BLOCO
Blog dos Coordenadores ou Blog Comunitário
da
ComUnidade
WirelessBrasil
Setembro 2010
Índice Geral do
BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem
forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão
Celld-group
e
WirelessBR.
Participe!
26/09/10
• Segurança do Processo Eleitoral (10) - "Posts"
contundentes - e preocupantes - anotados no Blog do Silvio Meira
Olá, ComUnidade
WirelessBRASIL!
01.
Transcrevo mais abaixo "posts" contundentes, anotados no Blog de
Silvio Meira, sobre a Segurança
do Processo Eleitoral com Urnas Eletrônicas.
Visitei o
Blog Dia a Dia, Bit a Bit de
Silvio Meira por indicação de um participante. Lembro que Meira não usa
letras maiúsculas em seus textos...Treinamento para Saramago... :-)
Silvio Meira dispensa apresentações mas, anoto
da web:
Silvio Meira é um dos maiores pesquisadores
de Engenharia de Software no Brasil. É também cientista-chefe do C.E.S.A.R.
(Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), instituto de inovação
privado e sem fins lucrativos que atua na área de tecnologia da informação e
comunicação com duas frentes: desenvolvimento de produtos (em áreas como TV
Digital, mobilidade, aplicações de web, open source e inteligência artificial) e
incubação de empresas (já criou mais de 30 novas empresas de TI).
02.
Cumpre-me lembrar, também, antes das transcrições, que acompanhamos o tema "Urna Eletrônica" desde 2006.
Aqui está o link do primeiro "post":
03/09/06
• A
Urna Eletrônica é segura (1)?
Em 2008 mudamos o "Assunto" da série de mensagens
sobre "Urna Eletrônica" para "Segurança do
Processo Eleitoral".
O website comunitário sobre o tema é este: Segurança
do Processo Eleitoral com Urnas Eletrônicas
No final desta mensagem relaciono os "posts" comunitários no
BLOCO, desde 2006.
03.
Voltando.
Em resumo, Silvio Meira comenta um incidente ocorrido em Alagoas, que teve
início em 11/2006 após ser detectado que os arquivos de LOG de 35% das urnas estavam
corrompidos e não apontavam o destino de 22.000 (vinte e dois mil) votos dados
pelos eleitores, além de arquivos com dados misturados e urnas computando
votos para municípios inexistentes.
Meira cita também outro incidente, este recentíssimo,
em que a OAB nacional não assinou o certificado
digital do software das eleições de 2010.
E conclui pela necessidade de uma Auditoria independe em todo o processo.
Vale conferir outros questionamentos.
04.
Transcrevo mais abaixo dois "posts" que contêm os assuntos acima
citados:
Fonte: Blog Dia a
Dia, Bit a Bit de Silvio Meira
[14/09/10]
as urnas e “alagoas 2006”
Fonte: Blog Dia a Dia,
Bit a Bit de Silvio Meira
[14/09/10]
as urnas, de novo…
05.
Nos "posts" são citados estes outros, anteriores
(todos transcritos mais abaixo, na sequência):
- [28/08/08]
urna eletrônica NÃO é inviolável,
- [05/09/08]
câmara dos deputados duvida da segurança das urnas eletrônicas,
- [08/09/08]
eleições: TSE esconde a verdade sobre as urnas
- [09/09/08]
eleições: sem conferência, urna é alvo fácil
- [10/09/08]
eleições: maior problema é a concentração de poderes
Ao debate!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio
Rosa
-----------------------------------------
Fonte: Blog Dia a Dia,
Bit a Bit de Silvio Meira
[14/09/10]
as urnas e “alagoas 2006”
estava eu conversando com pessoas muito bem
informadas em evento de muito prestígio quando as eleições de 2010 vieram à
tona. quieto estava, quieto fiquei, a discussão era sobre candidatos e opções
para o futuro do país.mas não demorou
muito até que saísse um “as eleições brasileiras são as melhores do mundo”.
como ando escrevendo sobre isso aqui há anos [veja
o texto anterior aqui, da semana passada, explicando porque a OAB nacional
não assinou digitalmente o software das eleições 2010], tive que dizer algo e
disse, em largas palavras, o que tem sido
publicado por aqui, sustentado não por minha particular expertise no
assunto eleições eletrônicas, que é baixa, mas por sólidos argumentos que vêm
do CMIND,
o comitê multidisciplinar independente que estuda o processo eleitoral
brasileiro. aliás, comentei este assunto em um podcast recente da CBN que
você pode ouvir clicando neste link.
e a conversa rolou, rolou, e eu mencionei as
eleições de alagoas em 2006… e não é que ninguém sabia de nada sobre o
assunto? mas nada, nada mesmo. pessoas lidas, conectadas, que nunca haviam
ouvido nada sobre o assunto.
talvez este seja também o caso do leitor, e
talvez valha a pena, se for, ler um pequeno e
muito instrutivo texto da advogada maria aparecida cortiz [que é membro do
CMIND], publicado no portal unieducar
há mais ou menos um mês.
o título do artigo é
Princípio do contraditório e da imparcialidade
no processo eletrônico de votação e doutora cortiz foi uma das pessoas que
estudou de perto o caso “alagoas 2006”, que resumidamente… teve início em
11/2006 após ser detectado que os arquivos de LOG de 35% das urnas estavam
corrompidos e não apontavam o destino de 22.000 (vinte e dois mil) votos dados
pelos eleitores, além de arquivos com dados misturados e urnas computando
votos para municípios inexistentes.
isso mesmo que você leu: as “melhores
eleições do mundo” não foram tão boas assim [pelo menos] nas eleições de 2006
em alagoas e o destino de dezenas de milhares de votos ficou “no ar”. podem
até ter sido dados para alguém, mas não se sabe se foram. e havia
“municípios-fantasma”, uma inovação eleitoral indesejada, pois no passado eram
somente os eleitores-fantasma que preocupavam.
a decisão do TSE sobre o assunto também é
desconhecida das pessoas lidas e conectadas de que falo: o tribunal decidiu
que mesmo havendo graves indícios de que alguma coisa está errada, tudo está
certo.
