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Agosto 2010 Índice Geral do BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão Celld-group e WirelessBR. Participe!
01/08/10
• "Telefonica+PT+Vivo+Oi+TIM" (7) - Quem é "índio" quem é "cara-pálida" nesta história? + "GVT planeja operar em todos os estados"
Olá, ComUnidade WirelessBRASIL!
01.
Tenho lido bastante sobre o recente "movimento societário" no setor de
telecom.
Muita leitura nem sempre significa grandes entendimentos... :-)
Alguns aspectos dos conceitos de soberania foram pulverizados pela realidade do
mercado globalizado mas precisamos procurar entender exatamente tudo que está
acontecendo.
"Nós", povo ou sociedade, usuários e profissionais de TI e Telecom, como
ficamos?
Somos "índios" ou "cara-pálidas" nesta história?
Ou seja, exagerando, " nós" estamos nos dando bem" ou somos apenas
massa de manobra, ou melhor, "apenas um detalhe"? :-)
A piada deliciosa tem origem nos personagens dos filmes exibidos nas saudosas
matinês de priscas eras, envolvendo o Zorro (do faroeste) e seu fiel escudeiro e
"índio civilizado" Tonto... [Ver
Foto] :-)
Como curiosidade, para os mais jovens, anoto desta
Fonte: :-)
A frase "Nós quem, cara-pálida?" costuma ser usada, de forma irônica, sempre que
alguém quer indicar que não será envolvido no problema que o interlocutor está
apresentando. Por exemplo, um amigo diz ao outro que eles têm um determinado
problema, ao que o amigo responde com essa frase para indicar que ele deve
resolver sozinho, pois não terá sua ajuda.
A piada em questão envolve o
Zorro e seu amigo índio, o Tonto, que se vêem cercados de
peles-vermelhas, de forma aparentemente desesperadora. Tonto reage à frase
“Parece que desta vez estamos perdidos, amigo” com o comentário “Nós quem,
cara-pálida?”
Alguns comentaristas estão dizendo que todos ganhamos com estes
"movimentos societários" mas fico com uma sensação que governo, teles e fundos
de pensão estão pensando "todos quem?"...
Voltando para um ponto bem determinado com
zero análises na mídia:
Como fica o mercado para os profissionais de telecom?
Mas antes: com está este mercado?
02.
Na mídia, se alguém lembrou não registrou, seja lá por qual motivo, um fato
de agosto de 2005:
(...) Durante sessão do Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar, o deputado Roberto Jefferson disse que José Dirceu, quando era
Ministro da Casa Civil do Governo, ajudou um grupo da Portugal Telecom a
encontrar-se com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Jefferson também
afirmou que no final de janeiro de 2005, emissários do Partido dos Trabalhadores
(PT) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foram à Portugal para pedir
dinheiro à Portugal Telecom, sob orientação do então ministro Dirceu.(...) [Ler
na fonte]
Os jornalistas não se lembraram nem anotaram a coincidência deste
registro de matéria recente, abaixo transcrita:
(...)
Apesar de o governo negar, o negócio entre a Oi e a PT teve o aval de Lula. A
solução atual para a entrada dos portugueses na telefonia brasileira foi dada
pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho. A proposta foi apresentada ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes da viagem que ele fez à Espanha e a
Portugal, na terceira semana de maio.
O tema foi discutido em Lisboa, no dia 19 de maio. O primeiro-ministro de
Portugal, José Sócrates, recorreu ao presidente Lula para resistir ao assédio da
Telefônica para comprar a Vivo.
Lula pediu que o governo português procurasse Luciano Coutinho. Mas foi só no
dia 13 de julho que as negociações avançaram. Zeinal Bava, presidente da
Portugal Telecom, ligou para Otávio Andrade, presidente da Andrade Gutierrez. “A
partir daí, elas entraram em um ritmo alucinante”, diz
uma fonte que participou das conversas entre portugueses e os acionistas da Oi.
“Trabalhava-se dia e noite, inclusive nos finais de semana.” A principal
resistência ao negócio era de Carlos Jeirissati, do grupo LaFonte. (...)
Mas por que estou comparando estas notícias?
Porque talvez seja uma pista para as dúvidas da Flávia Lefèvre e do Estadão:
Flávia
Lefèvre:
(...) Quais ganhos podemos esperar neste cenário em que movimentações
societárias ocorrem à margem da lei, concentrando cada vez mais os mercados, sem
que se instituam garantias e contrapartidas efetivas, capazes de proteger o
interesse público.(...)
(...) Enfim, queria entender qual a lógica que vem regendo as movimentações
desse jogo de interesses; ou mais ainda, se há lógica nisso tudo ou se
estamos navegando sem rumo e prestes a sofrermos um colapso num futuro muito
próximo.(...)
Editorial do Estadão:
(...) A verdade é que, ainda uma vez - por motivos que cada qual é livre para
imaginar quais sejam -, a autoridade pública se colocou a serviço de corporações
privadas familiarizadas com o caminho das pedras do Planalto. Se agora existe o
"interesse social e econômico do País", de que falava o ministro das
Comunicações para disfarçar a intermediação de 2008, ninguém sabe, ninguém viu.
(...)
03.
Além da Vivo, PT,Telefonica e Oi, a TIM foi motivo de uma
recente
mensagem.
Neste resumo feito pelo nosso José Smolka entra a GVT:
(a) a fusão Oi + Brasil Telecom, independente da
questionabilidade ou não da forma pela qual ocorreu, tem o potencial de criar a
primeira grande empresa nacional de serviços convergentes;
(b) a América Móvil toma, finalmente, a iniciativa de integrar e convergir os
processos de negócio e os serviços prestados por suas controladas, Claro,
Embratel e Net;
(c) depois de uma longa batalha corporativa, a Telefónica assume sozinha o
controle da Vivo, abrindo o caminho para a convergência desta com a Telefónica
fixa;
(d) com o dinheiro arrecadado na venda de sua participação na Vivo a Portugal
Telecom adquire uma posição expressiva na BrOi, dando a elas as primeiras
"pernas" internacionais; e
(e) o grupo Tim + Intelig, sentindo-se fragilizado, procura um novo sócio que
fortaleça a sua posição (muitas idéias: venda da posição da Telefónica na
Telecom Italia, busca de integração com a GVT... e a lista segue).
Lá no final está está matéria sobre a GVT:
Fonte: Correio
Braziliense
[28/07/10]
Com mais velocidade e TV na internet, a GVT planeja operar em todos os estados
brasileiros - por Fernando Braga
04.
