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da
ComUnidade
WirelessBrasil
Maio 2010 Índice Geral do BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão Celld-group e WirelessBR. Participe!
08/05/10
• Telebrás, Eletronet e PNBL (261) - Matérias contendo críticas ao suposto "Plano"
Olá, ComUnidade
WirelessBRASIL!
01.
Logo após o encerramento da Confecon, numa madrugada de insônia, liguei a TV
e me deparei com o jornalista Alexandre Garcia (Globo News) debatendo o tema com
dois convidados: Daniel Slaviero, da ABERT e uma senhora (não anotei o nome),
representante, senão me engano, da FNDC.
O clima era de muita tensão pois os entrevistados estavam em posições
radicalmente opostas.
O que me chamou a atenção foi a extrema educação e cortesia: Garcia colocava um
tema ou pergunta e cada um respondia do seu modo, sem agressões ou farpas, mas
as réplicas e tréplicas sempre começavam com incisivo "não concordo". Ao invés
de rebater cada ponto, o que certamente levaria à uma discussão acalorada,
cada um fazia uma pequena exposição esclarecendo seu ponto de vista.
Creio que o telespectador interessado e atento conseguiu formar sua opinião...
apesar do horário... :-)
Quem sabe... em nossos debates, poderemos adotar prática semelhante... :-)
02.
Ainda não veio á luz o texto do PNBL mas, como vimos no post anterior
(minuta, painéis ppt e vídeos) já foram divulgadas as ditas "premissas".
Assim, temos algo de mais concreto para nossos debates e análises técnicas e de
mercado.
03.
Quero convidar a todos que participaram das discussões até agora, como
debatedores e ouvintes, para sentirem-se, sem modéstia, como corresponsáveis
pela enorme amplitude que atingiu a repercussão do tema, na mídia e na
blogosfera.
A favor ou contra, precisamos continuar exercitando nosso espírito de crítica
construtiva para aperfeiçoamento deste processo.
Somos dois enormes Grupos de Debates e cada membro precisa estimular os demais a
trazerem sua ideias e visões para nossos fóruns, e nunca constranger e inibir
participações.
04.
Os sites e portais noticiosos estão repletos de matérias idênticas,
aparentemente as famosas "pautas".
Estou tentando selecionar algumas matérias contendo críticas ao PNBL,
justamente para estimular os debates.
Transcrições:
Blog do jornalista
Orlando Barrozo
[07/01/10] Me dá o
meu fundo aí! - Orlando Barrozo
Fonte: Teletime
[07/05/10]
Analistas apontam dúvidas sobre entrada da Telebrás no mercado; confira as
principais - por Samuel Possebon
Fonte: Agência Brasil
[08/05/10]
Participação da Telebrás no PNBL preocupa Comitê de Democratização da
Informática - por Pedro Peduzzi, repórter da Agência Brasil
Fonte: Estadão
[08/05/10]
Plano depende de
caixa da Telebrás - por Renato Cruz
Fonte: Estadão - Blog de Ethevaldo Siqueira
[07/08/10]
Santanna é o homem
forte - por Ethevaldo Siqueira
Fonte: Website Opinião Nacional
[07/05/10]
Da volta da Telebrás ao apoio ao exportador, governo rima ambição com encenação
e limitação - por Antonio Machado
Comentários?
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio
Rosa
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Blog do jornalista
Orlando Barrozo
[07/01/10] Me dá o meu
fundo aí! - por Orlando Barrozo
O governo encontrou uma excelente maneira de pressionar as operadoras
telefônicas a aceitarem as novas regras da banda larga. Bastou consultar o
último relatório da Anatel sobre a gestão dos fundos de telecomunicações.
Com sua conhecida agilidade, a agência “descobriu”, só agora, que grande
parte das operadoras simplesmente NÃO RECOLHE o que deveria ao Fust (Fundo
de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) e ao Funttel (Fundo
para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações). Detalhe: os dados
que acabam de ser divulgados referem-se aos anos de 2005 e 2006, segundo o
site Tela Viva.