aliás, como de praxe, o tribunal julga ele
mesmo neste tipo caso e resolveu que não há com que se preocupar, pois…
o fato do LOG não registrar um evento não
significa que o evento não ocorreu. donde se conclui, usando
lógica elementar, que “logs” [arquivos de registro de eventos ocorridos] são
inúteis. de que adianta [para verificação de ocorrência de um evento…] um
registro que não necessariamente registra a ocorrência de certos eventos,
mesmo tendo os dito cujos acontecido?…
mais hora, menos hora, alguma coisa vai
mudar; não vai ser possível sustentar por muito mais tempo este estado de
coisas. mas o “público”, inclusive o que comenta textos como este aqui no blog,
acha que “se as urnas são frágeis, porque a grande imprensa nunca diz nada
sobre isso?”…
pergunte-se à grande imprensa. está cheio de
gente, lá, que sabe muito bem que a eleição eletrônica brasileira não tem
independência de poderes e, por isso, nenhuma chance de ter uma auditoria
independente do processo e de seus resultados. se houver uma fraude,
dificilmente ela será detectada, como até hoje não se sabe ao certo se
“alagoas 2006” foi uma conjuntura de erros de sistema [há
erros épicos de software das melhores
famílias, como a NASA...] ou se havia cérebros e mão humanas mal intencionados
por trás dos muitos eventos não esperados que rolaram por lá.
tomara que a tal da grande imprensa não tenha
que mudar de posição e publicar algo apenas por causa de alguma catástrofe que
está para acontecer… quando?…
----------------------------------
Fonte: Blog Dia a Dia,
Bit a Bit de Silvio Meira
[14/09/10]
as urnas, de novo…
interrompemos nossa programação [sobre
tendências tecnológicas nos negócios, nesta década,
primeiro, segundo,
terceiro e
quarto texto já publicados] para dar
conta de uma notícia que não é nova mas que, pelo menos do ponto de vista do
blog, passou desapercebida da mídia, grande e pequena.
não é que a OAB nacional não assinou o
certificado digital do software das eleições de 2010?
está bem aqui, na página do voto seguro…
nestes termos:
…A OAB enviou o sr. Rodrigo Anjos,
especialista em TI, como seu representante devidamente credenciado na
cerimônia de lacração dos sistemas do TSE para avaliar o conjunto dos
programas. Ao constatar que esse conjunto era composto por milhares de arquivos com mais de 16 milhões de linhas de código-fonte,
a OAB nacional compreendeu que não teria condições técnicas de validar o
sistema e decidiu que não iria assiná-los digitalmente, comunicando a
decisão ao TSE.
A comprovação de que a OAB não
assinou digitalmente os programas pode ser obtida nas Tabelas de Resumos
Digitais dos Programas (a ser publicada na Internet pelo TSE) onde não
consta nenhum arquivo com as assinaturas da OAB (como contra-exemplo, pode
se ver os arquivos com as assinaturas digitais do PT).
Porém, nos minutos finais da
cerimônia que encerrava um trabalho desenvolvido ao longo de seis meses,
compareceu o sr. Francisco Caputo Neto , presidente da OAB do Distrito
Federal e filho do ex-ministro do TSE Caputo Bastos, e representou uma
cena "assinatura digital". Numa evidente demonstração de confiança cega,
já que nenhuma equipe de seus técnicos gastou nem uma horinha analisando o
conteúdo dos sistemas, o Sr. Caputo Neto assinou o "pacote" dos programas.
Como não assinou cada programa
individualmente, o que atrasaria a cerimônia em duas ou três horas, os
fiscais representantes do sr. Caputo Neto não terão como conferir se os
programas instalados nas urnas e nos computadores dos cartórios seriam os
originais com a sua respectiva assinatura digital.
E é assim que a autoridade eleitoral
passou a dizer que "programação digital das urnas eletrônicas foi
conferida, autenticada e… contou com a participação da OAB…".
o tema da segurança das urnas e do sistema
de votação eletrônica do brasil tem sido recorrentemente tratado no blog,
pelo menos desde as eleições municipais de 2008. veja alguns dos nossos
textos neste link e
um, especial e mais recente, sobre a prova de que
as urnas indianas são inseguras, onde um
dos maiores especialistas brasileiros no assunto
diz em todas as letras que… “…tenho
certeza que as urnas brasileiras também não resistiriam a um ataque
realizado por gente capaz”.
este autor, em passado distante, escreveu
mais de uma vez que a transição do sistema eleitoral do papel para o digital
havia diminuído muito a incidência de fraudes, por simples incompetência
temporal, à época, dos fraudadores em potencial. muitos anos depois da urna
e seus sistemas acessórios sendo usados em escala nacional, com muitas
[milhares de?…] pessoas em todo o país entendendo seu funcionamento e
fraquezas, é preciso tomar outros cuidados com a segurança do voto que não a
pura e simples propaganda governamental, tentando nos assegurar que o voto é
seguro porque… é seguro. sei não, os problemas vêm de longe e, se eu
trabalhasse lá na informática do TSE,
estaria bem mais preocupado do que, pelo menos de público, a galera de
lá parece estar.
por que? ora, veja só: uma auditoria
independente estabelece, de forma inequívoca, que o
sistema do imposto de renda dos americanos é
vulnerável e não garante confidencialidade, disponibilidade e
integridade de dados. mas relaxe, você poderia dizer, é lá nos EUA e não tem
nada a ver com eleições. então leia isso: aqui, em pindorama, ninguém menos
que o TCU, tribunal de contas da união, diz que o
vazamento de dados afeta 65% dos órgãos de
governo e que a receita federal é só um exemplo. preocupante, não?…
como se não bastasse, o TCU diz –ainda por
cima- que “a fraude eletrônica hoje é a mais
limpa e a mais difícil de rastrear". o que deveria nos levar a refletir,
juntos: as urnas são eletrônicas e todo o sistema eleitoral é eletrônico e
sua segurança é baseada unicamente na palavra do TSE de que o sistema, como
um todo, é seguro. mas o TCU diz que o vazamento de dados afeta 65% dos órgãos de governo e que “a
fraude eletrônica hoje é a mais limpa e a mais difícil de rastrear". e
aí, como ficamos?…
tem gente que acredita, piamente, na
“propaganda governamental”: a urna é segura porque o governo garante que ela
é segura. talvez a gente deva lembrar que o governo médici, em plena
ditadura militar, mal copiando um original americano, introduziu o infame
slogan “brasil:
ame-o ou deixe-o”, tentando confundir a pátria com o governo, sem nunca
ter lido mark twain: "Patriotism is supporting your country all the
time… and your government when it deserves it". patriotismo é apoiar
seu país o tempo todo… e seu governo, quando ele merece. simples assim.
temos o direito de ter eleições justas e
limpas. e isso não depende de uma autoridade –por mais íntegra e respeitada
que seja, como o TSE- garantir que elas são limpas mas de, transparente e
independentemente auditadas, se mostrar que o processo eleitoral é
comprovadamente limpo. o resto é propaganda governamental, da mesma classe
do ame-o ou deixe-o. ou da versão TSE para 2010:
“nestas eleições, deposite nelas [as urnas]
mais do que o seu voto, deposite a sua confiança".
