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WirelessBrasil
Março 2011 Índice Geral do BLOCO
O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão Celld-group e WirelessBR. Participe!
• Telebrás, Eletronet e PNBL
(340) - Um bom começo nas Comunicações? 'Sei não...
01.
Gosto de ressaltar o bom trabalho de sites e jornalistas mas tenho sido um
crítico constante da mídia especializada em TI e Telecom, pelo excesso de
utilização de pautas ou releases de empresas e do governo. Para definir essa
mídia já utilizei adjetivos como "pautada", "passiva", "sentada" e, por omissão,
"conivente".
Num artigo "fora do foco" dos Grupos, Demétrio Magnoli, sociólogo e
doutor em Geografia Humana, com precisão cirúrgica, sintetiza meu pensamento:
(...)
‘Eu fiz jornalismo e aprendi que notícia, quando se trata de governo, é uma
coisa prática, já adotada. Notícia é quando o governo tomou uma atitude, não
quando diz que vai fazer alguma coisa’, disse Magnoli.(...)
Tema para eterna meditação...
02.
Transcrevo mais abaixo duas entrevistas.
Ethevaldo Siqueira e Renato Andrade, do Estadão, entrevistam
Paulo Bernardo, ministro das Comunicações:
“Governo não vai investir bilhões em banda larga” e
Lia Ribeiro Dias, do Tele.Síntese, entrevista Rogério Santanna, presidente
da Telebrás:
Orçamento da Telebrás dá até setembro
03.
Como leitor e crítico do "PNBL com Telebrás" fico decepcionado com as
entrevistas que não abordaram objetivamente os problemas que temos discutidos
nestas 340 mensagens.
Ethevaldo, por exemplo, com um enorme histórico de crítica ao modo como foi
criado o PNBL e reativada a Telebrás, tinha quase obrigação de se aprofundar
neste tema mas não o fez.
Quem sabe fica par uma próxima entrevista, némessm? :-)
Também acho o ministro Bernardo muito simpático
e desejo-lhe um profícua gestão. Mas... :-)
04.
Sobre o tema, permito-me repetir um trecho deste "post" que inaugurou o ano de
2011 em nossos Grupos, que resume minha descrença:
01/01/11
• Telebrás,
Eletronet e PNBL (323) - Ethevaldo x Telebrás (11): "Que esperar das
Comunicações" + Comentário: "Voto de desconfiança" em relação ao "novo" PNBL
(...)
No primeiro dia de dezembro divulguei esta matéria do Ethevaldo em seu blog:
Fonte: Blog do Ethevaldo
[01/12/10]
Conselhos ao novo ministro - por Ethevaldo Siqueira
Visito hoje o blog do Ethevaldo e anoto mais uma "correspondência", do
último dia de dezembro, endereçada ao novo ministro, Paulo Bernardo:
Fonte: Estadão/ Blog de Ethevaldo Siqueira
[31/12/10]
Que esperar das Comunicações - por Ethevaldo Siqueira
Da minha parte, em
relação ao PNBL, registro um "voto de desconfiança" com relação à correção de
rumos neste processo de difusão da banda larga.
O PNBL foi gestado pelo "Quarteto Fantástico" constituído por:
- Dilma Rousseff (ex-Casa Civil),
- Paulo Bernardo (ex-Planejamento),
- Cezar Alvarez (ex-assessor especial da Presidência) e
- Rogério Santanna (ex-SLTI do MiniPlan).
É notório que o atual PNBL é tudo, menos um Plano ou Projeto, e não passa de um
conjunto de intenções.
O citado "Quarteto", eivado de super-poderes, com toda a retaguarda do MiniPlan
e da Casa Civil, não conseguiu fazer um PNBL.
Agora, movidas as peças do xadrez governamental, os "Quatro", em novas funções,
serão os responsáveis pela execução do que não conseguiram projetar:
- Dilma Rousseff (Presidente),
- Paulo Bernardo (Minicom),
- Cezar Alvarez (secretário-executivo do MiniCom) e
- Rogério Santanna (presidente da Telebrás).
Parece brincadeira. Infelizmente, não é. "PNBL com Telebrás": acredite se
quiser.
Telebrás: uma gestão temerária.
A conferir. (...)
05.
Abaixo estão transcritas estas matérias:
Fonte: O Estado de
S.Paulo
[09/03/11]
Bom começo nas Comunicações - Editorial Estadão
Fonte: Blog do Ethevaldo
Siqueira / Estadão
[07/03/11]
Bernardo nas Comunicações - por Ethevaldo Siqueira
Fonte: Blog do Ethevaldo Siqueira / Estadão
[27/02/11]
“Governo não vai investir bilhões em banda larga” - por Ethevaldo Siqueira e
Renato Andrade
Fonte: Tele.Síntese
[02/02/11]
Orçamento da Telebrás dá até setembro - por Lia Ribeiro Dias
Fonte: Observatório da
Imprensa - Origem: O Estado de S. Paulo
[17/02/11]
Pauta pró-governo da TV Cultura é criticada no ar - por Gabriel Manzano e
Roberto Almeida
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL
BLOCOs
Tecnologia e
Cidadania
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Fonte: O Estado de
S.Paulo
[09/03/11]
Bom começo nas Comunicações - Editorial Estadão
As comunicações receberam muito pouca atenção do governo Lula. À exceção da
introdução da TV digital no País, nenhum outro projeto de maior envergadura foi
iniciado nos oito anos do ex-presidente.
