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Março 2010               Índice Geral do BLOCO

O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão  Celld-group e WirelessBR. Participe!


17/03/10

• "Março com 4G" (23) - "Espectro" (2)

de Helio Rosa <rosahelio@gmail.com>
para Celld-group@yahoogrupos.com.br, wirelessbr@yahoogrupos.com.br, Jana de Paula <jana@e-thesis.inf.br>
data 17 de março de 2010 08:57
assunto "Março com 4G" (23) - "Espectro" (2)

Olá, ComUnidade WirelessBRASIL!

01.
Prosseguimos com o tradicional evento virtual "Março com 4G", uma parceria informal entre a ComUnidade e o Portal e-Thesis.
O evento é um "esforço concentrado" que dura 31 dias e prossegue o ano todo com os boletins semanais "4G Etc" do e-Thesis.

02.
Continuamos o voo panorâmico sobre o tema "espectro de frequências", conferindo interessantes matérias já veiculadas em nossos fóruns mas ainda muito atuais,

Nas próximas mensagens vamos solicitar ajuda para atualizar a Cartilha do WiMAX do e-Thesis e "espectro" consta de vários tópicos.
Nem é preciso ressaltar a importância de um documento como a Cartilha, que foi publicada durante o "Evento de Março 2008" e está carente de atualização. :-)
O Sumário está transcrito no item 3 abaixo.

Transcrições de hoje:

Fonte: e-Thesis
[16/04/09]   Falta de espectro pode causar 'blackout' e congestionamento - por Jana de Paula

Fonte: e-Thesis
[16/04/09]   2,5 GHz: quem dá mais? - por Jana de Paula

Fonte: Teletime - "Revista Teletime"
[Fev 2009]  Ouro eletromagnético por Mariana Mazza e Samuel Possebon

03.
Cartilha Eletrônica do WiMAX

Sumário: 
01. Definição
02. Histórico
03. As diferentes normas
04. A família 802.16
05. Freqüências
    5a. Fixo e Móvel
    5b. Eficiência espectral
    5c. Freqüência de 5,8GHz
    5d. Os 700 MHz no WiMAX
06. Linha de Visada
07. As bandas
08. Os equipamentos
09. Preços e Custos
10. Estágio atual e previsões para implementação do WiMAX no mundo
11. O WiMAX móvel é melhor do que a 3G?
12. WiMAX será mais barato que 3G?
13. Qual é o melhor exemplo de desenvolvimento de WiMAX móvel?
14. Qual é a percepção atual do operador de WiMAX móvel?
15. Onde estão as melhores oportunidades para o WiMAX móvel?
16. Dados de Mercado
     16a. Dados de Mercado - Quarto trimestre 2007
17. Processo e Atribuição das Licenças no Brasil
18. Empresas que atuam em WiMAX no Brasil
19. Vendors de WiMAX com atuação no Brasil
     19a. Novos players e novos negócios
20. Operadoras
21. Faixa de 10,5 GHZ
22. Vantagens
23. Desvantagens
24. Cursos técnicos e universidades que incluem WiMAX em seu currículo
25. Ficha Técnica
26. Fontes de Consulta
27. Crédito aos participantes

Estatísticas
Tabelas e gráficos de WiMAX

Comentários?

Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa

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Fonte: e-Thesis
[16/04/09]   Falta de espectro pode causar 'blackout' e congestionamento - por Jana de Paula

A saturação do espectro destinado à mobilidade é de tal magnitude, devido a problemas que afetam a qualidade dos serviços, que há perigo de congestionamento e blackout. O alerta foi dado ontem por Edilson Ribeiro dos Santos, superintendente de Radiofreqüência e Fiscalização da Anatel, durante palestra no 9º RioWireless. A conclusão é clara: é preciso disponibilizar mais radiofreqüência de modo a ampliar o acesso em banda larga, através de diversas tecnologias e serviços.

Hoje, há 355 MHz de espectro disponível, regularizados para atender à banda larga sem fio. Em 2010 haverá necessidade de 780 MHz. Em 2015 serão precisos 980 MHz e, em 2020, não menos do que 1.080 MHz. "Em dez anos, serão demandados mais 725 MHz de espectro para a mobilidade. Ora, nós não temos uma varinha de condão para criar este espectro. Assim é preciso rearranjar a coisa. E talvez isto seja mais complicado do que podemos imaginar", disse ele.