-------------------------------------
Fonte: Blog Dia a Dia,
Bit a Bit de Silvio Meira
[17/14/10]
concentração de poderes no sistema eleitoral brasileiro não permite auditoria
independente
lá vêm as eleições e,
com elas, o sistema eleitoral brasileiro. este blog fez uma longa série de
considerações sobre o problema de segurança das urnas e do sistema, como um
todo, antes das últimas eleições. em agosto e setembro de 2008, publicamos um
bom número de textos que você pode ver [pela ordem]
- [28/08/08]
urna eletrônica NÃO é inviolável,
- [05/09/08]
câmara dos deputados duvida da segurança das urnas eletrônicas,
- [08/09/08]
eleições: TSE esconde a verdade sobre as urnas
- [09/09/08]
eleições: sem conferência, urna é alvo fácil
- [10/09/08]
eleições: maior problema é a concentração de poderes
logo a seguir, o TSE deu
uma entrevista-resposta sobre o assunto da segurança das urnas, garantindo
que as urnas eram seguras. só que, a seguir, um dos fabricantes das urnas
declarou que
sim, sem dúvida, as urnas eram inseguras.
o assunto acaba de voltar à tona com a
publicação
de um relatório do comitê multidisciplinar independente [CMIND] que
acompanha o processo eleitoral. pra você ter uma idéia da importância que o
relatório pode vir a ter, veja quais são as três principais conclusões,
expressas no
resumo
executivo de duas páginas:
Tendo-se analisado com
profundidade o relatório do comitê do TSE e juntando o conhecimento
especializado e experiência dos autores no acompanhamento dos sistemas
eleitorais do TSE desde 2000, concluiu-se o seguinte:
1. Há exagerada
concentração de poderes no processo eleitoral brasileiro, resultando em
comprometimento do Princípio da Publicidade e da soberania do eleitor em poder
conhecer e avaliar, motu próprio, o destino do seu voto;
2. Desde 1996, no sistema
eleitoral eletrônico brasileiro É IMPOSSÍVEL PARA OS REPRESENTANTES DA SOCIEDADE
AUDITAR O RESULTADO DA APURAÇÃO DOS VOTOS. Em outras palavras, caso
ocorra uma infiltração criminosa determinada a fraudar as eleições, restou
evidente que a fiscalização externa dos Partidos, da OAB e do MP, do modo como é
permitida, será incapaz de detectá-la.
3. Esta
impossibilidade de auditoria independente do resultado eleitoral é que levou à
rejeição de nossas urnas eletrônicas em todos os mais de 50 países que a
estudaram.
o CMIND não é um grupo de
hackers que se reuniu em uma mesa de bar ou porão pra maldizer o sistema
eleitoral brasileiro, mas um grupo de pessoas independentes que avalia o
processo eleitoral há anos e que resolveu dizer em público, e de uma vez por
todas, que o sistema precisa mudar.
não se trata de mudar a só a
urna, por exemplo. o problema é muito maior; segundo o CMIND, há que se
mudar o processo, inclusive o papel do TSE, para aumentar a segurança e
transparência do processo eleitoral. as três recomendações do CMIND são:
1. Propiciar
separação mais clara de responsabilidades nas tarefas de normatizar,
administrar e auditar o processo eleitoral brasileiro, deixando à
Justiça Eleitoral apenas a tarefa de julgar o contencioso.
2. Possibilitar uma
auditoria dos resultados eleitorais de forma totalmente independente das pessoas
envolvidas na sua administração.
3. Regulamentar
mais detalhadamente o Princípio de Independência do Software em Sistemas
Eleitorais, expresso no Art. 5 da Lei 12.034/09, definindo claramente
as regras de auditoria com o Voto Impresso Conferível pelo Eleitor.
se você leu até aqui, vale a pena saber quem
escreveu o que este blog está citando. o CMIND é…
Sérgio Sérvulo da Cunha,
74, jurista, membro da Comissão Permanente de Direito Constitucional do
Instituto dos Advogados Brasileiros.
Augusto Tavares Rosa
Marcacini, 45, membro da Comissão de Tecnologia da Informação do Conselho
Federal da OAB no triênio 2004/2006, acompanhou o desenvolvimento dos sistemas
eleitorais do TSE em 2004.
Maria Aparecida da Rocha
Cortiz, 49, advogada eleitoral, acompanha o desenvolvimento dos sistemas
eleitorais junto ao TSE desde 2002.
Jorge Stolfi, 59, Ph.D pela
Stanford University em 1988 é Professor Titular do Instituto de Computação da
Unicamp.
Clovis Torres Fernandes,
56, Doutor em Informática pela PUC-Rio em 1992, é Professor Associado da Divisão
de Ciência da Computação do ITA.
Pedro Antônio Dourado
Rezende, 57, matemático e criptógrafo, Professor de Criptografia e Ciência da
Computação da Universidade de Brasília.
Márcio Coelho Teixeira, 46,
engenheiro, projetou do protótipo de urna eletrônica em 1995 aprovado pela
Comissão de Informatização do Voto do TSE e acompanhou a apresentação dos
sistemas eleitorais do TSE em 2000.
Amilcar Brunazo Filho, 60,
engenheiro, assistente técnico em perícias em urnas eletrônicas, acompanha o
desenvolvimento dos sistemas do TSE desde 2000.
Frank Varela de Moura, 38,
analista de sistemas, acompanha o desenvolvimento dos sistemas eleitorais do TSE
desde 2004.
Marco Antônio Machado de
Carvalho, 44, analista de sistemas e programador, acompanhou o desenvolvimento
dos sistemas eleitorais do TSE em 2008.
o
relatório completo,
de 105 páginas, pode ser encontrado
neste link.
boa leitura. o debate só está começando e o blog vai voltar ao tema muito em
breve.