É isso mesmo: somente em abril de 2010 – isto é, com quatro anos de atraso –
a Anatel finalizou a análise dos recolhimentos aos tais fundos, que são
obrigatórios, no período. E os números são impressionantes: R$ 1,467 bilhão
a menos no Fust e R$ 1,266 a menos no Funttel, naqueles dois anos. Em seu
relatório, a agência promete que este ano entrega os dados referentes a
2007, 2008 e 2009. E não explica como deixou esse dinheiro vazar, já que é o
órgão encarregado da fiscalização.
Talvez no próximo governo surja uma explicação. Por ora, o governo ganha
mais uma arma em sua luta contra as operadoras. Nesta sexta-feira, os
presidente das teles foram a Brasilia ouvir de vários ministros os detalhes
sobre o papel da Telebrás no Plano Nacional de Banda Larga, cujo decreto o
presidente Lula deve assinar nos próximos dias. E saíram elogiando o
projeto, quando todo mundo sabe que as operadoras não querem nem ouvir falar
em Telebrás.
Por que será?
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Fonte: Teletime
[07/05/10]
Analistas apontam dúvidas sobre entrada da Telebrás no mercado; confira as
principais - por Samuel Possebon
Após o anúncio do Plano Nacional de Banda Larga, este noticiário conversou
com analistas e especialistas no mercado de telecomunicações sem ligações
diretas com as empresas para colher opiniões. O que se ouviu foram mais
dúvidas do que afirmações contundentes. Embora a maior parte dos
especialistas concordem que o plano era absolutamente necessário e que o
momento de anunciá-lo esteja em linha com o que outros países o façam,
muitas questões foram colocadas. Confira os principais questionamentos:
• Uma das principais dúvidas diz respeito a qual será o papel regulador da
Anatel diante de um player estatal como a Telebrás. O problema, dizem os
analistas, é que a agência terá que lidar com a situação de ter que regular
uma empresa que é, na verdade, o veículo para a implantação de uma política
pública. Assim, colocar qualquer embaraço à atuação da Anatel seria
atrapalhar uma política. Mas não submetê-las às mesmas regras dos demais
agentes de mercado seria ainda mais absurdo. Em várias ocasiões foi lembrado
o papel que a Anatel teve em exigir do Serpro uma licença para a prestação
do serviço de dados, mas lembram também como a Anatel foi errática e confusa
nesse caso.
• Ainda sobre a relação Anatel/Telebrás, há pouco mais de uma centena de
funcionários da tele hoje atuando na Anatel. Não está claro em que condições
estes técnicos retornarão à Estatal, e há quem questione se seria razoável
que uma empresa regulada tenha uma relação tão íntima com o órgão regulador.
Não que não haja esse tipo de conflito em empresas privadas. O ponto é que
serão muitos "telebrinos" (como são chamados os funcionários da Telebrás)
deixando a Anatel e indo para a estatal ao mesmo tempo.
• Há uma dúvida corrente em relação ao tipo de licença que a Telebrás vai
operar. Alguns dizem que o mais provável é que a nova empresa venha a
utilizar o Serviço Limitado Privado, criado pela Anatel para que prefeituras
e governos pudessem oferecer acesso de banda larga gratuitamente. O problema
é que esse serviço é necessariamente gratuito. Outra opção seria o SCM, mas
nesse caso há obrigações de interconexão e uma regulamentação específica, e
não se sabe se o modelo imaginado para a Telebrás esteja pronto para estas
regras exigidas do setor privado.
• São muitos os questionamentos sobre o modelo de custos utilizado pelo
governo para definir o preço final. Pequenos provedores alegam que a
prestação do serviço a R$ 35 dificilmente será superavitária. O governo já
sinalizou a eles que isso seria compensado pela prestação de serviços mais
caros utilizando a infraestrutura subsidiada da Telebrás, mas os pequenos
provedores temem que o produto a R$ 35 iniba o desenvolvimento de produtos
mais caros e, portanto, mais lucrativos. Outro problema é que os pequenos
provedores mostram apreensão em relação aos compromissos exigidos pelo
governo, como o atendimento de locais de interesse público gratuitamente,
como foi feito com as concessionárias no caso do Banda Larga nas Escolas.