Os atuais 355 MHz disponíveis atualmente estão assim divididos: 50 MHz nos 800 MHz; 20 MHz nos 900 MHz; 150 MHz em 1.8GHz; 75MHz em 1.9 GHz e, finalmente, 60MHz nos 2,1GHz.

"Já a partir do ano que vem precisaremos de mais do que o dobro disso. Este é o grande quebra-cabeça com que a Anatel se depara, hoje, e para o qual precisa encontrar solução, para que caiba todo mundo e que se atenda primordialmente o interesse público", enfatizou o superintendente da Anatel.

Neste contexto, o representante da agência insere as políticas de Estado e do governo, o cidadão e os investidores de tecnologia. Segundo a projeção do Plano Geral de Atualização da Regulamentação das Telecomunicações (PGR), em 2018, haverá 270 milhões de acessos no SMP, o serviço de celular, dos quais 125 milhões de usuários de banda larga móvel. Em curto prazo, o PGR diz que é preciso dispor de radiofreqüência para oferecer banda larga móvel em todo o país e atender às previsões da própria Anatel que precisa deixar o espectro regulamentado para pelo menos dez anos.

"Os interesses são múltiplos. Todo mundo tem direito constitucional ao uso do espectro, que é um bem público e, por isso, de todos. Mas é preciso se associar a isto o interesse público", continuou Ribeiro dos Santos.

E, segundo ele, a Anatel "já está se mexendo" para rearranjar o espectro disponível de modo a que ele abrigue mobilidade de forma segura de interferências. As faixas de 700 Mhz, 800 MHz, 2,5GHz e 3,5GHz são as áreas em que, prioritariamente, se precisa trabalhar. O superintendente disse não entender porque em certos segmentos do setor o uso dos 2,5GHz para mobilidade é surpreendente. "A faixa dos 2,5GHz foi identificada para aplicações móveis em 2000". E durante este período, como nas concessões futuras, seu uso é liberado pelo estado "a título precário", que é como o Estado deve permitir o uso de um bem público.

Quanto à manutenção das MMDS como outorgadas dos 2,5GHz, "vamos permitir que elas permaneçam, com menos espectro". Segundo o superintendente, a quantidade de espectro retornado das MMDS ao Estado para uso por aplicações móveis "está para ser decidida". E acrescentou que este assunto não apresenta um consenso entre os conselheiros da Anatel. "Cada um deles quer uma quantidade de espectro a ser retornada ao Estado. Uns mais, outros menos. Mas a presidência da agência tem adotado uma postura conciliatória e, neste sentido, as discussões visam fortalecer o resultado das ações", completou.

Nas análises de reuso do espectro será levado em conta o melhor custo, seu uso eficiente e a identificação e convergência com outras tecnologias de acesso em banda larga,como DSL e o PLC, a banda larga via rede elétrica.

Os exemplos de reuso dos 2,5GHz no mundo são variados - e distintos.
- No Chile, reservou-se 50 MHz para as MMDS.
- No Paraguai decidiu-se, simplesmente, por extinguir a prestação de serviço das MMDS a partir dos 2,5GHz. Quem quiser prestar este tipo de serviço de TV paga naquele país precisará encontrar outro meio para provê-lo.
- Nos Estados Unidos, reservou-se 90MHz para a comunicação de dados.
- Na China também vai haver um rearranjo total desta faixa.
- Na Europa, já está prevista a licitação dos 2,5GHz para a LTE, em 2009. E particularmente na França, mesmo com o uso desta faixa destinado atualmente a fins militares, há um esforço concentrado para se limpar esta faixa e destiná-la às aplicações móveis.

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Fonte: e-Thesis
[16/04/09]   2,5 GHz: quem dá mais? - por Jana de Paula

Voltam à baila as discussões sobre quem vai usar no país o 2,5GHz para mobilidade. Entenda.

O consultor Newton Scartezini, que participou de todas as edições do RioWireless, importante arena para debate dos players de mobilidade, se disse surpreso que, após as oito anteriores, a de ontem, a nona, realizada num hotel da Barra da Tijuca (RJ), foi a primeira em que, mais do que divergências em torno da convergência, houve, de fato, um ponto comum, real, das idéias apresentadas. E o ponto para o qual todos convergiram foi a necessidade de mais espectro. Palestrantes e assistência presentes, oriundos de cada elo chave da cadeia, se esmeraram em explicar - e tentar compreender - como, porque e quando o mercado brasileiro de mobilidade precisará de mais espectro.

