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Janeiro 2010               Índice Geral do BLOCO

O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão  Celld-group e WirelessBR. Participe!


01/01/10

• Rádio Digital (53) - Prazo do "Aviso/Consulta" termina dia 17 + Testes com DRM em andamento

Olá, ComUnidade WirelessBRASIL!

01.
Leituras de Festas...  :-)

Mais abaixo estão transcritas estas matérias:
Fonte: Circuito - Blog de Cristina de Luca
[29/12/09]  Padrão para rádio digital sai até fevereiro - por Cristina de Luca
Fonte: PY4ZBZ
[sem data]  Rádio digital : IBOC versus DRM - por Roland Zurmely, PY4ZBZ (http://www.qsl.net/py4zbz/)
Fonte: Observatório do Direito à Comunicação
[04/07/08 Ministério e Anatel não se entendem sobre rádio digital - por Lucas Krauss

Este artigo técnico não está transcrito (mas vale conferir!):
[Mai 2007]   O sistema de rádio digital DRM (Digital Radio Mondiale)

02.
Acompanhamos o assunto "Rádio Digital" desde 2005, quando a Anatel autorizou os primeiros testes de rádio digital.

Não como engenheiro mas como cidadão, leitor e eleitor, permito-me opinar de modo bem informal:
O Brasil não está necessitado do Rádio Digital "pra ontem", como querem alguns elementos do governo e empresários.
E também não precisa de tecnologias de Rádio Digital "não estabilizadas" e em desenvolvimento no exterior.
Precisa, sim, que nossa competente Academia, com incentivos governamentais, faça um estudo sério sobre o assunto, com prazos razoáveis.
Quem sabe, neste processo, pode até surgir padrão brasileiro...

03.
A atuação do ministro Helio Costa, desde o início do processo, até dezembro de 2008, pode ser resumida neste trecho de um artigo do jornalista Ethevaldo Siqueira:
"Hélio Costa precisa convencer-se de que é ministro não da Radiodifusão, mas das Comunicações. Mais do que isso, que não lhe cabe defender um segmento, mas toda a sociedade brasileira. Não lhe cabe exercer nenhum papel de lobista ou de representante de um grupo de emissoras, contra o interesse de outras. Ou o interesse de uma associação contra o de outras. Cabe-lhe exercer seu mandato com o máximo de isenção, equilíbrio e independência. E, se possível, com o máximo de competência".

O ministro, que defendeu com unhas e dentes, descarada e escandalosamente (vejam os títulos dos "posts"!) o sistema americano IBOC, protagonizou uma "manobra" surpreendente ao praticamente abandonar o projeto do Rádio Digital no final de dezembro de 2008, quando criticou o sistema americano, em texto de próprio punho. A redação ambígua permitia a interpretação que também desistia da implantação imediata do Rádio Digital.
Mais tarde, no entanto, voltou à cena, para anunciar uma "consulta pública" patrocinada pelo Minicom, para "oficializar" a entrada do DRM na disputa.

A mídia repercutiu muito pouco a "desistência" do ministro que também foi muito pouco lembrada quando a "consulta" foi anunciada.

A consulta materializou-se como um "Aviso de Chamamento Público
nº 1/2009" publicado em 22 de maio de 2009 pelo Minicom, para realização de  "experimentos com sistemas de rádio digital nas diversas faixas de frequência das respectivas modalidades (OM, OT, OC e FM) do Serviço de Radiodifusão"

Em setembro, durante a vigência da "Aviso", "em entrevista ao programa Estação Mídia, da Rádio Senado, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, reconheceu a preferência pelo modelo europeu, por ser o único que contempla transmissões nas faixas de AM e FM e também de ondas curtas". (Telecomonline).

