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Dezembro 2010 Índice Geral do BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão Celld-group e WirelessBR. Participe!
• Dois "balanços" das Comunicações no governo Lula
Olá, WirelessBR e Celld-group!
01.
Para formação de opinião, transcrevo mais abaixo dois "balanços" que interessam
a nós, "cidadãos de TI e Telecom". :-)
O primeiro texto, pequeno, é o editorial do Estadão de hoje.
A segunda matéria é um longo artigo de Venício A. de Lima.
Fonte: O Estado de S.Paulo
[27/12/10]
O
balanço negativo das comunicações - Editorial Estadão
Fonte: Observatório da
Imprensa
[11/12/10]
Política de Comunicações - O balanço dos governos Lula - por Venício A. de
Lima
02.
Antes do texto do Venício transcrevo um "post" de 2009, como uma eventual
ambientação:
Fonte: Blog O Povo Online, de Plínio Bortolotti
[04/11/09]
Lula deve estar conversando com o professor Venício A. de Lima - por Plínio
Bortolotti
03.
Só para constar, sei que muitas pessoas de bom caráter e ótima índole utilizam
as expressões "controle social da mídia", "democratização dos meios de
comunicação" e tais, com as melhores intenções. O fato é que cada um define
estes conceitos de acordo com uma visão muito pessoal.
De um modo geral, no mundo real, são simplesmente eufemismos (copio do
editorial) para criação de ferramentas para permitir e facilitar a censura da
mídia por parte dos governos.
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Fonte: O Estado de
S.Paulo
[27/12/10]
O
balanço negativo das comunicações - Editorial Estadão
Ao fim dos oito anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
Ministério das Comunicações está esvaziado. Neste ano, em especial, a Pasta foi
alijada de decisões específicas de sua área, como a reativação da Telebrás, a
elaboração do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e o anteprojeto da Lei de
Comunicação Eletrônica.
O esvaziamento do Ministério das Comunicações demonstra que "essa Pasta precisa
ser refundada" - como disse recentemente o ministro-chefe da Secretaria de
Comunicação Social do governo federal, Franklin Martins, acrescentando que
"nessa área, o governo Lula ficou devendo".
O único avanço digno de registro foi a implantação da TV digital no País. Mesmo
assim, sob o comando do ex-ministro Hélio Costa, a escolha da tecnologia digital
foi conduzida sem transparência, com a preferência explícita do ministro pelo
padrão japonês ISDB, tecnologia que não precisaria de nenhum favor para ser
considerada a melhor, em especial depois de ter recebido excelentes
contribuições de uma centena de cientistas brasileiros.
O Ministério das Comunicações, sem projeto setorial nem quadros profissionais
competentes, foi loteado pelo presidente Lula, que o entregou primeiro ao PDT,
representado por Miro Teixeira. Em seguida, ao PMDB, com Eunício Teixeira e
Hélio Costa. Em 31 de março de 2010, o presidente decidiu esvaziar de vez o
Ministério, entregando-o ao chefe de gabinete de Hélio Costa, José Artur Filardi
Leite.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou diversas vezes seu
inconformismo com a privatização das telecomunicações, criticando
insistentemente a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e as operadoras
privatizadas, em especial no tocante à banda larga. Tentou esvaziar a Anatel,
preenchendo seus cargos com líderes sindicais que combatiam a privatização e
eram evidentemente despreparados para assumir a direção de um órgão regulador.
Diante das reações, Lula pensou em reverter esse processo em 2007, escolhendo
para presidi-la o ex-ministro de Ciência e Tecnologia embaixador Ronaldo
Sardenberg.
Um dos maiores problemas das telecomunicações é a política tributária, pois
sobre as tarifas telefônicas e de banda larga incidem 43% de impostos - alíquota
superior à de artigos de luxo, como perfumes, bebidas e armas esportivas
importados.
Não bastasse essa distorção, o governo federal apropria-se da maior parcela dos
fundos setoriais de telecomunicações, como o Fundo de Universalização das
Telecomunicações (Fust), o Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) e
o Fundo de Tecnologia de Telecomunicações (Funttel). O confisco desses fundos,
em 10 anos, foi de R$ 32 bilhões que saíram do bolso dos contribuintes e não
foram aplicados, como deveriam, num projeto de inclusão digital e banda larga.