Mas, como bem lembrou o diretor do WiMAX Forum no Brasil, Luiz C. Moraes Rego, "uma coisa é a prática, outra coisa é power point". De qualquer forma, o recado do governo foi dado: "O que queremos, no momento, é a apresentação de contrapartidas. Mais do que palavras, queremos que nos apresentem projetos concretos que impliquem sustentabilidade econômica. O que vamos fazer com o espectro? Para decidirmos isto precisamos de sugestões concretas que resultem em ampliação de nossa capacidade educacional", disse André Barbosa Filho, assessor especial da Casa Civil.

Mais do que necessidade de espectro, os presentes ao 9º RioWireless trataram, especificamente, da faixa dos 2,5GHz. Ricardo Tavares, vice-presidente de políticas públicas da GSM Association (GSMA), foi peremptório: "Com o atual espectro disponível estaremos paralisados até 2015. Nas áreas urbanas o colapso está previsto para acontecer já em 2010, quando todo espectro utilizado nas grandes capitais estará ocupado. A única forma de evitar isso é com a banda em 2,5GHz". Hoje, os 2,5GHz estão largamente ocupados pelas MMDS, prestadoras de TV aberta do país e, antes mesmo de se rearranjar o espectro (o que Edilson Ribeiro dos Santos, superintendente de Radiofreqüência e Fiscalização da Anatel, disse que será feito), a GSMA já se preocupa em definir quanto vai ficar com quem:

"A idéia é usar a banda de 2,5GHz de maneira estruturada. As operadoras de MMDS vão mudar de tecnologia analógica para digital. Com isso, todos os seus serviços passam a ocupar menos espectro. Assim, acreditamos que esta faixa possa ser reutilizada destinando-se duas vezes 70 MHz (subida e descida) para o WiMAX, 50 MHz para as MMDS e 140 MHz para as quatro operadoras de redes móveis brasileiras (Telefônica, Oi, Claro e TIM) implantarem serviços em LTE. A visão da GSMA é de que estas faixas sejam regulamentadas este ano e leiloadas no ano que vem e a concessão seja baseada no conceito de banda neutra em termos de tecnologia", disse Tavares.

Quanto aos preços a serem praticados, Tavares imagina que, como de praxe, o preço mínimo elaborado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) sirva de base para garantir preços competitivos. Sua sugestão é que se use o modelo do contrato de concessão da 3G, de dezembro de 2007, em que se previu o uso de parte do custo para expansão da rede, com cunho de inclusão social.

Governo se mantém agnóstico

Mas ainda é cedo para se fazer o tratado de Tordesilhas dos 2,5GHz. E neste caminho é de bom alvitre que se aproveitem todos os recursos disponíveis, de todos os players dispostos a colaborar, sejam eles do ecossistema do WiMAX ou da LTE. Sim, porque se o espectro foi o tema principal do evento de ontem, grande foi o leque de apresentação das próximas soluções em LTE para o mercado local. Mas, se o peso das quatro operadoras de redes móveis é grande e incontestável seu poder no mercado local, o governo, pelo que depreendeu de ontem, não pretende abandonar o WiMAX.

O próprio Plínio Aguiar, da Casa Civil, destacou que a meta do governo é formatar um modelo de uso de um bem público (o espectro) que atenda a coletividade e que também traga remuneração do negócio e retorno do capital. "A utilização de banda larga nas escolas, através do acordo de uso da rede de DSL das teles, foi o primeiro grande encontro da iniciativa pública e privada no mercado de comunicações brasileiro, que também pode ser expandido para o uso das tecnologias sem fio. Onde a cobertura cabeada for mais difícil, ela pode ser complementada por WiMAX, WiBro, 3G etc." Ou seja, o governo estuda a adoção de todas as novas tecnologias disponíveis.

Esta postura da Casa Civil trouxe uma brisa primaveril ao espírito dos apostadores do ecossistema de WiMAX presentes ao 9º RioWireless. Muitos dentre eles se ressentem de forma dramática dos atrasos na regulamentação do mercado de WiMAX no Brasil. Contratos postergados, acordos que não se realizam, necessidade de se adiar estratégias agressivas de atuação no mercado são fatores que mexem com os nervos dos players de WiMAX, nos mais diversos níveis - rede, dispositivos, homologação, treinamento, marketing e um longo etc. A ótica é que, se o espectro será agnóstico e o governo mantém compromisso de adoção de WiMAX, as coisas estão melhores do que se esperava, para o lado do WiMAX. Já que quanto a LTE a situação já é clara - as MNO brasileiras migrarão em sua direção, como seguidoras do mundo GSM/3GPP/LTE