Ninguém acreditou muito, mas há poucos dias, Daniel Savieiro, todo-poderoso presidente da ABERT, também "parece" ter mudado de posição:
"O que aconteceu é que os testes que fizemos apontaram que mesmo o sistema americano Iboc, que está anos-luz à frente do DRM, também tem suas deficiências, em especial na transmissão AM", diz Daniel Slaviero. "Chegamos à conclusão de que o padrão americano ainda precisa de mais investimento, robustez e garantia de cobertura."
[Abin]

04.
Não dá para ter pena dos radiodifusores que investiram na compra e nos "testes": todos sabiam que não havia decisão do padrão e optaram pelo risco.
Também não dá pra acreditar que foi uma atitude altruísta para ajudar a decisão governamental; se a decisão fosse favorável ao IBOC, já sairiam na dianteira da concorrência.

Ms o Sr. Slavieiro já resolveu.
"Seja qual for a tecnologia escolhida, Slaviero, da Abert, diz que as emissoras que se adiantaram não têm razões para se preocupar. "Eles podem ficar tranquilos, nenhuma emissora terá prejuízo."
[Abin]
Ganhou na mega-sena, Sr. Slavieiro, em jogo duplo com Helio Costa? Ou vai sobrar para os contribuintes?

O Presidente Helio Costa reuniu-se com seus Ministros - Ops! - digo,  o ministro empresário Helio Costa reuniu-se com empresários radiodifusores e pode-se especular que já está tudo combinado, sem a participação da sociedade e do Congresso.
IBOC? DRM? IBOC/DRM?

No próximo dia 17 de janeiro encerra-se a prazo, já prorrogado, do tal Aviso.

05.
Lembro o que comentei em "post" anterior:
(...)
Este trecho de uma matéria do Valor Econômico é estarrecedor:

(...) Além de confrontar os sistemas Ibiquity (americano) e DRM (europeu), um dos principais objetivos será verificar se as emissoras nacionais estão dispostas a tolerar uma "falha" da nova tecnologia para entrar na era digital: tido como favorito e mais moderno que o europeu, o padrão americano ainda tem "áreas de sombra" em concentrações urbanas, devido ao elevado número de edifícios e construções, o que simplesmente impede que o sinal AM seja detectado. (...)
(...)  Após a realização de reuniões com os detentores dos sistemas e de testes por institutos especializados, dizer se vale a pena ou não tolerar as falhas detectadas para adotar logo a rádio digital depende de questões como isenção de royalties em toda a cadeia e, sobretudo, da demonstração de como serão feitas as inovações necessárias para corrigir os problemas atuais. (...) [Governo abrirá consulta sobre padrão de rádio digital]
 
O objetivo é verificar se as emissoras nacionais estão dispostas a tolerar uma "falha" da nova tecnologia?
E os usuários? 
Isto é uma total inversão do papel do ministro! 
Pelo visto, Helio Costa comunga no altar da Zélia Cardoso de Melo: "O povo é apenas um detalhes".
O ministro, por suas palavras e ações, parece que também é usuário da lixa.
(...)

06.
Comentarios?

Boa leitura!
Ótimo 2010!!!
Um abraço cordial
Helio Rosa


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Fonte: Circuito - Blog de Cristina de Luca
[29/12/09]   Padrão para rádio digital sai até fevereiro - por Cristina de Luca

Cristina De Luca: Jornalista, Diretora de Conteúdo do Grupo Now!Digital, é formada em Comunicação com Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro e ganhadora do Prêmio Comunique-se de 2005 na categoria Tecnologia.

Palavra do Ministério das Comunicações. "A decisão será tomada pelo governo ouvindo os radiodifusores", garantiu o ministro Hélio Costa a sete empresários e dirigentes de associações de radiodifusão, em encontro na sede do Ministério das Comunicações, ontem à tarde.

Junto com técnicos da Secretaria de Comunicação Eletrônica, o ministro explicou o atual estágio dos testes e avaliações dos padrões de rádio digital, tanto do sistema americano IBOC (In-Band-On-Chanel) quanto o europeu DRM (Digital Radio Mondiale). E informou a todos que novos testes deverão ser realizados nas próximas semanas, com transmissões digitais da Rádio Cultura e da CBN de São Paulo, além de emissoras de Belo Horizonte. O objetivo é verificar o funcionamento da recepção e transmissão do DRM em ondas médias e FM. Durante a reunião, empresários presentes tiveram a oportunidade de ouvir transmissões em ondas curtas feitas pela Rádio Nacional, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), desde a Guiana Francesa, distante 2,8 mil quilômetros de Brasília.