-------------------------------------------
Fonte: Blog Dia a Dia,
Bit a Bit de Silvio Meira
[28/08/08]
urna eletrônica NÃO é inviolável
a infra-estrutura brasileira de eleições,
informatizada e universal, é um feito da engenharia e políticas nacionais. não
resta a menor dúvida de que a urna eletrônica e o sistema de apuração por trás
dela funcionaram -e funcionam- muito melhor do que o sistema baseado em cédulas,
mapas e tinta que tínhamos antes. prova disso é que famílias e coronéis, brasil
a dentro, perderam o controle quase secular que tinham de algumas cidades [em
certos casos, regiões] porque não aprenderam a fraudar o sistema eleitoral
informatizado na velocidade de sua evolução.
mas, desde sua chegada, a urna eletrônica é
cercada de polêmica. uns, mais radicais [e usando argumentos, digamos,
convincentes] dizem que o sistema é furado, pura e simplesmente. outros, mais
condescendentes, apontam as melhoras que poderiam ser introduzidas para tornar o
sistema bem mais confiável do que é.
acontece que o crime organizado está querendo
organizar muita coisa e as eleições são parte importante do que [parece] que
pode ser "organizado". de um lado, tem gente cobrando eleitor tirando foto de
voto na urna pra mostrar pra cabo [?] eleitoral, sob pena de danos muito
significativos à sua existência terrena. estes são, poderíamos dizer, os
brucutus, a turma da força bruta. de outro, está a galera da inteligência do
crime, vendendo eleições, por milhões. ou pelo menos dizendo que vende -e
entrega- resultados.
e acontece que estamos no brasil, e a oferta de
"eleger quem fosse, por um preço" acabou vazando… por todo canto, como anúncio
viral em rede social. e o ministro ayres britto [na foto], presidente do
tribunal superior eleitoral, teve que reagir, na sua moeda. segundo declaração
do ministro, "o
sistema é absolutamente inviolável". acontece que este blog, além de cético,
escreve software há 35 anos e não acredita em sistemas "absolutamente
invioláveis"… até porque há resultados fundamentais [da teoria da computação...]
que nos levam à conclusão exatamente oposta. tudo indica que, num sistema
linguístico qualquer, temos que escolher entre consistência e completude. se o
sistema for consistente [ou seja, não dá pra pra provar que 0=1], há verdades,
no sistema, que não podem ser provadas. por outro lado, se pudermos demonstrar
tudo o que é verdade, o sistema é inconsistente, ou seja, também podemos provar
um 0=1 aqui, outro ali, enfim, em todo lugar. ou eleger qualquer um, mesmo sem
voto…
mas uma discussão do sistema eleitoral nestes
termos [teóricos] não é razoável, porque prática é a vida e as eleições. mesmo
sabendo que o ministro está teoricamente [pois não existem sistemas -do tipo do
sistema eleitoral- invioláveis] errado, resolvemos consultar um dos maiores
especialistas brasileiros em segurança de informação sobre o assunto e a sua
resposta a nosso emeio está abaixo. sabendo das implicações de suas declarações,
nosso personagem se escondeu por trás do codinome
frodo [baggins, o filho
adotivo de bilbo, do senhor dos anéis], o hobbit que tomou pra si a
responsabilidade de detonar
orodruin, a montanha do mal da terra do meio, da trilogia fantástica de j.
r. r. tolkien. coisas de gente de segurança.
sim: mas o que disse frodo? a conversa é longa.
leia e entenda porque o ministro ayres britto está errado mas, mesmo assim,
nosso sistema eleitoral informatizado pode continuar sendo melhor do que
qualquer outro, de papel, desde que tomemos os devidos [muitos] cuidados…
blog: as urnas brasileiras sao
invioláveis? até que ponto? por que? se alguém quiser violar uma urna, quais são
as opções?
Um dos maiores erros cometidos por quem não
trabalha diretamente na área de segurança de sistemas é afirmar que existe
sistema inviolável. Não existe 100% de segurança. Sistemas mais críticos devem
possuir mecanismos que permitam identificar que houve uma falha ou violação de
segurança e, a partir disso, tornar possível a tomada de decisões sobre a falha.
Não se pode afirmar que tal sistema seja inviolável, ou que qualquer sistema
seja inviolável.
Até onde se sabe, as urnas eletrônicas
brasileiras possuem suporte a tais mecanismos de auditoria, permitindo, em caso
de violação, a possibilidade de se detectar uma quebra de segurança.
Um ponto de falho da segurança das nossas
urnas é que elas são construídas sobre de sistemas operacionais tidos como
inseguras como DOS, que é utilizado nas primeiras urnas e, mais recentemente,
Windows CE. Estes dois sistemas permitem técnicas de debugging que facilitam a
realização de
engenharia reversa sobre a plataforma da urna. Quem tem mais de
30 anos lembra do DEBUG do DOS e o utilizou no seu dia a dia para depurar
problemas de execução. Este mesmo procedimento pode ser utilizado nas nossas
urnas e não é nada muito complicado de ser feito. Há rumores, não confirmados,
de que grupos de especialistas em segurança tiveram acesso a urnas e utilizaram
desta técnica para realizar alterações no funcionamento normal dos programas do
sistema.
Ainda sobre esta pergunta, vale salientar e
refletir sobre as palavras de
Josef Stalin:
“Quem vota e como vota não conta nada; quem conta os votos é que realmente
importa.” O que nos leva a sair da urna e tentar entender o que acontece com os
"votos" depois que eles "saem" das urnas. Quem garante que não há falhas nos
sistemas de recepção e processamento dos dados? Outro ponto importante, nesta
análise, é que alguns dos softwares utilizados no sistema eleitoral possuem
falhas de segurança não divulgadas. O artigo The
Vulnerability
Economy ilustra o tamanho do mercado de segurança de falhas não
divulgadas. Este problema não afeta apenas as urnas eleitorais mas qualquer
sub-sistema que faz parte do sistema eleitoral. E é sabido que partes do sistema
eleitoral possuem falhas não divulgadas.