As coisas, agora, parecem estar mudando, a julgar pelas palavras do ministro
Paulo Bernardo. Em recente entrevista que concedeu ao Estado, ele afirmou que a
presidente Dilma Rousseff considera as comunicações "uma área absolutamente
vital" - pois, na visão do governo, "o mundo e o País dependem cada vez mais da
informação".
Em lugar de contestar o novo modelo setorial - como fizeram seus antecessores
nos últimos oito anos -, o ministro relembra que as telecomunicações foram
privatizadas e que, portanto, cabe às concessionárias privadas fazer os
investimentos necessários à implantação da infraestrutura de banda larga de que
necessita o País. "Nas Comunicações, muito mais do que realizar, o Estado deve
definir políticas públicas, envolvendo, entre outros segmentos, a internet e a
política industrial. O governo tem que cuidar do lado fiscal. Não lhe cabe
investir pesadamente em banda larga. E não vamos fazê-lo."
Isso significa que, até por força do corte de gastos públicos, o papel da
Telebrás passará a ser muito mais modesto na implantação do Plano Nacional de
Banda Larga (PNBL), do que pretendia o governo Lula. Mas é claro que ainda há
dentro do governo quem defenda, por razões ideológicas, a volta do Estado como
maior investidor e principal prestador de serviços na área de telecomunicações.
Sobre o setor de radiodifusão, a posição do ministro é clara e incisiva ao
condenar as concessões de rádio e TV a políticos, e defender a revisão do
modelo, "de modo a torná-lo mais descentralizado e mais democrático".
O ministro Paulo Bernardo lembra ainda que a lei tipifica como crime a posse de
emissoras de rádio e TV em nome de "laranjas". E acha que o Ministério Público e
a Polícia Federal já deveriam estar cuidando disso. Reconhece também que um novo
marco regulatório poderia corrigir esse problema, "mas com realismo, pois as
leis não têm efeito retroativo". A solução, a longo prazo, é não renovar as
concessões a políticos ao final das licenças.
As nomeações de pessoas menos qualificadas, por simples indicação política, para
a direção de estatais é uma preocupação do ministro. Ele não reconhece,
entretanto, que essa tenha sido a causa dos recentes escândalos nos Correios: "O
que houve foi um descuido, com sérios problemas de gestão. Hoje temos uma
diretoria com currículos bem selecionados e que não foi indicada por ninguém,
nenhum partido".
A visão do ministro sobre a elaboração de uma nova Lei Geral de Comunicações é
bem diferente daquela do ex-ministro Franklin Martins. Diz que recebeu o
anteprojeto deixado por Martins, mas ainda não leu com maior atenção o
documento. "Não vou divulgá-lo agora. Acho que há grande chance de ele conter
alguma besteira. Vamos revê-lo e submetê-lo depois ao mais amplo debate com
todos os interessados."
Assim como a presidente Dilma, o ministro Paulo Bernardo não concorda com o
chamado controle de conteúdo dos meios de comunicação em geral: "Uma coisa é
regulação. Outra é controle. Temos que aprender a conviver com a crítica mais
ampla. Qualquer tentativa de limitá-la será inócua".
O problema fiscal parece ser o mais sério que as telecomunicações enfrentam no
Brasil. O ministro sugere amplo diálogo entre o governo federal e os
governadores para negociar uma redução do ICMS, em especial nos serviços de
banda larga.
Outra distorção é o confisco da maior parte dos fundos setoriais, que deveriam,
por lei, ser investidos na universalização dos serviços, na fiscalização e no
desenvolvimento tecnológico. Nos últimos 10 anos, entretanto, eles têm sido
apropriados pelo Tesouro Nacional num montante que já supera os R$ 32 bilhões.
Com esses R$ 32 bilhões investidos na implantação de uma rede de banda larga, o
Brasil poderia contar com excelente infraestrutura nessa área.
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Fonte: Blog do Ethevaldo
Siqueira / Estadão
[07/03/11]
Bernardo nas Comunicações - por Ethevaldo Siqueira
Paulo Bernardo é uma grata surpresa, como ministro das Comunicações. Posso estar
enganado, mas a primeira impressão que me passou foi a de um homem público
realmente sério e interessado na solução dos problemas e do progresso desse
setor, que, segundo suas palavras, é considerado “absolutamente vital” – na
visão do governo, “pois o mundo e o País dependem cada vez mais da informação,
no momento em que o Brasil se prepara para ser a quinta economia do planeta”.
Conversei durante quase uma hora com o ministro Paulo Bernardo, das
Comunicações, com a participação de meu colega, repórter Renato Andrade, da
Sucursal do Estadão em Brasília, em entrevista exclusiva que nos concedeu no dia
24 de fevereiro. A conversa foi a mais franca, aberta e transparente, sem fugir
a nenhuma pergunta.
Depois de oito anos, acho que temos um ministro das Comunicações realmente
disposto a trabalhar com seriedade pelo desenvolvimento do setor, sem distorções
ideológicas, sem chavões e com propostas adequadas ao mundo atual.