No início de novembro, o Minicom prorrogou por 60 dias a realização de testes com sistemas de rádio digital. A intenção é concluir os testes até 17 de janeiro de 2010.

Exatamente um ano atrás, depois de ter defendido abertamente durante quase três anos e meio o padrão de rádio digital norte-americano (Iboc ou HD), apresentando-o como o único aceitável para o Brasil, preferido também pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), o ministro Hélio Costa desmentiu em artigo publicado no jornal Estado de Minas (edição de 21/12/08) que o Minicom tivesse proposto qualquer parceria com a empresa americana IBiquity, detentora do padrão.

O que o ministério sugeriu foi que as indústrias brasileiras de eletroeletrônicos procurassem os detentores das patentes dos sistemas norte-americano e europeus para discutir a transferência de tecnologia e os direitos de uso, especialmente do IBOC estadunidense, um sistema proprietário e com várias ferramentas exclusivas que demandam pagamento de royalties. Os mais recentes testes do rádio digital, realizados na cidade de São Paulo pela Universidade Mackenzie, concluíram, em julho último, que o IBOC, em ondas médias, apresenta sérios problemas de propagação, com áreas de sombra maiores do que as que são observadas no sistema analógico. O sistema europeu, DRM, por sua vez, só agora anuncia que está trabalhando com a possibilidade de transmissão em FM, no mesmo canal. Ainda ao contrário do que diz a articulista, o Ministério das Comunicações não defendeu, e nem defende, a adoção de qualquer dos sistemas estudados enquanto os técnicos do Minicom e da Anatel não estiverem satisfeitos com os testes que estão sendo realizados no Brasil e forem criteriosamente avaliadas as experiências com o rádio digital nos EUA e na Europa. Certamente, precisamos modernizar o rádio, mas só podemos fazer isso quando os sistemas estiverem funcionando a contento, seguindo as normas técnicas exigidas no exterior e no Brasil

Foi o que afirmou o ministro, na época. Desde então, vários testes vêm sendo feitos também com o padrão DRM (europeu)

A torcida, agora, é para que a escolha seja a melhor para o país. Sabe-se que a Abert continua empenhada na defesa do padrão IBOC.

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Fonte: PY4ZBZ (http://www.qsl.net/py4zbz/)
Rádio digital : IBOC versus DRM - por Roland Zurmely, PY4ZBZ

Não é preciso explicar, eu só queria entender...

Depois de o Brasil ter escolhido o padrão para o sistema de TV digital terrestre, chega a vez de escolher o padrão para radiodifusão digital terrestre, que agora está em fase de testes. As últimas notícias na mídia reportam, entre outras coisas, as duas informações reproduzidas a seguir :
(Fonte: http://sbtvd.cpqd.com.br/ )

Noticia 1 : Telecom Urgente

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) solicitou ontem, 20, ao Ministério das Comunicações autorização para que emissoras de rádio possam utilizar, antes mesmo da escolha oficial do padrão, o sistema americano IBOC (in-band on-channel). O pedido foi feito pessoalmente ao ministro Hélio Costa pelo novo presidente da entidade, Daniel Pimentel Slaviero. Segundo ele, a medida não atropelaria o processo de escolha do governo, que analisa também o padrão europeu, o DRM (Digital Radio Mondiale). Caso o governo viesse a optar pelo padrão europeu, as emissoras fariam a migração normalmente. Hoje 15 emissoras já fazem testes do IBOC com autorização da Anatel. Com o DRM, há apenas duas experiências em curso.

Noticia 2: Intervozes

A hora do rádio digital?
Não bastasse ter sido atendida em todas as suas reivindicações centrais em relação à TV digital, a Abert agora parte para a ofensiva em relação ao rádio.
Pedem os radiodifusores que o Minicom oficialize o padrão americano IBOC (In-band on-channel) nas transmissões digitais de rádio.

