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Blog dos Coordenadores ou Blog Comunitário
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ComUnidade
WirelessBrasil
Abril 2010 Índice Geral do BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão Celld-group e WirelessBR. Participe!
05/04/10
• 1ª Confecom (65) - Msg de Márcio Patusco: Balanço Pós-Confecom
Olá, ComUnidade
WirelessBRASIL!
Esta é uma introdução semi-padronizada visando a ambientação dos eternos
recém-chegados, todos bem-vindos! :-)
01.
O nosso participante engº Márcio
Patusco mantém na ComUnidade um
website que acompanhou as atividades da 1ª Confecom e agora registra seus
"ecos".
Lembro que o Márcio, sem deixar de opinar, adotou uma postura praticamente
neutra e isenta neste acompanhamento, sugerindo leituras de várias fontes,
esperando que o leitor saiba filtrar e formar sua opinião.
Normalmente sirvo de intermediário para expandir os link sugeridos e dar uma "guaribada"
na formatação das transcrições. :-)
As mensagens do Márcio e dos demais membros seguem numeração diferente.
02.
Marcio Patusco Lana Lobo é formado em Engenharia de Telecomunicações
pela PUC-RJ em 1973, trabalhou na NEC do Brasil na implantação da Rede Nacional
de Telex da Embratel, e posteriormente na própria Embratel, onde coordenava o
planejamento de introdução de novas tecnologias. Foi representante brasileiro em
reuniões da União Internacional de Telecomunicações - UIT, e autor do livro RDSI
a Infraestrutura para a Sociedade da Informação. Atualmente atua na Divisão
Técnica de Eletrônica e Tecnologia da Informação - DETI - do Clube de Engenharia
e nas Comissões Brasileiras de Comunicações - CBCs - da Anatel.
E-mail: marciopatusco@oi.com.br
Obrigado, Márcio Patusco!
Ao debate!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio
Rosa
---------------------------------
de Marcio Patusco <marciopatusco@oi.com.br>
para Comunidade WirelessBRASIL
data 4 de abril de 2010 22:29
assunto 1ª Confecom (38): Balanço Pós-Confecom
Olá ComUnidade !
Depois de longo tempo destilando as diversas propostas da Confecom, foram
realizadas pela sociedade civil, em 27/ março último, as reuniões de avaliação
Pós-Confecom em Rio de Janeiro e São Paulo.
Várias manifestações durante esse período por integrantes dos segmentos da
sociedade civil, empresários e governo, reforçaram a impressão generalizada em
favor dos resultados alcançados. Na maior parte das propostas, a aproximação das
posições era muito maior do que se podia imaginar.
No entanto, tal como ressaltado nas reuniões pós-conferência, há necessidade de
manter a mobilização para o acompanhamento das realizações , estabelecer
compromissos políticos, e em alguns casos exigir implementações de imediato.
Este é o caso da implementação de um plano exequível para banda larga para o
país. Na Confecom, este projeto foi aprovado por unanimidade como serviço
público, e portanto, deve ter uma atuação firme do governo.
Essa é uma característica fundamental dos projetos de banda larga em todos os
países, até mesmo nos mais liberais. Em todos, há sempre algum nível de
participação governamental. Nos EUA, por exemplo, o FCC (Federal Communication
Comission), a Anatel de lá, acaba de estabelecer as regras de implementação, bem
como os investimentos públicos necessários. Nenhum país deixa ao sabor do
mercado um projeto tão importante sob o ponto de vista estratégico para o seu
desenvolvimento, mesmo em sociedades com maior poder aquisitivo.
Num ano eleitoral em diversos níveis, a sociedade pós-Confecom tem agora
condições de expressar seus desejos aos políticos e candidatos de forma clara ,
mostrando quais são seus reais anseios de forma consensada.
Abaixo, artigos e transcrições dos assuntos acima.