Outras transcrições de hoje, para ler de várias fontes e formar opinião:
Fonte: Cliping MP - Origem: Valor Econômico
[02/08/10]
Entrada da PT na Oi trará lucro aos fundos de pensão - por Graziella Valenti
e Fernando Torres, de São Paulo
Fonte: Estadão
[01/08/10]
Teles entram em nova onda de fusões - Renato Cruz
Fonte: Estadão
[31/07/10]
Usuário foi ignorado - Editorial
Fonte: Brasil em Dia
[31/07/10]
Fusão das telefônicas
Fonte: IstoÉ Dinheiro
[30/07/10]
Reviravolta na telefonia - por Ralphe Manzoni Jr - colaboraram Denize
Bacoccina e Rodolfo Borges
Ao debate!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio
Rosa
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Fonte: Estadão
[31/07/10]
Usuário foi ignorado - Editorial
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz desconhecer os pormenores dos
negócios bilionários anunciados nos últimos dias e que mudaram a composição
acionária das duas maiores operadoras de telefonia do Brasil, a Oi e a Vivo. A
despeito da intensa atuação de órgãos ligados ao governo nas negociações e das
conversas sobre o assunto que teve com o primeiro-ministro de Portugal, José
Sócrates - publicamente admitidas pelo chefe de governo português -, ao qual
ofereceu garantias quanto à operação, Lula afirma que não influiu na montagem da
nova estrutura societária da Oi. A única coisa que ele diz garantir é que,
"enquanto eu for presidente, a empresa (Oi) vai continuar uma empresa nacional",
ou "uma empresa brasileira da Silva".
De fato, todo o empenho do governo para assegurar, há menos de dois anos, a
também bilionária compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi foi oficialmente
justificado pela necessidade de o Brasil ter uma empresa nacional com porte
suficiente para enfrentar grandes operadoras internacionais tanto nos serviços
domésticos como no mercado externo, especialmente o latino-americano. O
interesse do governo no assunto, por razões nunca claramente justificadas, foi
tanto que o presidente da República assinou um decreto estabelecendo um novo
Plano Geral de Outorgas para o setor de telefonia e instituições federais, como
o BNDES e o Banco do Brasil, ofereceram vultosos financiamentos para tornar o
negócio viável. Com sua "garantia", Lula quer dizer que esse objetivo "nacional"
está sendo preservado, mesmo com a entrada da Portugal Telecom (PT) na Oi.
Mas é uma garantia por tempo limitadíssimo - vale até 31 de dezembro - e,
sobretudo, ilusória. Para ter forte presença na Oi, a PT vendeu para a espanhola
Telefónica a participação que tinha na Vivo, outra grande operadora de telefonia
do País. Mas, com a conclusão das negociações, a PT passou a deter 22,4% da Oi,
o que a torna o maior acionista da empresa. Ou seja, é estrangeiro o principal
acionista da empresa que, por causa do discurso nacionalista do governo para
justificar sua formação, ficou conhecida como a "supertele nacional".
Ainda que fosse justificada e baseada na realidade a garantia do presidente a
respeito dos grandes negócios na área de telefonia, ela seria incompleta, pois
não trata do que mais deveria preocupar o governo nessa questão: a população, o
usuário do sistema nacional de telefonia. Nada foi dito sobre a melhora da
qualidade dos serviços, tarifas, expansão da cobertura da internet de banda
larga (e com serviços mais rápidos e mais baratos, como os existentes em outros
países), redução do número de queixas dos usuários sobre os serviços telefônicos
- sobre investimentos, enfim.
Como nada disso foi levado em conta pelo governo durante as negociações para a
mudança dos acionistas das principais operadoras do País, o usuário só pode
esperar que a Anatel, quando convocada a examinar as alterações no setor, o faça
tendo como critérios a qualidade dos serviços, o impacto na concorrência e o
interesse do usuário.
A entrada na Oi de um sócio com grande capacidade financeira e conhecimento
técnico alimenta a esperança de que, afinal, a empresa faça os investimentos que
deveria ter feito nos últimos dois anos, mas não fez. O que se dizia há dois
anos é que, com a compra da BrT pela Oi, a empresa resultante teria mais
capacidade de investimentos. O que se observou, porém, foi uma queda nos
investimentos, por dificuldades financeiras. Em janeiro, a Oi reconheceu que o
passivo da BrT decorrente de ações judiciais não era de R$ 1,2 bilhão, mas de R$
2,5 bilhões. Pouco antes, a empresa anunciara ter tido prejuízo no ano passado e
que sua dívida totalizava R$ 21,8 bilhões.
Apesar desses números, a PT decidiu ter forte participação na Oi. É possível
que, com a entrada do novo sócio, a empresa tenha melhores condições para
administrar sua dívida e margem para investir mais do que tem investido. Mas os
resultados, para os usuários, talvez não sejam imediatos. Por isso, se esse
negócio foi interessante para alguém, não foi para a população - pelo menos até
agora.
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Fonte: Estadão
[01/08/10]
Teles entram em nova onda de fusões - Renato Cruz
Negócios anunciados na semana passada colocam pressão sobre concorrentes
Na quarta-feira passada, a Portugal Telecom protagonizou dois grandes negócios
no mercado brasileiro de telecomunicações. A empresa saiu da Vivo, vendendo sua
participação na empresa para a Telefônica por 7,5 bilhões, e entrou no bloco de
controle da Oi, comprando 22,4% por até 3,7 bilhões.
A Telefônica planeja unir a Vivo à Telesp, concessionária de telefonia de São
Paulo, projetando sinergias de até 3,9 bilhões. A Oi recebe um reforço de caixa
para reduzir seu endividamento e investir - além de ganhar um acionista com
conhecimento de operação.
O movimento representa o início de mais uma onda de consolidação no mercado
brasileiro de telecomunicações, e coloca pressão sobre outros atores do setor. A
Claro e a Embratel, que pertencem ao bilionário mexicano Carlos Slim, já
começaram um movimento para unir as operações, ainda não anunciado oficialmente,
que deve se acelerar para fazer frente aos espanhóis.
"A grande questão é qual será a reação dos mexicanos e da Vivendi (dona da GVT)",
destaca Luis Minoru Shibata, diretor de consultoria da PromonLogicalis. Carlos
Slim disputa com os espanhóis a liderança do mercado latino-americano de
telecomunicações e, no Brasil, acabou ficando em terceiro lugar, depois da
Telefônica e da Oi, em faturamento.