• Uma das bases do Plano Nacional de Banda Larga é a isenção tributária para
equipamentos nacionais. Hoje, a maior parte dos modems é importada, e poucos
são os fabricantes que estariam prontos a montar linhas de produção no país
em curto prazo. O questionamento é se essa isenção tributária terá algum
efeito prático no médio prazo.
• Durante as negociações do PNBL, a Casa Civil pediu às empresas de energia
que suspendessem as negociações de capacidade de redes de telecomunicações,
o que gerou uma grande demanda reprimida de pequenos e grandes provedores.
Não se sabe ainda se essas elétricas serão liberadas a negociar agora ou se
vão esperar a Telebrás assumir essa negociação, o que pode levar tempo.
• Ainda sobre as redes das empresas de energia e da Petrobrás que serão
geridas pela Petrobras, há dúvidas entre executivos das empresas de energia
sobre quais serão as condições econômicas dos acordos com a Telebrás. Isso
porque, pelo modelo do setor elétrico, a exploração de capacidade de
telecomunicações pelas elétricas foi autorizada desde que isso se revertesse
em redução tarifária na conta de energia. O contrato com a Telebrás prevê a
mesma (ou alguma) remuneração? E no caso das empresas abertas ou listas em
bolsa, como a Petrobras, como será justificado esse contrato junto aos
minoritários?
• Nas licitações das faixas de frequência que o governo pretende pedir na
lista de 20 tarefas a serem cumpridas pela Anatel, será dado algum
tratamento privilegiado apenas aos parceiros da Telebrás ou todas as
empresas terão condições isonômicas de disputar as faixas? Outra dúvida é se
essas licitações terão que aguardar a Telebrás se estruturar e fechar os
primeiros contratos para acontecer ou serão liberadas mais rapidamente.
• Analistas de mercado são unânimes ao afirmar que o total de pontos de
troca de tráfego das redes a serem geridas pela Telebrás são insuficientes.
Questiona-se quantos e onde serão esses pontos de troca de tráfego.
• Reservadamente, são raros os analistas que digam ter segurança sobre a
natureza do backhaul colocado pela Anatel como meta no PGMU. Mas o governo
deu indícios de que a maior parte das obrigações a serem colocadas para as
concessionárias estará justamente na revisão contratual do PGMU 3. A dúvida
é se o governo esperará uma manifestação da Justiça sobre o backhaul (o que
inclui a perícia da rede e a definição dos bens reversíveis) ou se essas
metas serão colocadas mesmo com essa confusão jurídico/conceitual existente.
• Outra dúvida frequente é sobre a necessidade de as concessionárias de
telecomunicações continuarem obrigadas a cumprir metas de universalização de
banda larga uma vez que o estado chamou para si essa responsabilidade. Nesse
caso, há quem pondere que as concessionárias deveriam ter, então, acesso ao
backbone pública como forma de cumprirem qualquer nova meta que venha a ser
criada.
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Fonte: Agência Brasil
[08/05/10]
Participação da Telebras no PNBL preocupa Comitê de Democratização da
Informática - por Pedro Peduzzi, repórter da Agência Brasil
Brasília – O Comitê de Democratização da Informática (CDI) avalia com
preocupação a presença da Telebras como gestora do Plano Nacional de Banda
Larga (PNBL). Para o diretor executivo da organização não governamental
(ONG), Rodrigo Baggio, “traz preocupações a estratégia de ressuscitar a
Telebras”.
“Recebo o plano com alegria. Mas também com preocupação, porque precisamos
implementar a eficiência e a transparência na gestão do uso dos recursos
financeiros. Principalmente por envolver uma empresa estatal”, disse.
O CDI é uma ONG que, segundo o seu diretor executivo, tem o objetivo de
promover as ações de inclusão digital em comunidades que não têm acesso à
informática.
Baggio, que participou do grupo que discutiu e apresentou sugestões ao PNBL,
defende que o governo adote a política de incentivos fiscais como estratégia
para a internet rápida chegar às regiões mais remotas.
“Há formas melhores do que o uso de uma estatal. Os incentivos fiscais
seriam uma alternativa [para despertar o interesse das operadoras nessas
localidades]. Outro problema são os altos impostos que incidem sobre a banda
larga”, avalia. “É um plano ambicioso, mas poderia ser mais eficiente”,
completou.
