforme a intensidade do
sinal de áudio que se deseja transmitir. Digamos que a portadora seja um
sinal de 88,10 MHz. Se a amplitude do sinal de áudio for fraquinha, muda-se
momentaneamente aquele sinal de RF para, digamos, 88,11 MHz (um desvio de 10
kHz). Se a amplitude do áudio aumentar, joga-se a freqüência do RF para
88,12 MHz (desvio de 20 kHz). E assim por diante. O espectro do sinal
resultante (RF + áudio, ou RF modulado) é complexo, e varia de instante para
instante, em função da excursão do sinal de áudio (modulante). A figura 1
traz uma representação simplificada desse sinal modulado: cada estação está
representada por um triângulo, com a sua portadora no centro. A largura do
canal alocado a cada estação é de 200 kHz – ou seja, os sinais modulantes
podem ocupar no máximo 100 kHz em torno da portadora, em cada lado.
Fig. 1. Espectro do FM.
Conforme ilustrado na fig.
1, as estações são alocadas de 200 em 200 kHz (ou 0,2 MHz) [CFR1]. Para uma
dada estação – por exemplo, a de 88,3 MHz na fig. 1 – as estações
localizadas no canal adjacente, ou seja, cuja portadora esteja a 200 kHz no
espectro (88,1 e 88,5 MHz), são chamadas de “primeiro adjacente”. Da
mesma forma, aquela cuja portadora esteja afastada 400 kHz é denominada “estação
segundo adjacente”. Se duas estações – localizadas em cidades distintas
– estiverem ambas transmitindo na mesma freqüência, diz-se que elas são “co-canal”.
Para evitar interferências entre as estações, a FCC estabelece uma distância
mínima a ser observada entre as estações co-canal, primeiro adjacente e, em
menor grau, no segundo e terceiro adjacentes.
O motivo para o afastamento mínimo a ser observado entre as estações
adjacentes no espectro é que as raias do sinal de FM, por este ser complexo,
não se limitam ao espaço de ± 100 kHz em torno da portadora. A figura 2
mostra a máscara de emissão adotada pela FCC para o FM. Essa máscara
estabelece que podem existir espúrios na faixa entre 120 e 240 kHz afastados
da portadora, desde que os mesmos estejam a 25 dB abaixo da potência da
portadora não-modulada; e 35 dB abaixo da portadora não-modulada, na faixa
entre 240 e 600 kHz2.
Fig. 2. Máscara de emissão para o FM. Cf. 47cfr73-317 [CFR2].
2.2. IBOC FM
A idéia básica do IBOC (In-Band
On-Channel) é a de transmitir o sinal digital dentro do mesmo canal do
sinal analógico. Isso possibilitaria, na visão de seus autores, que as
estações de rádio atuais pudessem migrar para a tecnologia digital quando
lhes fosse conveniente e sem interromper ou prejudicar a transmissão do modo
analógico.
A proposta da USA Digital Radio (posteriormente, iBiquity) é a
de transmitir os sinais digitais na "janela" entre 129 e 198 kHz, como
indicado na figura 3a. Esses sinais estariam sendo transmitidos em uma
potência bem baixa, de modo a ficarem restritos dentro da máscara de emissão
especificado pela FCC.
Fig. 3a. Sinal IBOC FM no modo híbrido [IBI].
O sinal digital apresentado
na fig. 3a é do tipo OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplex),
formado por 190 mini-portadoras de cada lado, e capacidade de transporte
total de 96 kbit/s. Esse modo é chamado "híbrido", por conjugar a
transmissão dos sinais analógico e digital.
Um outro modo de transmissão, denominado "híbrido estendido" (extended
hybrid) é apresentado na fig. 3b. Nesse modo, o sinal analógico deve ser
restrito a 100 kHz e a janela ocupada pelo sinal digital vai de 101 a 198
kHz. A capacidade de transporte, nesse caso, varia de 110 a 150 kbit/s,
dependendo dos parâmetros de configuração adotados.
Fig. 3b. Sinal IBOC FM no modo híbrido estendido [IBI].