Quem chega primeiro

"Estamos num momento em que muito se fala em LTE. Os grandes vendors de origem européia se engajam neste ambiente tecnológico. Mas, na prática,, há um atraso da LTE em relação ao WiMAX", disse o professor Moraes Rego, do escritório brasileiro do WiMAX Forum. Ele lembra que montar um ecossistema não é coisa que aconteça da noite para o dia. E como, de fato, não há muita diferença tecnológica entre as duas tecnologias, a vantagem é de quem chegar primeiro, em âmbito mundial.

O caso brasileiro tem suas características próprias, sobretudo no tocante aos 2,5GHz: Enquanto não se organizar esta banda de freqüências, as coisas ficam paradas. "A prioridade número um é espectro. A prioridade número dois é espectro. E a prioridade número três é espectro", enfatizou o professor Moraes Rego.

3,5GHz começa a caminhar

No caso dos 3,5GHz as coisas parecem caminhar mais claramente,com a perspectiva de regulamentação de seu uso para o WiMAX em um mês, segundo anúncio feito pela Anatel. "Pouca gente sabe, mas o WiMAX Fórum do Brasil tem participação importante nisso. Contribuímos de forma responsável para o chamado 'refarming', ou a reorganização dos 3,5GHz, de maneira que este processo não causasse problemas aos atuais proprietários das suas licenças de uso. Ou seja, num acordo de cavaleiros, negociou-se com as operadoras que detêm atualmente o espectro, um modo de chegarmos a um consenso e apoio mútuo", destacou ele.

MMDS, WiMAX, 3G, LTE: todos querem os 2,5GHz

Quanto aos 2,5GHz, é uma questão ainda em aberto. Como lembrou o professor Moraes Rego, pouco se divulga que os 2,5GHz foram legados gratuitamente às MMDS, há 15 anos, por força da necessidade de disseminação do sinal de TV paga, que não chegava a determinadas áreas. Ou seja, as operadoras de MMDS receberam o espectro para repetirem o sinal de satélite e permitir o acesso da TV paga em várias localidades onde o cabo não chegava a contento, num modelo de negócios que permitia a venda de publicidade. A tecnologia analógica adotada na época consumia muito espectro e, portanto, elas ganharam 190MHz para prestarem o serviço.

Após esta concessão, os donos das faixas investiram em tecnologia digital. Esta digitalização da tecnologia de radiodifusão e uma série de novas capacidades de compressão de dados etc. reduzem, hoje, a necessidade de espectro para as transmissões de TV por parte das MMDS.

O caso da TVA

Entre o segmento das MMDS, a TVA foi a que mais avançou, pois, já que ela dispunha de espectro, decidiu utilizá-lo para a prestação de outros tipos de serviços. Surgiu daí sua opção pela prestação de serviços de WiMAX. Mas, neste ínterim, a TVA foi vendida para a Telefônica que, com a transação, certamente adquiriu um benefício muito grande a um custo excelente. E como a Telefônica, por DNA, tende a se comprometer com a LTE, não se sabe qual o caminho se irá tomar, aí, quando as coisas ficarem definidas.

A força da UIT

Ora, à pressão do mercado pelo uso da faixa dos 2,5GHz para outros serviços que não a TV paga acrescentou-se, ao final de 2007, a decisão da UIT de reservar a faixa de 2,5GHz para mobilidade plena numa base tecnológica agnóstica. A Anatel é uma das signatárias da UIT e costuma seguir as decisões do organismo internacional. Assim, quando o governo renovou as licenças das MMDS, há pouco mais de um mês, ele contingenciou seu uso à existência de um mercado de mobilidade, o que demonstra por si só que a Anatel pretende mesmo seguir o caminho apontado pela UIT.

Hoje a situação em relação aos 2,5GHz está no seguinte: Em um ano, tem que se levantar quanto custa o uso faixa de mobilidade e, no mesmo período, estabelecer as regras de uso da faixa e o quanto dela será destinado aos vários serviços e tecnologias. Sim, porque hoje, segundo os players presentes ao 9º Rio Wireless, os 2,5GHz são uma das faixas chaves para se garantir o crescimento da banda larga móvel sem apagões, nem interrupção de estratégias de investimentos por um colapso na disponibilidade de espectro.