Fonte: Telebrasil
[02/02/10]
Confecom
revisitada pelo presidente da Comissão Organizadora, Marcelo Bechara - por
João Carlos Fonseca
Fonte: Observatório do
Direito à Comunicação
[18/02/10]
Conferência marcou democracia brasileira - por Candice Cresqui
Fonte: Site da 1ª
Confecom
[21/12/09] Ceneviva,
do Grupo Bandeirantes: Consumidor de comunicação foi grande vencedor na Confecom
Fonte: Observatório do Direito à
Comunicação
[29/03/10]
Reuniões em SP e RJ avaliam cenário pós Confecom e elencam prioridades - por
Mariana Martins
Marcio Patusco
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Fonte: Telebrasil
[02/02/10]
Confecom
revisitada pelo presidente da Comissão Organizadora, Marcelo Bechara - por
João Carlos Fonseca
O presidente da Comissão Organizadora da 1ª Conferência Nacional de Comunicação
– Confecom –, Marcelo Bechara de Souza Hobaika, consultor jurídico do Ministério
das Comunicações, concedeu entrevista exclusiva a TELEBRASIL – Associação
Brasileira de Telecomunicações, dando suas ideias sobre o que representou o
evento, ocorrido em Brasília (DF), de 14 a 17 de dezembro do ano passado. A rica
entrevista, sobre uma variedade de importantes temas, foi realizada por e-mail.
Confira aqui o resultado, editado.
TELEBRASIL – A realização da 1ª Confecom deve, ou não, ser considerada um
sucesso?
Marcelo Bechara – Deve.
TB – Por quê?
MB – Porque foi o maior fórum de discussão sobre comunicação brasileira desde
1988.
TB – Poderia reforçar o conceito?
MB – E porque foi a primeira. A Confecom foi muito difícil de ser concretizada.
TB – Dificuldades?
MB – Sim; tínhamos à nossa frente várias dificuldades, desde o prazo exíguo até
cortes orçamentário substantivos, que poderiam ter comprometido a realização do
evento.
TB – O que significou a Confecom ter ocorrido?
MB – Ficou comprovado que havia uma necessidade de se discutir a comunicação de
forma ampla e que isto era e é importante para o País, independente das posições
e ideologias.
TB – Sua opinião sobre o debate no plenário e nos Grupos de Trabalho?
MB – Foi um debate extremamente rico.
Os ensinamentos da Confecom
TB – Quais ensinamentos decorreram da realização da Confecom?
MB – Primeiramente, a Confecom facultou conhecer mais de perto pessoas que
pensam diferente.
TB – É algo importante?
MB – Muito; isso é fundamental para o diálogo.
TB – Outro ensinamento.
MB – O segundo ponto é que sempre vale a pena investir no consenso, mesmo quando
este parece impossível de ser alcançado.
TB – Há ainda um terceiro ponto?
MB – Sim. O convívio com a diversidade de opiniões nos torna mais tolerantes e
abertos a novas idéias.
TB – A 1ª Confecom cumpriu com os objetivos de seus idealizadores?
MB – Sem dúvida.
TB – Que objetivos seriam esses?
MB – Um grande objetivo foi a própria realização da conferência, o que não é
assim tão óbvio. Como já disse, as dificuldades foram imensas.
TB – Outros objetivos?
MB – O maior objetivo era estabelecer pontos de encontro entre os três segmentos
que compuseram a Confecom.
TB – Segmentos?
MB – A sociedade civil, a sociedade civil empresarial e o poder público.
TB – O Sr. poderia destacar uma vantagem do encontro para estes segmentos?
MB – Abriu-se um canal de comunicação qualificado. Espero que esse canal
continue.
Os atores da Confecom
TB – Em sua opinião, que atores ganharam e quais deixaram de ganhar com a
realização do evento ?
MB – Todo mundo que participou saiu ganhando.
TB – Deseja se aprofundar no tema?
MB – Do lado empresarial, ficou claro que a Abra e a TELEBRASIL saíram
extremamente fortalecidas desse processo. Recentemente, li na mídia
especializada que o setor de telecomunicações estava criando uma espécie de
“monobloco” em torno da TELEBRASIL de um lado e SINDITELEBRASIL e FEBRATEL de
outro.
TB – Construir um "monobloco" é difícil?
MB – Essas coisas não se constroem da noite para o dia. Elas são frutos de um
longo processo.