O governo também se omitiu do processo de reestruturação da legislação setorial.
Só no segundo semestre de 2010 uma comissão interministerial resolveu elaborar
um anteprojeto do que poderá ser um dia a Lei Geral de Comunicações.
Esse anteprojeto precisa ser amplamente debatido e revisto por especialistas
independentes, para que se transforme na semente de um novo marco regulatório,
mais abrangente do que a legislação atual, porque deverá englobar todas as
formas de Comunicações (telefonia, radiodifusão, correios, TV por assinatura,
internet e outras formas de comunicação eletrônica) sob uma única agência
reguladora, a Agência Nacional de Comunicações (Anacom), com o objetivo, entre
outros, de modernizar e harmonizar as relações entre todos os segmentos.
Sempre mal assessorado nesse setor, Lula ignorou ao longo dos oito anos de sua
gestão o papel fundamental do Executivo como formulador de políticas públicas
para todos os segmentos das comunicações.
Não é de estranhar, portanto, que em seus dois governos tenham se registrado
tantas ameaças à liberdade de imprensa e de expressão representadas pelas
tentativas de criação de conselhos, com a finalidade de exercer o "controle
social da mídia", o "controle do conteúdo" e outros eufemismos para censura.
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Fonte: Blog O Povo Online
de Plínio Bortolotti
Lula deve estar conversando com o professor Venício A. de Lima - por Plínio
Bortolotti
2. Principais avanços, recuos e derrotas
2.1. Avanços
Além do início do mencionado processo de regionalização da alocação dos recursos
de publicidade oficial, registrem-se os outros seguintes avanços:
** Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
O ano de 2007 ficará marcado pelo nascimento da Empresa Brasil de Comunicação (EBC-TV
Brasil), resultado da fusão da Radiobrás com a ACERP/TVE, a TVE do Maranhão e o
canal digital de São Paulo. Sua conformação final surgiu das dezenas de emendas
que a Medida Provisória 398/07 recebeu no Congresso Nacional.
Apesar das críticas que podem ser feitas ao processo de sua implantação – e são
muitas –, a EBC, finalmente criada pela Lei 11.652, de 7 de abril de 2008,
representa um importante avanço: está "no ar" uma TV que institucionalmente se
define como pública e a disputa para definir o que é uma televisão pública se
desloca agora para a sua prática.
** 1ª. Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM)
A realização da CONFECOM – a última conferencia nacional a ser convocada de
todos os setores contemplados pelo "Título VIII - Da Ordem Social" na
Constituição de 1988 – sempre encontrou enormes resistências dos grandes grupos
de mídia. Seis entidades empresariais se retiraram da Comissão Organizadora:
Associação Brasileira de Emissoras de Radio e Televisão (ABERT); Associação
Brasileira de Internet (ABRANET); Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA);
Associação dos Jornais e Revistas do Interior do Brasil (ADJORI Brasil);
Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER) e Associação Nacional de
Jornais (ANJ). Permaneceram a Associação Brasileira de Radiodifusores (ABRA),
uma dissidência da ABERT fundada pelas redes Bandeirantes e Rede TV!, em maio de
2005; e a Associação Brasileira de Telecomunicações (TELEBRASIL), criada em
1974, com a missão de "congregar os setores oficial e privado das
telecomunicações brasileiras visando à defesa de seus interesses e o seu
desenvolvimento".
Afinal realizada em Brasília, de 14 a 17 de dezembro de 2009, a 1ª CONFECOM teve
a participação de mais de 1.600 delegados, democraticamente escolhidos em
conferências estaduais nas 27 unidades da Federação, representando movimentos
sociais, parte dos empresários de comunicação e telecomunicações e o governo.
Dela saíram mais de 600 propostas que deverão servir de referência para apoio
e/ou apresentação de projetos de regulação do setor de comunicações no Congresso
Nacional. Acima de tudo, e independente do boicote e da satanização quase
unânime por parte da grande mídia, a 1ª CONFECOM ampliou de forma inédita a
mobilização da sociedade civil e o espaço público de debate sobre as
comunicações no país.