Como se trata de um assunto relativamente novo, vejamos as diferenças básicas entre IBOC e DRM.

O DRM (Digital Radio Mondiale) não é apenas um sistema Europeu, especificado pela ETSI (European Telecommunications Standards Institute) , mas, como o nome já diz, é um sistema mundial, normalizado pela ITU (International Telecommunication Union).

O IBOC é um padrão americano, que permite transmitir sinais digitais junto com os sinais atuais analógicos de AM (Amplitude Modulada). Com isso, o ouvinte que tem um rádio AM comum continua ouvindo o sinal AM normalmente, e quem tem um receptor digital, vai ouvir a transmissão digital em alta fidelidade, sintonizando a mesma freqüência da emissora AM. Na verdade, o sinal digital é situado em duas bandas de cada lado das bandas laterais do sinal AM, para não interferir nelas, mas que acaba causando inevitáveis interferências em outras emissoras de AM nos canais adjacentes.

O IBOC é um sistema híbrido e foi criado para ser usado na fase de transição do atual sistema AM para o sistema digital, e permitir que o ouvinte de rádio digital possa sintonizar as mesmas freqüências que costumava sintonizar em AM.

Eu acho isso no mínimo muito estranho !

Vou dar um exemplo que pode até ser engraçado, mas ilustra bem o caso. Quando foi lançado o CD (Compact Disk), ele não foi feito de forma híbrida, como o IBOC. Ou seja, não tinha um lado do CD que pudesse ser tocado em antigos toca-discos com agulha, e o outro lado para ser lido de forma digital num leitor de CD !

Não faz muito sentido essa passagem híbrida de analógico para digital.

E nem a desculpa, de que o usuário não ter que memorizar novas freqüências de rádios digitais, não faz sentido, pois em rádio digital, não se sintoniza uma emissora pela sua freqüência, mas pelo seu nome. O rádio digital não tem mais aquele antigo “dial” ou um indicador de freqüência, mas apresenta numa telinha (tipo cristal liquido), os nomes das emissoras que ele está captando, bastando ao ouvinte selecionar o nome correspondente, sem se preocupar com freqüência. O rádio digital procura automaticamente em todo o espectro de ondas longas, médias e curtas, em qual freqüência a emissora desejada é melhor recebida, e ainda muda de freqüência automaticamente, sem o usuário perceber, em caso de qualquer problema de propagação (sistema AFS, Alternative Frequency Signalling). Portanto, velhos hábitos adquiridos na era do AM não devem e nem podem ser mantidos num sistema digital, muito mais eficiente e mais simples para o usuário. Em rádio digital, não é preciso perder tempo ouvindo uma determinada emissora, até o locutor resolver informar o seu prefixo ou nome, para se saber se é realmente essa a emissora que queremos ouvir, pois em rádio digital, essa informação, entre muitas outras, como a programação (EPG Electronic Programme Guide), pequenos textos com noticias e imagens fixas (MM multimídia), são transmitidas continuamente e simultaneamente com a programação de áudio.

Outra desculpa dos defensores do IBOC, é que segundo eles, o DRM não permite transmissão simultânea (híbrida) de AM junto com digital na mesma freqüência. Será que só fingem não saber que em DRM, esse modo existe e é chamado de ”Simulcast” ?

Outro ponto negativo, além dos sérios problemas de interferência pelos quais passa o IBOC nos Estados Unidos (único pais a usá-lo), é que ele é um sistema fechado, proprietário, que ninguém pode modificar ou melhorar, a não ser os seus donos (no caso a iBiquity Digital Corporation), que evidentemente cobram “royalties” que o Brasil terá que pagar.