TB – E a 1ª Confecom neste contexto?
MB – Chego a acreditar que a Confecom foi um pouco responsável por uma formação
mais coesa entre diversos agentes.
TB – E quem não participou?
MB – A 1ª Confecom, por si só, já demonstra que tivemos avanços imediatos. É
claro que quem não participou perdeu uma oportunidade importante de discussão e
de amadurecimento.
Tema-base da Confecom
Neste ponto, a TELEBRASIL fez uma pergunta para saber se, a priori, o título do
tema da Confecom: "Comunicações: meios para construção de direitos e de
cidadania na era digital" continuava válido.
TB – Com base nas proposições aprovadas durante a 1ª Confecom, o título da
Conferência continua válido?
MB – Sim; o tema central da conferência foi propositalmente abrangente para que
subtemas não fossem restritos, porém direcionados ao debate da comunicação.
TB – Como foram as proposições?
MB – Várias proposições apontaram visões para a era digital, mas sem perder a
conotação de questões relevantes para a sociedade, como a cidadania e a
democracia.
TB – A divisão da estrutura temática em "Produção de conteúdo, Meios de
distribuição, e Cidadania" deveria, ou não, ser mantida numa próxima Confecom?
MB – Francamente, eu não saberia responder agora.
TB – Como assim?
MB – Eu acho que vai depender das questões de momento, das necessidades do
debate que vier a ser feito. Talvez mudar possa ser interessante.
TB – O que não pode mudar?
MB – É o modelo de composição tripartite que foi fundamental para a legitimação
dessa conferência. Ou seja, a condição de participação equilibrada dos três
segmentos.
TB – Por quê?
MB – Essa condição de equilíbrio contribuiu para forçar o diálogo.
As repercussões da Confecom
TB – Qual repercussão teve a Confecom no Governo?
MB – No Governo, a repercussão da Confecom foi extremamente positiva.
TB – E no Congresso?
MB – No Congresso, a repercussão também foi importante.
TB – Na Sociedade?
MB – Já a sociedade é bastante plural e, por isso, tivemos posicionamentos
favoráveis e contrários, moderados e radicais.
TB – Elogios?
MB – Elogio sempre é bom ouvir.
TB – E as críticas?
MB – Julgo que as críticas também são relevantes. São com elas que aprendemos a
melhorar para uma próxima oportunidade. Ouvi muita crítica sobre a conferência
que faz sentido. Mas ouvi muita bobagem também.
TB – Então, a Confecom foi algo que não passou em branco?
MB – Definitivamente.
TB – O Sr. poderia apontar as proposições aprovadas que terão maior repercussão
a médio e longo prazos?
MB – Tudo o que trata de revisão de marco legal acaba tendo mais repercussão.
TB – Por quê?
MB – Porque depende de uma tramitação, de um processo legislativo que leva a
novas discussões, audiências públicas, congressos, seminários etc. A 1ª Confecom
será muito citada em diversos debates daqui para frente.
TB – E a repercussão a curto prazo?
MB – Eu citaria a criação de um conselho de comunicação social vinculado ao
Executivo, com representantes dos diversos segmentos.
TB – É uma proposta factível?
MB – Sim; é uma proposta factível, lembrando, no entanto, que seria um ambiente
de caráter consultivo, não deliberativo.
O modelo das comunicações
A TELEBRASIL perguntou se, fruto da Confecom, ficaria alterada, de alguma forma,
a visão do Governo sobre o atual modelo das comunicações com diversos
ministérios, órgão regulador e órgãos de defesa do consumidor. Perguntou-se
sobre política industrial e marco regulatório. O entrevistado, um dos muitos
especialistas do aparato do Governo, conduziu habilmente suas respostas e,
valendo-se de seu saber jurídico, não deixou de registrar sua opinião sobre
temas fundamentais.
TB – A 1ª Confecom alterou de alguma forma a visão do Governo sobre o atual
modelo das comunicações?
MB – Não posso falar em nome do Governo. Mas, o Ministério entende que o modelo
está sendo repensado diante das transformações tecnológicas que impõem
adequações.