Não se surpreendam, leitores, com este elogio. Minha escola de jornalismo não me
proíbe de aplaudir, ainda que de forma contida, tudo que me parece positivo e
elogiável em qualquer governo ou homem político. Como tenho afirmado em outras
oportunidades, torço, sim, como brasileiro, para que o ministro Paulo Bernardo
faça a melhor gestão, resgate não apenas o Ministério que dirige – tão esvaziado
e degradado nos últimos oito anos – mas, principalmente, o setor de
Comunicações, como um todo.
Marco regulatório
Analisemos sua entrevista, publicada na íntegra neste blog, começando pelo tema
da legislação setorial. Tenho afirmado neste blog que a maior prioridade das
Comunicações no Brasil hoje é um novo marco regulatório, isto é, uma nova Lei de
Comunicações, moderna e que contemple, acima de tudo, o processo de convergência
digital que, praticamente, eliminou as fronteiras entre telecomunicações e
radiodifusão. Paulo Bernardo havia dito na manhã daquele dia 24, em palestra
proferida no evento Políticas de (Tele)Comunicações, em Brasília, que não
pretende fazer uma Lei de Comunicação, um marco regulatório abrangente, mas
prefere legislar por etapas. (“Governo
não vai investir bilhões em banda larga” )
Na entrevista ao Estadão, retificou: “Isso ainda não está definido. Sei que
poderíamos fazer um projeto abrangente, com todos os aspectos de forma coerente.
Mas será muito mais difícil aprová-lo porque teremos todos os interesses
contrários, unidos, contra muitos desses aspectos. O que eu disse foi apenas uma
ideia, uma sugestão, em resposta a uma pergunta do auditório, sobre a questão da
produção independente nacional e regional”.
O grande risco de se fazer um marco regulatório em etapas, com diversas leis
específicas e segmentadas, é resultar, no final, em uma espécie de Lei
Frankenstein, um monstro com olho na testa, quatro braços e pernas muito finas.
Considero, no entanto, muito positiva a disposição deste governo de dar
prioridade à elaboração de uma Lei Geral de Comunicações. E mais: que não se
resuma ao texto deixado pelo ex-ministro Franklin Martins. “Aquele texto pode
ser um ponto de partida. Mas eu ainda não tive a oportunidade de lê-lo com
cuidado. Por isso, acho até que pode conter alguma besteira. É claro que vamos
submetê-lo a uma discussão mais ampla”.
Na mesma linha da presidente Dilma Rousseff, o ministro Paulo Bernardo diz que
não concorda com o chamado controle de conteúdo dos meios de comunicação em
geral: “Uma coisa é regulação. Outra é controle. Temos que aprender a conviver
com a crítica mais ampla. Qualquer tentativa de limitá-la será inócua.”
A disposição do ministro Paulo Bernardo é partir do que for aproveitável do
anteprojeto de Franklin Martins e ouvir a sociedade como um todo.
“O Brasil privatizou”
Será que caberia mesmo ao governo federal investir bilhões na infraestrutura de
banda larga – em especial via Telebrás? Muitas pessoas têm defendido essa tese,
mas a todas elas o ministro dá um recado bem claro e objetivo: ”O Brasil
privatizou as telecomunicações. Cabe, portanto, às concessionárias privadas
fazer os investimentos necessários à implantação da infraestrutura de banda
larga de que necessita o País. Depois, vamos ver o que é preciso fazer.”
Qual é o papel do Estado na área de Comunicações? Paulo Bernardo não tem dúvida:
“Nessa área, muito mais do que realizar, o Estado deve definir políticas
públicas, envolvendo, entre outros segmentos, a internet e a política
industrial. O governo tem que cuidar do lado fiscal. Não lhe cabe investir
pesadamente em banda larga. E não vamos fazê-lo”.
Em lugar de contestar o novo modelo setorial – como fizeram seus antecessores
nos últimos oito anos – o ministro relembra que o papel do Estado, num sistema
privatizado, não é investir bilhões, nem realizar aquilo que as concessionárias
privadas são capazes de fazer.
Além disso, é bom lembrar que o governo federal vive um período de contenção de
gastos. Por outras palavras, o governo não dispõe de recursos para investir
pesadamente em telecomunicações ou banda larga. Só para se ter uma ideia, é bom
lembrar que as operadoras privadas de telecomunicações têm este ano planos de
investimentos muito superiores aos de todo o PAC.
Diante dessa realidade, o papel da Telebrás não pode ser muito ambicioso, quanto
ao volume de investimentos previstos para a implantação do Plano Nacional de
Banda Larga (PNBL).
Rádios e TVs de políticos
Louvável é também a posição do ministro Paulo Bernardo sobre o setor de
radiodifusão, por sua clareza ao condenar as concessões de rádio e TV a
políticos, e defender a revisão do modelo, “de modo a torná-lo mais
descentralizado e mais democrático”. A seu ver, o problema vem de longe, pois,
“durante a Constituinte, centenas de concessões de rádio e TV foram distribuídas
àqueles parlamentares que votassem em favor de certas teses”.
O ministro lembra que o problema das concessões de emissoras de rádio e TV a
políticos vêm de longe. “Até 1988, durante a Constituinte, centenas de
concessões de rádio e TV foram distribuídas àqueles parlamentares que votassem
em favor de certas teses”. Mas adverte: “Esse modelo precisa ser revisto, de
modo a torná-lo mais descentralizado e mais democrático”.