Já o DRM é um sistema aberto, de uso livre, com especificações técnicas claras e disponíveis para todo mundo. Na Europa e em muitos países de outros continentes, já existem muitas emissoras DRM, e que optaram não usar sistema híbrido, mas passar diretamente para o sistema exclusivamente digital, em novas freqüências. Nisso, o IBOC (ou o Simulcast DRM) só leva a vantagem de não necessitar de novas freqüências e as respectivas licenças, mas acontece que cada emissora IBOC vai ocupar pelo menos o dobro da banda atual AM, causando interferências em outras emissoras já licenciadas, principalmente à noite, em ondas médias. E para DRM, existem programas “freeware” que permitem demodular o sinal digital DRM com um conversor ligado à placa de som do computador.

Então porque, no Brasil, pedem os radiodifusores que o Minicom oficialize o padrão americano IBOC (In-band on-channel) nas transmissões digitais de rádio ?

Porque pagar por um sistema problemático, se tem outro que funciona bem e é livre ?

Como diria o filósofo Barão de Itararé: “Há alguma coisa no ar e não são os aviões de carreira...”

Veja mais sobre DRM no site: http://www.qsl.net/py4zbz/

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Fonte: Observatório do Direito à Comunicação
[04/07/08]   Ministério e Anatel não se entendem sobre rádio digital - por Lucas Krauss

O Ministério das Comunicações e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não vêm se entendendo muito bem sobre a definição do padrão de rádio digital a ser adotado no Brasil. O ministro Hélio Costa afirma que a decisão sobre a tecnologia a ser adotada ocorrerá ainda no segundo semestre a partir dos testes feitos por empresas privadas e avalizados pelo órgão regulador. Só que o ministro, ao que tudo indica, esqueceu de combinar com a agência reguladora. A Anatel informa que não tem acompanhado tais testes e ainda espera receber informações do ministério.

Em 24 de junho, Costa declarou que até setembro deverá enviar ao presidente Lula o parecer que definirá a escolha do Executivo -- provavelmente o norte-americano HD Radio IBOC para as faixas AM e FM e o padrão europeu DRM (sigla para Digital Radio Mondale) para as transmissões em Ondas Curtas. Em entrevista ao programa “Bom dia, ministro”, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Costa disse ainda que testes recentes feitos pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) teriam sido acompanhados por “diversas entidades”, incluindo o Instituto Mackenzie, de São Paulo, além do Ministério das Comunicações e da Anatel.

Na tentativa de entrevistar o engenheiro Ara Minassian, superintendente de Comunicação de Massa da Anatel, o Observatório do Direito à Comunicação obteve a seguinte declaração da assessoria de imprensa: “O superintendente não vai falar porque não acompanhou esses testes. Ninguém aqui acompanhou esses testes. O relatório da Abert e do Mackenzie será entregue para nós e, então, faremos o nosso para depois encaminharmos ao Ministério.”

Desde o final do ano passado, o entrosamento entre governo e Anatel não é dos melhores quando a questão da digitalização do rádio vem à tona. Pressionado pelos radiodifusores comerciais, Hélio Costa vem tentando há tempos convencer a agência de que o padrão Iboc é a melhor alternativa para o país. Os engenheiros da Anatel, no entanto, protelam sua avaliação. Eles pedem mais tempo para o desenvolvimento dos testes com as cerca de 20 emissoras comerciais que pediram autorização governamental para realizá-los.

Durante audiência pública na Câmara dos Deputados, em setembro do ano passado, Minassian disse que os resultados até então apresentados à agência não garantiriam tecnicamente a implementação do padrão Iboc. Além de reconhecer as boas resoluções que o padrão DRM obteve em outros países, disse ainda que novas pesquisas poderiam ser pedidas à universidades e centros de pesquisa. Uma das preocupações do engenheiro à época dizia respeito ao alcance do sinal digital.

“Ninguém conseguiu responder se uma rádio analógica, hoje com alcance de 70 quilômetros, cobrirá com o sinal digital essa mesma distância ou se parte dos ouvintes ficará sem o sinal”, afirmou. A preocupação do engenheiro mantêm-se até hoje, já que passados 9 meses o problema não foi solucionado. “No analógico, o normal é atingir até 50 quilômetros de cobertura. No digital, atingimos uns 20 quilômetros. Num raio de 4 a 5 quilômetros vai bem, mas depois começa a esbarrar com outras”, diz o engenheiro Alfredo Marcouizos, do grupo CBS de São Paulo.