TB – Como a 1ª Confecom ajudou?
MB – A conferência demonstrou exatamente essa realidade, diante de diversas
propostas que sinalizam justamente essas transformações. A Anatel, a Ancine e a
EBC também participaram. Foi um momento de troca de experiências e de visões,
inclusive dentro do próprio Governo. Passamos a nos conhecer melhor.
TB – O País desistiu de ter política industrial para as comunicações, um setor
altamente tecnológico?
MB – Não. Temos todo o interesse de resgatar esse papel, que foi deixado de
lado. Aliás, isso está no art. 219 da Constituição, infelizmente pouco citado.
Algumas iniciativas foram tomadas no âmbito do Sistema Brasileiro de Televisão
Digital.
N.R.: – A Constituição de 1988, no capítulo IV, da Ciência e Tecnologia, diz em
seu Artigo 219: "O mercado interno integra o patrimônio nacional e será
incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o
bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei
federal".
TB – O Ministério das Comunicações interage com outros ministérios?
MB – O Ministério das Comunicações, juntamente com o Ministério da Ciência e
Tecnologia e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
desenvolveu algumas ações através dos fundos setoriais. O BNDES também está
atento.
TB – Alguma recomendação?
MB – Acho que o setor precisa se apresentar mais. Percebo uma mudança nos
últimos anos, mas o País que estamos projetando para o futuro precisa de mais
ação.
O marco regulatório
TB – A 1ª Confecom alterou a visão do marco regulatório sobre o setor?
MB – A conferência foi um ambiente, uma caixa de ressonância, de algumas
questões obsoletas e de outras bem sucedidas que devem ser reforçadas.
TB – Poderia nos explicar mais?
MB – o marco regulatório de telecomunicações foi visto na Confecom de forma
distinta da radiodifusão. E não poderia ter sido diferente, na medida em que os
serviços passaram a receber tratamento distinto a partir da Emenda nº 8/95.
N.R.: – Diz a Emenda nº 8/95: Compete à União: "explorar, diretamente ou
mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações,
nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um
órgão regulador e outros aspectos institucionais; explorar, diretamente ou
mediante autorização, concessão ou permissão: a) os serviços de radiodifusão
sonora e de sons e imagens".
TB – E sobre as propostas referentes ao marco regulatório?
MB – Não foram as melhores propostas do mundo neste tema, que foi transversal
aos três grandes eixos da conferência (n.r.: Produção de conteúdo; Meios de
distribuição; e Cidadania: direitos e deveres). Sobre muitas, eu até
discordaria. O grande ganho foi o debate e a importância do momento que estamos
testemunhando.
Banda larga e tributação
TB – Como a Confecom influenciou no problema da banda larga?
MB – Olha, este foi um dos grandes temas da conferência.
TB – Como assim?
MB – A 1ª Confecom reafirmou, de forma uníssona, a importância dessa
infraestrutura para atingirmos a Sociedade da Informação e do Conhecimento.
Parece óbvio e de fato é. Mas, o que realmente importa é uma legitimação do tema
como central para o desenvolvimento do País.
TB – Então, a Confecom foi importante para a banda larga?
MB – Sim; uma conferência também é um fórum de reafirmação de valores. As
propostas variaram de banda larga e acesso gratuito para toda população até
tributação favorável à banda larga.
TB – Todos os três segmentos opinaram sobre banda larga?
MB – Sim; os principais conceitos foram destacados por todos os segmentos
presentes à conferência.
TB – O Sr. poderia comentar o tema da redução tributária?
MB – Eu sou favorável a um modelo de tributação que busque uma eficiência capaz
de alavancar o crescimento e o atendimento ao usuário final, a partir do
desenvolvimento sadio e competitivo do setor.
TB – Mais?
MB – É claro que uma redução tributária, que reverta na redução do preço e no
crescimento da demanda, é extremamente desejável. A justiça tributária se
promove através de ações que visem o bem público e o atendimento às classes
menos favorecidas.
TB – Poderia exemplificar?
MB – Programas bem-sucedidos como o "Computador para Todos" provam isto.