No caso de emissoras em nome de terceiros, ou seja, de laranjas, “a legislação
atual já tipifica esse procedimento como crime”. O ministro acha até que “o
Ministério Público e a Polícia Federal deveriam estar cuidando disso”.
Eis aí um bom recado às autoridades que têm por dever apurar essas
irregularidades. Um dos instrumentos para se combater e corrigir o problema será
a nova Lei de Comunicações, que impedirá a concessão de novas emissoras a
políticos e a renovação de concessões àqueles que se beneficiaram desse recurso.
Isso significa que, progressivamente, o problema poderá ser superado,
provavelmente num horizonte de 8 a 10 anos, estima Paulo Bernardo.
Nomeações políticas
Para o ministro, as nomeações deveriam apoiar-se sempre no critério da
competência em todas as nomeações de diretores das empresas estatais, como
Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Correios e outras. “É claro que
sim. Mas nós temos também um sistema político.”
Esse sistema político, argumenta Paulo Bernardo, acaba prevalecendo na maioria
dos países, seja nos países europeus, nos Estados Unidos de Barack Obama ou de
George W. Bush.
Em teoria, o ministro acha que as nomeações para os cargos de confiança e, em
especial, as diretorias das estatais, deveriam ser baseadas exclusivamente na
competência e na probidade comprovadas dos candidatos. Na prática, entretanto,
nem sempre isso acontece. Vejamos o caso dos Correios: é claro que as nomeações
de dirigentes menos qualificados por pressão do PMDB e do ex-ministro Hélio
Costa foram as causas principais dos escândalos dos Correios.
Paulo Bernardo tem outra explicação: “O que houve foi um descuido, com sérios
problemas de gestão. Hoje temos uma diretoria com currículos bem selecionados e
que não foi indicada por ninguém, nenhum partido”.
A tragédia fiscal
O problema fiscal parece ser o mais sério que as telecomunicações enfrentam no
Brasil. O ministro sugere amplo diálogo entre governo federal e os governadores
para negociar uma redução do ICMS, em especial nos serviços de banda larga. A
tributação sobre telecomunicações no Brasil é uma das maiores do mundo e alcança
a alíquota média de 43% sobre o valor dos serviços.
Outra distorção nas telecomunicações vem desde os anos 1990. É o confisco da
maior parte dos fundos setoriais, que deveriam, por lei, ser investidos na
universalização dos serviços, na fiscalização e no desenvolvimento tecnológico.
Nos últimos 10 anos, entretanto, eles têm sido apropriados pelo Tesouro Nacional
num montante que já supera os R$ 32 bilhões. Se investidos na implantação de uma
rede de banda larga, esses R$ 32 bilhões permitiriam ao Brasil contar com uma
das melhores infraestruturas nessa área. “Sim, mas continuaríamos a ter
problemas de desequilíbrio e juros mais altos” – justifica o ministro.
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Fonte: Blog do Ethevaldo Siqueira / Estadão
[27/02/11]
“Governo não vai investir bilhões em banda larga” - por Ethevaldo Siqueira e
Renato Andrade
“O governo tem que cuidar do lado fiscal. Não nos cabe investir pesadamente em
banda larga. Tinha gente até dentro do governo que achava que o governo deveria
botar alguns bilhões e fazer a infraestrutura do Plano Nacional de Banda Larga.
Não vamos fazer isso. Aliás, quero lembrar o seguinte: nós privatizamos o
serviço. Então não dá para cobrar que do governo faça essa infraestrutura”.
Com essas palavras, o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, em entrevista
exclusiva ao Estado, esclarece de forma definitiva sua posição sobre um possível
retrocesso no modelo das telecomunicações. Ele espera que as concessionárias
cumpram a sua parte na questão da banda larga: “Depois, então, vamos discutir
quanto temos que colocar. Até porque o orçamento do Ministério das Comunicações
foi cortado em 55%. Eu não vou ficar correndo atrás do Guido Mantega (ministro
da Fazenda), nem da Míriam (Belchior, ministra do Planejamento) para arrumar
dinheiro”.
O ministro lembra que o problema das concessões de rádio e TV a políticos vêm de
longe. “Até 1988, durante a Constituinte, centenas de concessões de rádio e TV
foram distribuídas àqueles parlamentares que votassem em favor de certas teses”.
Mas esse modelo precisa ser revisto, “de modo a torná-lo mais descentralizado e
mais democrático”.
No caso de emissoras em nome de terceiros, ou seja, de laranjas, “a legislação
atual já tipifica esse procedimento como crime”. O ministro acha até que “o
Ministério Público e a Polícia Federal deveriam estar cuidando disso”.
Paulo Bernardo não aceita a tese da independência das agências reguladoras: ”Que
é isso? O que elas têm que ter é autonomia. Isso, sim. Acho que a agência tem
que ter autonomia para decidir as coisas no âmbito da regulação, de
fiscalização, de como fazer e quando fazer uma licitação. Mas não para formular
políticas públicas. Todos os ministros têm autonomia. Nem a Dilma, nem o Lula
ficam olhando o que eu faço aqui. Se eu fizer lambança, aí sim, eu vou ter que
responder”.