Após a fase de transição, a porção analógica do sinal seria substituída por sinais digitais, tendo-se então o chamado modo "totalmente digital". Existem diversas possibilidades para o mesmo. A proposta da Lucent era a de que, no sinal totalmente digital, a parte principal da informação fosse concentrada nas portadoras centrais, que seriam transmitidas com uma potência maior, conforme o indicado na fig. 4a.
Fig. 4a. Sinal IBOC no modo totalmente digital. Proposta Lucent [SUN].
Já na proposta da USA Digital Radio, e que acabou prevalecendo na solução da iBiquity, no modo totalmente digital a parte principal da informação continuaria a ser transmitida nas raias laterais (como no modo híbrido), porém com maior potência, enquanto que a parte central do canal seria destinada à transmissão de informação secundária, conforme a figura 4b.
Fig. 4b. Sinal IBOC no modo totalmente digital. Proposta USA DR/iBiquity [IBI].
No modo totalmente digital,
a capacidade de transporte varia de 200 a 300 kbit/s, dependendo dos
parâmetros de configuração.
Como ocorre com a maioria dos sistemas digitais, a capacidade de transporte
pode ser utilizada por uma mistura de sinais de áudio (um ou mais canais) e
fluxos de dados. Por exemplo, no modo híbrido mais simples, pode-se ter dois
fluxos de bits: um com 74 kbit/s e outro com 25 kbit/s. No modo estendido,
acrescenta-se um fluxo adicional de 12, 25 ou 50 kbit/s, dependendo dos
parâmetros de configuração. No modo totalmente digital, pode-se ter até
quatro fluxos independentes, variando de 6 a 98 kbit/s.
Em tese, qualquer tipo de informação digital - seja de áudio ou dados -
poderia ser transmitido nesses fluxos. A versão "original" do IBOC empregava
um codificador proprietário, denominado PAC (Perceptual Audio Coding)3.
Entretanto, as primeiras implantações nas emissoras indicaram um resultado
muito insatisfatório, o que levou a iBiquity a substituí-lo por um
segundo codificador, denominado HDC, desenvolvido pela Coding
Technologies. O codificador HDC é escalonável - funciona em 18, 36, 64 e
96 kbit/s, o que permite compor diferentes combinações. Uma desvantagem é
que, assim como o primeiro, este codificador é proprietário. A avaliação é a
de que, em 96 kbit/s, a qualidade do som obtida é igual ao de um CD.
A figura 5 ilustra, de modo simplificado, a organização de um sistema para
transmitir um sinal IBOC juntamente com o analógico. Na linha de cima temos,
simplificadamente, um sistema FM convencional, composto por um estágio de
tratamento de áudio em banda-base (amplificador, mixers, etc.), um modulador
FM analógico, seguido de um amplificador de potência (RF) e finalmente a
antena.
No IBOC (linha de baixo), o sinal analógico passa por um codificador de
áudio (HDC) e um modulador digital. A saída deste modulador é acoplada (por
meio de um acoplador passivo) à saída do modulador analógico, de modo que
ambos os sinais, assim juntados, são enviados ao elemento irradiante
(antena). Um elemento adicional que aparece aqui no circuito analógico é a
linha de retardo: como o processo digital é mais demorado (leva alguns
segundos para ser executado), para que a informações dos sinais analógico e
digital "aconteçam" no mesmo instante, faz-se necessário tal retardo. Dessa
forma, um sintonizador IBOC poderia funcionar em modo "dual", como ocorre no
FM mono/estéreo: Idealmente, o receptor IBOC estará sintonizando a parte
digital do sinal. Entretanto, se devido às condições de recepção o sinal
digital não puder ser recuperado, o receptor automaticamente mudaria para a
fonte analógica, sem interromper a continuidade do programa para o ouvinte.
Fig. 5. Esquema para a transmissão híbrida IBOC/analógico.
Um último tópico a ser
observado refere-se à sincronização entre as estações. Como cada estação
estará transmitindo de forma independente das demais, o receptor, ao ser
mudado de estação, tem que "atracar" na nova estação. Esse processo de
sincronização leva alguns segundos para ocorrer, o que significa que, em
tese, o usuário ficaria com o seu receptor mudo durante alguns segundos cada
vez que ele mudasse de estação. A forma proposta para evitar tal incômodo é
o de que as estações sejam sincronizadas por meio de satélite (GPS) [IBI].
