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Fevereiro 2010 Índice Geral do BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão Celld-group e WirelessBR. Participe!
28/02/10
• Telebrás, Eletronet e PNBL (199) - Estadão: Editorial e opinião de Bresser-Pereira + Isto É: "Quem é Cezar Alvarez"
Olá, ComUnidade WirelessBRASIL!
01.
De novo, novamente, again...:-)
Acompanhamos (eu e os membros mais ativos) este tema desde 2007, divulgando o
que é publicado na mídia eletrônica, incentivando o debate e opinando.
Tudo está registrado no website comunitário
Telebrás, Eletronet e PNBL.
Como moderador, não espero dos debatedores que convençam seus oponentes de nada!
:-)
Espero apenas que divulguem com clareza suas ideias e pontos de vista para que a
maioria que não participa ativamente dos fóruns possa formar sua própria
opinião.
Ainda como moderador (função voluntária, abelhudamente auto-atribuída...)
:-) espero que cada participante também atue no sentido de convidar os demais
para as discussões, incentivando o contraditório, nunca inibindo ou
desestimulando.
Não temos a pretensão de achar que a ampliação do debate se deva à atuação da
ComUnidade mas também não somos tão modestos assim em dizer que não contribuímos
com alguma coisa... :-)
Considero tudo que esta acontecendo na mídia como extremamente saudável em
termos democráticos e creio que é uma excelente preparação para o debate que
ainda não começou: a análise crítica do PNBL quando for dado à luz.
No entanto, não é democrática a atuação do governo gestando um PNBL desta
envergadura, com bilhões de reais envolvidos, secretamente, a sete chaves, nos
meandros sombrios dos gabinetes do Planalto, em pleno ano eleitoral.
Esta atitude gera todo tipo de especulação e suspeição e não podia ser
diferente.
Este planejamento, com carimbo de "top secret", para culminar num decreto
presidencial, é uma vergonha!
02.
Leituras para o domingão:
Fonte: Estadão
[28/02/10]
Um negócio surrealista - Editorial
Fonte: Estadão
[28/02/10]
Alargando a banda - por Luiz Carlos Bresser-Pereira
Fonte: Fonte: Blog do
Leonardo Araujo - Origem:
IstoÉ Dinheiro
[27/01/10]
A face oculta da banda larga (Quem é Cezar Alvarez) - por Ralphe Manzoni Jr.
Ao debate!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio
Rosa
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Fonte: Estadão
[28/02/10]
Um negócio surrealista - Editorial
Ex-líder estudantil, ex-exilado político, ex-deputado, ex-presidente do PT,
ex-ministro-chefe da Casa Civil, apontado como o cabeça do mensalão, com
direitos políticos cassados em dezembro de 2005, o advogado José Dirceu de
Oliveira Silva tem uma rica biografia. Desde que deixou o governo, Zé Dirceu
dedica-se com desenvoltura à atividade de lobista, movimentando-se em grande
estilo no País e no exterior, ocupação que lhe tem sido muito rentável. Além de
sua vasta rede de relacionamento, ele se vale do conhecimento íntimo da máquina
do governo, que comandou durante quase quatro anos.
Com a reativação da Telebrás, de acordo com o projetado Plano Nacional de Banda
Larga (PNBL), são hoje ainda mais fortes os indícios de que Zé Dirceu, com
trânsito aberto no atual governo, utilize em seus negócios a influência que
inegavelmente tem sobre a máquina governamental.
O plano de utilização da rede de 16 mil quilômetros de cabos ópticos, que seriam
operados pela Eletronet - 49% de cujas ações pertencem ao governo -, tem as
impressões digitais do ex-chefe da Casa Civil. Como a Telebrás, a Eletronet era
uma empresa fantasma, tendo pedido autofalência em 2003, deixando um passivo de
R$ 800 milhões. Em um negócio surrealista, em 2005 o empresário Nelson dos
Santos, da Star Overseas, que deveria ter alguma informação de cocheira para
assumir uma dívida tão vultosa, comprou 25% da empresa por R$ 1,00. E, em 2007,
a Star Overseas contratou José Dirceu como seu consultor, pagando-lhe um total
de R$ 620 mil até 2009. Como relata o Globo (25/2), a princípio as coisas
corriam bem, mas tudo ainda dependia de uma decisão final do governo para a
compra por meio da holding Eletrobrás da dívida da Eletronet, orientação que
prevalecia no governo desde outubro de 2006.