Para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o mundo atual exige que o
Brasil dê muito maior atenção às Comunicações – em especial quanto à
universalização do acesso à banda larga, de modo a permitir que todos os
cidadãos participem da nascente Sociedade do Conhecimento. Esse novo cenário
requer políticas públicas muito mais ambiciosas, condizentes com sua expectativa
de um país que caminha para ser a quinta economia do planeta. Por todas essas
razões, afirma Paulo Bernardo, “a presidente Dilma considera as Comunicações uma
área prioritária, absolutamente vital para o Brasil hoje”.
Em conversa com os jornalistas, Paulo Bernardo rejeitou, inicialmente, o apelido
que lhe havia sido dado num seminário na manhã de quinta-feira, de “Serjão da
Dilma”, quando foi comparado ao ex-ministro Sérgio Motta, por sua determinação
em mudar o cenário brasileiro das Comunicações, especialmente nas áreas de banda
larga e radiodifusão. Depois reconheceu que Sérgio Motta fez um grande trabalho
e, ao recusar o apelido, quis apenas estabelecer as diferenças de pensamento
entre ambos.
A seguir, a íntegra da entrevista de Paulo Bernardo:
Em sua opinião, não estaria na hora de resgatar o papel do Ministério das
Comunicações, que foi praticamente esvaziado em suas funções ao final do governo
Lula?
A presidente Dilma considera as Comunicações – não o Ministério em si – uma área
absolutamente vital para o Brasil hoje. De certo modo, a expectativa do governo
é a mesma da sociedade. Estamos nos preparando para ser a quinta economia do
planeta. E, cada vez mais, o mundo e o País dependerão da informação, nessa nova
Sociedade do Conhecimento que se avizinha.
O governo precisa estar em sintonia com essas demandas. Muito mais do que
realizar, cabe-lhe definir políticas públicas nesse setor, envolvendo, entre
outros segmentos, a internet e a política industrial que viabilizará o acesso
cada vez mais amplo, dará um salto de qualidade no trabalho escolar e acadêmico
e maior produtividade do trabalho.
Como vê a questão das concessões de emissoras de rádio para políticos? Não
estaria na hora de mudar esse quadro de ilegalidade? Como vê a multiplicação de
emissoras concedidas ou alugadas por igrejas?
A radiodifusão trabalha com um bem que pertence à sociedade, à Nação, que é o
espectro de frequências, finito e não-renovável. Esse espectro tem que ser
utilizado para o bem comum. Veja que há distorções que vinham antes da
Constituição de 1988. Até então, as concessões eram gratuitas, benesses. Sabemos
que, durante a Constituinte, centenas de concessões de rádio e TV foram
distribuídas àqueles parlamentares que votassem em favor de certas teses.
Essas distorções precisam ser corrigidas. Temos que ser realistas, na hora da
correção, pois as leis não têm efeito retroativo. Acho que devemos rever o
modelo, de modo a torná-lo mais descentralizado e mais democrático. E,
pessoalmente, acho que, no caso de agentes políticos, deveria ser totalmente
proibida (a concessão de emissoras de rádio e TV).
Por que não corrigir progressivamente todas essas distorções, no momento das
renovações futuras das concessões de emissoras de políticos ?
Tudo depende do marco regulatório. Poderemos corrigir todos os casos na hora da
renovação da concessão. Isso levará, naturalmente, 8 ou 10 anos para que
possamos corrigir tudo.
Como corrigir essas distorções se o cadastro das emissoras de rádio e TV de seu
ministério é pouco confiável e desatualizado?
Ouço sempre essa acusação, de que as emissoras estão em nome de terceiros. Ora,
isso é crime. Não preciso mudar nada. A legislação atual já tipifica esse
procedimento como crime. É o mesmo que abrir uma padaria em nome de laranjas,
para se lavar dinheiro.
Mas é bom lembrar que fazemos o cadastro com base em documentos oficiais, com fé
pública, da Receita, mas se houver indícios claros de que os titulares não são
os verdadeiros donos, vamos punir todos os culpados.
O senhor pretende cuidar da apuração desses casos?
Olha, com sinceridade, acho que o Ministério Público e a Polícia Federal, já
deveriam estar cuidando disso.
Numa palestra esta manhã, aqui em Brasília, o senhor disse que não pretende
fazer uma Lei de Comunicação, um marco regulatório abrangente, mas prefere
legislar por etapas. Será assim mesmo?
Isso ainda não está definido. Sei que poderíamos fazer um projeto abrangente,
com todos os aspectos de forma coerente. Mas será muito mais difícil aprová-lo
porque teremos todos os interesses contrários, unidos, contra muitos desses
aspectos. O que eu disse foi apenas uma ideia, uma sugestão, em resposta a uma
pergunta do auditório, sobre a questão da produção independente nacional e
regional.
Mas, convenhamos, mesmo que eu esteja de acordo com a proteção à produção
independente nacional, sabemos que isso é um enxame de abelhas. Aliás, como
demonstra o PL-116 (projeto de lei que está no Senado e cuida da TV por
assinatura, com proteção à produção independente nesse segmento).
Não seria muito melhor que o governo desse maior apoio e incentivo à produção
independente do que criar reserva de mercado, pois, em última instância, é a
qualidade, o mérito de cada trabalho, que deve prevalecer e que deve fazer a
diferença?