Fizemos uma breve descrição do sistema IBOC FM. Apresenta-se a seguir a
evolução histórica desse sistema.
3. Breve histórico
3.1. Os primórdios
O processo que viria a desaguar na atual tecnologia IBOC inicia-se em
1990, quando a Satellite CD Radio entrou com uma petição na FCC para
a regulamentação de um novo serviço, o rádio digital via satélite4.
Mas por essa época, o sistema europeu de rádio digital terrestre (DAB
Eureka 147) já vinha sendo divulgado. Por tal motivo, a FCC, face à
petição da CD Radio, abriu um processo de consulta pública (Notice of
Inquiry, GEN Docket 90-357) visando a regulamentação do rádio digital,
não apenas via satélite, mas também para aplicação terrestre. Esse novo
serviço foi batizado de DARS – Digital Audio Radio Service.
Passados cinco anos – em 1995 – a FCC definiu as condições para a versão via
satélite (Satellite DARS), fixando a faixa de operação em 2310-2360
MHz [FCC1]. Entretanto, a versão terrestre estava a patinar. Em seu DARS
Report and Order, a FCC dizia que:
(...) nós antevemos que avanços técnicos logo irão permitir aos radiodifusores em AM e FM oferecerem sons digitais melhorados. (...) O subcomitê de rádio digital da EIA está avaliando as características técnicas de uma variedade de sistemas experimentais DARS. (...) Nós apoiamos totalmente esses desenvolvimentos, e vemos grandes promessas nessas inovações para prover melhores serviços aos consumidores. (...) Quando os resultados dos testes indicarem a factibilidade de implementar tais sistemas, iremos agir rapidamente para modificar apropriadamente as nossas normas [FCC1, par. 28, grifo deste autor].
Voltemos um pouco no tempo.
A partir da publicação da consulta NOI GEN docket 90-357, em 1990,
diversas propostas foram vislumbradas para o rádio terrestre. Basicamente,
elas se dividiam em três categorias. A primeira alternativa seria a de
utilizar uma faixa de freqüência totalmente nova. Essa era a proposta do DAB
europeu, que os canadenses encamparam e queriam convecer os seus pares
norte-americanos. Em boa parte, a discussão que ocorreu em torno do DARS
refere-se a essa proposta. Os canadenses adotaram a freqüência de 1,4 GHz
(banda L) para o seu sistema de rádio digital, o que permitia que o mesmo
fosse transmitido tanto por satélite quanto por antenas terrestres. Os
Estados Unidos rejeitaram essa idéia alegando que a banda L já estava
ocupada, em seu país, para uso militar5.
A segunda alternativa consistia em se transmitir o sinal digital em algum
canal não ocupado por uma estação analógica - principalmente, os canais
adjacentes aos analógicos. Essa proposta foi denominada IBAC - In-Band,
Adjacent Channel. Apenas a AT&T (que viria a mudar o nome para Lucent
Technologies após o desmembramento da Bell System) estava trabalhando nesse
tipo de proposta.
A terceira alternativa, e que recebia a maior atenção, por suas
características atraentes, era justamente o IBOC. Seus principais
proponentes eram a AT&T, a Amati e um consórcio criado em 1991 pela emissora
CBS, a Gannett e a Westinghouse, denominado USA Digital Radio (fig. 6).
Fig. 6. Genealogia da iBiquity
Em 1994, a EIA –
Electronics Industries Association e a NRSC – National Radio Systems
Committee, um organismo composto por técnicos de indústrias e de
emissoras, propuseram realizar testes comparativos entre os diversos
sistemas, a fim de fornecer subsídios para a decisão da FCC. Foram
realizados testes de transmissão em laboratório, no centro de pesquisas da
NASA em Cleveland-Ohio (NASA Lewis Research Center), de qualidade de
áudio no Canadá (Communiations Research Center, em Ottawa) e
finalmente teste de campo em San Francisco.
Os testes demonstraram que tanto o IBOC quanto o IBAC ainda não estavam
maduros para o uso. Em presença do sinal digital IBOC, a qualidade do sinal
analógico da mesma estação degradava-se sensivelmente6.