Nesse mercado de operações integradas fixo-móveis, sobraram a TIM, que não tem
rede de telefonia fixa local, e a GVT, que não tem celular. Alguns analistas
especulam sobre a união dessas duas empresas.
Amos Genish, presidente da GVT, afirma que a prioridade da operadora hoje não é
a telefonia móvel, mas a TV paga, serviço que também não está presente em seu
portfólio. Mesmo assim, a GVT resolveu aumentar de R$ 1,1 bilhão para R$ 1,5
bilhão seu plano de investimento para este ano, prevendo uma Telefônica e uma Oi
mais fortes.
"A consolidação do mercado não acabou", afirma Luciana Leocadio, analista-chefe
da Ativa Corretora. "O Brasil é um dos mercados com maior potencial de
crescimento."
Política. O movimento de mercado protagonizado pela Portugal Telecom foi marcado
pela influência do poder político, dos dois lados do Atlântico. Lisboa mostrou,
para espanto de analistas e investidores, como há ocasiões em que pode compensar
ao Estado interferir em decisões de mercado.
Em 30 de junho, 74% dos acionistas da operadora portuguesa aprovaram uma oferta
de 7,15 bilhões da Telefônica por 30% da Vivo. José Sócrates, primeiro-ministro
português, usou suas golden shares (ações com direitos especiais) para vetar a
operação. A decisão foi recebida com reclamações de acionistas e críticas de
autoridades da União Europeia, que acabou considerando ilegal a própria
existência das "ações de ouro".
O desfecho da semana passada, no entanto, provou que foi um bom negócio: a
Telefônica aumentou sua oferta para 7,5 bilhões e a Portugal Telecom conseguiu
amarrar a saída da Vivo com a entrada na Oi. Sócrates considerou essencial a
manutenção da presença da operadora portuguesa no Brasil, país responsável por
metade do faturamento da empresa e por praticamente todo o crescimento, e
encontrou um amigo no presidente Luiz Inácio da Silva, que abriu todas as portas
para que a operação fosse concretizada.
A Portugal Telecom se tornou a maior acionista individual da Oi, e também ganhou
poder de veto às decisões dos controladores brasileiros, ao participar do
capital da AG Telecom, da Andrade Gutierrez, e La Fonte, do empresário Carlos
Jereissati. Mais do que isso: ganhou preferência na compra das participações dos
sócios estrangeiros em 2015. Até lá, ninguém pode se desfazer das participações.
Nacionalismo. A Oi comprou a Brasil Telecom, em 2008, apoiada em um forte
discurso nacionalista. Recebeu R$ 6,9 bilhões dos bancos públicos e conseguiu
que as regras do setor fossem mudadas para viabilizar a criação da "supertele
nacional".
Às críticas à desnacionalização da Oi, o presidente Lula respondeu com bom
humor: "Enquanto eu for presidente, a empresa vai continuar uma empresa
nacional."
A presidência termina em 1.º de janeiro de 2011 e a operação de entrada dos
portugueses na Oi será finalizada no primeiro trimestre do ano que vem.
"O problema é a história da Oi, e não a Portugal Telecom ter se tornado
acionista", resume Arthur Barrionuevo, professor de Economia da Fundação Getúlio
Vargas. "A Portugal Telecom não teria colocado dinheiro na Oi para se tornar um
minoritário qualquer."
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Fonte: Cliping MP -
Origem: Valor Econômico
[02/08/10]
Entrada da PT na Oi trará lucro aos fundos de pensão - por Graziella Valenti
e Fernando Torres, de São Paulo
A entrada da Portugal Telecom na Telemar Participações deixará um prêmio
bastante elevado no bolso dos fundos de pensão que venderem parte de suas ações
à empresa portuguesa. A companhia pagará R$ 1,1 bilhão por 10% do capital. Na
prática, o preço oferecido é cerca de 80% superior ao pago há pouco menos de
dois meses por Petros e Funcef, quando desembolsaram R$ 890 milhões por 14,5% do
capital da empresa que estava em poder da BNDESPar.
A Telemar Participações é a holding de capital aberto, mas não listada na BM&FBovespa,
por meio da qual os sócios controlam o grupo. É nela que está o acordo de
acionistas. Atualmente, as fundações detêm em conjunto 33% da holding da Oi,
sendo que a Previ possui 13% e Petros e Funcef, 10% cada uma. Após a venda,
ficarão, em conjunto, com 23%.
Ainda não está definido quem venderá ações Portugal Telecom. Mas é certo que o
ingresso mexerá com os direitos das fundações. Para indicar um membro no
conselho de administração da empresa, cada acionista precisa ter, ao menos, 10%
do capital. Se todas as fundações quiserem permanecer com alguma fatia, pelo
menos duas perderão esse percentual.
O valor por ação da Telemar Participações pago pelos fundos à BNDESPar em leilão
realizado há cerca de dois meses foi de R$ 2,25 por ação. O preço implícito na
proposta dos portugueses é de R$ 4,10.
Embora signifique um prêmio substancial, os fundos de pensão que aceitarem a
oferta receberão metade do que a Portugal Telecom pagará à Andrade Gutierrez (AG)
e à La Fonte Telecomunicações (LF Tel). Os portugueses pagarão R$ 1,6 bilhão a
cada uma pelo equivalente a 7% da Telemar Participações - ou seja, R$ 3,2
bilhões por 14% da empresa. O preço por ação da holding é de cerca de R$ 8,50 -
incluindo a fatia na companhia de call center Contax.
A operação foi estruturada de forma que a Portugal Telecom financiará 74% do
aumento de capital de R$ 4,2 bilhões que a Telemar Participações fará. A entrada
da empresa no capital da AG e da LF Tel já prevê os R$ 820 milhões que cada uma
terá que aportar na operação para manter sua fatia.
Em conjunto, os fundos de pensão receberão R$ 1,12 bilhão pelos 10% que venderem
e, em seguida, aportarão R$ 1,05 bilhão na capitalização para manter os 23% do
capital. Já como detentora de 10% da holding, a Portugal Telecom colocará R$ 424
milhões na compra das novas ações.
Segundo apresentação feita pela Portugal Telecom, apenas Fundação Atlântico (dos
funcionários da própria Oi) e BNDESPar não venderão ações da Telemar
Participações direta ou indiretamente . Na capitalização de R$ 4,2 bilhões,
teriam de colocar R$ 490 milhões e R$ 715 milhões, respectivamente.
