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Fevereiro 2010               Índice Geral do BLOCO

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24/02/10

• Íntegra da entrevista do Engº Virgílio Freire concedida ao IDEC + Comentário de José Smolka

Olá, ComUnidade WirelessBRASIL!

de Helio Rosa <rosahelio@gmail.com>
para Celld-group@yahoogrupos.com.br, wirelessbr@yahoogrupos.com.br
cc Virgilio Freire <virgilio.freire@gmail.com>
data 23 de fevereiro de 2010 21:40
assunto Íntegra da entrevista do Engº Virgílio Freire concedida ao IDEC

Olá, Virgílio!
Tudo bem?

Você postou uma mensagem nos nossos fóruns, com indicação do link de uma matéria do site do IDEC.
Tomei a liberdade de copiar sua mensagem, consultar a fonte e transcrever o texto mais abaixo, para facilitar a leitura.
Parabéns pelo conteúdo da entrevista!
Sucesso!

Virgílio Freire é engenheiro eletrônico e ex-oficial do Corpo de Fuzileiros Navais Virgílio Freire. Pós-graduado em Telecomunicações pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio), ele foi diretor da Embratel, da Telebrás e da Telesp, diretor de sistemas celulares da Nortel, presidente da Lucent (subsidiária da gigante americana AT&T) e da Vésper, e implantou e operou sistemas de telecomunicações em diversos países. Atualmente é consultor na área.

Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa

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Fonte: Revista do IDEC
[Jan 2010]    Telecom: por que é tão ruim?  (Entrevista com o Engº Virgílio Freire)

Levante a mão quem já teve problemas com alguma empresa de telecomunicação, seja ela de telefonia fixa ou celular, de TV a cabo ou internet. Se você está com o braço levantado (acompanhado por grande parte dos brasileiros, pode ter certeza), saiba que as notícias não são nada animadoras. Segundo ranking divulgado em dezembro último pelo Ministério da Justiça, essas empresas são as que menos solucionam as reclamações dos consumidores.

Para tentar entender por que os serviços de telecomunicações são tão ruins no Brasil, entrevistamos o polêmico engenheiro eletrônico e ex-oficial do Corpo de Fuzileiros Navais Virgílio Freire. Pós-graduado em Telecomunicações pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio), ele foi diretor da Embratel, da Telebrás e da Telesp, diretor de sistemas celulares da Nortel, presidente da Lucent (subsidiária da gigante americana AT&T) e da Vésper, e implantou e operou sistemas de telecomunicações em diversos países. Atualmente é consultor na área.

Na entrevista a seguir, concedida em seu confortável home-office em Campinas (SP), ele coloca a boca no trombone para criticar o sistema de telecomunicações brasileiro e defender a reativação da Telebrás.

Idec: O setor de telecomunicações, tanto privado quanto público, está despreparado?

Virgílio Freire: Está totalmente despreparado, desqualificado e politizado. Eu defendo muita coisa que o Lula faz, mas foram colocados homens sem a necessária experiência em vários locais, começando pelo ministro das Comunicações, que é funcionário da Globo. Mesmo o presidente da Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] é um diplomata que, evidentemente, não entende nada do que estamos conversando aqui. E os outros conselheiros também são indicações políticas, de forma que a Agência está sem rumo e omissa. Desculpe a falta de modéstia, mas para chegar às conclusões a que eu cheguei foi preciso anos levando paulada e cometendo erros.

Idec: Na sua opinião seria possível melhorar a atuação da Anatel?

VF: Eu acho que sim. A ideia do Fernando Henrique [Cardoso] era fazer uma Anatel exatamente análoga ao Federal Communications Commission (FCC), órgão americano totalmente independente.

A solução seria despolitizar e desvincular a Anatel do governo, criar algum tipo de proteção na lei que impedisse o Executivo de interferir, além de colocar só profissionais, como no FCC. O senador Fernando Collor de Mello sugeriu que se exigisse do profissional que quisesse trabalhar num órgão regulador pelo menos 10 anos de experiência na área. O resultado seria uma Anatel independente e competente.

Idec: Você falou em autonomia das agências, mas o governo precisa ter poder sobre a moeda. Como resolver isso na telecom?

VF: O Banco Central, por exemplo, é independente, mas recebe orientações de estratégia econômica do governo. A mesma coisa deveria acontecer em telecom. Quer dizer, teríamos dentro do Ministério do Planejamento, como já existe hoje, um núcleo de telecomunicações que definiria a estratégia de telecom. E a Anatel seria obrigada por lei, como o FCC é, a cumpri-la.