No canal adjacente, o sinal analógico (interferido) ficava bem pior. Essa
interferência piorava se houvesse presença de reflexões (multipercurso) no
sinal7.
Para completar, se o receptor IBOC perdesse o sinal, ou no caso de mudança
de estação, o receptor levava de 5 a 9 segundos para ressintonizar. O
sistema Eureka 147 estava se saindo melhor nesses testes [DRRI]. Essa
situação levou a FCC em 1995, como mencionado anteriormente, a adiar
qualquer decisão acerca do DARS terrestre, e continuar o processo GEN
docket 90-357 somente para o rádio via satélite.
De 1995 a 1998, os técnicos se enclasuraram em seus laboratórios para
tentarem melhorar os seus sistemas. A AT&T abandonou a sua proposta de IBAC,
considerando-a infactível devido ao alto nível de interferências provocadas
[CHR]8.
A Thompson, que propusera o Eureka 147 na banda L, desistira. A Lucent
(novo nome da AT&T), a Digital Radio Express, Inc. (DRE) e a USA
Digital Radio persistiam em suas pesquisas. Esta última, em particular,
firmara um acordo com o Instituto Fraunhofer, da Alemanha, para o
desenvolvimento e integração de um codificador MPEG AAC em seu sistema
[FCC2, pg. 10]9.
3.2. A segunda geração de testes
Em 1998, a USA Digital
Radio resolveu entrar com uma petição para que fosse iniciado processo
de consulta pública especificamente para o rádio digital terrestre [FCC2].
Nessa petição, a USA DR peliteava que a máscara de emissão fosse relaxada
para o caso da transmissão híbrida. E que houvesse um período de transição
de doze anos, após o qual a transmissão analógica não estaria mais protegida10.
Mas apenas no ano seguinte - em novembro de 1999 - a FCC iniciou a consulta
pública solicitada (Notice of Proposed Rule Making - NPRM). O que a
Comissão queria saber nessa consulta - de número MM Docket No. 99-325
- eram basicamente três coisas:
se a tecnologia IBOC estava suficientemente madura;
se deveria ser adotada uma única tecnologia, ou se poderiam haver várias tecnologias concorrentes; e
verificar a possibilidade de uma alternativa "fora-de-banda", usando o canal 6 de televisão (82-88 MHz).
Em contraste com a posição
otimista anterior, a NRSC - o braço de testes - não desejava realizar testes
comparativos entre os sistemas propostos, mas apenas verificar se a idéia do
IBOC "era viável"11.
As emissoras comerciais eram a favor do IBOC. A CEMA (associação de
fabricantes de receptores), a emissora pública National Public Radio,
Inc. (NPR) e diversas entidades de defesa de interesse público ainda
preferiam um sistema "fora-de-banda", na banda L [FCC3, par. 13].
A alternativa "fora-de-banda" estava sendo considerada porque, a despeito
das vantagens do IBOC, o período de transição - que poderia durar mais de
uma década - imporia uma séria limitação no desempenho do sistema, ao passo
que um sistema totalmente digital - numa nova banda - permitiria às
emissoras e ouvintes desfrutarem da totalidade da qualidade digital já
[FCC3, par. 22].
Os testes com os sistemas IBOC foram realizados no período entre 2000 e 2001
[NRSC1]. Em agosto de 2000, as duas principais proponentes - a Lucent e a
USA Digital Radio - uniam seus esforços e criavam a iBiquity Digital
Corporation. Em seu relatório de avaliação (nov/01), a NRSC recomenda
que a FCC autorize a tecnologia da iBiquity para uso em sistemas IBOC em FM
[NRSC2, pg. 9].
3.3. First Report and Order, 2002
Com base no relatório da NRSC, e nos comentários da consulta pública, em outubro de 2002 a FCC publica a decisão de adotar a tecnologia IBOC da iBiquity (First Report and Order). Mais: ela seria a única tecnologia de rádio digital:
A iBiquity é atualmente a única a desenvolver sistemas IBOC. [FCC4, par. 5].