O diretor executivo do CDI também criticou a maneira como é administrado os
recursos do Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust). “Mais de
R$ 10 bilhões estão contingenciados há mais de dez anos. Esse dinheiro
poderia estar revolucionando o país, caso fosse aplicado na inclusão digital
e na implantação da banda larga em todos os municípios”, disse.
Na avaliação de Baggio, as lan houses (lojas de acesso à internet) é que
deveriam ter o “papel de protagonista” no PNBL. “Já existem mais de 109 mil
empreendimentos desse tipo no Brasil, e eles são usados como acesso à rede
mundial de computadores por 48% dos brasileiros. Nas regiões Norte e
Nordeste este percentual sobe para 69%, mostrando que as lan houses são um
tipo de negócio comunitário que se espalha fortemente pelo país, e que pode
ajudar a fazer com que a internet chegue nos municípios mais remotos”,
afirmou.
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Fonte: Estadão
[08/05/10]
Plano
depende de caixa da Telebrás - por Renato Cruz
Apesar de o governo ter anunciado R$ 13 bilhões para a banda larga, os
recursos deste ano são R$ 280 milhões da estatal
SÃO PAULO - Quem é contra a ampliação do acesso à internet? Difícil de
encontrar quem seja contra. Era de se esperar o mesmo em relação a um Plano
Nacional de Banda Larga. Mas não foi o que se viu na semana passada. As
medidas anunciadas pelo governo tiveram o poder de unir todas as operadoras
de telecomunicações contra um inimigo comum, o fantasma de uma estatal que
promete atropelar a legislação e acabar com as licitações para contratação
de serviços de comunicação de dados pelo governo federal.
Apesar de o plano se chamar ‘plano’, poucas medidas concretas foram
divulgadas durante o anúncio. Até agora, o único documento oficial da
proposta é um fato relevante enviado pela Telebrás à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM). O comunicado confirmou a estatal como gestora do plano de
banda larga, depois de anos de especulação sobre a sua volta, que fizeram
com que as ações ordinárias da companhia passassem de R$ 0,01 no fim de 2002
para R$ 2,00 na última sexta-feira.
Dois pontos assustaram as operadoras. O fato relevante informou que caberá à
Telebrás, entre outras coisas, "prestar serviço de conexão à internet em
banda larga para usuários finais, apenas e tão somente em localidades onde
inexista oferta adequada daqueles serviços". Parece razoável, se as pessoas
não atentarem para o detalhe de que "oferta adequada" pode ser um critério
bem subjetivo.
Mas o pior para elas está num trecho mais simples, que informa que a empresa
irá "implementar a rede privativa de comunicação da administração pública
federal". Isso significa, na visão de muitas operadoras, o fim das
licitações para contratação de serviços de telecomunicações. Um dos
argumentos usados para ressuscitar a Telebrás diz que a empresa foi criada
por uma lei de 1972, anterior à Lei das Licitações (8.666), e que, por causa
disso, não está submetida a ela.
Demora
A ideia de se criar um Plano Nacional de Banda Larga foi anunciada no ano
passado, mas seu anúncio sofreu adiamentos sucessivos. Com isso, a proposta
de volta da Telebrás ganhou força, porque não houve nenhuma previsão no
orçamento desse ano para o plano. A única saída para colocar a proposta na
rua foi recorrer aos R$ 280 milhões que se encontram parados no caixa da
Telebrás.
A pressa é justificada (pelo menos do ponto de vista eleitoral): seria
difícil para o governo chegar às eleições sem ter nada para falar sobre o
tema. O computador com acesso à internet é visto hoje pela população de
baixa renda como uma ferramenta de ascensão social. Os pais veem na banda
larga um instrumento para que seus filhos tenham uma vida melhor do que a
que têm hoje.
Apesar de ter sido anunciado um pacote de R$ 13 bilhões, essa bolada se
dilui num horizonte de cinco anos, sendo que o início do desembolso seria
feito, na realidade, em 2011. Ou seja, o Plano Nacional de Banda Larga é um
plano para o próximo governo.