-------------------------------
Fonte: Blog Dia a Dia,
Bit a Bit de Silvio Meira
[05/09/08]
câmara dos deputados duvida da segurança das urnas eletrônicas
semana passada, este blog publicou
uma entrevista onde um especialista em segurança de informação questionava a
segurança do sistema eleitoral brasileiro. o entrevistado preferiu
permanecer anônimo, o blog concordou e o texto resultante teve a maior audiência
[o blog chegou a cair] e comentários [150+] da curta história deste espaço. a
entrevista desmentia, pura e simplesmente, a declaração do presidente do TSE de
que o sistema eleitoral brasileiro seria "inviolável".
uma boa parte dos comentários [contra e a
favor] é conseqüente e resulta da reflexão de quem leu o texto com atenção e
deu, honestamente, sua opinião. esta parte da discussão ajuda, e muito, a
esclarecer as dúvidas que todos nós temos -ou deveríamos ter- sobre o sistema
eleitoral brasileiro.
outra parte das contribuições veio da histeria
dos que defendem cegamente algo que não entendem, combinado com gente que
acredita em papai noel e não tem nenhum outro espaço para se manifestar a não
ser comentários em blogs. como a galera que quer desclassificar alguma opinião,
sem pensar, só porque vinda de fonte anônima. será que esta gente não sabe o
tipo e a intensidade das forças que operam em ambientes tão críticos como o
processo eleitoral? será que ainda há quem ache que se pode dizer tudo, em
qualquer espaço, em qualquer época, de peito aberto, sem temer pelo seu emprego,
relações e, em certos casos, vida? será que há quem acredite que a liberdade de
informar [incluindo o sigilo das fontes] e os direitos individuais, impressos
nas constituições, estão lá apenas porque o texto é esteticamente belo?…
mas vamos deixar tais considerações prá lá, por
enquanto, pois sempre haverá espaço para discuti-las aqui e em todo lugar, por
muito tempo. e vamos ver duas notícias desta semana, sem nenhuma relação direta
com o texto deste blog semana passada, mas com tudo -e mais- a ver com o assunto
que tratamos.
o primeiro, neste
link, vem direto da subcomissão especial de segurança do voto eletrônico da
câmara dos deputados, através de seu presidente, deputado geraldo magela [do pt/df,
representante do governo, portanto]. o deputado afirmou, dia 1º, que "as
urnas eletrônicas fabricadas pela norte-americana Diebold, utilizadas nas
eleições do país, não são seguras e não dão garantia de que a vontade do eleitor
será respeitada". e disse mais [o que de resto é sabido há tempos por todo
mundo que esteve perto do assunto]: "o voto eletrônico significa um avanço
democrático e pode ser aperfeiçoado". uia!… foi a mesma coisa que dissemos
alguns dias atrás, e vem com o carimbo da comissão da câmara que estuda o
problema de segurança do voto eletrônico [e a gente não estava lá pra ajudá-los
a chegar em tal conclusão].
do outro lado, na bancada da oposição,
o vice-líder do
psdb, deputado Gustavo Fruet, diz que "diante de tantas denúncias de
grampos e suspeitas de participação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
no vazamento de escutas telefônicas, o partido vai propor à Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) a realização de uma auditoria externa sobre um novo sistema de
criptografia que a Abin apresentará à Justiça Eleitoral para utilização nas
urnas eletrônicas, durante as eleições deste ano".
e faz todo sentido do mundo: você deixaria, no
contexto atual, a abin tomar conta da criptografia de sua conta bancária? não é
que a agência não seja competente ou confiável… é que evidências de sua atuação
recente a deixam numa situação muito difícil como provedor de criptografia e
assinaturas para o processo eleitoral, ou seja, como principal responsável pela
segurança e sigilo das eleições. não é "culpa" da agência, mas de ações
esporádicas e recentes [como
grampear o mundo ao seu redor] que fizeram a sociedade concluir que ela, a
abin, não é confiável ou isenta. o que é uma pena, pois instituições como abin
têm, claramente, um papel muito importante no arranjo institucional de qualquer
país complexo como o brasil.
este blog sustenta a tese de que o sistema
"eletrônico" é muito melhor do que o "de papel", por razões óbvias: as urnas de
lona, os votos em papel, as apurações do passado e seus "mapas" sempre foram uma
fábrica de eleitos. muito mais que a metade do processo eleitoral rolava,
sempre, na confusão pós urnas. mas este blog também entende que o sistema atual
pode ser melhorado, e muito, pelo aumento de transparência ao redor da urna
eletrônica e dos sistemas de informação que, depois do voto, pronunciam os
eleitos.
depois de nosso texto sobre o assunto, o TSE convidou o terra magazine para
testemunhar o lacre das urnas eletrônicas. nós agradecemos a deferência, mas
entendemos que "testemunhar" a carga do software e o lacre das urnas não
adiciona nenhum valor à qualidade do processo eleitoral. preferiríamos que o
TSE, em nome transparência das eleições, contratasse grupos independentes de
especialistas, dissociados de governo e partidos, para testar, verificar,
validar e certificar o sistema eleitoral ou, eventualmente, encontrar as falhas
que, corrigidas, tornariam o processo ainda melhor do que acreditamos que ele já
seja. o custo de abrir o sistema inteiro para uma auditoria externa,
independente, seria muito menor do que a permanente suspeita, velada aqui,
explicita ali, de que há algo errado com o sistema informatizado de votação que
usamos no brasil.
na prática, dá pra fazer alguma coisa para as
próximas eleições? provavelmente não. mas há eleições, por aqui, de dois em dois
anos. é um verdadeiro festival, quase contínuo, de votos. será que o TSE não
deveria inovar e chamar um monte de gente pra perto do processo, ao invés de se
fechar em torno de suas próprias crenças e tentar, colaborativamente, melhorar a
qualidade do processo eleitoral como um todo, olhando para as eleições por vir?
a sociedade agradeceria e o tribunal, ao fazer isso, ganharia aliados e
alianças. e quase de graça, mesmo que caro fosse, considerando o benefício.