Sem critérios públicos

É bom lembrar que em março de 2007 a Anatel abriu consulta pública para definir a metodologia a ser utilizada nos testes feitos com o Iboc-AM. Além dos resultados não terem sido divulgados até hoje, sequer foram abertas consultas públicas para a metodologia de testes com FM e Ondas Curtas. “Não há parâmetros públicos. As consultas públicas da Anatel sinalizaram uma política de Estado para se ter regras mínimas para a realização de experimentos. Mas o que o Ministério faz? Terceiriza os testes para a Abert, diz Diogo Moyses, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social. “Ou seja, o Estado brasileiro não vai ter opinião. Se a Abert disser que tudo bem, então o Iboc será o escolhido.”

Se ainda não há plena aceitação dos radiodifusores comerciais com o padrão norte-americano, as poucas experiências feitas com o padrão DRM no Brasil também ainda não foram concluídas. Os testes, iniciados ano passado pela Universidade de Brasília (UnB), sob coordenação do professor Lúcio Martins, foram praticamente abandonados. “Foram feitos testes em Ondas Curtas e Médias (AM), sendo que os de Ondas Médias foram interrompidos no meio do processo. Precisaríamos de mais tempo e seriam necessários mais testes”, diz Martins.

Para ele, o argumento do Ministério das Comunicações e da Abert de que o Iboc é o único sistema que opera em FM, já não tem mais sustentação. “O consórcio DRM elaborou um sistema para o FM, que transmite analógico e digital juntos, que não está sendo considerado. Ele foi testado em alguns países da Europa e tudo indica que seja um sistema mais flexível que o americano”, diz.

Para este ano, porém, o professor não acredita que os testes na UnB serão reiniciados. “Não há vontade por parte do Ministério das Comunicações. Ano passado, a UnB tomou a iniciativa e entrou em contato com o consórcio europeu para a realização dos testes. Agora, não temos mais recursos e a Universidade não tomará mais a iniciativa”, completa.

Testes sem isenção

Já que ainda há testes de emissoras comerciais com o Iboc que não foram entregues à Anatel e que os experimentos com o padrão DRM foram desconsiderados pelo mnistério, a solução emergencial apresentada por Hélio Costa e Abert foi recorrer ao Instituto Mackenzie, de São Paulo. De março a junho deste ano, foram realizados testes de campo nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto e Belo Horizonte, comandados por Ronald Barbosa, engenheiro de telecomunicações da Abert, e acompanhados pelo Laboratório de TV e Rádio Digital do Mackenzie.

Os testes feitos com o padrão Iboc em AM e FM já foram concluídos e estão em fase de finalização dos relatórios. Segundo matéria publicada no site da Abert no dia 30 de junho, os resultados finais serão entregues nas próximas semanas.

Se a intenção da entidade é clara, as dúvidas em relação aos testes ficam por conta da participação do Instituto Mackenzie. “O professor que vem conduzindo os trabalhos lá é uma pessoa séria, mas talvez ele esteja sendo muito cauteloso. Ele não vai querer bater de frente com os interesses da Ibiquity (empresa proprietária do Iboc)”, diz o colunista do jornal O Estado de São Paulo, Ethevaldo Siqueira. “Sabe-se que ele vai registrar os problemas, mas as conclusões serão redigidas pela Abert e aí não há isenção.”

Para Diogo Moyses, do Intervozes, a Abert pode elaborar quaisquer tipos de pareceres, sejam eles jurídicos, técnicos, e enviar ao ministério. “O que não pode é o Estado brasileiro aceitar tais relatórios como definidores para a decisão pelo padrão. A Abert é um grupo de interesse, ela não representa o interesse público”, diz.