Idec: Qual a sua opinião sobre o Plano Nacional de Banda Larga?

VF: O plano proposto pelo ministro das Comunicações não tem pé nem cabeça. Eu li todas as páginas com bastante cuidado, se não me engano são 192, das quais apenas 15 são de propostas, o resto se limita a retratar o que existe no mundo (na Austrália é assim, no Kuwait é assado). O plano do ministro é algo a ser jogado no lixo, o que certamente o Lula já fez. O do Ministério do Planejamento parece, pelo que eu tenho visto, que está indo num rumo muito bom. Banda larga é o assunto estratégico do momento. O país que tiver uma boa banda larga vai em frente.

Idec: Você já afirmou que o investimento de R$ 2 bilhões da Telefônica para a recuperação do Speedy é uma mentira. A Associação dos Engenheiros de Telecomunicações (AET) também afirmou que não houve investimentos dessa ordem. Como vocês têm essa certeza? E a Anatel não tem essas informações?

VF: Esses R$ 2 bilhões não se referem ao plano de melhoria do Speedy. Muitos meios de comunicação divulgaram isso, mas é um engano. Esses R$ 2 bilhões, segundo o balanço da Telefônica publicado em 2009, teriam sido investidos em 2008. É bom citar que em 2007 ela pediu um empréstimo de R$ 2 bilhões ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. Há uma coincidência de números aí. O presidente da AET, o Ruy Bottesi, entrou em contato com todos os fabricantes e fornecedores de materiais, equipamentos e serviços de telecomunicações no Brasil, e todos, sem exceção, disseram que não assinaram nenhum contrato com a Telefônica em 2008. O [Carlos Antonio] Valente, presidente da Telefônica, defendeu-se dizendo que essas empresas não assumiram o contrato com a Telefônica por obrigações contratuais de sigilo, mas isso não é verdade. Eu já trabalhei em várias empresas fornecedoras, tenho 40 anos de experiência e nunca vi uma cláusula de sigilo em relação a uma compra.

O Rui, então, me pediu para analisar o balanço, que contém algumas coisas extremamente estranhas. Quero deixar bem claro que não estou afirmando que houve fraude, mas há indícios muito fortes e eu vou dizer por quê. A Telefônica diz que investiu R$ 500 milhões em serviços de informática. Só alguém alucinado compraria um sistema de informática por esse valor. Um grande contrato de informática não chega a R$ 50 milhões. Outra coisa estranha: normalmente, no balanço a gente separa os investimentos das despesas operacionais (que são os serviços - porteiro, faxineiro etc.). Quando se fala em sistemas de informática, uma grande parte são serviços e não podem ser classificados como investimento. Então, é estranho ela ter classificado todo o sistema de informática dessa forma. Um outro item absurdo: a Telefônica diz que investiu R$ 500 milhões em aparelhos de assinante, que custam no máximo R$ 30. Fazendo as contas, chegaríamos à conclusão de que ela teria trocado os aparelhos de 1/3 dos assinantes, e para isso seria preciso um exército de instaladores. Isso teria saído nos jornais e não saiu. É por isso que eu digo que há indícios de que esses números estejam incorretos.

Idec: A Anatel e os acionistas confiam nesse balanço?

VF: Os acionistas não se manifestaram. A Associação [dos Engenheiros de Telecomunicações] enviou os dados que tinha à Anatel, ao Luciano Coutinho, presidente do BNDES e à CVM [Comissão de Valores Mobiliários]. E a Anatel como sempre não fez nada. O BNDES tem uma postura estranha nessa história. Disse que não podia dar informações porque se tratava de sigilo bancário. Não se trata de um banco de varejo, estamos falando de um um banco público, cujos proprietários são os cidadãos brasileiros, portanto ele deve satisfação à sociedade de tudo o que faz. E tem o dever de fiscalizar como é aplicado esse dinheiro. Então é impensável que o BNDES empreste 2 bilhões de reais a uma empresa e não faça um acompanhamento. Então, a conclusão é a seguinte: ou ele deixou de fazer e prevaricou como órgão estatal ou ele acompanhou e deixou de prestar satisfação à sociedade. Já a CVM se pronunciou com base nos argumentos da Associação e abriu um processo.

Idec: Você defende que a terceirização do contato com o cliente e da instalação e manutenção dos serviços, que é generalizada nas empresas de telecomunicações, implica perda de qualidade. Mas existe alguma empresa que não faz isso?