** Plano Nacional de Banda Larga (PNBL)
Em maio de 2010 foi instituído o Programa Nacional de Banda Larga pelo decreto
n. 7.175/2010 com o objetivo de "fomentar e difundir o uso e o fornecimento de
bens e serviços de tecnologias de informação e comunicação, de modo a:
massificar o acesso a serviços de conexão à Internet em banda larga; acelerar o
desenvolvimento econômico e social; promover a inclusão digital; reduzir as
desigualdades social e regional; promover a geração de emprego e renda; ampliar
os serviços de Governo Eletrônico e facilitar aos cidadãos o uso dos serviços do
Estado; promover a capacitação da população para o uso das tecnologias de
informação; e aumentar a autonomia tecnológica e a competitividade brasileiras."
A Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás) foi reativada e será a gestora do
plano, estando prevista a atuação de empresas privadas de forma complementar
para fazer os serviços chegarem ao usuário final.
O PNBL ainda é uma promessa e o presidente da Telebrás tem acusado as empresas
privadas de telefonia de o boicotarem. Na verdade, cinco grupos são responsáveis
por 95% da oferta atual de banda larga no Brasil – Oi, Telefônica, Embratel/Net,
GVT e CTBC – enquanto 2.125 pequenos provedores respondem pelos restantes 5% do
mercado. Há pouca ou nenhuma competição e os grupos dominantes são contra a
inclusão de metas de expansão da infraestrutura de banda larga nos contratos de
concessão das empresas de telefonia que estão em fase de revisão na ANATEL, a
agência reguladora do setor.
2.2 Recuos e derrotas
Além dos registros já feitos em relação à não elaboração até mesmo de um projeto
de Lei Geral para regulação da comunicação eletrônica; do recuo em relação à
transformação da ANCINE em ANCINAV; da inoperância em relação à legislação das
rádios comunitárias; do recuo em relação ao decreto das RTVIs e à escolha do
modelo tecnológico para implantação da TV digital, também merecem menção:
** Cadastro geral dos concessionários de radiodifusão
O primeiro ministro das Comunicações do governo Lula, deputado Miro Teixeira
(PDT-RJ), ao assumir a pasta, em janeiro de 2003, prometeu que tornaria público
o cadastro com os nomes de todos os concessionários das emissoras de rádio e de
televisão no país. De fato, cumpriu a promessa em novembro de 2003: o cadastro,
embora incompleto e falho, passou a estar disponível no site do MiniCom.
Foi a primeira vez que o público tomou conhecimento dessa informação básica. Os
Decretos Legislativos confirmando as outorgas são publicados no Diário Oficial
da União (DOU), mas trazem apenas os nomes das empresas. Não especificam os
nomes de seus sócios.
No início de 2007, o cadastro "desapareceu" do site do MiniCom. Desde então, o
interessado em informações oficiais só pode recorrer àquelas disponíveis no site
da ANATEL. Lá não existe um cadastro geral com a relação de concessionários, mas
sim dois bancos de dados: o Sistema de Acompanhamento de Controle Societário (SIACCO)
e o Sistema de Informação dos Serviços de Comunicação de Massa (SISCOM).
No SIACCO pode-se pesquisar o "perfil das empresas" por razão social ou CNPJ e,
a partir daí, chega-se ao quadro societário e/ou à diretoria das entidades – em
geral, incompletos. Já no SISCOM a busca pode ser feita por localidade e por
serviço. Vale dizer: aquele que quiser compor um cadastro completo deverá
pesquisar município por município.
Do cadastro geral disponibilizado ao público em novembro de 2003 regredimos para
uma informação fragmentada que, na prática, impede a construção de um quadro
geral das concessões e de seus concessionários.
** Conselho Federal de Jornalismo (CFJ)
O governo encaminhou projeto de criação do CFJ ao Congresso Nacional em 4 de
agosto de 2004. Segundo a FENAJ (Federação Nacional de Jornalistas), o principal
objetivo era "promover uma cultura de respeito ao Código de Ética dos
Jornalistas". Diante da intensa e violenta oposição da grande mídia, no entanto,
a própria FENAJ, preparou e distribuiu, em Brasília, um substitutivo ao projeto
original, no dia 13 de novembro, agora de criação de um Conselho Federal de
Jornalistas como "órgão de habilitação, representação e defesa do jornalista e
de normatização ética e disciplina do exercício profissional de jornalista".