A alternativa fora-de-banda com o uso do canal 6 foi descartada devido aos atrasos no cronograma de liberação dos canais de TV analógicos. A alternativa da adoção do Eureka 147 na banda L foi descartada porque
Essa não é uma alternativa factível. Em dramático contraste ao IBOC, Eureka 147 não tem nenhum proponente doméstico, nem um apreciável suporte por parte da indústria de radiodifusão. ... (A banda L) correntemente é utilizada para testes de telemetria de vôo. Levaria anos para liberar esse espectro para o DAB, mesmo que fôssemos decidir hoje que tal passo seria garantido. ... Mais ainda, sem uma alocação específica de espectro e uma tecnologia específica, nós simplesmente não temos uma opção fora-de-banda para considerar, muito menos para avaliar contra os critérios de teste de DAB enumerados na NPRM [FCC4, par. 9].
Em seu First Report and
Order, a FCC determina que as estações que desejarem, poderão iniciar
transmissões experimentais empregando o IBOC FM. A única restrição é a de
que deveria ser utilizado o mesmo elemento irradiante (antena) para os
sinais analógico e digital [FCC4, par. 41].
Iniciadas as transmissões experimentais, o desempenho do áudio não estava
agradando. Nos testes da NRSC, a iBiquity empregara o codec MPEG AAC, da
Fraunhofer, o qual tivera um bom desempenho. Entretanto, para o uso
"comercial", a iBiquity adotou o codec PAC da Lucent , cujo desempenho
deixava a desejar. A solução, como mencionado na seção 2, foi a adoção de um
novo codec, o HDC, da Coding Technologies.
Outro problema, sentido mais adiante, foi o da antena. A FCC determinada o
uso de mesma antena para o sinal analógico e o digital com o pressuposto de
que, ao adotar tal procedimento, o diagrama de irradiação seria mantido,
evitando as tão temidas interferências. Além disso, o uso do mesmo elemento
irradiante traria economia na instalação. Entretanto, o que se observou foi
algo distinto. As emissoras concluíam que em geral era mais barato instalar
um novo elemento irradiante do que lidar com maiores potências no sistema já
existente. Em abril de 2004, a FCC liberou o uso de elemento irradiante
separado para a transmissão digital.
Uma questão relacionada a essa é o custo do amplificador de potência de RF
(HPA). Embora na figura 5 esteja ilustrado o emprego do HPA existente, isso
só é válido se o mesmo possuir uma alta linearidade, o que ocorre somente
com os amplificadores mais modernos e caros. Na maior parte dos casos, seria
necessário substituir o amplificador.
De acordo com a iBiquity, o custo estimado para implantar o seu sistema IBOC gira em torno de US$ 30 mil a US$ 200 mil, com uma média de US$ 75 mil. Os custos de conversão variam, dependendo da idade e outras características da planta de transmissão e equipamentos de estúdio. [FCC4, par. 35].
Para se aproveitar a mesma
antena (qualquer que seja o motivo), as emissoras, via de regra, tiveram que
substituir seus amplificadores de potência por outros modelos com melhor
linearidade, e com a mesma potência que o analógico. Ao usar duas antenas
distintas, bastava adquirir apenas um amplificador linear com uma potência
bem menor, o que representava uma diferença de custo sensível.
Não obstante, algumas questões estavam sem resposta. A primeira delas era
quanto às patentes. Muitas entidades estavam preocupadas com a adoção de uma
tecnologia proprietária. A iBiquity concordava em "disponibilizar suas
patentes a terceiros em termos razoáveis", bem como em seguir a política de
patentes da FCC [FCC4, par. 34]. Em março de 2003, a iBiquity lançava um
novo programa de taxas, que consistia em:
as primeiras 125 estações comerciais a aderirem ao acordo adquiririam uma licença vitalícia por US$ 5.000;
todas as estações não-comerciais que aderissem ao acordo até 30 de junho de 2003, estariam isentas de pagamento de licença por toda vida;
ambas as ofertas teriam validade apenas se a estação realizasse o máximo esforço para iniciar as transmissões digitais antes de 30 de junho de 2003, e continuasse até pelo menos 31 de dezembro de 2004.
