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15/08/10
• Telebrás, Eletronet e PNBL (282) - Miriam
Leitão: "O governo teve duas ideias sobre banda larga: uma ruim, outra pior"
Helio Rosa <rosahelio@gmail.com>
para wirelessbr@yahoogrupos.com.br
data 14 de agosto de 2010 20:20
assunto Telebrás, Eletronet e PNBL (282) - Miriam Leitão: "O governo teve duas
ideias sobre banda larga: uma ruim, outra pior"
Olá, ComUnidade
WirelessBRASIL!
transcrevo mais abaixo esta matéria e já
recorto o trecho inicial como motivação:
Fonte: Diário de Pernambuco
[14/08/10]
Salto adiado - por Miriam Leitão (miriamleitao@oglobo.com.br)
O governo teve duas ideias sobre banda larga: uma ruim, outra pior. Primeiro, a
de ressuscitar uma estatal; a outra, que tem rondado certas cabeças coroadas, é
a de entregar tudo para uma empresa privada, a Oi. Ampliar os serviços da
internet rápida é importante, os caminhos é que são discutíveis. Há países com
maior ou menor intervenção estatal, mas competição é fundamental. (...)
Ao debate!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio
Rosa
------------------
Fonte: Diário de Pernambuco
[14/08/10]
Salto adiado - por Miriam Leitão (miriamleitao@oglobo.com.br)
O governo teve duas ideias sobre banda larga: uma ruim, outra pior. Primeiro, a
de ressuscitar uma estatal; a outra, que tem rondado certas cabeças coroadas, é
a de entregar tudo para uma empresa privada, a Oi. Ampliar os serviços da
internet rápida é importante, os caminhos é que são discutíveis. Há países com
maior ou menor intervenção estatal, mas competição é fundamental.
Funcionários da Anatel estão indo para a Telebrás. Como eles têm hoje acesso a
informações confidenciais prestadas pelas operadoras ao órgão regulador, as
empresas não querem mais enviar seus dados à Agência.
Técnicos do setor dizem que ainda não se sabe o que é o Plano Nacional de Banda
Larga (PNBL). Provavelmente, nem o governo ainda sabe. A reportagem do repórter
Valdo Cruz, da Folha de S.Paulo, esta semana, mostrando que algumas alas brigam
para entregar a operação do PNBL à Oi é um exemplo disso. Só há uma coisa pior
do que o monopólio estatal: o monopólio privado.
Nada aconteceu nos quase oito anos do governo Lula. Dinheiro sempre houve, no
Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, o Fust, formado com
um percentual do faturamento das empresas. Essa foi uma das boas heranças
recebidas do governo anterior. Inicialmente se pensou num programa de
informatização e conexão das escolas do país, mas isso nunca foi executado.
Agora, o governo oscila no dilema entre recriar uma estatal ou privilegiar uma
empresa privada para executar seu plano, mal formulado, mas com o objetivo
declarado de ampliar dos atuais 14 milhões de residências com internet rápida
para 32 milhões de residências em 2014. Tenta fazer um plano piloto em algumas
cidades em tempo de usar no palanque.
- A meu ver, não temos um Plano de Banda Larga como em outros países, como
Itália, Estados Unidos e Austrália. O que foi apresentado é um conjunto de
intenções. O governo primeiro recriou uma estatal para depois pensar num plano,
afirmou o presidente da Teleco, Eduardo Tude.
Advogados como Cláudia Domingues, especialista em telecomunicações, continuam
explicando que a recriação da estatal fere a lei.
- Quando a Telebrás foi criada, em 1972, ficou definido que seu objetivo social
seria o de promover a implantação dos serviços de telecomunicações por meio das
subsidiárias. O governo mudou isso por decreto. Um decreto não pode alterar o
que está definido por lei, diz.
E é ela que conta também o outro problema preocupante:
- A Anatel tem acesso a informações confidenciais. Algumas operadoras estão
reclamando que não vão mandar seus dados à agência porque seus funcionários
estão indo para a Telebrás.
O analista José Roberto Mavignier, da consultoria Frost & Sullivan, acha que a
recriação da Telebrás tem três problemas: a empresa possui limites de
investimentos, os funcionários não estão qualificados pela nova função, e a
perda de quadros pela Anatel enfraquece a agência.
A Fundação Getúlio Vargas fez um estudo sobre os programas de banda larga no
mundo e concluiu que fundamental é que haja competição.
- A literatura mostra que a concorrência entre as empresas é mais importante que
a estrutura da propriedade, diz Luiz Schymura, ex-presidente da Anatel e autor
da Carta do IBRE da FGV sobre o assunto.
"Países como Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Espanha, Dinamarca, Nova
Zelândia adotaram a intervenção mínima, com incentivos gerados por forças de
mercado para suprir os gaps" (de conexão), diz a Carta do IBRE.
Mas, Coreia do Sul, Austrália, Cingapura e Noruega estão executando planos de
mais intervenção estatal e planejamento sócio-econômico do Estado. Em todos
eles, há um plano objetivo com metas, financiamento, e escolhas tecnológicas
claras. A Austrália, por exemplo, oferece internet banda larga de segunda
geração, com velocidade de 100 Mbps. Aqui no Brasil, toda essa discussão é para
oferecer um serviço de apenas 512 Kbps.
Ainda no exemplo australiano, lembra Schymura, a Telstra é dominante na oferta
de banda larga tanto fixa quanto através de cabo. É a proprietária da única rede
nacional de comunicações. Não há competição entre plataformas. "A Austrália,
então, criou uma empresa estatal com o objetivo de construir e operar a
infraestrutura de uma rede de acesso aberto que atinja 90% das residências e dos
negócios de fibra ótica com tecnologia wireless para o restante dos usuários",
explica a FGV. Essa empresa será privatizada no futuro.
Em alguns países, os planos incluem esforços de alfabetização digital da
população, porque não basta o acesso. Todos têm incentivos financeiros para a
população de baixa renda. Em nenhum país há uma carga tributária sobre os
serviços de telecomunicações como no Brasil: os impostos somam mais de 40% do
custo do serviço.
Estudos da GSM consultoria trazem comparações internacionais que mostram que o
país está se atrasando e não resolveu um problema básico: apenas 32% dos
domicílios brasileiros têm computador e isso é um limitador ao uso dos serviços.
Há várias questões técnicas sobre plataformas de oferta dos serviços, a melhor
regulação para universalizar o acesso. Em vez de tratar isso à sério, o governo
se perde entre a recriação de uma estatal ou a escolha de uma empresa privada
para ser beneficiada. E tenta achar um jeito de usar esse plano apressado no
palanque.
A privatização, no governo Fernando Henrique, permitiu que o país saísse de 1
milhão de celulares, no começo dos anos 90, para 180 milhões e permitiu que 82%
dos domicílios tivessem telefone celular ou fixo. Esse foi o primeiro grande
salto. O governo Lula está atrasando o segundo salto.
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