Veja o caso da BBC de Londres que, mesmo havendo uma lei que a obrigava a
comprar 24% de sua programação em produções independentes, acaba comprando hoje
40%? Acho que devemos deixar um percentual moderado reservado à produção
independente. Se quisermos fixar algo como 50% é provável que não tenhamos nem
como suprir esse volume. Veja, também, o mercado norte-americano que compra uma
boa parcela de produções independentes. Não sei se existe um percentual
obrigatório, mas o fato é que as TVs compram.
E os Correios, que passaram desde a criação da ECT em 1969, até há dois ou três
anos, sem um único caso de corrupção de repercussão? Que aconteceu nessa empresa
que já foi modelar e de grande credibilidade?
Os escândalos dos Correios vieram a público em 2005, juntamente com o mensalão.
É claro que temos que combater duramente aqueles casos de corrupção na empresa.
Eles mostram uma situação deplorável que vamos combater sem tréguas.
Mas eu não me arriscaria a dizer que foram os primeiros casos de corrupção desde
1969. Talvez os primeiros com repercussão nacional. Vale lembrar que a empresa
ainda goza de excelente imagem e credibilidade. Só perde para a família e para o
corpo de bombeiros. Aliás, não há como ganhar dessas duas instituições.
Mas, lembre-se, a ECT é uma empresa fantástica. Tem 108 mil funcionários. Está
presente em todos os municípios do Brasil e tem um papel importantíssimo. É, em
última instância uma empresa de logística e deverá continuar sendo ainda mais no
futuro.
O que aconteceu então na ECT?
Foi um problema de gestão. Tivemos uma diretoria que não se falava.
Isso não foi fruto de uma barganha política na escolha dos dirigentes?
Não sei. Acho que foi um descuido. Hoje temos uma diretoria que não foi indicada
por ninguém (nenhum partido). Selecionamos todos por currículo e os nomeamos.
Não sei se vai funcionar, mas fizemos o melhor.
O senhor não acha que esse critério deveria prevalecer em todas as nomeações de
diretores das empresas estatais, como Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa
Econômica, Correios e outras?
É claro que sim. Mas nós temos também um sistema político. Veja o presidente
Obama (dos Estados Unidos) trocou tudo. Até o embaixador no Brasil, que, aliás,
eu fiquei decepcionado com esse cara. Ele vivia lá no Planejamento conversando
com a gente. Depois descobri que ele era um fazedor de relatórios. O governo
Bush trocava todos os embaixadores.
Em resumo, acho que temos que ter controladorias, critérios de governança e
acompanhar tudo de perto. Foi o que faltou nos Correios.
Quais foram esses problemas de gestão nos Correios?
Vou dar o exemplo da contratação do transporte aéreo de correspondência. Os
Correios gastam R$ 300 milhões por ano com esse transporte aéreo. Eles não
conseguiram fazer uma contratação. Tudo era feito por emergência, o que é um
absurdo. Não conseguiram fazer um concurso público. Essas coisas são básicas.
Temos que resolver. Aliás, já estamos conseguindo fazê-la. E vocês verão os
resultados daqui a três ou quatro meses. Ninguém mais estará falando disso.
Nesse processo de recuperação dos Correios, não existiria espaço para a quebra
do monopólio de alguns serviços?
Tudo pode ser debatido. Mas é bom lembrar que os Correios fazem na área postal
uma coisa que ninguém se dispõe a fazer, como levar uma carta de São Paulo para
o interior do Piauí ou da Bahia. Se tirarmos o monopólio, quem irá fazer? Vale
lembrar também que esse monopólio postal existe também países da Europa e de
outras partes do mundo. Na área de entrega de encomendas esse monopólio não é
necessário. Mas acho que tudo pode ser discutido.
Não lhe preocupa a tentativa de esvaziar o poder das agências? A presidente
Dilma acha, como Lula, que elas são uma forma de terceirização do governo?
Nossa divergência com as agências reguladoras, no início do governo passado, era
quanto a prerrogativa de definir políticas públicas, que cabe ao Executivo. O
que cabe a elas é fiscalizar e regular os serviços. É isso que está na lei.
Muitos diziam: as agências têm que ter independência. Que é isso? O que elas têm
que ter é autonomia. Isso, sim. Todos os ministros têm autonomia. Nem a Dilma,
nem o Lula ficam olhando o que eu faço aqui. Se eu fizer lambança, aí sim, eu
vou ter que responder. E o que normalmente acontece é que você vai ser
despedido. Mas o ministro tem que ter autonomia. Ninguém fica fiscalizando o dia
a dia dele aqui.
Da mesma forma, o presidente do Banco do Brasil, o diretor da Petrobrás, têm que
ter autonomia. Acho que a agência tem que ter autonomia para decidir as coisas
no âmbito da regulação, de fiscalização, de como fazer e quando fazer uma
licitação.
E nas agências, a barganha política vai continuar?
Olha aqui: quando foi criada a Anatel, ficou definido que essa agência seria do
PSDB. A Aneel (Energia Elétrica) e a ANP (Petróleo), do PFL. A ANT (Transportes
Terrestres), de outro partido. Todos indicados por interesses políticos. Não
fomos nós que inventamos isso.
Agora, lá no Orçamento, eu ouvi o pessoal dizer: as agências têm que ter o seu
orçamento todo liberado. Por quê? Nós somos a Suíça? Vai fazer agência na
Dinamarca e vê se funciona assim? Não funciona.
