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24/02/10
• Telebrás, Eletronet e PNBL (188) - Análise de Clóvis Marques sobre a Eletronet, respondendo aos questionamentos de José Smolka
Nota:
Clóvis Marques é Engenheiro Eletrônico
especializado em Business Administration
Helio Rosa
<clovis1@terra.com.br>
responder a Celld-group@yahoogrupos.com.br
para Celld-group@yahoogrupos.com.br,
wirelessbr@yahoogrupos.com.br
data 24 de fevereiro de 2010 16:13
assunto Re: [Celld-group] Re: [wireless.br] news: "Nova" Telebrás beneficia
cliente de Dirceu, que pagou R$1 por 49% da Eletronet
Olá Smolka e demais membros dos Grupos,
Vou tentar ajudar, sem pretender dar uma resposta cabal, mas expondo alguns
fatos importantes que nos trazem até aqui.
A Rede da Eletronet teve início lá nos anos 90 (e alguma coisa) quando o setor
Elétrico ainda não tinha sido privatizado.
O Projeto consistia de lançamento de cabos OPGW (conhecido como Cabo Para-Raios)
no topo e ao longo das Redes de Transmissão/Distribuição Elétricas, utilizando
Equipamentos Ópticos SDH e DWDM, em rede do tipo duplo anel.
A licença de Operação naquela época era o SLE (Serviço Limitado Especializado),
não o STFC.
Participaram desse projeto as Empresas: FURNAS, ELETROSUL, CELESC (SC),
ELETROPAULO (SP), CEMIG (MG), LIGHT (RJ), ESCELSA(ES), CHESF, ELETRONORTE e mais
algumas com participação pequena. Isso permitiu a abrangência da Rede cruzando
praticamente 60% do território brasileiro, desembocando nas principais capitais.
Quando houve a privatização do setor elétrico, a AES adquiriu participação em
importantes Empresas do setor, como Eletropaulo e Cemig, por exemplo, que eram
fundamentais na Rede da Eletronet (veja o mapa de abrangência da Eletronet), sem
as quais não era possível manter a Rede interligada e fechando os aneis. Por
esse motivo, a AES foi "convidada" a ser sócia da Eletrobrás.
A AES ficou com 51% por diversos motivos, que não vem ao caso explorar agora. Um
deles era ser responsável pela Operação da Eletronet. Contudo, como peixe de
água salgada não sobrevive em rio (salvo raras exceções :)), ela patinou na
gestão e principalmente no posicionamento comercial da Rede, o que culminou com
a falência da Eletronet.
Aí entra na história o Sr. Nelson, que foi escolhido sabe lá Deus como e por
que, para funcionar como Laranja.
Criaram a figura de um Fundo Offshore em Paraíso Fiscal, representado no Brasil
pelo Sr. Nelson para assumir as dívidas da Eletronet, mesmo sem ter como
honrá-las, e deram para ele uma boa grana pelo "trabalho". Assim, a AES se
livrou do pepino Eletronet e de potenciais ações no Brasil e nos Estados Unidos,
que complicariam ainda mais a situação dela.
Os fornecedores da Eletronet, principalmente a Furukawa (com os cabos OPGW) e a
Lucent (com os Equipamentos) ficaram sem ter como receber o pagamento e também
sem ter como executar judicialmente, porque a Eletronet passou a ter como dono o
tal Fundo em Paraíso Fiscal. Importante destacar que a Eletrobrás, apesar de
sócia no Empreendimento participava apenas com a infraestrutura das Redes de
Transmissão e a AES, como majoritária, foi quem apresentou as garantias para os
investimentos, que obviamente desapareceram quando a AES pulou fora.
Após decretada a falência da Eletronet, a justiça designou um síndico para a
massa falida, para que o único patrimônio da Eletronet (a Rede) não fosse
dilapidado. Por seu intermédio foram tentadas diversas negociações para venda da
Rede da Eletronet a possíveis interessados, mas como o valor da dívida (estimado
em R$ 800 milhões) era muito superior ao valor da Rede, não se chegou a um
acordo com ninguém. A Oi foi quem chegou mais perto de comprar a Eletronet, mas
o valor que ela estava disposta a pagar não chegava nem perto do valor da dívida
(falam em R$ 140 milhões) e não foi aceita pelos fornecedores.
Aí entrou em cena o Governo. Primeiro foi o SERPRO (lembra da história que
contei da PROCEMPA??) que tentou assumir a Eletronet, mas por causa de
divergências com a Anatel, foi obrigado a se retirar no negócio. Ao que me
consta, a Anatel não concedeu a licença da Operação ao SERPRO por alegada falta
de pagamento.
Com a idéia do Operador de Rede Nacional através do SERPRO frustrada, o Governo
estudou outras formas de incorporar a Rede da Eletronet, o que culminou com a
reativação da Telebrás, já que ela é a única Empresa do Governo Federal com
possibilidade de assumir a Gestão do PNBL. Por isso, em 2007 o Governo
capitalizou a Telebrás para mantê-la operacional e brigou na justiça por quase 4
anos para conseguir a posse da Rede da Eletronet, o que foi possível a partir de
um depósito judicial da ordem de R$ 300 milhões (conforme avaliação da justiça)
no fim do ano passado para arcar com eventuais pagamentos aos fornecedores.
Dessa forma, o Governo está conseguindo 2 feitos importantes:
- Evita a perda total do patrimônio da Eletronet, que está praticamente vazia,
possibilitando que os fornecedores (e apenas eles) tenham a chance de receber os
valores arbitrados pela justiça.
- Viabiliza o PNBL com uma Rede de abrangência nacional, que será gerida pela
Telebrás, para venda de Capacidade de Transporte no Atacado (com investimento
marginal estimado em R$ 3 Bilhões) que irá permitir seu uso pelas Operadoras
existentes e principalmente por novos Operadores (grandes ou pequenos) Nacionais
ou Locais, para o provimento do serviço de Banda Larga à população (serviço
altamente defasado), podendo ser o próprio Governo a disponibilizar o acesso em
locais onde não exista oferta e/ou competição, com custos muito competitivos
(nesse caso o investimento para ampliar a Eletronet e incluir acesso poderia
chegar a R$ 20 bilhões).
O caroço que está debaixo desse angu, não é a Eletronet nem a Telebrás, é a
falta de Serviços, de Qualidade, de Atendimento aos Clientes, de Fiscalização e
de Regulação do mercado. Não sei se você percebeu, mas desde o final do ano
passado, quando ficaram mais fortes as movimentações sobre o PNBL, temos visto
todas as Operadoras (Fixas e Móveis) e até a própria Anatel se mexendo para
tentar fazer o que já deveria ser o básico de suas atividades, como há muito não
se via.
O Governo sabe que o PNBL em vigor, tendo a Telebrás como gestora e a Rede da
Eletronet como pilar principal, é a garantia que vai ter muita gente se mexendo
para fazer o seu dever de casa, como já deveriam ter feito.
Abraço,
Clóvis Marques
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