TB – Resumindo?
MB – Está na hora dos serviços prestados sobre uma infraestrutura de banda larga
serem considerados dentro dessa lógica da justiça fiscal.
A conferência em si
TB – O Sr. poderia comentar a atuação dos três segmentos – sociedade organizada,
empresariado e Governo – com base nas proposições apresentadas ao longo da
Confecom?
MB – Vamos lá. Sociedade civil: o principal papel foi a de lutar pela convocação
e realização da Confecom. Cederam em momentos importantes e estavam prontos para
o debate.
TB – Sociedade civil empresarial?
MB – Legitimou a 1ª Confecom através de sua participação, e demonstrou uma
capacidade de mobilização extraordinária.
TB – E o Poder Público?
MB – Atuou em âmbito nacional. Na maioria esmagadora dos estados, foi o grande
conciliador entre os segmentos e o organizador das etapas da 1ª Confecom.
TB – O poder público não teve presença reduzida de apenas 20%?
MB – O poder público optou por ter sua presença reduzida. Ele apostou de forma
acertada no debate entre empresários e sociedade civil.
TB – Algum assunto importante deixou de merecer a devida ênfase na 1ª Confecom?
MB – Para mim, faltou falar mais sobre Internet em toda a sua plenitude.
TB – O que seria essa plenitude?
MB – Refiro-me a redes sociais, economia digital, produção colaborativa,
democracia semiótica etc. Havia mais espaço para se falar de Internet.
TB – Que divulgação e seguimento o Governo vai dar às proposições da 1ª Confecom?
MB – Será elaborado um "Caderno Final" com todas as propostas aprovadas,
rejeitadas e não apreciadas.
TB – Já está na Internet?
MB – Sim. Tudo isso já pode ser visto no site da CONFECOM (http://www.confecom.com.br).
TB – O que vai distinguir o Caderno Final?
MB – O "Caderno" é um de registro oficial de tudo que aconteceu. Ele apresenta
números, informações etc. Esse caderno será impresso e disponibilizado como um
documento de consulta pela sociedade em geral e o poder público.
Pontos fortes e outros nem tanto
TB – Quanto a realização material da 1ª Confecom, o tempo foi suficiente?
MB – Não; o tempo foi insuficiente para uma conferência com essa dimensão. Isto
prejudicou muito a organização.
TB – Poderia exemplificar?
MB – Tivemos problemas de várias ordens como no credenciamento e emissão de
passagens; todos solucionados. Contudo, poderíamos ter passado por isso de uma
forma mais tranquila, se tivéssemos mais tempo e dinheiro disponível desde o
começo.
TB – Mais?
MB – Ao optarmos por prorrogar a realização das etapas estaduais, o que
viabilizou as conferências em todas as unidades da federação, automaticamente
nós sacrificamos a nossa organização.
TB – Sistematização das propostas?
MB – A sistematização de 5.094 propostas de todo o País foi feita em ridículos
seis dias! Isso foi uma loucura.
TB – Existiram deficiências?
MB – A maioria dos estados passou informações erradas, incompletas. Propostas em
eixos errados, delegados sem o CPF ou RG. Emitir passagens para pessoas sem
dados não dá. Isso foi muito complicado, mas conseguimos superar.
TB – E os pontos fortes?
MB – A estrutura disponibilizada foi da melhor qualidade. Espaço amplo e
adequado, material, equipe, alimentação. Todos os recursos de acessibilidade
disponíveis, inclusive os cadernos de propostas em Braille.
TB – A logística foi importante?
MB – Nós montamos um restaurante pronto para alimentar (almoço e jantar) cerca
de 1.600 pessoas sentadas. Salas e auditórios suficientes, estandes, votação por
sistema eletrônico. Até berçário tinha. O resultado final foi excelente.
Próxima Confecom
TB – Uma recomendação para uma próxima Confecom?
MB – Para uma próxima conferência, mais tempo para a organização e que os
recursos estejam disponíveis de pronto.
TB – Uma 2ª Confecom, quando?