---------------------------------------
Fonte: Blog Dia a Dia,
Bit a Bit de Silvio Meira
[08/09/08]
eleições: TSE esconde a verdade sobre as urnas
nas últimas semanas, este blog publicou dois
textos sobre a segurança das urnas eletrônicas e, conseqüentemente, sobre a
segurança de todo o processo eleitoral brasileiro. no primeiro [urna
eletrônica NÃO é inviolável], um especialista anônimo [cognominado
frodo] desmontou
a afirmação do presidente do TSE, que havia dito ao país exatamente o
contrário do título do nosso texto. no segundo [câmara
dos deputados duvida da segurança das urnas eletrônicas] mostramos os dois
opostos da política nacional, pt e psdb, concordando que o processo eleitoral
precisa de mais segurança e transparência.
neste episódio, começamos a publicar uma
entrevista com o engenheiro amílcar brunazo filho, que estuda o problema de
segurança de voto eletrônico desde 1996 e que muita gente pensou [o blog
recebeu vários emeios sobre isso...] que fosse a verdadeira identidade de
frodo. mas não é. brunazo é um técnico que conhece o processo eleitoral
eletrônico por dentro por dentro e afirma, há tempos, que sua segurança
absoluta é mais propaganda do que realidade. comparativamente,
as urnas e o sistema usados na venezuela, em 2006, já eram muito mais
seguros do que o atual sistema brasileiro.
amilcar brunazo filho, engenheiro e
programador, acompanha desde 2000 o desenvolvimento do sistema eleitoral
eletrônico como representante do PDT junto ao TSE. colaborou com o TSE com
sugestões que foram incorporadas ao processo eleitoral por lei ou resolução,
como a obrigação do teste de votação paralela, a abertura dos programas feitos
pela ABIN, a adoção de sistema operacional aberto nas urnas eletrônicas, a
permissão para conferência das assinaturas digitais dos sistemas pelos
partidos políticos e a publicação dos resultados por seção eleitoral na
internet. também acompanhou processos e perícias oficiais sobre urnas
eletrônicas, tendo detectado as quebras de integridade dos logs nas
urnas de alagoas em 2006. o texto completo de seu livro "fraude
e defesas no voto eletrônico" [que está esgotado] pode ser baixado
neste link.
brunazo filho é um dos especialistas por trás do site
www.votoseguro.org.
a seguir, a primeira das perguntas que
fizemos [por emeio] a brunazo filho e sua resposta.
blog: o TSE contratou uma consultoria
para avaliar a urna eletrônica ou o sistema eleitoral como um todo? a quem e
quando? no que resultou tal esforço, até agora? há resultados a divulgar? se
sim, porque o TSE ainda não os apresentou à população?
Sim, em maio de
2008 firmou-se o Contrato TSE 032/2008 com a Fundação de Apoio à Capacitação
de Tecnologia da Informação -
FACTI
- e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer -
CenPRA
- com o objeto formal de elaboração e análise de testes de vulnerabilidade
quanto à segurança do sistema eletrônico de votação. O CenPRA e a FACTI são
entidades ligadas ao Ministério de Ciência e Tecnologia e foram chamadas para
estudar e testar a segurança e confiabilidade das nossas urnas eletrônicas.
O motivo inicial que
levou a esta contratação foi uma petição de 2006, do PT e do PDT e com adesão
do PR, que solicitava permissão para efetuar testes de resistência a ataques,
chamados Testes de Penetração, nas urnas eletrônicas. O segundo motivo foi a
vontade do TSE manter restrito o conhecimento do resultado do teste, pois se
permitisse o teste pelos partidos, os resultados ganhariam conhecimento
público.
O contrato tem data final
para dezembro de 2008 e prevê a apresentação de relatórios de análises e
testes dos procedimentos de: a) Geração de Mídias (preparação dos cartões de
memória que transportam os programas oficiais até as urnas eletrônicas); b)
Carga e Lacração das urnas; c) Votação e Apuração, até a emissão dos disquetes
com os resultados de cada urna.
Até o momento (setembro
de 2008) fui informado de que existem dois relatórios parciais, a partir dos
quais modificações nos procedimentos e nos programas das urnas já estão sendo
implantados. Por força de lei, o TSE mantem desde abril um ambiente controlado
para apresentação obrigatória dos sistemas às entidades autorizadas, no qual
só se pode entrar sob compromisso assinado de sigilo.
Neste local, como
representante de um partido político, solicitei a apresentação dos relatórios
da FACTI, que a rigor foram produzidos por causa de nossa petição inicial. O
pedido já foi negado pelo Diretor Geral e pelo Ministro-relator, com alegações
banais sobre a formalidade, sem enfrentarem seu mérito, o da transparência do
processo eleitoral.
Mas o fato é que os
relatórios parciais do FACTI apontam tantas vulnerabilidades insanáveis, desde
a Geração de Mídias até a gravação do disquete, que o TSE decidiu: 1)
manter os relatórios totalmente secretos para impedir que o eleitor
brasileiro saiba que o sistema possui vulnerabilidades; 2) impedir os
testes de penetração solicitados em 2006 pelos partidos políticos;
3) abandonar, após as eleições de 2008, o projeto atual das urnas
eletrônicas; 4) aditar o contrato FACTI/CenPRA para
tentar desenvolver um novo projeto, de urnas eletrônicas mais confiáveis, para
as eleições de 2010 e 5) desinformar o eleitor, negando em
público a existência de falhas de segurança e afirmando que testes de
penetração serão permitidos em 2008.
Para saber mais, clique neste link
.
Enfim, o TSE já obteve,
da FACTI/CenPRA, a confirmação de que uma parte muito importante de
seu sistema eleitoral, a urna eletrônica, possui brechas de segurança que
podem ser exploradas de forma maliciosa e capaz de alterar o resultado da
eleição, mas continua, oficialmente, negando a dura realidade dos
fatos e repetindo que o sistema eleitoral que oferece à sociedade é seguro e
inviolável, quando sabe muito bem que este não é o caso.
amanhã, neste mesmo horário e canal, daremos
seqüência à conversa com brunazo filho. até lá.
---------------------------------------
Fonte: Blog Dia a Dia,
Bit a Bit de Silvio Meira
[09/09/08]
eleições: sem conferência, urna é alvo fácil
este texto é uma continuação da
entrevista de amilcar brunazo filho, engenheiro e programador que
acompanha desde 2000 o desenvolvimento e utilização do sistema eleitoral
eletrônico no brasil. a
primeira parte, com o currículo de brunazo e o contexto de nossa conversa,
está neste link. nela, tratamos de uma consultoria contratada pelo TSE
para avaliar a segurança das urnas e que, segundo brunazo, já concluiu que o
sistema mais parece uma peneira.
a seguir, a segunda das perguntas que fizemos
[por emeio] a brunazo filho e sua resposta, como nos foi enviada.
blog: a urna, em particular, é
segura? se você, que conhece -como muita gente- seus princípios, fosse
fraudá-la, faria o que e em qual estágio do processo? que cuidados a mais o
TSE deveria tomar para, mesmo com a urna insegura, diminuir tal risco?