Em maio de 2007, dois meses depois de ter contratado Dirceu, Santos estava
prestes a abocanhar um lucro estimado em R$ 200 milhões. O governo, porém, mudou
de estratégia. Em vez de comprar a dívida deixada pela Eletronet, o que poderia
ser questionado política e judicialmente, resolveu entrar na Justiça para
retomar o uso da rede de fibra óptica sem pagar nada. "Essa bomba iria estourar
na minha mão", teria dito a ministra Dilma Rousseff, que substituiu Dirceu na
chefia da Casa Civil.
"O governo quase entrou numa roubada", como comentou o advogado Márcio André
Mendes da Rocha. De fato, uma das cláusulas do contrato entre as centrais
elétricas federais (Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul) e a Eletronet previa
que, em caso de falência desta, haveria uma rescisão automática, com o retorno
dos bens às companhias de eletricidade que forneceram a infraestrutura para a
rede de fibras ópticas, como esclareceu Luiz Inácio Adams, advogado-geral da
União. A Eletronet tinha apenas o direito de acesso à rede. Em sua decisão, a
Justiça exigiu apenas das centrais elétricas federais que fosse feita uma caução
de R$ 270 milhões para pagamento aos credores.
A negociata falhou, mas por pouco. A Oi, como noticiou a Folha de S.Paulo,
negociava a compra da dívida da Eletronet por R$ 140 milhões com o objetivo de
retirar a empresa da falência e reabilitá-la. A empresa só desistiu dessa jogada
ante a negativa do governo de manter o processo na Justiça para a retomada da
rede de fibra óptica.
Uma conclusão é inescapável: José Dirceu estava a par dos planos do governo
quanto à banda larga, que se encaminhavam para levar à compra do passivo a
descoberto da Eletronet.
Ele nega que tenha mencionado a Santos, durante os dois anos em que prestou
serviços à Star Overseas, o plano do governo de ampliar o serviço de banda
larga. A impecável discrição do consultor sobre o negócio é espantosa. O próprio
Dirceu disse que, quando era ministro, "já tinha uma discussão porque a
Eletronet já estava com os problemas que tem hoje. E a orientação é a mesma, que
o País precisava ter acesso por fibras ópticas, que o País precisava de um plano
de banda larga". Segundo ele, a consultoria que prestou seria para mapeamento de
negócios na América Latina...
A questão merece, sem dúvida, um exame aprofundado pelo Ministério Público. A
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não pode permanecer alheia a essa
apuração, dadas as manobras visíveis de especuladores, responsáveis pelas
oscilações brutais da cotação dos papéis da Telebrás. É o mínimo que se espera.
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[28/02/10]
Alargando a banda - por Luiz Carlos Bresser-Pereira
Luiz Carlos Bresser-Pereira é economista,
cientista político, três vezes ministro (no governo Sarney e nos dois mandatos
de Fernando Henrique), é desde 2005 professor emérito da FGV
Denúncias de tráfico de influência não invalidam um plano governamental de
baratear a internet rápida
O governo federal vem desenvolvendo o Plano Nacional de Banda Larga a fim de
universalizar e baratear o acesso dos brasileiros à internet, mas está
enfrentado forte oposição das empresas de telecomunicação e agora surgem
acusações de que haveria empresários e políticos beneficiados no processo. Não
vou entrar nesse tipo de discussão. O que importa saber é qual o papel do Estado
em uma questão como essa, que diz respeito a um serviço de utilidade pública -
as telecomunicações. Como esses serviços são fundamentais para a sociedade, e em
boa parte, monopolistas, no passado entendia-se que deviam ser realizados
diretamente pelo Estado. Nos "30 anos neoliberais" (1979-2008), entendeu-se que
deveriam ser privatizados e, em seguida, regulados. Especialmente os serviços de
telecomunicação, porque haviam deixado de ser puramente monopolistas. Agora, no
quadro de um governo crítico do neoliberalismo, surge o projeto de desenvolver
um serviço de banda larga do Estado. Fará sentido uma iniciativa dessa natureza?
Não sei se a Telebrás - a empresa que se ocupará da banda larga - logrará cobrar
apenas entre R$ 15 e R$ 35 por mês pelo acesso de internet rápida. Sem dúvida,
além de fornecer seus serviços a organizações públicas terá que estabelecer todo
um conjunto de relações com as empresas privadas do setor para chegar aos
setores mais distantes. Dessa forma, a Telebrás poderá desempenhar um papel
complementar na regulação do sistema de telecomunicações. E o Estado estará,
assim, exercendo seu papel regulador de forma mais efetiva.