Apesar disso, através de votação simbólica, por acordo de lideranças, a Câmara
dos Deputados decidiu desconsiderar o substitutivo e rejeitar o primeiro
projeto, em 15 de dezembro de 2004.
** III Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3)
Houve importante recuo do governo Lula em relação às diretrizes originais para a
comunicação constantes do PNDH3 (Decreto nº 7.037, de 21 de Dezembro de 2009).
Menos de cinco meses depois, novo decreto (Decreto nº. 7.177 de 12 de maio de
2010) alterou o anterior e, no que se refere especificamente ao direito à
comunicação: (a) manteve a ação programática (letra a) da Diretriz 22 que propõe
"a criação de marco legal, nos termos do art. 221 da Constituição, estabelecendo
o respeito aos Direitos Humanos nos serviços de radiodifusão (rádio e televisão)
concedidos, permitidos ou autorizados"; (b) exclui as eventuais penalidades
previstas no caso de desrespeito às regras definidas; e (c) exclui também a
letra d, que propunha a elaboração de "critérios de acompanhamento editorial"
para a criação de um ranking nacional de veículos de comunicação.
** Conselho de Comunicação Social
Na Constituinte de 1987-88, a proposta original de criação de um "órgão
regulador independente e autônomo" foi transformada em "órgão auxiliar" que
deveria apenas ser ouvido quando o Congresso Nacional julgasse necessário
(Artigo 224). Essa alteração deu origem ao Conselho de Comunicação Social (CCS).
Apesar de criado, todavia, o CCS sempre enfrentou forte resistência de boa parte
dos parlamentares.
A lei que regulamentou a criação do CCS (Lei 8339/1991) foi aprovada pelo
Congresso Nacional em 1991, mas ele só logrou ser instalado em 2002, como parte
de um polêmico acordo para aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC)
que, naquele momento, constituía interesse prioritário para os empresários da
grande mídia. A Emenda Constitucional nº 36 (Artigo 222), aprovada em maio de
2002, permitiu a propriedade de empresas jornalísticas e de radiodifusão por
pessoas jurídicas e a participação de capital estrangeiro em até 30% do seu
capital total.
Mesmo sendo apenas um órgão auxiliar, o CCS, quando instalado, demonstrou ser um
espaço relativamente plural de debate de questões importantes do setor –
concentração da propriedade, outorga e renovação de concessões, regionalização
da programação, TV digital, radiodifusão comunitária etc. Vencidos os mandatos
de seus primeiros membros, houve um atraso na confirmação dos membros para o
novo período de dois anos, o que ocorreu apenas em fevereiro de 2005. Ao final
de 2006, no entanto, totalmente esvaziado, o CCS fez sua última reunião. Os
membros para um terceiro mandato não foram indicados e o CCS não mais se reuniu.
3. Contexto e estratégias
A maioria das propostas de políticas públicas que a sociedade civil organizada
considera avanços no processo de democratização das comunicações não foi
implementada no período 2003-2010. Ao contrário, muitas das iniciativas neste
sentido, como vimos, foram sendo, uma a uma, abandonadas ou substituídas por
outras que negavam as intenções originais. Existem, no entanto, exceções
importantes.
Em diferentes ocasiões, ficaram também evidentes as contradições e conflitos de
orientação política entre setores internos ao próprio governo, em especial o
Ministério das Comunicações, o Ministério da Cultura e a SECOM-PR. Registre-se,
por exemplo, a ausência, na prática, do Ministério das Comunicações tanto do
esforço de elaboração de um projeto de LGCEM (liderado pela SECOM), quanto da
instituição e implementação do PNBL (liderado pelo Comitê Gestor do Programa de
Inclusão Digital, vinculado diretamente ao Gabinete Pessoal do Presidente da
República).
Da mesma forma, ficou mais de uma vez evidente a impotência do Estado diante dos
grandes grupos de mídia, assim como ficou claro o enorme poder histórico desses
grupos, ainda capazes de interferência direta na própria governabilidade do
país.