O processo eleitoral se
inicia com o cadastramento de eleitores, passa pela votação, apuração e
termina na totalização. Qualquer um destes pontos pode ser atacado para se
deturpar o resultado. E isto quer dizer que o melhor ponto para atacar é
aquele ao qual se obtém acesso mais fácil.
Assim, quem tem acesso ao
cadastro pode inserir eleitores fantasmas; os mesários podem inserir, nas
urnas, votos de eleitores ausentes; quem tem acesso aos programas-fonte
(versão em texto legível dos programas de computador da urna), pode
adulterá-los para desviar votos em todo um estado. E, se o acesso for
a apenas algumas urnas, pode-se tentar modificar seus programas e burlar suas
defesas.
No caso das urnas, eu
vejo nos flash-cards de carga (que são os cartões de memória que transportam
os programas oficiais para as urnas eletrônicas) um ponto vulnerável, que se
explorado pode contaminar 100 urnas eletrônicas de cada vez com
programas desonestos, capazes de mudar o resultado da votação nas urnas em que
forem inseridos com sucesso.
Este tipo de ataque
foi usado -e deu resultado- por técnicos da Universidade de Princeton, em
urnas eletrônicas muito similares às brasileiras em termos de projeto de
segurança. Um vídeo (em inglês) sobre este ataque
está
neste link
. Mas é claro que é muito difícil prever todas as formas de ataque e
projetar defesas contra cada uma delas é ainda mais complicado.
Por exemplo, o TSE
anunciou para outubro deste ano testes em urnas com biometria para impedir a
"compra de votos", ou seja, quando se paga a eleitores para fornecerem seus
títulos a outras pessoas que votarão em seu lugar. O custo destas urnas
biométricas será enorme. Mas o teste ainda nem foi feito e o TSE já sabe de
modificações na forma de fraudar que burla as urnas biométricas, como a
"compra do voto com celular", onde o eleitor usa o telefone celular para
filmar a tela da urna com seu voto e a "compra da abstenção", quando se paga
eleitores do adversário para fornecerem seus títulos e identidades,
impedindo-os de votar. Há mais informação sobre estes problemas
neste link
.
Do meu ponto de vista, a
única forma de dar mais confiabilidade a qualquer processo eleitoral é
dotá-lo de formas automáticas e eficazes de conferência da apuraçâo.
No caso das urnas eletrônicas, seria necessário materializar o voto para
usá-los em auditorias, obrigatórias, por amostragem. Este é o tipo de sistema
que tem sido adotado em todo o mundo. Só aqui no Brasil continuamos
usando urnas eletrônicas cujo resultado não tem como ser conferido. E esta,
claramente, é a principal fraqueza da nossa urna eletrônica.
------------------------
Fonte: Blog Dia a Dia,
Bit a Bit de Silvio Meira
[10/09/08]
eleições: maior problema é a concentração de poderes
este é o último texto da série em que
publicamos uma entrevista com amilcar brunazo filho, engenheiro e programador
que acompanha desde 2000 o desenvolvimento do sistema eleitoral brasileiro. a
primeira parte, com o currículo de brunazo e o contexto de nossa conversa,
está neste link. na pergunta inicial da entrevista, tratamos de
uma consultoria contratada pelo TSE para avaliar a segurança das urnas e que
já concluiu que o sistema de votação do país mais parece uma peneira. na
segunda,
tratamos de segurança e fraude na votação, e onde e como gente que entende
do sistema poderia
atacar o processo eleitoral.
a seguir, a última das perguntas que fizemos
[por emeio] a brunazo filho e sua resposta, como nos foi enviada.
blog: você tem sido uma das pessoas a
criticar, contínua e consistemente, o processo eleitoral eletrônico. o que sua
experiência de anos a fio em contato com os processos, pessoas e instituições
envolvidas nos ensina? será que é possivel ter uma eleição eficiente e, ao mesmo
tempo, eficaz, segura e a custos razoáveis?
Em 1996, quando comecei a
me interessar pela segurança do voto eletrônico, eu achava que bastaria corrigir
alguns erros de projeto das urnas eletrônicas, como a falta do voto
materializado para auditoria e a irresponsável identificação do eleitor na mesma
máquina de votar, que o problema estaria resolvido.
Mas acabei
descobrindo que, aqui no Brasil, o problema da confiança e transparência do
processo eleitoral nasce em outro nível, o do acúmulo de poderes nas eleições.
No Brasil não há a tri-partição de poderes eleitorais. Uma mesma entidade (o
TSE) tem os poderes de 1) escrever as regras, 2)
administrar as eleições, 3) definir o que pode ser fiscalizado,
4) controlar e distribuir toda a verba oficial e, o que é uma
aberração, 5) julgar até os casos em que é ré como executora e
administradora do processo eleitoral. Tamanha concentração de poderes
não ocorre no resto do mundo, como mostra o estudo do Senado que pode ser
baixado deste link
(em formato aberto que pode ser lido com o
OpenOffice).
Agora, mais experiente, eu
acredito que somente separando as pessoas do administrador eleitoral, do
regulamentador, do fiscal e do juiz é que poderemos construir sistemas
eleitorais controlados e com resultados passíveis de conferência. Feita esta
separação, logo a sociedade encontraria como tornar as urnas eletrônicas mais
confiáveis dentro de custos aceitáveis.
Mas como "poder não se
pede, se toma", uma boa parte da sociedade haveria que se engajar numa cruzada
pela "Partição dos Poderes Eleitorais", senão nada acontecerá. Quem tem
poder em excesso não vai abrir mão dele espontaneamente e, como sempre
acontece, os puxa-sacos e os lambe-botas continuarão os defendendo.