O caso da Fundação Atlântico é diferente das demais. Com 11,5% do capital,
integra o bloco de controle da Telemar Participações junto com AG e LF Tel. A
entidade, que tem R$ 3,9 bilhões em ativos, possui caixa para acompanhar a
capitalização, sendo necessário apenas reduzir a aplicação em renda fixa.
Mas a fundação pode esbarrar em um limite previsto na Resolução 3.792 do
Conselho Monetário Nacional (CMN), que determina que o investimento nas ações de
uma mesma empresa não podem superar 25% do total aplicado pelo fundo. A entidade
tem hoje investimento de R$ 640 milhões na Telemar Participações, o que subiria
para R$ 1,13 bilhão com o aumento de capital, representando 29% dos
investimentos totais.
Pela legislação, esse desenquadramento seria considerado passivo, uma vez que
seria decorrente do exercício da preferência no aumento de capital. A fundação
teria dois anos para se reenquadrar. Isso pode ser solucionado com o próprio
crescimento da base total de ativos, já que os funcionários da Oi continuam
contribuindo para os diferentes planos da entidade.
A legislação prevê ainda que a entidade pode ultrapassar o limite de 25%
previsto contanto que tenha superávit no montante equivalente ao
desenquadramento. No demonstrativo financeiro de 2009, a Fundação Atlântico
mostra ter "reservas e fundos" de R$ 568 milhões além do exigível atuarial.
A entidade foi procurada, mas não quis se manifestar. Questionada sobre a
existência de superávit, disse que o plano TelemarPrev, de contribuição
variável, não apresentou superávit em 2009 - embora não tenha deixado claro se
há saldo. Já o PBS-Telemar, de benefício definido, teve superávit de R$ 46,6
milhões.
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Fonte: Brasil em Dia
[31/07/10]
Fusão das telefônicas
A expectativa que há dias existia na área de economia e negócios acabou
efetivando seguramente a maior operação no mercado da telefonia depois da
privatização do Sistema Telebrás, em 1998. Na quarta-feira passada (27), a
Portugal Telecom (PT) decidiu vender as ações da Vivo. Logo depois, comprou uma
parte da Oi, que ocupou o espaço da Telemar. Na operação (de R$ 8,4 bilhões), a
Portugal Telecom ficou com 22,4% da Oi, que, por sua vez, conquistou 10% da tele
europeia. Já a PT vendeu sua parte na Vivo/Telefónica, por R$ 17,2 bilhões.
Sem dúvida, a quarta-feira passada marcou uma mudança na história da telefonia
brasileira. La Fonte e Andrade Gutierrez não poderão vender ações até 2015. Ao
mesmo tempo, ficou decidido que o BNDES e fundos injetarão R$ 1,1 bilhão para
assegurar sua posição acionária na Oi, reforçando sua participação no capital da
empresa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou parte da operação,
sinalizando para o fechamento do acordo com o banco estatal, o que viabilizou a
entrada da Portugal Telecom na fusão com a Oi.
Apesar da aliança, Lula teria manifestado o interesse do governo brasileiro de
que o controle continuaria sendo mantido pelas empresas brasileiras. Só depois
que esse compromisso ficou muito bem entendido foi que o presidente deu o sinal
verde para que o acordo fosse consolidado. Antes, a disposição da Portugal
Telecom era a de comprar o controle da Oi. A resistência do Palácio do Planalto
prevaleceu de forma árdua para evitar que a empresa brasileira ficasse
minoritária.
O presidente, no entanto, negou sua participação nas negociações, afirmando com
ênfase: “O Brasil não pode, nem poderia, ter nenhuma influência nas negociações
entre a Telefónica da Espanha e a Portugal Telecom. São dois países soberanos,
que, entre eles, fizeram um negócio que, pelo que vi nos jornais, é muito
dinheiro”. Para Lula, os sócios privados e públicos da Oi estariam negociando
com a Portugal Telecom, ao mesmo tempo em que o governo estava acompanhando o
desdobramento do acordo por intermédio do BNDES.
A lguns dias antes, Lula já estava decidido que não iria permitir a
desnacionalização da empresa brasileira, também pelo fato de que foi o próprio
Palácio do Planalto que estimulou sua criação, com o propósito de ser
estruturada uma grande tele nacional. Agora, uma empresa brasileira disputará o
mercado com a América Móvil (Embratel, Claro e Net), a Telefónica (Telefónica,
Vivo e TVA), os italianos da Telecom Italia (TIM e Intelig) e os franceses da
Vivendi (GVT). O cenário que está surgindo para o futuro mostrará muitas
mudanças.
Por exemplo, é possível que a Claro e a Embratel poderão ser fundidas em uma
empresa, ao mesmo tempo em que a TIM passará a controlar a Intelig. Na
quinta-feira, um dia após a operação, a agência financeira Fitch decidiu manter
em ‘BBB’ a classificação da Portugal Telecom, depois que empresa portuguesa
anunciou à Telefónica a venda de sua participação na Vivo e a aquisição de parte
da Oi. Posição semelhante foi comunicada pela agência Moody’s, que manteve em
‘Baa2’ a nota da operadora portuguesa. Para a Fitch, a classificação dada à PT
tem uma perspectiva “estável”, que reflete o impacto das transações anunciadas
pela operadora, que vendeu sua participação na Vivo por 7,5 milhões de euros,
além de investir 3,7 bilhões de euros para controlar 22,4% da brasileira Oi. A
análise da agência conclui que, a médio prazo, essas operações terão
consequências neutras para a classificação de risco da PT, cuja política de
gestão financeira, considerada conservadora, seguirá inalterada.
Na mesma quinta-feira, no Brasil, bancos e instituições do mercado de capitais
interpretaram indícios de vazamento de informações sobre os negócios envolvendo
as teles brasileiras e estrangeiras. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
afirmou que estava acompanhando a negociação dos papéis e analisando também a
operação, que causou uma das maiores movimentações financeiras da Bolsa de
Valores de São Paulo, com as ações da Vivo subindo 10,7%.
Resumindo: houve uma consequência imediata para a Brasil Cel, uma empresa da
Portugal Telecom e da Telefónica, que tinha 70% da Vivo. Já a Telefónica
conquistou parte da Portugal Telecom, que comprou 22,4% da Oi. Por fim, a
Telefónica se comprometeu a vender para a Oi 10% do que tem na Portugal Telecom.