VF: A GVT tem seu próprio centro de atendimento, ela não terceiriza. Você pode terceirizar serviços básicos (segurança, alimentação, limpeza etc.), mas jamais o contato com seu cliente. Você já viu alguma empresa aérea terceirizar piloto de avião ou serviço de bordo? Nunca. Eles são funcionários da empresa, comprometidos com ela e com seus valores, preocupados em encantar e atender o cliente.

Idec: A ideia de que a concorrência traria benefícios ao consumidor é verdadeira?

VF: A competição é benéfica, mas da forma como o setor de telecomunicações está, ela é praticamente impossível. Imagine se o governo pensasse que o consumidor seria beneficiado se tivesse mais opções no setor de energia elétrica e implementasse a concorrência, abrindo um leilão. A empresa que ganhasse seria forçada a instalar centenas de postes, quilômetros de fios e transformadores. Espero que fique bem claro que é uma loucura fazer um negócio como esse. Tanto é loucura que ninguém faz. A mesma coisa acontece com a telecom, mas infelizmente pensaram que não era parecido com a energia elétrica. E é. Quem quiser concorrer com a Telefônica, com a Oi e a Embratel terá que gastar alguns bilhões de reais para construir uma rede, e é evidente que isso não é possível.

Idec: A chamada desagregação das redes ajudaria na concorrência?

VF: Sim, mas ainda não se conseguiu. A desagregação é algo fantástico, é a criação de uma empresa, pública ou privada, que compraria da Telefônica, da Oi e da Embratel todos os sistemas físicos (torres, fibras, estações etc.) que fazem parte da rede, com exceção do fio que liga o consumidor a toda a rede. Esse ficaria com as empresas (Telefônica, Oi etc.). O modelo ideal seria ter só uma empresa atacadista, que seria dona de todas as torres, fibras e equipamentos do Brasil e venderia para a Oi, a GVT e a Telefônica pelo mesmo preço. Daria uma magnífica concorrência, porque elas teriam que competir não só em preço, mas em qualidade. É o modelo ideal, mas extremamente difícil de implantar. Na Inglaterra, a British Telecom está implantando um modelo bastante parecido. Ela já desagregou a parte de rede e existe uma empresa de atacado. Em banda larga já há uma tendência a adotar esse modelo, que é australiano, e ao meu ver é o melhor. No Brasil há uma tendência no Ministério do Planejamento bem próxima desse modelo. O secretário ainda não revelou tudo, mas dá para sentir. A proposta que transpirou até agora e que eu apoio 100% é a reativação da Telebrás, que seria essa empresa atacadista que teria todos ou quase todos os meios. Ela venderia a banda larga para a Telefônica, a GVT e a Embratel pelo mesmo preço, gerando competição. Fica claro que esse modelo não interessa à Telefônica, porque ele equaliza a competição.

Idec: Já existe esse modelo em funcionamento?
VF: Existe na Inglaterra. A British Telecom está implantando um modelo bastante parecido. Ela já desagregou a parte de rede e existe uma empresa de atacado que vende para a antiga British e para qualquer outra.

Idec: Comenta-se que estão sendo criadas empresas com a rede elétrica, a tal da powerline. Usar a rede elétrica para chegar ao sinal telefônico é bom?
VF: É bom. É uma tecnologia que está bem testada em vários locais e tipos de rede elétrica. Tem funcionado bem e no ano que vem deve começar a ser implantada no Brasil. Empresas vão oferecer, vender e instalar.


Idec: Falando em telefonia fixa. Por que as chamadas empresas espelho não funcionaram no Brasil?

VF: Uma que funcionou e está de parabéns é a GVT, que foi cautelosa desde o início, pois começou sem tentar concorrer. Ela começou sem terceirizar o contato com o assinante, tentando cativar o cliente, foi crescendo devagar e melhorando o serviço. A Vésper tinha um pecado original - seus donos eram a Bell Canada, do Canadá, a Qualcomm, dos EUA, a VeloCom, dos EUA, e a Vicunha, do Brasil. A Bell Canada tinha uma participação grande na Vesper, mas era dona também da Nortel, e obrigava a Vésper a comprar equipamentos da Nortel. E ai do presidente que quisesse fazer o contrário. A Qualcomm, sediada na Califórnia, é a detentora das patentes de CDMA, um tipo de telefonia celular digital, e obrigava a Vésper a adotar o CDMA. A VeloCom era uma empresa do Colorado, cujos donos queriam ficar ricos logo, por isso não deixavam a empresa trabalhar como a GVT, gradualmente. Dentro disso, o projeto financeiro da Vésper era concorrer pau a pau com a Telefônica.