Isso não significa a volta ao Estado produtor. O Estado produtor é justificado
em uma fase inicial do desenvolvimento de um país. Nós sabemos quão importante
foi o papel de empresas estatais na área de siderurgia, da petroquímica, da
construção aeronáutica, etc. A partir, porém, do momento em que o setor privado
nacional passa a ter a capacidade técnica e a dispor de capital para assumir
esses setores competitivos, o Estado deve se retirar. O mercado e a regulação
geral do Estado exercida por meio da lei realizarão melhor o trabalho: com mais
eficiência e menos corrupção.
Diferente é a situação das empresas que, ou são monopólios naturais ou são
beneficiadas por rendas ricardianas, como é o caso da mineração, inclusive o
petróleo, ou são empresas produzindo serviços de utilidade pública. Neste último
caso o setor privado pode ter um papel importante, mas na condição de
concessionário. A atividade é de tal forma importante e estratégica para a nação
que esta, por meio dos seus representantes no Poder Legislativo, a torna
responsabilidade do Estado - o qual, entretanto, poderá concedê-la à exploração
do setor privado. Nesse caso, porém, o serviço de utilidade pública deverá se
pautar pelas políticas definidas pelo governo democraticamente eleito e seus
preços deverão ser determinados e fiscalizados nos termos estabelecidos por
agência reguladora. O papel dessa não é o de definir políticas, mas o de fazer o
papel do mercado que não existe: é garantir que os preços cobrados pelas
empresas sejam próximos dos que existiriam se um mercado competitivo existisse.
Entretanto, a agência reguladora administrada por técnicos independentes não é a
solução mágica para os serviços de utilidade pública. O papel de reproduzir o
mercado é muito difícil. As manobras das empresas reguladas para escapar ou
enganar a regulação são infinitas. E a literatura econômica sobre sua capacidade
de capturar o regulador é antiga e respeitável. Foi especialmente desenvolvida
por um economista ilustre da Universidade de Chicago, George Stigler.
Na falta de um mercado competitivo, a regulação é um second best - é uma boa
alternativa, mas uma alternativa sempre imperfeita: está longe de garantir que
um serviço de utilidade pública seja eficiente e barato. Os dirigentes da
agência estão sempre sujeitos à captura. Por isso, é às vezes conveniente dar ao
Estado instrumentos adicionais de regulação, como se está fazendo agora com a
implementação do Plano Nacional de Banda Larga. A Telebrás e sua banda larga
oferecerão um serviço que será também instrumental na regulação do setor. O fato
de que as empresas do setor se oponham ao plano é uma indicação de que ele
poderá ser efetivo em limitar lucros abusivos.
Mas surge então a pergunta inevitável: "E a corrupção que esse tipo de ação
governamental pode ensejar?" Sempre que uma atividade não possa ser regulada de
forma relativamente automática e impessoal pelo mercado, e o Estado precise
regulá-la, surge a possibilidade da corrupção, porque as empresas envolvidas não
hesitarão em tentar corromper os servidores públicos e porque, em casos mais
raros, servidores aproveitarão a oportunidade para chantagear as empresas. Mas
não é por isso que se deixará de tomar decisões - de governar. No caso do Plano
Nacional de Banda Larga, o governo está tomando decisões que, em princípio, me
parecem boas. As denúncias de tráfico de influência surgidas recentemente não
invalidam o plano.
A força do capitalismo decorre do fato de que nele as atividades econômicas são
reguladas pelo mercado. Mas o capitalismo é também uma forma de organizar a
produção na qual a ganância e a corrupção estão sempre presentes. Por isso,
quanto mais desenvolvida e mais complexa é uma sociedade, mais ela precisa de
regulação, e, portanto, mais necessárias se tornam as decisões. Governar é tomar
decisões - e essas poderão ser boas ou más, honestas ou corruptas, republicanas,
voltadas para o interesse público, ou individualistas, orientadas apenas pelo
interesse privado. Para evitar as decisões desonestas precisamos de polícia, de
Ministério Público, de Poder Judiciário, de imprensa livre. Para termos
políticos republicanos e boas decisões precisamos de cidadania ativa e de um
Estado crescentemente democrático e transparente. Não é pela omissão, não é
deixando de tomar decisões por medo da corrupção que um país será bem governado.
A corrupção está sempre à nossa volta e não será fugindo dela, mas a
enfrentando, que o País poderá avançar.