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Fonte: IstoÉ Dinheiro
[30/07/10]
Reviravolta na telefonia - por Ralphe Manzoni Jr - colaboraram Denize
Bacoccina e Rodolfo Borges
A compra da Vivo pela Telefônica e a entrada da PT na Oi é o começo de uma nova
batalha épica no mercado brasileiro de telecomunicações. Mas será que o
consumidor ganha com isso?
Já passava da meia-noite, na quarta-feira 28, quando Roberto Lima, presidente da
Vivo, recebeu uma mensagem de texto no celular. O remetente era Zeinal Bava,
presidente da Portugal Telecom.
Curta, ela comunicava que a disputa societária entre espanhóis e portugueses
pelo controle da maior empresa de telefonia móvel do Brasil estava encerrada. A
Telefônica assumia o controle da Vivo por 7,5 bilhões euros. E a Portugal
Telecom comprava 22,4% da Oi por 3,75 bilhões de euros.
Os dois negócios somam 11,25 bilhões de euros, mais de R$ 25 bilhões, o que
significa R$ 3 bilhões a mais do que o governo federal arrecadou com a
privatização da Telebrás há quase exatos 12 anos, em 29 de julho de 1998 na
Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Na ocasião, foram vendidos o controle de três holdings de telefonia fixa, uma de
longa distância (Embratel) e oito de telefonia celular. Em apenas uma troca de
ações entre Telefônica, Portugal Telecom e Oi movimentou-se muito mais do que a
privatização de todas as operações de telefonia da época.
O tempo provocou profundas mudanças no setor de telefonia. Do emaranhado de
companhias criadas a partir de 1998, que previa empresas-espelho para concorrer
com as teles privatizadas, sobraram apenas três grandes grupos que devem atuar a
partir de agora como os protagonistas no mercado brasileiro. Eles terão
capacidade de investimento, escala superior aos demais concorrentes e
abrangência nacional.
Os espanhóis da Telefônica se transformaram na maior operadora de
telecomunicações do Brasil com a compra da Vivo. A Dedic, empresa de call center
da Portugal Telecom, também entrou no negócio, mas seu valor ainda precisa ser
definido. Em agosto, um banco de investimento será contratado para fazer a
avaliação da companhia, que tem 22 mil funcionários e fatura R$ 600 milhões no
Brasil. A Telefônica já atua nesta área com a Atento, que fatura 1,3 bilhão de
euros mundialmente.
Com a compra da Vivo, a Telefônica passa a ter mais musculatura, com uma receita
líquida de R$ 32 bilhões em 2009 e mais de 70 milhões de clientes. Os mexicanos
da América Móvil, que são donos da Claro, da Embratel e tem participação na Net,
preparam-se para unir suas operações.
E a supertele brasileira Oi – que tem como seu principal acionista individual a
Portugal Telecom – ganha fôlego para retomar os investimentos e reduzir sua
dívida líquida de R$ 20,9 bilhões com o dinheiro que vai entrar do novo parceiro
além-mar.
Em comum, as três operações são capazes de oferecer serviços de telefonia fixa,
celular, banda larga e tevê por assinatura de forma integrada. “O nosso objetivo
é atuar no mundo convergente”, afirmou à DINHEIRO o presidente da Telefônica no
Brasil, Antônio Carlos Valente, logo após o fim das negociações de mais de dois
meses com a Portugal Telecom. “Vamos ampliar a cobertura e a gama de serviços.”
Sem uma presença nacional, a compra da Vivo é um passaporte para que a
Telefônica rompa as fronteiras do Estado de São Paulo, onde tem uma concessão de
telefonia fixa. A companhia espanhola herda da Vivo uma estrutura de 11 mil
pontos de venda e 500 mil de recarga de celular espalhados pelo Brasil.
“Temos uma equipe comercial agressiva”, declarou à DINHEIRO o presidente da
Vivo, Roberto Lima, após uma longa reunião de diretoria um dia depois da venda
da companhia que dirige no Brasil. Na sexta-feira 30, ele se encontrou com Luis
Miguel Gil Perez, da Telefônica Internacional, e com José María Álvarez Pallete
López, da Telefônica Latinoamérica.
Na agenda, os primeiros passos da integração. “Esse momento não é ponto de
chegada. É o ponto de partida”, afirmou Lima. Indicado pelos portugueses da
Portugal Telecom para assumir a Vivo em 2005, Lima sabe que terá muito trabalho
daqui para a frente sob o comando exclusivamente dos espanhóis.
A entrada de seu ex-patrão no bloco de controle da Oi indica que a supertele
brasileira terá mais capital para investir, aumentando a competição. A companhia
arquitetada em 2008 com o apoio do governo federal é cercada de polêmica.
Criada com um discurso nacionalista, ela tem agora um sócio estrangeiro como
principal acionista individual da operação. Mas isso só foi possível graças a
acordo que mantém a gestão nas mãos dos sócios brasileiros, a Fundação
Atlântico, dos funcionários da Oi, a AG Telecom, de Sérgio Andrade, o grupo
LaFonte, de Carlos Jeiressati. “A Oi continuará sendo brasileira da Silva”,
afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ser questionado sobre o tema.
Apesar de o governo negar, o negócio entre a Oi e a PT teve o aval de Lula. A
solução atual para a entrada dos portugueses na telefonia brasileira foi dada
pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho. A proposta foi apresentada ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes da viagem que ele fez à Espanha e a
Portugal, na terceira semana de maio.
O tema foi discutido em Lisboa, no dia 19 de maio. O primeiro-ministro de
Portugal, José Sócrates, recorreu ao presidente Lula para resistir ao assédio da
Telefônica para comprar a Vivo.
Lula pediu que o governo português procurasse Luciano Coutinho. Mas foi só no
dia 13 de julho que as negociações avançaram. Zeinal Bava, presidente da
Portugal Telecom, ligou para Otávio Andrade, presidente da Andrade Gutierrez. “A
partir daí, elas entraram em um ritmo alucinante”, diz
uma fonte que participou das conversas entre portugueses e os acionistas da Oi.
“Trabalhava-se dia e noite, inclusive nos finais de semana.” A principal
resistência ao negócio era de Carlos Jeirissati, do grupo LaFonte.
Em apenas 15 dias, chegaram a um acordo. “Não queríamos vender, mas temos de ser
realistas: não havia mais condições de manter a parceria com a Telefônica”,
disse um alto executivo da Portugal Telecom.