O que ocorre nos bastidores do poder

As operadoras de MMDS e agora a Telefônica, através da TVA, tentam mobilizar os políticos para que se destine uma ampla faixa dos 2,5GHz para elas, as atuais licenciadas. Mas os players de WiMAX não estão ociosos. E enquanto os apostadores da LTE acenam com alguns trials a serem iniciados ao final deste ano, além da própria força do setor, o grupo que aposta no WiMAX também quer sensibilizar os legisladores e políticos, apresentando o WiMAX como uma tecnologia que já tem seu ecossistema formado e pode apresentar um 'book' com 430 implementações e um ecossistema composto de 750 atores. Os dois pontos chaves do lobby do WiMAX é a importância alegada por seu ecossistema quanto ao impacto positivo na sociedade, sua capacidade de ampliar penetração em banda larga a custos palatáveis e seu DNA, que o permite navegar com desenvoltura no roadmap das tecnologia IP.

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Fonte: Teletime - "Revista Teletime - edição Fev 2009"
Ouro eletromagnético por Mariana Mazza e Samuel Possebon

Sempre que o assunto envolve destinação do espectro de frequências, tecnologias e definições regulatórias, o ambiente se torna explosivo.
Isso já aconteceu quando houve, no passado, a discussão sobre a faixa do SMP, que poderia privilegiar o GSM ou o CDMA, dependendo da decisão. E o mesmo vale agora para a definição da faixa de 2,5 GHz, no Brasil utilizada por operadores de MMDS (historicamente um serviço de TV por assinatura por micro-ondas), mas cada vez mais cobiçada para serviços de banda larga por WiMax e, também, pela indústria de telefonia móvel.

Com a banda larga se tornando parte definitiva do negócio de telefonia celular, um problema imediato que se coloca para as operadoras é garantir fôlego para continuar competindo com as outras plataformas. E fôlego, nesse ambiente, se traduz um uma palavra: espectro.

O que pode acontecer quando a base de usuários de Internet pelas redes de telefonia celular passar dos cerca de 1,7 milhão atuais (ou pouco mais de 1% de penetração sobre a base total), segundo dados da Anatel, para percentuais mais expressivos de 8% como os registrados já hoje nos EUA, ou 30%, como os registrados na Europa, segundo dados da GSM Association?
Será que a infraestrutura das operadoras móveis terá capacidade para fazer frente à crescente demanda por mais banda e maiores velocidades de acesso?
A resposta para essa questão é óbvia: não, simplesmente porque existe uma limitação na quantidade de dados que se pode transmitir em uma fatia limitada do espectro.

A melhor alternativa para empresas de telefonia celular é, portanto, ampliar a fatia do espectro em que operam, comportando assim um número maior de usuários e taxas de transmissão mais elevadas. Esse é o horizonte futuro que tem balizado uma parte significativa da disputa por espectro nesse momento.

Não por acaso, o começo de 2009 tem sido marcado por uma forte disputa pelo espectro de 2,5 GHz, com discussões acaloradas entre fornecedores e operadores, e com acirradas disputas de pontos de vista dentro da própria Anatel. A batalha parece ainda estar longe do fim.

Além de parte do negócio dos operadores de MMDS, as frequências de 2,5 GHz são fundamentais para as operadoras móveis no futuro, já que a evolução tecnológica das redes 3G, chamada de LTE (Long Term Evolution), está toda programada para acontecer nesta parcela do espectro. Ou seja, para os operadores de celular, garantir a ocupação da faixa de 2,5 GHz equivale a fazer um seguro para pelo menos os próximos dez anos.

Os fornecedores tradicionais de redes para teles móveis e a GSM Association são mais enfáticos quando alertam para a importância de espectro adicional das operadoras. Mas os operadores, até para não passar recibo de que estejam trabalhando com limitações, expõem menos este problema.
"A necessidade que existe para as operadoras é função da tecnologia que existe para a evolução futura. O LTE precisara de frequências adicionais na faixa de 2,5 GHz. É uma questão da tecnologia, mas não quer dizer que a rede atual esteja limitada", diz Javier Rodriguez, vice-presidente de redes da Vivo.
Já João Cox, da Claro, reconhece que o uso das redes 3G para acesso a dados limitará, em algum momento, a capacidade das redes