Considere-se ainda que algumas questões relevantes não puderam ser tratadas
aqui. Dois exemplos: (1) houve ou não continuidade na prática do coronelismo
eletrônico, isto é, no uso das autorizações, concessões e renovações de
radiodifusão como moeda de barganha política? (2) de que forma decisões do
Judiciário afetaram direta ou indiretamente a democratização das comunicações
[não exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista;
inconstitucionalidade total da Lei de Imprensa de 1967 e o direito de resposta]?
O período 2003-2010 foi também marcado (1) pelo formidável avanço da internet e
(2) pelo recrudescimento da posição radical dos grupos privados de mídia em
relação a qualquer proposta de regulação das comunicações, oriunda ou não do
governo.
3.1 Avanço da internet
Dados do Ibope revelam que "das cerca de 60 milhões de pessoas que acessaram a
internet em 2008, 67% fazem parte das classes C, D e E. Cerca de 80% dessas
pessoas têm renda familiar mensal de até cinco salários mínimos". Dessa forma,
"de ferramenta quase exclusiva da elite nos anos 1990, a internet encerra a
primeira década do século 21 tendo como usuário um indivíduo cada vez mais
parecido com o brasileiro médio".
Por outro lado, o PNBL – já mencionado – se devidamente implementado em
articulação com políticas específicas de inclusão digital, renova esperanças de
avanço ainda maior no processo de universalização da internet nos próximos anos.
3.2 Intolerância
Alguns exemplos da radicalização crescente por parte dos atores dominantes no
campo das comunicações:
** Partidarização
A presidente da Associação Nacional de Jornais admitiu publicamente a
partidarização da mídia ao afirmar, em março de 2010:
"A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse
direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de
comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo, de fato, a
posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente
fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma
incomoda sobremaneira o governo." (Cf. "Ações contra tentativa de cercear a
imprensa", O Globo, 19/3/2010, p. 10)
Essa partidarização tem sido evidenciada rotineiramente na cobertura política
realizada pela grande mídia, em particular ao tempo das campanhas eleitorais
[cf. Venício A. de Lima (org.); A Mídia nas Eleições de 2006. São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo, 2007].
É oportuno registrar que a partidarização da mídia tem como corolário não só o
enfraquecimento dos partidos, como sua própria despolitização, na medida em que
são afastados da política cotidiana e confinados às formalidades e à burocracia
de seu funcionamento legal e dos procedimentos eleitorais.
** "Democratização da comunicação"
A radicalização chegou a tal ponto que até a expressão "democratização da
comunicação" passou a ser satanizada pela grande mídia. Propostas para a
"democratização da comunicação", muitas vezes simples referências a normas e
princípios consagrados na Constituição de 1988, passam a ser imediatamente
rotuladas de autoritárias ou de ameaças à liberdade da imprensa. Praticamente
não há diálogo ou negociação entre os atores dominantes e a sociedade civil. A
retirada das associações que representam os principais grupos de mídia da
Comissão Organizadora da 1ª CONFECOM talvez seja o caso mais emblemático desse
tipo de intolerância.
Em 19 de outubro de 2010, a aprovação pela Assembléia Legislativa do Ceará do
"Projeto de Indicação nº 72.10", que propõe a criação do Conselho Estadual de
Comunicação Social (CECS), detonou um novo ciclo de generalizada reação da
grande mídia e da própria OAB nacional. Na ocasião, o advogado e editor do
suplemento "Direito & Justiça" do Correio Braziliense, referindo-se às propostas
aprovadas pela 1ª. CONFECOM, chegou a afirmar que "Goebbels, encarregado por
Hitler da difusão da propaganda nazista e de eliminar adversários do regime, não
teria feito melhor" (cf. Josemar Dantas, "Democracia em Risco", suplemento
"Direito&Justiça", Correio Braziliense, 8/11/2010, p. 2).
Considerando a radicalização e a intolerância que têm marcado a relação entre os
principais atores do campo nos últimos anos, o futuro próximo certamente reserva
imensos desafios para a democratização das comunicações no Brasil.
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