Essa licença mencionada não
se refere ao equipamento transmissor nem aos custos embutidos no receptor,
mas simplesmente na licença de uso dos codificadores - ou seja, uma licença
para a estação poder usar a tcnologia IBOC. O termo de licenciamento
encontra-se disponível em:
www.ibiquity.com/hdradio/
O uso de retransmissores (com deslocamento de freqüência)12
era outra questão sem resposta.
Mas talvez a questão mais significativa era que a FCC não apoiava a proposta
para o modo totalmente digital da iBiquity. Conforme ilustrado na
fig. 4b, a proposta da iBiquity era o da USA Digital Radio,
que propunha aumentar a potência das raias laterais, transmitindo ali a
programação principal. Na visão da FCC, isso provocaria interferência além
do necessário. A FCC preferia a proposta da Lucent (fig. 4a), que trazia a
programação principal para o centro do canal, liberando as raias laterais
para informações de menor importância. Por tal motivo, no First Report
and Order, a FCC não definiu o que fazer no modo totalmente digital
[FCC4, par. 37].
Isso trazia mais uma questão: a evolutividade do sistema. Esse foi um dos
pontos indagados pela FCC no NPRM de 1999, e que ficou sem resposta nas
rodadas de consulta pública até essa data [FCC3, par. 31 e FCC4 par. 33].
3.4. Further Notice of Proposed Rulemaking, 2004
Em abril de 2004, a FCC
iniciou nova rodada da consulta pública, com a publicação do Further
Notice of Proposed Rulemaking and Notice of Inquiry [FCC5]. Nessa etapa
são discutidas as regras do serviço - ou seja, as condicionantes para a
operação dos serviços. Indaga-se se as emissoras devem necessariamente
oferecer uma programação em "alta definição" (alta qualidade de áudio); se
as emissoras podem transmitir múltiplos programas de áudio; se as emissoras
podem oferecer serviços de dados. E, como um novo ponto a explorar, a
questão do controle de direitos autorais.
Essa rodada encerrou-se em agosto passado (ago/04). Porém, até o presente
(dez/04), não se tem informes sobre o seu desfecho.
Fig. 7. Processo de definição do serviço de rádio digital nos EUA
4. Conclusão
O princípio que norteou o
desenvolvimento do IBOC é interessante, mas persistem uma série de questões
não resolvidas. Os críticos do IBOC tendem a se concentrar no seu desempenho
- um problema existente, porém possivelmente passageiro. Outras questões são
mais graves, por terem fundo estrutural e, portanto, caráter permanente.
A primeira questão é que, o IBOC, de fato, não é IBOC: o sinal digital é
transmitido no canal adjacente. De acordo com um crítico, "isso é como
construir um prédio no terreno baldio vizinho, que voce pensa que pode usar
só porque está vazio". A Benton Foundation faz um alerta de mais longo
alcance: ao ocupar os canais adjacentes e efetivamente aumentar a largura do
canal ocupado por uma estação, está-se reduzindo a disponibilidade de
espectro para eventuais novos atores13.
Uma segunda questão é que os testes mostram, em geral, alguma degradação nos
sinais analógicos existentes. A NRSC e a maioria das emissoras se conforma
com isso, e o consideram um preço a ser pago (trade-off) para a
obtenção de um sistema digital com mais recursos [FCC4, par. 14]. Mas a FCC,
se por um lado procura minimizar esse problema, por outro tomou a iniciativa
de buscar melhorar a qualidade (seletividade) dos receptores, com base no
incentivo ao uso de técnicas mais modernas. Para tanto, iniciou nova
consulta pública em 2003, Interference Immunity Performance
Specifications for Radio Receivers [FCC6], visando a elaboração de
especificações mais rígidas para os receptores. Essa iniciativa, se por um
lado é interessante, por outro não resolve o problema dos aparelhos já
existentes, e indica que as interferências que se pode esperar com o IBOC
são mais severas que as reportadas nos relatórios.
A terceira questão é que, definido a opção pelo IBOC, e com o Further
Notice of Proposed Rulemaking, o processo de definição do sistema de
rádio digital nos Estados Unidos parece estar chegando ao seu desfecho.
Entretanto, os pontos em aberto são um sério problema. Primeiro: o que a FCC
pretende fazer com o modo totalmente digital? Isso pode ser apenas uma
questão teórica na atual fase experimental, mas os receptores a serem
vendidos ao público deverão trazer embutidos a resposta a essa pergunta.