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Fonte: Fonte: Blog do Leonardo Araujo - Origem:
IstoÉ Dinheiro
[27/01/10]
A face oculta da banda larga (Quem é Cezar Alvarez) - por Ralphe Manzoni Jr.
Quem é Cezar Alvarez, homem de confiança de Lula que comanda o plano nacional de
popularização da internet rápida, um projeto recheado de denúncias e de questões
mal explicadas
No nebuloso projeto de popularização da internet do governo, batizado de Plano
Nacional de Banda Larga, já apareceram os mais variados tipos de personagens. O
lobista? José Dirceu. O empresário favorecido? Nelson dos Santos, dono da Star
Overseas Venture, que adquiriu uma empresa (a Eletronet) com 16 mil quilômetros
de fibras óticas. O governo falastrão? Também apareceu, nas figuras do
presidente Lula e do ministro das Comunicações, Hélio Costa. O governo omisso?
Veio à tona no silêncio indesculpável e constrangedor da Comissão de Valores
Mobiliários, que até agora nada fez para conter o festival de especulação com o
papel da Telebrás - uma ação que subiu 35.000% desde o início do governo Lula,
ao sabor dos boatos. Quem até agora não apareceu foi o responsável por tirar
essa ideia do papel e levá-la para o mundo real.
Pois a face oculta por trás desse projeto é o gaúcho Cezar Alvarez. Não pense,
porém, que se trata de um técnico ou de um especialista em informática. Recheado
de questões mal explicadas e polêmico em suas intenções, o projeto possui um
forte componente político e, por isso, necessariamente deveria ser conduzido por
um "bicho" político - e, assim, o nome de Alvarez faz todo o sentido. Gaúcho de
Santana do Livramento, ex-líder estudantil e economista, Alvarez é homem de
confiança de Lula. Não tem um posto fixo. É um dos integrantes de um time de
assessores informais que todo presidente, governador ou prefeito possui. É
chamado para missões específicas e cabeludas. Neste caso, o objetivo é claro. "O
plano se estrutura em três pilares básicos: levar banda larga para onde nenhuma
empresa quer ir, dar um empurrãozinho no mercado para que ele atenda as
periferias dos grandes centros e partir, depois, para uma superbanda larga, com
maior capacidade", disse ele à DINHEIRO.
QUEM CONHECE ALVAREZ (GOSTE OU NÃO DELE) O CONSIDERA UMA PESSOA COM GRANDE
CAPACIDADE DE ARTICULAÇÃO E HABILIDADE PARA BUSCAR O CONSENSO
Alvarez trocou os pampas pelo planalto em 2002 para trabalhar diretamente com
Lula. No começo, como assessor especial. Depois passou a cuidar de sua agenda e
das iniciativas de inclusão digital. Essa proximidade e o poder que advém dela o
tornaram um homem respeitado e temido. Quem conhece Alvarez (goste ou não dele)
o considera uma pessoa com grande capacidade de articulação e habilidade para
buscar o consenso - um traço de personalidade que começou a ser demonstrado na
década de 70, quando comandou o Diretório Central dos Estudantes (DCE), da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a mesma cursada pela ministra Dilma
Rousseff, hoje pré-candidata do PT à Presidência. Na ocasião, Alvarez militava
no grupo Perspectiva, o embrião do que viria a ser a Liberdade e Luta, ou Libelu,
de orientação trotskista.
Desde muito cedo, ele ficou conhecido pela sua capacidade de planejamento - e
essa é outra característica fundamental para a implantação de uma rede em todo o
território nacional. Em 1976, por exemplo, ele organizou a primeira manifestação
de rua dos estudantes para protestar contra o regime militar. "Ele fez um mapa
do local do protesto, com a previsão de onde deveriam vir os militares e com
indicação de todos os pontos de fuga. Era demonstração de organização", conta o
livro "Abaixo a Repressão", dos jornalistas Ivanir José Bortot e Rafael
Guimarães.
Essa capacidade de organização não bastará para colocar o projeto de banda larga
de pé. Será necessário também certo faro político. "Ele é indicado para os
projetos que o presidente quer ver fora do papel", afirma Sérgio Amadeu, que
trabalhou com Alvarez no governo federal. "Ele entra para resolver." E também
para evitar que polêmicas prejudiquem o andamento do trabalho. Polêmica, aliás,
não falta em torno deste projeto. A começar pelo discutível renascimento da
Telebrás.