Mais espaço
Para Lourenço Coelho, vice-presidente comercial e de marketing da Ericsson, a questão é um pouco mais urgente: "Estamos verificando que existe um grande aumento de tráfego com as redes 3G. Daqui a pouco, com esta ampliação do tráfego de dados, a migração do fixo para o móvel e os serviços de vídeo, vai faltar espectro", diz ele, ressaltando que este espectro que falta precisará vir de algum lugar.
"As operadoras de telefonia celular investiram bilhões, e por isso não podem ficar sem perspectiva de evolução. No caso da tecnologia LTE, são necessários mais 40 MHz por operador. Se no Brasil trabalhamos com um cenário de quatro operadores, serão necessários mais 160 MHz", diz o executivo, que lembra que a faixa de 2,5 GHz está ocupada por um serviço que hoje tem pouco mais de 300 mil assinantes (o MMDS).

No Brasil, segundo a GSM Association, os operadores de celular têm, em média, 80 MHz de banda, contra cerca de 90 MHz em mercados avançados (como Europa e EUA). A associação vem justamente pressionando para garantir, do ponto de vista político, esse espaço adicional futuro no espectro às operadoras móveis, alegando que nos EUA, por exemplo, já existe uma reserva adicional de 300 MHz para as empresas de telefonia celular.

Mas o outro lado do problema também se coloca: se por um lado existem pelo menos quatro grandes operadores de telefonia móvel, com cerca de 150 milhões de usuários, brigando para garantir um futuro tranquilo, por outro dar a eles o espectro pedido poderia criar uma reserva de mercado a estas mesmas quatro empresas, impedindo a entrada de novos concorrentes, que poderiam vir pela tecnologia WiMax.

Pouca gente sabe, mas em 2005 a empresa ClearWire (que depois veio a formar uma joint venture para exploração de WiMax com a Sprint, nos EUA) tentou adquirir a operadora de MMDS ITSA, que opera em cidades como Brasília, Belo Horizonte e Goiânia. Os executivos da empresa vieram ao Brasil, foram à Anatel pedir uma sinalização positiva mas, como não ficaram animados com o que ouviram, desistiram do negócio.
O que a Anatel disse a eles na ocasião foi que não havia certeza se o serviço de MMDS continuaria existindo no futuro e se as frequências continuariam nas mãos dos atuais controladores.

Já naquele momento, havia uma corrente de interpretação dentro da agência que acreditava que o espectro de 2,5 GHz era precioso demais para ficar na mão de alguns operadores de TV por assinatura.
Ricardo Tavares, vice-presidente da GSM Association, disse em entrevista ao TELETIME News em janeiro que no passado o aumento de espectro para as empresas poderia significar uma ameaça à competição, mas hoje todos os países já contam com pelo menos três competidoras. "Hoje há competição na região", diz ele. A GSM Association tem feito um intenso trabalho de lobby em coordenação com os principais fornecedores junto aos 14 mercados emergentes importantes (exceto China), que hoje concentram um terço dos usuários de telefonia celular no mundo, para conseguir espaço para tecnologias de evolução do GSM (HSPA e LTE) nas faixas de 2,1 GHz e 2,5 GHz.

A argumentação dos operadores de MMDS, contudo, é diferente. Eles entendem que pelo fato de o MMDS ter uma regra convergente, desde o princípio pensado para ofertar vários serviços, incluindo TV, ele é uma alternativa inovadora que o país deveria explorar, e não extinguir.
"O fato de termos apenas 300 mil assinantes do serviço não é justificativa para a Anatel acabar com o MMDS. Os investimentos foram feitos, mas boa parte do potencial do MMDS ainda não pôde ser explorado por conta da falta de equipamentos homologados", diz José Luiz Frauendorf, diretor geral da Neotec, associação que representa as empresas que hoje exploram a faixa de 2,5 GHz. A questão da homologação é crítica: quando a Anatel percebeu que haveria a necessidade de repartir o espectro de 2,5 GHz, suspendeu o licenciamento de equipamentos de WiMax na faixa, atrasando o plano das operadoras de MMDS.
Entre estas empresas estão a Telefônica (que adquiriu a operação de MMDS da TVA), a Sky (que está em processo de aquisição das licenças da ITSA) e a Net Serviços, que tem licenças de MMDS em Porto Alegre, Curitiba e Recife.