Para a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), uma decisão arbitrária, se concretizada, deverá resultar em ações do Ministério Público Federal. “Essa pressa sem necessidade vai permitir que se consigam decisões judiciais para barrar isso. Vai atingir a questão do direito do consumidor, do livre mercado. É ilegal”, diz Joaquim Carlos Carvalho, ex-assessor jurídico da entidade. “O padrão Iboc não atende os interesses da sociedade brasileira”, avalia.

Problemas para as pequenas emissoras

Carvalho refere-se ao fato de que a tecnologia desenvolvida pela Ibiquity para o Iboc “seqüestra” espectro. Para transmitir uma programação em FM hoje, o sinal analógico ocupa uma faixa de 200 khz. A transmissão no padrão Ibco deverá ocupar uma faixa de 400khz. “Haverá desperdício de banda com o Iboc”, afirma Lúcio Martins.

Para o professor da UnB, o FM desenvolvido pelo padrão europeu – que, em princípio, ocuparia uma faixa de 100 khz para cada programação – deve ser melhor estudado justamente para evitar essa maior concentração do espectro e a conseqüente eliminação da possibilidade de entrada de novos atores. “A questão é que no Brasil a decisão política poderá se sobrepor aos fatores técnicos. Se isso acontecer, boa parte da população sairá prejudicada, inclusive boa parte dos radiodifusores”, analisa.

Carvalho compartilha da mesma opinião. Para ele, a defesa do padrão americano não está sendo feita pela entidade Abert, mas sim por um grupo dominante na associação. “Acredito que os pequenos e médios radiodifusores, que são maioria na Abert, não estejam acompanhando essa discussão. O grupo que está no poder não deve estar repassando informações do que realmente pode acontecer com a maioria, que não vai ter dinheiro para a transição”, diz.

A título de exemplo, a tese de mestrado “Implantação do Rádio Digital no Brasil: Testes, Impacto e Perspectivas”, da jornalista Patrícia Rangel, defendida na Faculdade Cásper Líbero em 2007, mostra bem o tamanho do obstáculo. O investimento total realizado pela Rádio CBN, de São Paulo, para a transição, chegou a US$ 150 mil, o equivalente a cerca de R$ 240 mil. Detalhe: nem mesmo a emissora comercial conseguiu financiamento e teve que arcar todas as despesas com recursos próprios.

Dúvidas sobre a demanda

Além da preocupação com o preço dos transmissores, há ainda o fator produção em escala. Se a tecnologia Iboc for mesmo a escolhida, o preço dos aparelhos receptores poderá chegar a R$ 400,00 e, se não houver interesse na compra, o preço não diminuirá com o passar do tempo. “O usuário ainda não vê nenhuma vantagem no digital. Eu entrevistei alguns ouvintes e eles não estão interessados em comprar um novo rádio digital”, diz Ethevaldo Siqueira.

Para demonstrar a dificuldade que será a produção em grande escala dos aparelhos digitais, Siqueira apresenta os números nos EUA, pátria mãe do IBOC: “Das 15 mil emissoras que atuam lá, 90% não aderiram ao padrão. Apenas 2% dos consumidores compraram o HD Radio. A Ibiquity não consegue massificar a produção”, diz.

Mesmo que o governo brasileiro ofereça subsídios aos radiodifusores ou às empresas fabricantes de receptores no Brasil, os problemas técnicos referentes ao padrão persistem (saiba mais ) e dificilmente serão solucionados no curto prazo.

Mas perguntas anteriores precisam ser feitas, segundo Diogo Moyses, do Intervozes. “Na TV Digital você tinha um processo de digitalização mundial acontecendo. No rádio não há nem isso”, avalia Moyses, lembrando ainda que em nenhum país a digitalização do rádio avançou simplesmente porque não há demanda. “As próprias pesquisas andam a passo de tartaruga porque não há demanda, não há justificativa para uma migração para o rádio digital que mantenha o mesmo modelo que nós temos hoje. Qual o interesse público na digitalização do rádio hoje no Brasil?”, pergunta.


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