Quando eu assumi a presidência da Vésper, desde sua criação, me disseram "ó cara, você tem 4,6 bilhões de dólares para investir e concorrer com a Telefônica". E por que não deu certo? Nós chegamos no ano 2000 com 800 torres em 19 estados, 4.000 funcionários e R$ 4,6 bilhões para gastar. Só que aí o Carlos Slim [empresário mexicano], hoje dono da Embratel e da Telmex, combinou com a Bell Canada que ia comprar tudo o que ela tinha na América Latina. Só que quando a Bell Canada anunciou aos outros sócios que estava vendendo suas propriedades para a Telmex e para Carlos Slim, inclusive a Vésper e a Claro, a VeloCom mandou uma carta preparada por um advogado dizendo que estava proibido que um mexicano entrasse na Vésper para fazer o levantamento ou avaliar a empresa, pois ele era acionista e tinha o direito de comprar. A Bell Canada deu um prazo até abril de 2001. A VeloCom tentou desesperadamente conseguir um parceiro para comprar essa parte. O triste da história é que a VeloCom, ansiosa por ficar rica, impediu que o Carlos Slim, que tinha dinheiro a beça para investir, entrasse. Quando chegou em fevereiro ela disse que não conseguiu.

E aí aconteceu algo dramático na Vésper. A Bell Canada retirou-se da Vésper. Então, presidentes da Vésper chegaram para mim em 2001 e disseram: "sabe aqueles R$4,6 bilhões que você tinha pra investir? A Bell Canada saiu e agora você tem apenas R$ 2 bilhões". Então, eu fiz as contas do que dava para fazer com esse valor e vi que teria que demitir metade da empresa. Além disso, devido à redução dos investimentos, os acionistas fizeram uma reunião por telefone comigo e disseram que não tinham dinheiro para fazer as instalações em todas as cidades que tinham prometido à Anatel. "Por causa dessa falta de dinheiro, queremos que você vá a Anatel e convença o Renato Guerreiro [então presidente da Agência] a não exigir que nós façamos essas instalações". Esse pedido era extremamente antiético e eu expliquei isso aos acionistas, mas não fui ouvido.

Além disso, há um contrato assinado com a Anatel e com o governo e eu sou o responsável legal pela empresa. Se eu não cumprisse esse contrato, caso o Guerreiro aceitasse, nós teríamos a Procuradoria Pública, que é um órgão independente, ou seja, não responde nem ao governo nem ao judiciário. Eu me senti desconfortável e preferi me afastar da empresa, que foi posteriormente vendida à Embratel. Para coroar essa história, queria dizer que a Vésper não cumpriu o contrato, e a Anatel, sob a presidência do Renato Guerreiro, jamais investigou isso. E ficou elas por elas, o dito pelo não dito, virou pizza. O que mostra que desde o governo FHC a Anatel é omissa, inexistente e incompetente.

Idec: Na telefonia celular, as operadoras pertencem, praticamente, aos mesmos grupos que controlam as teles fixas. A competição nesse setor é diferente?

VF: Não tenho provas, mas é possível que esteja havendo uma combinação entre as empresas, que dividiram o território brasileiro. Há uma divisão de mercado que elas mais ou menos assumem, há uma estratégia suicida por parte de todas elas, na qual entraram e da qual não estão sabendo sair. Por exemplo, a Oi não entra em São Paulo e a Vivo não entra no Rio de Janeiro, mas elas poderiam entrar.

Essas empresas acham que sua importância é medida pelo número de usuários, e por isso investem na venda do pré-pago, que faz sucesso nas camadas mais pobres da população. Só que com isso o lucro é pequeno ou negativo, pois, por ele ser mais usado para receber ligações, a conta média costuma ser em torno de R$ 26 por usuário. Se eu fosse presidente de uma empresa de celular, eu não iria me preocupar com o número de clientes. Se eu tiver 1 milhão de pré-pagos fazendo cada um uma ligação por mês e outra empresa tiver 100 mil pós-pagos que façam 30 ligações por mês, a segunda estará ocupando seu equipamento e amortizando seu investimento, vendendo ligações e lucrando mais. Essa visão falta às empresas.

Idec: Por que antes da privatização era tão difícil conseguir um telefone fixo? Houve época em que as linhas eram investimento, como um carro, um imóvel...