MB – Não sei; acho que precisamos digerir melhor a primeira. Deixá-la se
esgotar. Uma 2ª Confecom só deve acontecer quando ficar claro que o momento
exige novos debates.
TB – Poderia comentar mais?
MB – Mais importante do que uma 2ª Conferência é que se continue o diálogo
aberto entre os diversos segmentos. Com isso, você prolonga a 1ª Confecom.
TB – As regras de uma próxima Confecom?
MB – Devem ser construídas pelos segmentos para atender às necessidades
específicas da discussão.
TB – Resumindo?
MB – Cada conferência é uma nova história a ser escrita.
TB – Algo mais que gostaria de acrescentar?
MB – Sim. Quero reafirmar a importância da participação do setor de
telecomunicações numa conferência desse porte. Tenho certeza que o setor saiu
muito melhor do que entrou. Espero que o evento seja um divisor de águas nas
relações do setor com a sociedade e com o poder público
TB – Muito Obrigado.
Sobre a participação da TELEBRASIL, assim se expressou o presidente da Comissão
Organizadora Nacional da 1ª Conferência Nacional de Comunicações, Marcelo
Bechara: "gostaria de agradecer na pessoa do presidente da TELEBRASIL, Antonio
Carlos Valente, e do superintendente-executivo, Cesar Rômulo, o apoio, a
seriedade e a coragem que a entidade mostrou em participar, debater, se impor e
também retroceder".
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Fonte: Observatório do
Direito à Comunicação
[18/02/10]
Conferência marcou democracia brasileira - por Candice Cresqui
Ao aproximar a sociedade das discussões sobre a mídia, a Conferência Nacional de
Comunicação (Confecom) demonstrou que a comunicação é um bem público e não
somente a política de alguns. O amplo debate proporcionado pelo encontro
nacional marcou a democracia brasileira.
O diálogo entre a sociedade civil, sociedade civil empresarial e o poder público
é outro exemplo desse exercício democrático. Para Rosane Bertotti, Secretária de
Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e representante da entidade
na Coordenação Executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC),
esse intercâmbio evidenciou o conflito de interesses que existem em uma
sociedade de classes como a brasileira. E justamente por isso, afirma a
dirigente, a Conferência foi uma experiência rica de democracia.
Confira a entrevista.
Quais os reflexos já percebidos do grande debate pró-comunicação no Brasil após
a Confecom? A questão da democratização da comunicação entrou definitivamente na
pauta nacional
Rosane - A Conferência Nacional de Comunicação marcou a democracia brasileira e
a história da comunicação. Ela conseguiu colocar a democratização da comunicação
na pauta, quando discutiu a comunicação não mais como uma política de alguns, e
sim como uma política do Estado. Agora, temos a clareza que essa agenda não se
esgotou. Por isso a importância do processo conferencial e da Conferência em si.
Haja vista, por exemplo, o projeto de banda larga e as questões que dialogaram
com o Plano Nacional de Direitos Humanos, uma vez que a Conferência demarcou a
comunicação como um direito de todos e de todas. Esses pontos têm a ver com o
resultado explícito da Conferência.
Como sindicalistas representados pela CUT foram envolvidos pela Confecom?
Rosane - A CUT participou desde o princípio, assumindo como sua bandeira de luta
a realização desta primeira Conferência Nacional de Comunicação. Por isso
realizou o Encontro Nacional de Comunicação (leia aqui), cujo tema central era a
construção de uma proposta cutista para a Conferência; elaborou uma cartilha com
vinte e cinco mil exemplares, distribuída para todos os estados; fez encontros e
debates com seus filiados; as CUT’s estaduais participaram de forma muito ativa,
incorporando quase todas as Comissões Estaduais, participando das Conferências
Estaduais, mas acima de tudo, elaborando as propostas, defendendo não apenas
aquelas do mundo do trabalho, mas as que têm a ver com a democracia brasileira.