Ninguém, em nenhum lugar do mundo, tem todo o dinheiro que quer. Dizem que os
magistrados britânicos, nunca fui atrás para ver se é verdade, têm uma conta que
eles vão sacando, de acordo com sua necessidades. Provavelmente ninguém saca
mais do que precisa, mas não sei se é verdade.
Agora, fora isso, nunca ouvi falar. Quando nós assumimos, nenhuma agência tinha
servidores de carreira. Então reorganizamos as agências, desenhamos as carreiras
– Aliás, um modelo onde o técnico é muito bem remunerado. Ninguém entra com
menos de 10 mil reais nessas agências. Promovemos concursos, estruturamos.
Quando foi em março de 2007, vencia o prazo fatal para tirar os contratados
temporários.
Aí, vários presidentes de agências foram ao Congresso fazer lobby para não
demitirmos os temporários: “Não, esses são muito importantes, eles é que tocam a
agência”. Já tínhamos contratado 2 mil servidores. Então fomos lesados.
Contratamos 2 mil servidores que não tocam e tem outros que tocam? Então por que
não deixamos assim? Conversa. Interesse corporativo. Tinha um monte de
apaniguados lá. Teve gente que me ligou, de outros poderes, inclusive, dizendo:
“tem que deixar fulano, deixar sicrano”. O que fizemos? Seguramos até o fim e
dissemos: dia 31 de março, rua, todo mundo pra fora, acabou o contrato.
E repito: havia presidente de agência reguladora que ia lá dentro do Congresso
pedir apoio para evitar que a gente encerrasse os contratos. Saiu todo mundo e
não aconteceu nada.
Por falar em orçamento, a Anatel seria basicamente mantida pelo Fundo de
Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), cuja arrecadação é seis ou sete
vezes maior do que o orçamento da Anatel. O que acontece com o excesso de
arrecadação?
Fica no Tesouro. Temos que suprir, seja a Anatel, seja qualquer outra agência,
com um orçamento condizente com as necessidades. Eles (seus funcionários)
recebem bem, têm diárias, não têm dificuldade em trabalhar.
O número de fiscais não é insuficiente?
Eu fui ministro do Planejamento e enfrentava editoriais diários nos jornais
dizendo que estávamos inchando a máquina, contratando gente demais, às vezes até
contra a contratação de professores para as universidades.
Aí a gente vai encher uma agência de fiscais? A Anatel tem 1.800 servidores. O
Sardenberg está reclamando, ligou (pedindo) para colocar lá mais uns 150 ou 200.
Mas não pode ser 5 mil. O Estado não pode virar um monstro. Vamos colocar um
monte de fiscais, multiplicar o orçamento da agência e ninguém dorme mais,
porque eles não vão deixar ninguém dormir com o barulho. A agência tem que ser
controlada.
Hoje também vão para o Tesouro os recursos do Fundo Nacional de Tecnologia de
Telecomunicações (Funttel) e do Fundo de Universalização dos Serviços de
Telecomunicações (Fust) que há 10 anos vai, em sua totalidade para a vala comum
do superávit fiscal…
Eles (os legisladores) fizeram errado. Fizeram barbeiragem. Acho que,
provavelmente, até na época é possível que o pessoal da área econômica tenha
empurrado para sair errado mesmo. E acho que os parlamentares ajudaram também.
Acho que o Miro (Teixeira) e o Sérgio Miranda na época foram ao Supremo contra o
Fust. Bloquearam toda a execução e não aplicaram em nada. O que acontece? Quem
está do lado do controle de gastos achou uma maravilha: “deixe eles lá brigarem
à vontade”.
Esses recursos não poderiam – desde que o governo fizesse a devida política
pública, mudando a legislação – serem aplicados em coisas como a banda larga?
Claro que poderiam.
Veja, ministro, foram R$ 32 bilhões de excesso de arrecadação, confiscados nos
três fundos desde que foram criados. Isso daria para fazer uma rede de banda
larga como a da Coreia.
Daria, só que continuaríamos tendo problema de equilíbrio fiscal e
continuaríamos tendo o problema de carga tributária alta. Essas coisas não podem
ser feitas isoladamente. Foi um erro. A forma como fizeram o Fust facilitou:
“não tem solução, então não precisa gastar”.
Esse projeto que o Mercadante (Aluísio, ministro da Ciência e Tecnologia)
articulou – sei que o Paulo Lustosa articulou também – na minha opinião, resolve
o problema operacional. E nós fizemos um acordo para resolver o problema
orçamentário. Vamos começar a gastar o dinheiro do Fust.
O equilíbrio do governo não deveria depender do Fust.
Mas depende.
Há quem afirme que é ilegal a apropriação dos fundos, que têm finalidade
carimbada por lei, pelo governo.
No caso do Fust era impossível usar. Fizeram errado a lei e provavelmente
fizeram errado e depois ninguém queria concertar.
Na fiscalização, esse excedente não deveria ser lançado a crédito dos próprios
contribuintes?
O dinheiro não é separado assim. Existe uma legislação que exige que seja
tratado como conta única. O Tesouro só tem uma conta. Tem a contabilidade, você
sabe de onde veio cada um.
Mas essa apropriação não é um procedimento republicano.