Investimentos
Em carta encaminhada à Anatel no dia 26 de novembro de 2008, obtida com exclusividade por TELETIME, a Telefônica deixa clara a sua insatisfação com a escolha feita pela Anatel de retardar as homologações de equipamentos de WiMax para a faixa de 2,5 GHz. A empresa informa que, desde que conseguiu autorização da agência para operar MMDS, em julho de 2007, investiu mais de R$ 100 milhões na digitalização dos serviços, programas de expansão comercial e outras ações técnicas voltadas para o aumento do número de assinantes e melhoria na qualidade do serviço. "Até o momento, em razão de não existirem equipamentos homologados para a prestação do serviço através da tecnologia WiMax, continuamos sem a possibilidade de ofertar novos produtos, o que acaba restringindo a competição nos mercados onde atuamos", protesta a operadora.

Coelho, da Ericsson, defende o alinhamento do Brasil às tecnologias que estão sendo adotadas em outros países, sobretudo na Europa, o que significa dizer que o país deve reservar a faixa de 2,5 GHz para a tecnologia LTE. "Já tivemos experiências de trazer para o Brasil tecnologias sem escala e elas acabaram ficando para trás", diz, citando o CDMA e o TDMA. "O WiMax móvel está patinando no mundo todo. Nós vamos insistir nisso", questiona o executivo. A Ericsson é um dos maiores fornecedores mundiais de equipamentos e suas apostas estão todas sobre o LTE, com ênfase no mercado europeu e na imensa base de celulares GSM da Europa, e é natural que esta seja sua abordagem.

Não é o que pensam fornecedores que apostam no WiMax, como Motorola e Intel.
Mas é o que pensam grandes empresas de telefonia celular, como a Claro.
Segundo João Cox, presidente da operadora, o problema central na discussão do futuro da faixa de 2,5 GHz é não deixar o Brasil de fora de um padrão mundial.

Para Frauendorf, da Neotec, é uma falácia falar em alinhamento tecnológico no caso da banda larga. "A realidade brasileira é outra. O WiMax é uma tecnologia de banda larga fixa e, eventualmente, móvel, que foi pensada para outras realidades diferentes da europeia. Por isso que países como Rússia, Índia e diversos países da América Latina têm apostado muito nessa plataforma".

"O que nós achamos é que a Anatel tem que dar total flexibilidade a qualquer operador para explorar serviços em qualquer faixa de frequência", diz Emílio Loures, gerente de novas tecnologias da Intel. "A neutralidade tecnológica é fundamental. A agência já fez isso na faixa de 3,5 GHz, prevendo a mobilidade nesta faixa, e precisa agora fazer o mesmo na faixa de 2,5 GHz";, diz Loures. Ele lembra que existem muitos municípios que não têm nenhum operador na faixa de 2,5 GHz e que precisam ser atendidos.

"O que precisa ficar claro é que em nenhum lugar a UIT ou quem quer que seja disse que a faixa de 2,5 GHz deve ser reservada exclusivamente ao serviço móvel, muito menos aos atuais operadores de serviços móveis", diz Frauendorf.

A regulamentação brasileira sobre a faixa de 2,5 GHz (Resolução 429/2006) prevê o seu uso para o Serviço de Comunicação Multimídia, o que em tese habilitaria qualquer empresa a pleitear frequências para a prestação de serviços de dados. Mas como hoje se trata de uma faixa atrelada ao MMDS, a Anatel precisaria definir, antes, como pretende conduzir a questão de novas outorgas para o serviço de TV paga.
Esse é um dos temas que estão em discussão na agência.

As operações de MMDS existentes hoje (com base nas autorizações expedidas pela agência) cobrem 320 municípios brasileiros, que representam cerca de 25 milhões de domicílios, o que representa um pouco menos da metade do total nacional. Não são 320 outorgas, naturalmente, mas como o raio de cobertura é amplo, uma licença de MMDS pega muitas vezes dezenas de municípios.
Assim, quase 60% do potencial de consumo do país está nessas áreas cobertas pelas licenças de MMDS, que ocupam 100% da faixa que poderia ser utilizada na casa dos 2,5 GHz. Ou seja, quem quiser entrar nesse mercado daqui para frente terá que fazê-lo onde não estão as operadoras de MMDS, ou negociar com elas.

Por esta razão é que uma das discussões mais importantes do ano deve ser a revisão da Resolução 429/2006, quando o futuro da faixa de 2,5 GHz será desenhado.

TELETIME teve acesso a uma das possibilidades desenhadas pela Anatel e que poderia ter sido colocada em consulta pública.
Pelos planos da Anatel, o MMDS operaria em caráter primário na faixa de 2.500 MHz a 2.690 MHz apenas até 31 de dezembro de 2012.
Depois disso, o serviço passaria a ter caráter primário apenas nas subfaixas 2.500 MHz a 2.530 MHz e 2.570 MHz a 2.650 MHz.