A CUT fez ainda uma articulação importante com as entidades filiadas que
integravam a Comissão Organizadora Nacional, como a Federação Nacional dos
Jornalistas (Fenaj) e com a Federação Interestadual dos Trabalhadores em
Empresas de Radiodifusão e Televisão (Fitert), e outras entidades como a
Federação Brasileira de Trabalhadores em Telecomunicações (Fitel) e a Federação
Nacional dos Empregados em Empresas e Órgãos Públicos e Privados de
Processamento de Dados (Fenadados), que também têm conhecimentos técnicos da
área.
Outra ação significativa feita pela CUT foi o contato com as demais centrais
sindicais, chamando-as a assumir para si a pauta da Conferência, as propostas do
diálogo social e a necessidade de uma conferência tripartite, reforçando a
importância de ter os empresários e o poder público nessa discussão.
As questões levadas pela Central foram bem encaminhadas nos debates da Confecom?
Rosane - Para a CUT não existe democracia plena sem a democratização da
comunicação e essa foi a pauta principal levada à Conferência. Nesse sentido,
entendemos que propostas como a criação do Conselho Nacional de Comunicação e de
políticas regulatórias do setor foram bem abarcadas por ela.
Alguns debates específicos do mundo do trabalho não foram completamente
efetivados, como, por exemplo, a proposta da antena sindical. Mas esse projeto
obteve 56% de aprovação em uma conferência tão adversa, então podemos dizer que
foi apreciado e discutido. Questões como essas demonstram que nós precisamos
continuar com o debate, a articulação e a mobilização social.
Como a CUT pretende acompanhar o prosseguimento das demandas após a Confecom?
Rosane - A CUT já está acompanhando. Na semana passada, inclusive, tivemos uma
audiência na Secretaria de Comunicação da Presidência para discutir um pouco
quais são as prioridades do governo e como ele pretende colocá-las em prática. O
Conselho de Comunicação, por exemplo, foi defendido pelo governo e precisamos
garantir a sua efetivação.
Além disso, vamos continuar nos articulando com o FNDC, pois entendemos que o
Fórum é um espaço amplo e importante na elaboração e na luta pela democratização
da comunicação. Continuaremos também a levar essa pauta nas nossas mobilizações;
a evidenciar esforços na coordenação dos movimentos sociais, que veem a
comunicação como uma questão estratégica; e vamos continuar a articulação com as
demais centrais sindicais. E se necessário for, ocuparemos as ruas desse Brasil
com a grande bandeira pela democratização da comunicação.
Qual que é a sua avaliação sobre o processo de construção da Confecom, e o
diálogo entre os três setores: sociedade civil, sociedade empresarial e poder
público?
Rosane - Nós vivemos numa sociedade de classes e que tem interesses antagônicos
entre si. Por isso a construção da Conferência teve todos os percalços e a
riqueza que teve. Fazer uma conferência tripartite com a participação do setor
empresarial, do poder público e das organizações da sociedade civil do mundo do
trabalho, significou entender a comunicação como um processo que envolve todos e
todas as brasileiras.
Representou que, embora algumas pessoas tenham o monopólio da mídia, elas não
detêm o monopólio da estrutura, e, por isso, precisamos atuar fortemente num
rearranjo do sistema de comunicação brasileiro. Demonstrou também que vamos
continuar por um longo tempo em uma sociedade com luta de classes - quero
reafirmar isso - onde teremos de um lado os empresários e de outro os
trabalhadores. Mas evidenciou também que o Estado precisa assegurar o seu papel
enquanto indutor e gestor de políticas públicas.
Como você avalia a cobertura da mídia sobre a Confecom?
Rosane - Nenhuma outra conferência teve tanto espaço na mídia quanto a
Conferência Nacional de Comunicação. O problema é a forma. Grande parte da mídia
quando falou sobre a Conferência não a explicou devidamente, não disse qual era
a sua pauta. Não informava e sim expressava a sua opinião a respeito dela. Como
não estava na Conferência propriamente dita, usou os seus meios pra fazer um
desserviço à sociedade brasileira. Precisamos ressaltar, entretanto, o quão
importante foram as coberturas da RedeTV!, da Rede Bandeirantes, da TV Brasil,
que mostrou vinte e quatro horas a Conferência, das mídias alternativas, como a
Rede Abraço e alguns blogs e revistas.