De concreto, existe o anúncio da volta da estatal e R$ 280 milhões para
começar um projeto-piloto de banda larga (que o governo promete que estará
em 100 cidades ainda este ano). Caso o piloto se concretize, ninguém mais
poderá dizer que o governo não tem o que mostrar durante a campanha.
Mudança
A Telebrás nunca foi uma operadora. A lei que a criou, em 1972, definiu como
objetivo social "gerir a participação acionária do governo federal nas
empresas de serviços públicos de telecomunicações do País". Ela não foi
extinta, depois da privatização em 1998, por dois motivos principais: a
empresa teve que emprestar funcionários para a Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) e ficou com um grande passivo judicial,
principalmente trabalhista.
Além de questões práticas, como o caixa da empresa, a volta da Telebrás é
carregada de simbolismo. Ressuscitá-la é dizer que a privatização não deu
certo, que o modelo atual (que não foi mudado nos últimos sete anos), de
empresas privadas reguladas pela Anatel, não deu certo. E que é preciso
colocar outra coisa no lugar. O problema, na visão de alguns juristas, é
querer mudar por decreto o que foi definido em lei.
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Fonte: Estadão - Blog de Ethevaldo Siqueira
[07/08/10]
Santanna é o homem
forte - por Ethevaldo Siqueira
O Brasil precisa conhecer o novo homem forte do PT em Brasília. Seu nome:
Rogerio Santanna. Ele deixará o cargo de secretário de Logística e
Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento para ser presidente
da Telebrás. Gaúcho de 53 anos, engenheiro mecânico, ele foi desde 2003 o
maior defensor da reativação da velha estatal ao longo do governo Lula.
Apoiado por outro homem forte do segundo escalão, Cesar Alvarez, assessor de
Lula para inclusão digital, conseguiu nocautear o ex-ministro Hélio Costa e
esvaziar o próprio Ministério das Comunicações. O ex-ministro enviou um
projeto de Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) que foi literalmente
ridicularizado e engavetado pela dupla Santanna-Alvarez, só porque Hélio
Costa era contra a reativação da Telebrás.
Publicamente apoiado pelo presidente Lula, pelo ministro Paulo Bernardo, do
Planejamento, e pela ex-ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, Santanna
decidiu peitar todos os adversários de seu projeto político, dentro e fora
do governo. E os venceu. Internamente, não havia consenso, nem apoiado de
diversos ministros. Fora do governo, havia a proposta das Teles, como
alternativa à reativação da Telebrás.
Ao sentir-se muito mais forte, Santanna assumiu o comando da elaboração do
PNBL (sem jamais ter divulgado seu texto inicial ou a proposta oficial),
dando dezenas de entrevistas, nas quais o maior destaque era a defesa da
reativação da Telebrás, cuja presidência sempre almejou e acabou ganhando.
Torpedeado, o ex-ministro Hélio Costa – a quem caberia a função legal de
conduzir a política de telecomunicações e, em especial, a reativação da
Telebrás – ficou falando sozinho, sem coragem para reagir, até para não
criar mais problemas para sua coligação partidária em Minas Gerais.
Santanna é xenófobo e estatizante. E, como tal, considera que o maior
problema das operadoras de telecomunicações está no controle de seu capital
por espanhóis ou mexicanos. Nunca reconheceu que cabia ao governo Lula
assumir, desde 2003, o comando das grandes decisões sobre a banda larga,
dentro de um programa ambicioso de inclusão digital.
Perguntem a Santanna se a primeira providência que caberia ao governo
federal não seria a formulação de política pública que transformasse o
conceito legal de banda larga em serviço de caráter público, com metas de
universalização obrigatórias.
O governo nunca fez essa proposta nem negociou com as Teles a alteração de
seus contratos de concessão. Isso poderia ter sido feito tranquilamente
desde 2004. Mas se lhe perguntamos, Santanna não reconhece a omissão do
governo, que nunca fez sua lição de casa. Não admite que as agências
reguladoras foram politicamente esvaziadas ou entregues a pessoas menos
qualificadas.