Segundo: como fica a questão da tecnologia proprietária? Aparentemente, a
FCC acredita que as coisas irão se resolver por si (o procedimento adotado
na TV Digital foi similar). E finalmente, o que se espera em termos de
evolução do sistema? Essa foi uma pergunta que a própria FCC fez, e não
obteve resposta.
Referências
[BOE] de Boer, G., Kupferschmidt, C., Bederov, D. e Kuchenbecker, H.:
Digital Audio Broadcasting in the FM Band Based on Continuous Phase
Modulation. IEEE Transactions on Broadcasting, set/03, pp. 293-303.
[CFR 1] Code of Federal Regulations. Title 47 - Telecommunication.
Chapter I - Federal Communications Commission. Part 73 - Radio Broadcast
Services. Section 201. Numerical designations of FM broadcast channels.
Disponível em
http://a257.g.akamaitech.net/
[DRRI] Digital Radio Research Inc. EIA/NRSC DAB System Lab Test Results: An
Assessment. 1995. O texto original apresentado em Monterey, em ago/95, não
se encontra disponível na rede. Uma versão resumida encontra-se em:
www.nrcdxas.org/articles/EIA-
[FCC1] FCC: In the Matter of Ammendment of the Commission's Rules with
Regard to the Establishment and Regulation of New Digital Audio Radio
Services. GEN Docket No. 90-357. Report and Order. FCC95017. FCC,
jan/95.
[FCC2] Petition for Rulemaking RM-9395. In the Matter of
Ammendment of Part 73 of the Commission's Rules to Permit the Introduction
of Digital Audio Broadcasting in the AM and FM Broadcast Services. USA
Digital Radio Partners. Disponível em
www.fcc.gov/Bureaus/Mass_
[FCC3] FCC. In the Matter of Digital Audio Broadcasting Systems and Their
Impact on the Terrestrial Radio Broadcast Service. MM Docket No. 99-325.
Notice of Proposed Rulemaking. FCC, 01/nov/99.
[FCC4] FCC. In the Matter of Digital Audio Broadcasting Systems and Their
Impact on the Terrestrial Radio Broadcast Service. MM Docket No. 99-325.
First Report and Order. FCC, 11/out/02. Disponível em
www.fcc.gov/mb/audio/digital/
[FCC5] CC. In the Matter of Digital Audio Broadcasting Systems and Their
Impact on the Terrestrial Radio Broadcast Service. MM Docket No. 99-325.
Further Notice of Proposed Rulemaking and Notice of Inquiry. FCC,
20/abr/04.
[FCC6] FCC. In the Matter of Interference Immunity Performance
Specifications for Radio Receivers. ET Docket No. 03-65. Review of the
Commission's Rules and Policies Affecting the Conversion to Digital
Television. MM Docket No. 00-39. Notice of Inquiry. FCC, 24/mar/03.
[IBI] iBiquity Digital. IBOC FM Transmission Specification. iBiquity
Digital Corporation, ago/01.
[NRSC1] National Radio Systems Committee. DAB Subcommittee Request for
Proposals (RFP). In-band/on-channel (IBOC) DAB Terrestrial Broadcast Systems
for the AM and FM Bands. 14/ago/00.
[NRSC2] National Radio Systems Committee. DAB Subcommittee. Evaluation of
the iBiquity Digital Corporation IBOC System. Part 1 - FM IBOC. Report from
the Evaluation Working Group. Dr. H. Donald Messer, Chairman. 29/nov/01.
[SUN] Sundberg, C.E.W. et al. Multistream Hybrid In Band On Channel
FM Systems for Digital Audio Broadcasting. IEEE Transactions on
Broadcasting, dez/99, pp. 410-417.
Notas
1Takashi Tome é engenheiro e pesquisador na área de telecomunicações. Quaisquer opiniões aqui relatadas refletem apenas a posição pessoal do autor.