Desde a privatização da Telebrás, há 12 anos, o setor brasileiro de
telecomunicações mudou radicalmente. A telefonia celular foi o segmento que mais
evoluiu. Em 1998, o Brasil tinha 7,4 milhões de assinantes móveis. Atualmente,
conta com 185,1 milhões de usuários, um crescimento de mais de 2.500%.
A telefonia fixa dobrou o número de acessos, passando de 20 milhões para 41,4
milhões. Os clientes de tevê por assinatura somavam 2,6 milhões. Agora, são 8,4
milhões. E nem havia banda larga naquele período. O número de conexões da
internet rápida fixa é de 11,8 milhões. Na móvel, 11,9 milhões. São números de
encher os olhos de todos os que defenderam o processo de privatização.
Mas há um esquecido nesta história: o consumidor. Ao mesmo tempo que a oferta de
serviços explodiu, o preço pago por eles, comparado internacionalmente, é alto.
O Brasil tem uma das tarifas mais caras de celular pré-pago do mundo. Por aqui,
os consumidores gastam, em média, US$ 45 para realizar 30 chamadas e enviar 30
mensagens de texto, segundo pesquisa da organização Diálogo Regional sobre a
Sociedade da Informação.
Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou
que o Brasil paga dez vezes mais pelo acesso à conexão banda larga do que países
desenvolvidos. A qualidade deixa também a desejar. Os serviços de telefonia
ocupam o primeiro lugar em número de reclamações no ranking do Procon-SP, com
45,8% das queixas registradas em 2009.
“Os altos impostos, as tarifas de interconexão de redes e a ineficiência das
operadoras são as causas destes problemas”, afirma Yon Moreira da Silva Jr.,
consultor de telecomunicações, que já foi vice-presidente de estratégia da
Brasil Telecom, empresa adquirida pela Oi m 2008 (assista entrevista em vídeo no
site da Dinheiro).
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que deveria regular isso, está
cada vez mais enfraquecida e esvaziada. A instituição, que tem 750 funcionários
em Brasília, está perdendo 60 deles para a Telebrás, que foi recriada para tocar
o Plano Nacional de Banda Larga. Em razão das eleições, a agência não poderá
substituí-los antes de janeiro de 2011.
A concentração do mercado de telecomunicações brasileiro em três grandes grupos
é uma notícia pouca alvissareira para os consumidores. Mas os otimistas hão de
lembrar que três competidores são melhores do que dois ou do que um monopólio,
como há 12 anos.
“Os serviços de telecomunicações dependem de escala. E, a partir do momento que
há mais volume, os preços tendem a cair naturalmente. Os consumidores podem
antever boas propostas”, afirma Valente, da Telefônica.
Até agora, espanhóis, mexicanos e luso-brasileiros se enfrentaram para valer na
área de celulares. Em telefones fixos, banda larga e tevê por assinatura, a
competição sempre foi restrita. Com operações nacionais e convergentes, a briga
pelo mercado brasileiro chega a outro patamar.
Entrevista: Antônio Carlos Valente, presidente da Telefônica
“Vamos ampliar a cobertura e gama de serviços”
A Vivo é da Telefônica. Quais são os planos agora?
Nosso objetivo é atuar no mundo convergente. Vamos ampliar a cobertura e a gama
de serviços. Gosto de usar o exemplo da tevê por assinatura via satélite.
Podíamos ter levado para o Brasil inteiro, mas ela só está em São Paulo. No
momento em que começamos a ter uma operação nacional, com logística e equipes
comerciais, é natural a oferta. As sinergias são de 3,9 bilhões de euros.
Podemos esperar o avanço da Telefônica para o Brasil, atuando no varejo com
banda larga, telefonia fixa e tevê a cabo?
É o nosso objetivo. Não só da Telefônica, mas de todas as empresas do setor.
Afinal, essa é uma exigência do mercado.
A Telefônica vai adotar o nome MoviStar no Brasil?
O Brasil será o último a analisar a mudança de nome. Temos de 18 a 24 meses para
estudar as alternativas e tomar essa decisão.
Com a integração com a Vivo, podemos esperar preços menores para os
consumidores?
Os serviços de telecomunicações dependem de escala. E, a partir do momento que
há mais volume, os preços tendem a cair naturalmente. Os consumidores podem
antever boas propostas.
Entrevista: Roberto Lima, presidente da Vivo
“Consolidação deve levar à queda de preços”
Sem uma integração da Vivo com uma operadora fixa e de banda larga, ela não
ficaria isolada?
Até agora, não tivemos problemas. O nosso desempenho tem sido muito bom. Mas
precisávamos atuar de forma integrada. Senão ficaria difícil concorrer no
mercado.
Por que a tarifa de celular é tão cara no Brasil?
A consolidação do mercado de telefonia deve levar à queda de preços. Mas as
comparações de tarifas brasileiras com padrões internacionais não são benfeitas.
As pesquisas levam em conta o preço nominal das tarifas, sem levar em
consideração as promoções. E há uma carga de imposto de 45%, o que você não
encontra em nenhum lugar do mundo.
Qual a decisão mais difícil que o sr. tomou na Vivo?
Foram várias. Uma delas foi sair da tecnologia CDMA e migrar para a rede GSM.
Fizemos isso em tempo recorde. E deu certo. Marcou a nossa virada.
O sr. teve receio de que a briga dos acionistas atrapalhasse a operação da Vivo?
Nos esforçamos para blindar a companhia. Com a extensão das discussões e com a
briga jurídica sendo levada a público, tive sim receio de que ela contaminasse
as reuniões do conselho e atrapalhasse a velocidade de aprovação dos projetos.
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Fonte: Correio
Braziliense
[28/07/10]
Com mais velocidade e TV na internet, a GVT planeja operar em todos os estados
brasileiros - por Fernando Braga
"Toda a investigação da CVM diz respeito ao fato de se precisávamos ou não
divulgar o tipo de ações que havíamos comprado. Só isso", explica Genish
Colhendo os frutos do crescimento da internet no Brasil, a GVT vem seguindo a
tendência das empresas de telecomunicações de compensarem as perdas de receitas
oriundas de serviços tradicionais de ligações telefônicas por ganhos cada vez
maiores nos planos de transmissão de dados. Enquanto em 2006 os negócios
baseados em voz representavam 85,6% da receita total da companhia, no último ano
essa fatia foi de 68,2%. Em contrapartida, a participação dos serviços de dados
(residencial, empresarial e VoIP) subiu significativamente, de 14,4% para 31,8%.