Sem esse tipo de política pública, não há como reclamar das operadoras. Nem
tem sentido xingá-las ou ameaçar assustá-las com a ressurreição da Telebrás,
até porque vai levar pelo menos três anos para que a estatal reativada possa
fazer algum trabalho significativo. Os mais irônicos dizem a nova Telebrás
lembra a história da montanha que pariu um ratinho.
Santanna não gosta de reconhecer os fatos positivos do novo modelo
privatizado. Só vê os problemas, porque lhe interessa desmoralizar todo o
processo de privatização das telecomunicações e o novo modelo institucional.
Até a assinatura básica, apoiada nos contratos de concessão, é para ele um
absurdo, mesmo que o mundo inteiro a tenha adotado e validado. E diz que,
antes de fazer qualquer ligação, o assinante já deve R$ 40 ou 50. Por esse
raciocínio, a bandeirada do táxi também seria um absurdo. Ou o valor mínimo
da conta de água residencial. Ou a assinatura da TV a cabo, antes que
vejamos um único programa, ou quando saímos em férias.
Santanna hoje critica as “vendas casadas” dos pacotes triple-play, que
incluem linha telefônica, TV por assinatura e acesso de alta velocidade.
Imagine o que diria, por coerência, quando a velha Telebrás praticava a
maior venda casada de que temos notícia nas telecomunicações, e só nos dava
uma assinatura de linha telefônica se subscrevêssemos compulsoriamente o
equivalente de US$ 1.000 (ou, às vezes, 3.000) em ações da operadora ou da
holding.
Tudo que foi anunciado na semana passada – como, por exemplo, os 40 milhões
de domicílios com banda larga em 2014 – são frases típicas de campanha
eleitoral. De quem iremos cobrar metas tão ousadas (ou levianas)? Deste ou
do próximo governo?
Nesse cenário, o futuro de Santanna e da própria Telebrás depende
exclusivamente da vitória de Dilma Rousseff. Quanto ao PNBL não podemos
prever muita coisa, porque ele ainda não foi divulgado. Nem o decreto
presidencial que o oficializa.
A menos de cinco meses das eleições presidenciais, o maior risco para
Santanna é ver todas as suas vitórias serem consideradas “vitórias de Pirro”,
caso Dilma não seja eleita.
Mas a conta virá para todos nós, caro leitor – com o sucesso ou não da Nova
Telebrás.
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Fonte: Website Opinião Nacional
[07/05/10]
Da volta da Telebrás ao apoio ao exportador, governo rima ambição com
encenação e limitação - por Antonio Machado
Ambição é eleitoral. Ela leva à encenação porque ambas esbarram na limitação
do caixa para tanta prioridade - por Antonio Machado
O anúncio do programa de acesso à internet em banda larga através da
Telebrás, esqueleto da velha estatal de telefonia não enterrado por razões
legais, e o do pacote de apoio às exportações são rimas do momento político.
Ele combina ambição, encenação e limitação.
A ambição que move o presidente Lula é eleger a ex-ministra Dilma Rousseff
para sucedê-lo em 2011. Ele teve oito anos para implantar o que agora quer
fazer a toque de caixa. Faltaram-lhe as condições – políticas, financeiras,
agilidade gerencial, um pouco de cada.
A maior parte desses percalços não foi superada, ainda que exista na
sociedade demanda pelas iniciativas não realizadas, coisas como a expansão
da oferta de energia, a universalização da internet, os incentivos ao
exportador para compensar a perda de competitividade das exportações
resultante do real apreciado, do mercado doméstico aquecido e da economia
global ainda lambendo a ferida da recessão.
É quando se exercita a encenação. O governo anuncia um projeto de impacto
para tais demandas, com metas superlativas e a promessa de recursos fartos
para a sua realização. Mas no médio a longo prazo.
O aqui e agora, nos sete meses e pouco que restam ao governo, é modesto,
meio trailer do que poderá ser, dependendo do que sair da eleição. Qualquer
semelhança com os antigos currais eleitorais, em que o coronel seduzia o
eleitor com um pé de sapato e esperava a contagem dos votos para,
eventualmente, dar o outro, é implicância da oposição.