****************************************
o assunto, obviamente, não se esgota aqui e
tampouco nesta eleição. o autor deste
blog sempre defendeu a tese de que a votação eletrônica tem sido melhor
do que as velhas urnas e mapas de totalização
[veja aqui um texto nosso, de 2004]. há evidências de que a bagunça
eleitoral diminuiu muito com a adoção do sistema eletrônico de votação e,
por isso, está de parabéns o TSE e o brasil.
mas, ao mesmo tempo, e à medida que o
conhecimento sobre o sistema eletrônico e suas falhas se espalha pela sociedade,
cada vez mais gente vai entendendo como fraudar o processo [veja
aqui outro texto nosso, de 2006], e desta vez sem deixar rastro algum. não é
possível falar em eleições limpas e listas de candidatos sujos sem que, ao mesmo
tempo, se discuta a segurança e transparência do processo eleitoral. na
berlinda, por isso, estão o TSE e o brasil.
parece evidente que o mecanismo de segurança
por obscuridade, escondendo o software e os mecanismos de segurança, e ausência
de sistemas e instituições independentes de conferência e auditoria do processo
eleitoral, conjugados com a concentração de todos os poderes eleitorais
em um único corpo, o TSE, não contribui para uma eleição de melhor
qualidade e sobre a qual pairem menos suspeitas. estruturar o processo de tal
forma que os planejadores planejem, os administradores administrem, os
executores executem e os julgadores julguem parece óbvio. mas não é, tanto que
não está sendo feito, apesar das investidas da sociedade, até agora
desorganizada, nesta direção.
muito se disse, nos comentários aos textos
anteriores do blog, sobre a eleição no resto do mundo. é bom que se saiba que
eleição é fraudada em todo lugar, de condomínio e diretório acadêmico até
presidência das mais educadas e pacatas repúblicas. e ninguém, do lado de cá do
blog, é ingênuo a ponto de estar propondo a importação do sistema dali ou de
outrem e muito menos a volta ao papel e mapas antigos, para substituir o nosso.
estamos propondo, e parece que muito mais gente
está, inclusive no legislativo nacional e na comunidade de segurança de
informação, que melhoremos nosso próprio processo, a ponto de torná-lo tão bom
quanto possível, referência mundial de verdade e capaz de ser exportado para
outros, muitos outros países. se o sistema é tão bom assim, por que a gente não
faz o bem e, ainda por cima, ganha dinheiro com as urnas e o sistema eleitoral,
realizando eleições no mundo inteiro? ou será que não podemos ter uma "embraer"
do voto?…
talvez não. porque primeiro é
preciso não fugir ao debate, ao escrutínio público, ao questionamento aberto e
amplo da sociedade. seguindo o exemplo de sociedades democráticas e abertas como
irã, arábia saudita e china,
o TSE -pelo que um passarinho me contou- está
filtrando, internamente, o acesso a este blog. quem entrar em nosso
endereço encontra o texto “Página Bloqueada de Acordo com a Resolução Nº-20882/2001
do TSE” e mais nada. todos os outros blogs do terra magazine podem ser
acessados normalmente, como era o caso deste blog até a série de perguntas e
respostas sobre o voto eletrônico. por que será? [@11:30... o blog está vetado
em toda a rede do TSE, incluindo todos os prédios dos TREs brasil afora...]
na ditadura militar, muitos dos textos -bons e
ruins- que nos faziam questionar o estado de coisas eram proibidos. andar de
metrô ou ônibus com um deles na mão… nem pensar. nem no bar ou restaurante,
tampouco na escola. só se você quisesse perder -no mínimo- umas unhas no
DOI-CODI. cantar sua canção predileta?
uuui… e
esta não é uma parte "legal" da história do brasil. e nem precisava da ação
da polícia política da época, pois os puxa-sacos e os lambe-botas a que
brunazo se refere estavam lá, prontos pra apontar "o mal" que estava tentando
destruir a sociedade da época. e
nada
disso é novidade:
o
brasil tem uma looonga história de censura.
mas… enquanto os colaboradores do TSE estiverem
lendo [e eu também leio!]
iuri rubim e o blog das ruas,
odara carvalho e paula guedes no blog do repique [pixadores
barbarizam galeria!] e altino machado no blog da amazônia [e
os índios do peru!] vai estar rolando, menos de um mês antes das eleições de
2008, uma ampla discussão, na rede e fora dela, talvez sem ninguém do TSE, sobre
o processo eleitoral. tomara que o TSE não seja vítima da
síndrome da ilha fiscal. tomara.
-------------------------
BLOCO - Blog Comunitário
Relação de "posts"
06/12/09
•
Segurança do Processo Eleitoral (09) - A advogada Maria Aparecida Cortiz comenta
os testes feitos por "hackers"
10/11/09
•
Segurança do Processo Eleitoral (07) - Sistema de votação é testado por "hackers":
04 notícias sobre a polêmica
18/11/09
•
Segurança do Processo Eleitoral (08) - "Ecos" dos testes em que a "urna
eletrônica" resistiu aos "hackers"
10/11/09
•
Segurança do Processo Eleitoral (06) - Nova ambientação + "Urnas Eletrônicas" +
Hackers
15/09/08
•
Segurança do Processo Eleitoral (05): Transcrição de cinco matérias
14/09/08
•
Segurança do Processo Eleitoral (04) - Blogs do Márcio del Cístia e do Sílvio
Meira: "Urna eletrônica NÃO é inviolável"
10/08/08
•
Segurança do Processo Eleitoral (3) - História e mais dados técnicos
07/08/08
•
Segurança
do Processo Eleitoral (01) - Página Comunitária + "Urna achada na rua"
19/12/06
•
Justiça
Eleitoral + Urnas Eletrônicas (3) - Msg de Fernando Botelho sobre os "posts"
anteriores
•
Justiça
Eleitoral + Urnas Eletrônicas (2) - Msg de Courtnay Guimarães Jr sobre o "post"
Justiça Eleitoral + Urnas Eletrônicas (1)
•
Justiça
Eleitoral + Urnas Eletrônicas (1)
28/09/06
•
A "Urna
Eletrônica" é segura? (6)
26/09/06
•
A "Urna
Eletrônica" é segura? (5)
18/09/06
•
A "Urna
Eletrônica" é segura? (4)
15/09/06
•
A "Urna
Eletrônica" é segura? (3)
12/09/06
• A
"Urna Eletrônica" é segura? (2)
03/09/06
• A Urna
Eletrônica é segura (1)?
[Procure
"posts" antigos e novos sobre este tema no
Índice Geral do
BLOCO]
ComUnidade
WirelessBrasil