2Esta regra é um pouco difícil de entender para os não-iniciados na área. Primeiro, ela estabelece que, embora o canal "legal" seja de 200 kHz, admite-se que a estação irradie sinais livremente numa janela de 240 kHz (Fo ± 120 kHz). Em segundo lugar, parte considerável do canal adjacente pode ser invadida por raias laterais, desde que a potência dos mesmos esteja 25 dB abaixo da portadora não-modulada. Finalmente, nos canais segundo e terceiro adjacentes, ainda podem existir raias laterais, desde que a potência total dos mesmos esteja 35 dB abaixo do nível da portadora não-modulada.
3Praticamente todos os codificadores de áudio modernos (por exemplo, o MPEG) empregam a técnica de codificação subjetiva, ou perceptual audio coding. Não se deve, portanto, confundir o codificador PAC da iBiquity com os demais codificadores disponíveis, a despeito do nome. O da iBiquity é um codificador proprietário.
4Petition for Rulemaking, RM-7400 (1990). Citado em Magenau, J.:
Digital Audio Radio Services: Boon or Bust to the Public Interest?
Disponível em
www.lawtechjournal.com/
5Deve-se notar, entretanto, que também a faixa de 2,3 GHz estava em uso militar. Na consulta GEN Docket 90-357, a aeronáutica (AFTRCC - Aerospace and Flight Test Radio Coordinating Council) manifestou-se favorável ao uso da faixa de 2,3 GHz para o DARS, mantendo a banda L para o seu uso [FCC1, par. 16]. Entretanto, não se deve descartar argumentos de natureza econômica nessa escolha. "Comments were received from a wide variety of parties both in support and in opposition to the allocation (da faixa de 2,3 GHz). ... they assert that the allocation would create economic opportunities in the United States for various segments of industry, especially manufacturers of DARS-related equipment. Finally, proponents argue that a satellite DARS will improve U.S. competitiveness in the world marketplace". [FCC1 par. 6]. Mais adiante: "Loral Aerospace Holdings, Inc. states that the expeditious allocation and licensing of satellite DARS is necessary in order to maintain the U.S. lead in technology over other countries, which are currently developing a system in the L-band. [FCC1, par. 14].
6“IBOC FM DAB produces a significant impairment to the quality of the FM stereo audio on its “host” analog station.” DRRI report [DRRI].
7“In a majority of the tests, expert listeners judged the stereo FM analog service to be “worse” or “much worse” when an adjacent-channel station, carrying an IBOC DAB service, is present. This interference tends to worsen when multipath occurs.” Idem.
8A decisão de abandonar o IBAC deveu-se em parte ao seu mau desempenho técnico, e em parte à atração do IBOC. Do ponto de vista tecnológico, talvez a proposta não tenha sido adequadamente explorada. O uso de modulação QPSK parece provocar um nível de interferência não aceitável nos canais adjacentes. Uma solução seria empregar uma modulação mais "amigável" ao entorno analógico. Uma proposta nesse sentido é descrita em [BOE].
9Em dezembro de 1997, o subcomitê de rádio digital da CEMA (Consumer Electronics Manufacturing Association) elaborou o relatório final de testes dizendo que o IBOC apresentava duas grandes deficiências: (1) desempenho pobre do áudio digital sob condições de recepção adversas; e (2) incompatibilidade com o serviço de FM analógico [FCC3, par. 9]. A CEMA defendia também que apenas o Eureka 147 apresentava robustez e qualidade de áudio desejáveis [FCC3, par. 11].
10[FCC2], pp. 8-9. "In order to insure that the new digital signal does not harm existing analog service, USADR proposes that the Commission (FCC) adopt separate AM and FM composite analog/digital emission masks for hybrid IBOC DAB. After a twelve year transition period, analog broadcasts would no longer be protected. In the case of FM, a new all-digital mask would become effective at that time. The new all-digital emission mask would allow the broadcaster to increase the power and bandwidth of the digital sidebands.
11"In contrast to the CEMA Final Report, which compared systems based on a number of performance objectives, this first phase of NRSC testing appears to be designed to demonstrate the technical viability of IBOC systems, that is, "to establish whether or not IBOC DAB systems are a significant improvement over existing AM and FM analog radio services", as well as whether IBOC systems can operate without disrupting analog service." [FCC3, par. 10].
12Relay station.
13Benton Foundation. Broadcasting Extra, may 5, 2000. Diponível em
www.benton.org/News/Extra/
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