A estatal pode ser ressuscitada para fazer a gestão de uma rede de fibras
ópticas de mais de 30 mil quilômetros (16 mil quilômetros são da Eletronet). O
argumento do governo para entrar nesse tipo de atividade tem sido utilizado até
pelo próprio presidente Lula, em conversas reservadas com gente da área de
telecomunicações. "Para o meio do mato, vocês não querem ir", disse ele para o
principal executivo de uma grande operadora de telefonia, quando se encontraram
em um evento no final do ano passado.
No capítulo Telebrás, Alvarez diz que a decisão ainda não foi tomada. Mas pode
ser apenas estratégia de bom negociador. Aliás, contrariar interesses e ainda
assim agradar é uma de suas qualidades. Em 2005, Lula o designou para tocar o
projeto Computador para Todos. Representantes do setor pediam desoneração fiscal
e torciam o nariz para o uso de software livre, proposto pelo governo para
baixar o custo dos equipamentos. Ele reduziu os impostos, como queria a
indústria, mas bateu o pé ao criar uma linha de financiamento do BNDES para
vender computadores com programas de código aberto. Foi nessa época que Alvarez
deu uma demonstração de seu prestígio com Lula. Quinze minutos antes de anunciar
o plano, o presidente o chamou em seu gabinete. Alvarez encontrou na sala o
então ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o presidente cheio de
dúvidas sobre a viabilidade do projeto. "Alvarez teve de usar todo o seu poder
de argumentação para convencer Lula de que estavam indo na direção correta",
conta um antigo assessor de Lula. E conseguiu. Desde então, nunca se vendeu
tanto computador no Brasil. O mercado de PCs saltou de 4 milhões de unidades em
2005 para 12 milhões no ano passado.
O programa Computador para Todos, no entanto, não teve o potencial de escândalo
político do plano nacional de banda larga. As ações da Telebrás, uma empresa
desativada, subiram fantásticos 35.000%. Pior: a CVM, xerife do mercado de
capitais, manteve-se como mera espectadora diante dessa megaespeculação.
Questionada pela DINHEIRO, respondeu com uma frase lacônica e protocolar, quase
cínica: "A CVM acompanha e analisa a movimentação dos papéis da companhia e
adota as medidas devidas quando necessário". Além do pouco caso da CVM, há a
revelação de que o exministro José Dirceu assessorou a Star Overseas Venture.
Com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, ela pertence ao empresário Nelson dos
Santos, que comprou participação na massa falida da Eletronet por R$ 1. A
oposição viu um conflito de interesses entre o público e o privado e partiu para
cima. O DEM pede a abertura de uma CPI. O líder do partido, o deputado Paulo
Bornhausen (SC), também quer que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esclareça
as operações envolvendo as ações da Telebrás. O desafio de Alvarez agora é muito
maior. Não se trata apenas de adivinhar de onde surgirão os militares. Nos dois
primeiros meses de 2010, fez reunião com representantes das entidades civis e da
iniciativa privada para apresentar o plano. Dentro do próprio governo sofre com
o fogo amigo do ministro Hélio Costa, que tem manifestado sua discordância com a
reativação da Telebrás. Será que desta vez o homem forte de Lula conseguirá o
consenso?
"A Telebrás reúne condições para a gestão"
Cezar Alvarez, que comanda os programas de inclusão digital do governo federal,
falou com jornalistas após evento em Brasília, na semana passada:
Qual é a meta do plano nacional de banda larga?
O plano se estrutura em três pilares básicos: levar banda larga para onde
ninguém quer ir, dar um empurrãozinho no mercado para que ele atenda às
periferias dos grandes centros e partir, depois, para uma superbanda larga, com
maior capacidade. Mas o projeto ainda está em construção. O governo não quer ser
prestador no varejo, mas, considerando a importância do plano para o País, se o
mercado não o fizer, nós dizemos que faremos.
O plano prevê participação de empresa pública, como o presidente Lula adiantou?
O presidente conhece o conjunto dos estudos que têm uma avaliação do conjunto
das empresas e sabe que a Telebrás é aquela que reúne as melhores condições para
exercer a função de gestão, mas a decisão só sai na reunião que teremos para
concretizarmos o plano, até o início de abril. A Telebrás tem sido uma das
empresas de maiores possibilidades e é considerada desde 2004, quando do projeto
Computador para Todos.
Qual é o volume de recursos?
O pacote de expansão física das linhas de transmissão, incluindo a oferta do
acesso final ao consumidor, tem uma projeção inicial de custo ao governo de R$
15 bilhões. Seremos extremamente modestos, até porque a mesa de discussões está
começando e não sabemos ainda como tudo vai ser.
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