Para este ano, os ganhos conquistados a partir de conexões de internet tendem a
aumentar. No fim do primeiro trimestre de 2010, a empresa atingiu 3,1 milhões de
linhas em uso. Baseado nesses números, a companhia aposta cada vez mais na
oferta de produtos que utilizem a banda larga de alta velocidade como
plataforma. “Vamos oferecer conteúdos diferenciados aos nossos clientes, como
shows ao vivo e IPTV”, contou ao Correio o presidente da GVT, Amos Genish.
Ouça trecho da entrevista com o Amos Genish, presidente da GVT
Mas para continuar a crescer no país, a GVT aguarda uma resposta positiva de um
processo movido na Comissão de Valores Mobiliários contra a Vivendi, grupo
francês que comprou a empresa no fim do ano passado com a intenção de investir
pesadamente no mercado brasileiro. A CVM questiona se, durante o período de
aquisição, a controladora lançou informações erradas ao mercado, fazendo crer
que já possuía a maioria das ações da operadora, tirando assim qualquer chance
da concorrente Telefônica ganhar o controle da marca. “Tudo se resume ao que se
deveria divulgar na época da compra”, minimizou Genish.
Entrevista
A GVT aposta na oferta de conexões cada vez mais velozes para o cliente. O
mercado já acompanha tanta banda ofertada?
Cada vez mais serviços vão chegar ao mercado, o que vai exigir velocidades
maiores. Por exemplo, temos um projeto com a Universal Music para o fim do ano
que vai permitir aos nossos usuários de internet acessar conteúdos, seja de
áudio ou de vídeo, da produtora, incluindo shows ao vivo de artistas mundiais.
Se a Lady Gaga fizer um show em Cingapura, por exemplo, o nosso cliente vai
poder acompanhar em tempo real a apresentação pelo computador. Esse é um tipo de
conteúdo bastante inovador e que apostamos para os próximos anos. Além disso, em
2011 temos a intenção de entrar no mercado de IPTV (sistema de TV que utiliza a
internet para transmitir conteúdos). É um serviço que já está disponível no
mundo, mas que ainda não tem força por aqui. Isso porque não há empresas que têm
redes robustas o suficiente para esse tipo de aplicação.
Com a entrada da Vivendi, a GVT planeja ser uma empresa nacional?
Sim. Se repararmos, não temos uma companhia de telefonia fixa residencial com
atuação em todo o país. A GVT vai ser a primeira empresa nacional de telefonia
fixa a estar em todo o Brasil. Neste momento, com a entrada da Vivendi,
consideramos que a companhia vive uma segunda transição. A primeira aconteceu em
2007, com a abertura do capital, onde conseguimos capturar R$ 1,1 bilhão para
investir em redes e expandir nossa participação em outras capitais. Hoje, com a
Vivendi, vivemos uma segunda fase, com a entrada de mais recursos que
possibilitará uma maior atuação no país. Se olharmos o nível de investimentos,
podemos ver como a empresa está apostando no futuro. Em 2008 e 2009, a média de
investimentos foi de R$ 700 milhões por ano. Em 2010 vamos a chegar a R$1,5
bilhão. Com a Vivendi, vamos antecipar para o próximo ano todas as metas de
expansão que programávamos para atingir somente em 2013.
A GVT vai entrar no mercado de TV por assinatura?
Teremos um serviço híbrido de TV, com satélites para TV aberta e IPTV para os
serviços interativos. Por que vamos usar um modelo híbrido? Porque a lei ainda
não permite a nossa entrada e não podemos ficar esperando a aprovação do PL nº
29 (Projeto de Lei de 2007 que abre espaço para as operadoras de telefonia
oferecerem serviços de TV paga no Brasil). Teremos canais de assinatura
tradicionais, como há na Net e na Sky, mas também vamos contar com a oferta de
conteúdo interativo. Teremos ainda vídeos sob demanda, que é algo que não existe
de forma séria aqui no Brasil. A Sky deve ter uns 20 ou 30 filmes disponíveis, o
que não é muito. Com o IPTV, nós podemos oferecer até 3 mil títulos no catálogo
para que o cliente escolha o que quer assistir em qualquer momento. Por isso
apostamos muito na banda larga rápida, mas com conteúdo. O mercado de TV paga
hoje me lembra o de banda larga de cinco anos atrás. Se olharmos bem, temos um
duopólio com a Sky e a Net brigando por todo o mercado. Por isso temos preços
altos. O mercado precisa de concorrência para ter serviços diferenciados e
inovadores, com um custo/benefício satisfatório. A penetração da TV paga no
Brasil, de apenas 12%, é a pior da América Latina. Acredito que, com a entrada
das teles nesse mercado, muita coisa vai mudar e ele vai explodir, dobrando de
tamanho em quatro anos.
Há algum tempo a GVT briga contra os altos valores cobrados pela VU-M (tarifa
interconexão), que é parte importante das receitas das operadoras móveis. O
senhor acredita que a redução do valor cobrado por essa tarifa poderia ter um
efeito positivo no mercado?
Há muitas pesquisas e relatórios demostrando que o preço da tarifa do celular no
Brasil é um dos mais caros do mundo. E um dos principais culpados disso é a
VU-M. Isso porque se o usuário da telefonia fixa quiser ligar para outra
operadora, ele tem que pagar quase R$ 0,40 por minuto (enquanto o minuto dentro
da rede fixa é de R$ 0,03). Por isso o uso de minutos no país é baixo. A Índia,
por exemplo, usa muito mais o celular para fazer ligações do que o Brasil. Por
quê? Porque eles podem falar sem medo da conta. A Secretaria de Direito
Econômico (SDE) do Ministério da Justiça já disse que esse preço é abusivo,
então algo deve ser feito. Acredito que há a possibilidade de se reduzir em pelo
menos 50% esse valor sem impactar as empresas. Isso porque, se elas reduzirem o
valor, as receitas vão crescer, compensadas pelo aumento de uso. A Anatel
precisa olhar para esse problema. Esse modelo atual prejudica os usuários, as
próprias operadoras móveis e as fixas.
O senhor já declarou que não pretende disputar o leilão de licenças da banda H
(blocos de exploração do Serviço Móvel Pessoal de 3G)? Por que não?