Nas subfaixas 2.530 MHz a 2.570 MHz e 2.650 MHz a 2.690 MHz, a operação seria em caráter secundário.

Em sentido oposto, o SMP poderia operar em caráter secundário em toda a faixa até 31 de dezembro de 2012.
Após esta data, o serviço passaria a ser primário nas subfaixas 2.530 MHz a 2.570 MHz e 2.650 MHz a 2.690 MHz, no lugar do MMDS.
E seria mantida a destinação de 110 MHz para o SCM, em caráter primário nas mesmas subfaixas definidas em 2006: 2.500 MHz a 2.530 MHz e 2.570 MHz a 2.650 MHz.
A novidade é que o serviço de telefonia fixa também passaria a ser previsto em caráter secundário na subfaixa 2.500 MHz a 2690 MHz.

Estudo
Mas na última hora, a Anatel mudou os planos. O conselheiro Antônio Bedran avaliou que seria importante promover um estudo mais amplo sobre o uso da faixa de 2,5 GHz, analisando as reais demandas e separando o que é lobby daquilo que é realidade. Não há prazo para que este estudo seja concluído, nem para a publicação da consulta pública que definirá o futuro da faixa de 2,5 GHz.

Da mesma maneira, a Anatel deve dar encaminhamento à renovação das outorgas dos 11 operadores de MMDS cujas licenças vencem em fevereiro desde ano. São as operações de MMDS em São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre pertencentes à TVA, as licenças de Goiânia, Belém e Brasília da ITSA, as autorizações da Net Serviços para Recife, Porto Alegre e Curitiba da Net Serviços e a licença da TV Show em Fortaleza.

Com isso, é esperado que estas operadoras consigam a renovação das outorgas por mais 15 anos, o que significará que até 2024 as faixas estarão ocupadas, pelo menos nestas grandes cidades. E com a decisão da Anatel, abre-se o precedente para que todas as dezenas de outorgas de MMDS existentes no país também sejam renovadas. Isso não significa que a agência não possa, com base na observação de que o espectro esteja sendo utilizado de maneira ineficiente, tirar frequências dos operadores de MMDS no futuro.

O que fica claro, contudo, é que a decisão é muito mais complexa do que parece e envolve interesses comerciais dos grandes fornecedores de redes 3G; perspectiva de crescimento e competitividade dos grandes operadores de telefonia móvel; o interesse de empresas que pretendem usar a faixa de 2,5 GHz para o serviço de banda larga por meio de redes WiMax, como a Telefônica; o interesse dos fornecedores de equipamentos para WiMax; e, obviamente, os usuários dos serviços de telecomunicações.

O tema, que já havia sido alvo de comentários do deputado Paulo Bornhausen (DEM/SC), defensor da posição dos operadores de MMDS, deve retornar ao Congresso em 2009.

Também o Tribunal de Contas da União está acompanhando o tema, movido por uma denúncia anônima. O ministro-relator do caso no TCU, Raimundo Carreiro, deixou essa preocupação clara em seu voto. "Diante desse contexto, reveste-se de grande importância qualquer serviço novo a ser oferecido pelos atuais prestadores na faixa de freqüência de 2,5 GHz, bem como a prorrogação das autorizações para uso dessa faixa, situações que exigirão novas licitações e/ou ajustes nos atuais termos relativamente a prazos, valores e condições, a serem estabelecidas pela Anatel conforme o caso", avaliou Carreiro.

São amostras do que deve vir pela frente.
A ainda existem uma série de outras faixas do espectro que devem gerar polêmicas semelhantes

Outras faixas polêmicas
3,5 GHz - Também existe uma disputa para definir se ela será destinada para o SCM com tecnologia WiMax ou se parte dela será destinada ao serviço móvel na tecnologia LTE.

700 MHz - Há pressão para que ela seja utilizada para serviços móveis e para cobertura de áreas remotas, mas hoje está destinada à transição
da TV digital.

800 MHz (hoje ocupadas pela banda A analógica do celular) -
Poderia ser redistribuída, e as sobras nas faixas de 1,9 GHz e 2,1 GHz, pleiteadas para o SMP.

450 MHz - Definida pela UIT como propícia para sistemas móveis em áreas remotas, também é objeto de estudos pela Anatel.


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