VF: Era tão difícil e caro porque assim queria o governo federal. Era do interesse do Delfim Netto, que era ministro do Planejamento na época, e de seus seguidores que isso acontecesse. Isso não acontecia porque a Telebrás e suas subsidiárias eram incompetentes e não tinham dinheiro. A Telebrás não tinha a liberdade que a Petrobrás e o Banco do Brasil tinham como estatal e foi isso que provocou seu engessamento. Enquanto os milicos governavam, as telecomunicações, por questões estratégicas militar, eram consideradas prioridade. Com a redemocratização, a Telebrás e suas subsidiárias tinham muitas linhas e recebiam muito dinheiro. Existia, inclusive, o Fundo Nacional de Telecomunicações, cujo objetivo era recolher o dinheiro de cada ligação e de cada assinatura. Tudo o que esse fundo arrecadasse deveria ir para instalações novas, que não foram feitas. Por ordem do Delfim Netto esse fundo era imediatamente roubado para o tal do Fundão, que tinha como objetivo pagar a dívida externa. Ainda assim a Telebrás chegava ao final do ano com 20 bilhões de lucro. Aí ela dizia "tenho 20 bilhões e quero investir 15 bilhões em novas linhas". Quando a Petrobrás queria fazer isso, fazia. A Telebrás, por sua vez, tinha que levar a proposta de investimento a uma entidade kafkiana criada por Delfim Netto chamada Secretaria de Controle das Estatais (SEST), que tinha de dar autorização. E sempre a resposta da SEST era "sinto muito, mas só autorizamos o uso de 3 bilhões". E esse investimento aprovado pela SEST tinha que ser aprovado também pelo Congresso Nacional. Então, em vez de instalar 1 milhão de telefones, eram instalados apenas 200 mil. E aí as consequências são essas que você citou. Se em vez de 1 milhão eu instalo 200 mil eu não atendo todo mundo. Nós éramos o grande contribuidor do Fundão. Se tivéssemos a liberdade que a Petrobrás tinha, nós teríamos hoje uma telefonia melhor do que a que foi implantada pela privatização. Nós seríamos a Petrobrás das Telecomunicações!

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de J. R. Smolka <smolka@terra.com.br>
para wirelessbr@yahoogrupos.com.br, Celld-group@yahoogrupos.com.br
data 24 de fevereiro de 2010 09:09
assunto Re: [wireless.br] Íntegra da entrevista do Engº Virgílio Freire concedida ao IDEC

Gente,

Eu poderia perder muito tempo destacando o que concordo e o que discordo das opiniões do Virgílio Freire, mas não vou fazê-lo. Apenas por uma questão factual, quero destacar uma pergunta/resposta da entrevista para comentar.

> Idec: Na telefonia celular, as operadoras pertencem, praticamente, aos mesmos grupos que controlam as teles fixas. A competição nesse setor é diferente?
>
> VF: Não tenho provas, mas é possível que esteja havendo uma combinação entre as empresas, que dividiram o território brasileiro. Há uma divisão de mercado que elas mais ou menos assumem, há uma estratégia suicida por parte de todas elas, na qual entraram e da qual não estão sabendo sair. Por exemplo, a Oi não entra em São Paulo e a
Vivo não entra no Rio de Janeiro, mas elas poderiam entrar.

O grifo em vermelho é meu. Concordo que o caso da entrada da Oi em São Paulo tem sido complexo, e nem sei quais exatamente os motivos. Mas de onde veio a idéia de que a Vivo não opera no Rio de Janeiro com toda a força? A Telefónica Moviles arrematou no leilão de privatização as operações das antigas Telerj Celular e Telest Celular (ES), e desde então vem operando (e, se não me engano, liderando o mercado) nesta região.

As outras operações da Telefónica Moviles no Brasil eram: CRT Celular (comprada no leilão de privatização feito pelo governo do Rio Grande do Sul, ainda antes do leilão do Sistema Telebrás), Telebahia Celular e Telergipe Celular (SE). Estas últimas, inicialmente, em posição minoritária no consórcio formado com a Iberdrola, mas depois assumiu a parte desta e, consequentemente, também o controle destas companhias. Estes são os ativos com que a Telefónica Moviles entrou na formação da joint-venture com a Portugal Telecom (controladora da Telesp Celular) para a formação inicial da Vivo, que foi posteriormente ampliada pela compra conjunta do controle da Tele Centro Oeste Celular e da Norte Brasil Telecom Celular, da Telemig Celular e da Teleamazon Celular, e pela aquisição de blocos de frequência para operação no restante da região Nordeste.

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J. R. Smolka


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