Quais devem ser as bases para um novo marco regulatório da comunicação
brasileira?
Rosane - Primeiro esse novo marco deve compreender a comunicação como um
direito, um bem público. Portanto, ela deve ser tratada como política pública e
assim ter participação social, transparência e regras claras. E ele tem que
respeitar o processo das diferenças, olhar para o Brasil, dos brasileiros e das
brasileiras, dos brancos e dos negros, e de toda a diversidade sexual. Tem que
respeitar o processo cultural do país e as diferenças de classes.
Como você avalia a participação do FNDC na Confecom?
Rosane - A Conferência é fruto de uma proposta do FNDC, e das entidades que o
compõem, durante uma de suas Plenárias. Foi ali que nasceu a ideia da
Conferência. O Fórum teve um papel fundamental, porque grande parte das
entidades da sociedade civil não empresarial que compunham a Comissão
Organizadora integram o FNDC.
Entidades como a CUT, a Fenaj a Fitert e a Abraço, embora tenham
representatividade própria, conseguiram, articuladas dentro do FNDC, conduzir o
processo de uma maneira mais coesa e decisiva, garantindo o brilho da
Conferência. Essa articulação garantiu a unidade das entidades, a união nas
propostas, a participação em todos os estados e a constituição de algumas
conferências municipais e estaduais. Mas, principalmente, consolidou a própria
Conferência e o FNDC, como um ator que articula as políticas para a
democratização da comunicação.
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Fonte: Site da 1ª
Confecom
[21/12/09] Ceneviva,
do Grupo Bandeirantes: Consumidor de comunicação foi grande vencedor na Confecom
O vice-presidente executivo do Grupo Bandeirantes e representante da Abra
(Associação Brasileira de Radiodifusores) na 1ª Conferência Nacional de
Comunicação (1ª Confecom), Walter Ceneviva, avaliou que o grande vencedor do
encontro foi o leitor, o telespectador, enfim, o consumidor de comunicação.
Como efeito prático da Conferência, Ceneviva espera que as propostas consensuais
em torno da pluralidade na distribuição de conteúdo influenciem o Congresso
Nacional na votação do PL 29, que cria novas regras para o setor de TV por
assinatura. “Não se pode ter um mesmo grupo gerando e monopolizando a
distribuição de conteúdo, e fechando a porta para os concorrentes. Acho que a 1ª
Confecom pode ajudar a mudar esta situação. E para concluir, estou muito
satisfeito que a Abra tenha sido ‘o’ interlocutor do setor de TV no evento”,
disse.
Ceneviva considerou que os pontos de divergência entre sociedade civil e
sociedade civil empresarial levaram à aprovação de algumas propostas que
resultarão inócuas. “A redução do capital estrangeiro nos meios de comunicação,
por exemplo, é matéria que exigiria uma reforma constitucional, um processo
muito sofisticado e demorado”. Ceneviva também acredita que a Constituição é
clara na garantia da liberdade de expressão, o que tornará algumas propostas de
criação de órgãos de controle, que em sua opinião exerceriam o papel de censura,
igualmente inócuas.
O representante da Abra se envolveu com a 1ª Confecom há meses, quando aceitou o
desafio de fazer parte da Comissão Organizadora deste evento pioneiro. “Fiquei
de certa forma surpreso com a boa qualidade da interlocução e com o regime de
convivência dos atores durante a Conferência. No início havia um clima que
parecia opor sociedade civil e empresariado, mas no fim houve convergência em
vários pontos importantes. Um deles é a necessidade de maior pluralidade na
distribuição da produção audiovisual brasileira, e outro a valorização da
produção cultural brasileira. O Brasil pode gerar hoje uma produção de grande
qualidade, tem potencial para ser um fornecedor global de conteúdo. O que falta
são recursos que possibilitem qualidade e diversidade, e distribuição. A posição
da Abra é em favor do fomento à produção nacional, e conseguimos nos fazer
entender sobre isso.”
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Fonte: Observatório do Direito à Comunicação[Procure "posts" antigos e novos sobre este tema no Índice Geral do BLOCO] ComUnidade WirelessBrasil