A ambição pressupõe a encenação porque ambas esbarram no final da rima:
limitação, hoje, de caixa e de prioridades.
Tome-se o exemplo do plano de banda larga da internet. Garantido, nele, só o
emprego de um dos principais entusiastas do modelo que Lula aprovou: o
secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento, Rogério Santanna, promovido a novo presidente da velha-nova
Telebrás.
A meta, diz ele, é elevar para 35 milhões em 2014 o número de domicílios com
internet, que hoje é de 13,5 milhões. Ou seja: até o fim do próximo governo,
que não se sabe qual será - se de Dilma, de José Serra ou de Marina Silva.
Com a administração atual já perto do fim, talvez fosse racional que o
programa da ex-ministra Dilma incorporasse a iniciativa, a expusesse ao
eleitor e aguardasse o resultado das urnas.
Mas Lula ai não seria o autor. Então, ficou assim: neste ano, garante-se o
renascimento da Telebrás para gerir a rede de fibra ótica estatal, criar o
fato consumado para 2011, manchetes e Lula dizer que fez.
Banda larga fininha
E o acesso universal em banda larga em todas as cidades? Depois se vê. Cesar
Alvarez, assessor de Lula e coordenador do programa, afirmou que primeiro
virá um projeto-piloto, cobrindo 100 cidades e entre elas 15 capitais.
Ao todo, a rede pública de fibra ótica é da ordem de 20 mil quilômetros,
parte sem condições operacionais. A rede das operadoras privadas passa de
200 mil.
Seria mais fácil fazer com elas, por meio de regulação e os incentivos
anunciados para despertar a Telebrás. Sem subsídios a banda larga popular
não funciona.
Mas para Santanna, da Telebrás, “o pequeno número de cidades em que há
concorrência na banda larga mostra que, sozinho, o mercado não irá resolver
esse problema”. Tal análise é parcial.
Larga é a tributação
A universalização do celular indica que regras adequadas garantem a oferta.
E regra, como sinônimo de regulação, não necessariamente tem a ver com
concorrência.
A distribuição de energia elétrica, um serviço bem mais essencial que a
internet, é operada em regime de monopólio privado, com oferta contínua e
modicidade tarifária.
Ela ainda é cara, mas eletricidade, como telefonia, é fácil cobrar, o que a
faz ser uma das vacas leiteiras do Fisco. Impostos explicam mais de 40% da
fatura do telefone, 65% da conta de luz.
E tem mais para a internet: tráfego crescente e conteúdos cada vez mais
ricos exigem upgrade frequente da rede e quem pague por isso. Estranho é o
Estado preocupar-se com a velocidade de download para games.
Troco ao exportador
Ainda assim, Santanna falou em reduzir em cerca de 70% o preço do acesso em
banda larga em relação à tarifa das operadoras. Combinou com a Receita
Federal, Fazendas estaduais e o Tesouro Nacional?
As injunções fiscais desinflaram a ambição do apoio às exportações. É o que
explica o silêncio do governo quanto à devolução de créditos tributários
acumulados pelo exportador, coisa de R$ 15 bilhões.
Se for para apoiá-los, que comece pelos atrasados. O governo só bancou
devolver 50% dos créditos futuros em 30 dias. A dívida está como a banda
larga: que outro maestro a faça tocar. Agora é ruído.
Do tempo das carroças
Programas ambiciosos na forma e ralos no conteúdo são típicos de fim de
governo. Por isso, a maioria os evita. Mas alguns não podem esperar, como o
apoio à exportação.
Melhor o plano desidratado que plano nenhum, o que foi ignorado pelos
exportadores que ameaçam ir à Justiça questionar partes do pacote, como a
omissão dos créditos atrasados e as restrições para dificultar o acesso aos
incentivos.
Foi o meio de racioná-los vis-à-vis o que o Tesouro aguenta. Fez-se igual no
caso da internet: a velocidade de conexão será de 512 kilobits/segundo no
plano mais barato.
Isso é banda larga puxada a mula. A diferença é que receita de exportação é
tema de segurança nacional. Já a internet transportada em carroça é só
vexame.
Postado por Jornalista - Antonio Carlos Ribeiro às 02:38
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