A GVT não tem interesse porque não há novidade alguma na tecnologia 3G no
Brasil. A concorrência é muito alta e não vamos poder oferecer algo diferenciado
com esse serviço. Mas olhamos com interesse para o leilão de 4G. Essa nova
tecnologia (chamada de LTE) vai oferecer uma velocidade muito mais alta do que é
ofertada hoje. Para se ter uma ideia, o 4G pode entregar uma conexão até 10
vezes mais veloz que o 3G. Então por que iríamos querer gastar bilhões de reais
com essa tecnologia se podemos começar do zero com uma nova plataforma? Assim
vamos ser a primeira empresa 100% com clientes 4G no mercado.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pode aplicar uma multa de R$ 3 bilhões à
Vivendi por suposta irregularidade no processo de aquisição da GVT. Caso a pena
se concretize, isso pode afetar os planos de investimentos no Brasil?
Primeiro quero esclarecer que, ao contrário do que dizem, o processo da CVM
ainda não está concluído. A Vivendi recebeu muitos questionamentos por parte da
Comissão, o que é natural em qualquer processo de aquisição. O importante é
entender que a Vivendi é uma companhia séria e que faz tudo dentro da lei e das
regras dos países em que opera. Surgiram dúvidas normais dentro do processo, mas
que nem de longe é esse monstro que estão falando. Acredito que há muitos
interesses por trás da divulgação desse tipo de notícias. É bom deixar bem claro
que a CVM ainda não se posicionou em relação a esse assunto. Mas voltando à sua
pergunta, a Vivendi confia muito na economia brasileira e na GVT. Por isso vamos
investir duas vezes mais do que foi investido no ano passado.
Mas houve a divulgação de informações erradas na época da aquisição?
Na época, a Vivendi divulgou que tinha o controle de trinta e poucos por cento
das ações da GVT e mais 19% de opções. Agora, a CVM nos questionou quais tipos
de opções eram essas. Eram opções de compra e venda. Toda a investigação da CVM
diz respeito ao fato de se precisávamos ou não divulgar o tipo de ações que
havíamos comprado. Só isso. Não há irregularidade nenhuma. Segundo os advogados
da empresa, na ocasião, só era preciso dizer que se possuía essas opções. Agora
estão cobrando a identificação. Mas esse é um assunto da Vivendi com a CVM, a
GVT não tem nada a ver com isso.
Os serviços de voz ainda têm uma representação significativa na receita da GVT,
mas, como acontece em todas as companhias, tem perdido importância cada vez mais
para os serviços de dados. Com isso, a banda larga se torna a principal aposta
da empresa para os próximos anos?
Essa é uma tendência, seja no mercado residencial ou corporativo. As pessoas
querem cada vez mais velocidade. Apostamos nisso quando começamos nossas
operações, em 2000, e hoje temos capacidade de vender banda larga de 10Mbps,
20Mbps, 100Mbps. Se olharmos o perfil dos nossos clientes, a maioria compra
10Mbps ou mais. Temos uma rede que pode oferecer essa velocidade com alta
qualidade.
O que o senhor acha da reativação do sistema Telebrás?
Essa foi uma decisão do governo para atingir algumas metas. O objetivo é bom —
de levar banda larga para as cidades pequenas onde não se tem cobertura e
diminuir, assim, o vazio digital que existe em algumas partes do país. Mas o
governo precisa pensar bem qual será o papel da estatal nesse processo. Acho que
a parceria com o mercado privado seria a melhor forma para implementar esse
projeto. Assim, gastaríamos menos tempo e custos para atingir a meta de 40
milhões de usuários até 2014.
O setor privado tem muito ativo e experiência que podem ajudar o governo. A GVT,
especificamente, precisa da ajuda da Telebrás. Apesar de termos o terceiro maior
backbone do Brasil, depois da Oi e da Embratel, ainda não chegamos em muitas
cidades. Isso porque investir em backbone é muito caro. Agora, se a Telebrás
disponibilizar o backbone que tem com um preço subsidiado pelo governo, é claro
que todos vão querer utilizá-lo. O melhor jeito do governo reduzir preço e
melhorar o serviço de internet é criando concorrência.
Como o senhor vê o mercado de telecomunicações brasileiro que se desenha para o
futuro, repleto de fusões e aquisições?
É um momento interessante. Temos grupos fortes no Brasil que querem consolidar
suas posições. Um exemplo é a Telefônica. Entendo a intenção da companhia de
querer consolidar serviços fixos e móveis. A Embratel também se mexeu. Mas no
fim, acho que o setor não vai mudar, porque não haverá a entrada de novos
jogadores. A boa notícia é que, com a chegada de Vivendi, teremos um novo
jogador para disputar com a Telmex, a Telefônica e a Oi. À longo prazo, teremos,
então, um cenário bastante interessante com quatro empresas competindo em todos
os mercados – telefonia fixa, TV paga e, no momento certo, no celular. Mesmo
assim, pelo tamanho do mercado brasileiro, acho que quatro grandes grupos ainda
não é o suficiente. Talvez cinco seria o ambiente ideal.
No primeiro trimestre, a empresa registrou uma receita líquida de R$ 500 milhões
— 37% superior ao mesmo período do ano passado. A compra pelo grupo francês
Vivendi tornará esse ritmo sustentável?
Acho que sim. O potencial do mercado para a GVT é incrível. A nossa participação
no mercado nacional de voz é de apenas 3%. Já na banda larga a fatia é de 6%. Ou
seja temos um mercado grande para entrar. Nossa cobertura atinge apenas 5
milhões de residências, sendo que o Brasil tem 40 milhões de lares. Entendemos
que ainda há muito para construir. O lançamento de produtos inovadores servirá
como motor para ajudar a manter o nosso crescimento atual.
A ideia é aproveitar a plataforma de conteúdo da Vivendi?
A Vivendi é a maior empresa do mundo de videogames. Nossa ideia é aproveitar a
plataforma deles para os que os nossos usuários joguem online. É algo difícil,
mas já temos um projeto em curso. Queremos usar cada vez mais conteúdos do grupo
Vivendi aqui para o Brasil, exclusivamente para os nossos usuários.
A empresa ganhou ou perdeu com a portabilidade numérica?
Essa foi uma mudança muito importante para o mercado, dando mais direito para o
consumidor. Acho que, inclusive, ela chegou tarde. Para nós, ganhamos e muito
com ela. Para cada clientes que perdemos, ganhamos sete ou oito. A maioria dos
nossos novos clientes vem da concorrência. Nas novas cidades de atuação, acho
que 80% vêm de outras empresas.
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