Teve um ministro que falou comigo: precisamos criar uma entidade que não dependa
de autorização do Tesouro, nem do Orçamento, que não tenha contingenciamento. Eu
disse: faça na Suíça porque aqui a legislação é diferente, temos uma realidade
diferente e não vai acontecer. É claro que o cara ficou feliz comigo (risos).
Se somarmos os 43% de impostos do setor de telecomunicações – que hoje incidem
até sobre a banda larga – e o que é arrecadado de ICMS, mais os fundos, chegamos
a um total de R$ 330 bilhões arrecadados sobre as contas telefônicas e de banda
larga nos últimos 10 anos.
Isso vem desde 1997.
O volume de impostos, no entanto, cresceu de forma brutal, com a expansão da
base de telefones instalados no País.
Mas somos acusados de fazer gastança aqui. Que dizer se gastarmos esses R$ 330
bilhões, então? Estou brincando, é claro. Temos que mudar isso. O governo tem
que cuidar do fiscal, não podemos abandonar isso, e temos que fazer esse tipo de
investimento, quer dizer, montar uma estrutura de banda larga.
Agora quero lembrar o seguinte: nós privatizamos o serviço. Então não dá para
cobrar que o governo faça essa infraestrutura.
Mas a lei de telecomunicações tem um artigo específico que diz que o governo lhe
permite até desapropriar essas redes e fazer delas uma só, a rede compartilhada
ou “unbundling”.
Pode, mas isso é uma briga medonha, do ponto de vista político, do ponto de
vista jurídico.
A Inglaterra fez isso, a Itália está fazendo.
Sim, mas nós estamos dizendo para as empresas, nesta mesa aqui: tinha gente até
dentro do governo que achava que o governo deveria botar alguns bilhões e fazer
a infraestrutura Plano Nacional de Banda Larga.
Nós falamos: primeiro vamos fazer que as concessionárias cumpram sua parte.
Depois vamos discutir quanto temos que colocar. Eu nem discuti meu orçamento (do
Ministério das Comunicações). Cortaram 55%. Eu não vou ficar correndo atrás do
Guido Mantega (ministro da Fazenda), nem da Míriam (Belchior, ministra do
Planejamento) para arrumar dinheiro, enquanto as empresas, que estão com
capacidade instalada, vendendo serviço caro.
Eles vão ter que ajudar nisso. Para que você está concessionário? Outro dia fui
contratar TV a cabo na minha casa e o cara já chegou falando: se você colocar
telefone, banda larga, já vendemos tudo junto, na mesma infraestrutura. Eu sou a
favor disso. Mas você não pode ser obrigado a comprar. O que se pode é oferecer
e dar possibilidade… Não teria sentido usar dois cabos: um para internet e outro
para a TV a cabo.
Acho que temos que acertar, dialogar com as empresas para elas ofereçam um
serviço melhor e aí vamos ver o que falta. Por isso, disse que não estamos
falando em universalização, o que deve ter deixado gente escandalizada hoje
(24-02-2011). Por quê? Porque num determinado momento eu vou ter que falar: tem
gente que mesmo por 30 reais não vai poder pagar, então vamos estabelecer uma
política para isso. Agora se eu sair querendo fazer tudo…
A política fiscal tem um papel importante nisso, mas será que se o governo
reduzir esses 43% os preços da banda larga não baixarão?
Claro, você tem toda razão. Isso é uma carga altíssima.
Altíssima, especialmente para uma coisa da importância social da banda larga.
Estou de pleno acordo. Agora chegamos até aqui desse jeito. Para desmontar isso
tem que ter um rito de passagem. Tem que ter uma forma de resolver isso.
É possível que o governo federal tenha um diálogo com os governadores para obter
deles o apoio à redução do ICMS.
Pode e deve. Se a gente disser a um governador “tire o imposto das
telecomunicações”, ele vai perguntar: “Quem vai pagar minha conta?” Não dá.
Agora: tirem da banda larga. Então, ele vai fazer a conta e ver que isso
corresponde a algo próximo de 5% que arrecada com telecomunicações. Aí, é
provável que ele diga: isso dá para fazer. O governador vai chamar seu
secretário da Fazenda e dizer: larga a mão, vamos fazer. Até porque quase esse
um serviço que quase não existe, se você abrir mão dele, não vai perder, estará
apenas deixando de ganhar. É diferente.
Uma coisa que se pode pensar é na redução progressiva dessa alíquota, em cinco,
dez anos.
Com certeza.
O que foi proposto em 2001, mas ninguém ouviu.
Mas estamos propondo, por exemplo, baixar a contribuição do INSS para 14 pontos.
Se for um por cento ao ano vai dar seis anos. E vamos tirar o imposto de
educação. Ou seja, da folha de salário nós tiraríamos 8,5% de….
Uma crítica que se faz ao governo ao governo Lula nessa área é ter feito muitos
projetos e planos decididos em “petit comité”. Por que não abrir o debate sobre
os grandes temas setoriais, sobre a nova Lei Geral de Comunicações ou o novo
marco regulatório?
Só no PNBL… Primeiro, nós não mandamos nenhum instrumento para o Congresso, não
estamos mudando legislação, estamos fazendo uma mudança na política só. A outra
coisa é que estamos discutindo com todo mundo. Aqui já recebemos todas as
operadoras de telefonia, recebemos as empresas de TV a cabo, a associação delas,
elas individualmente, recebemos os provedores de internet, o Procon. Estamos
discutindo amplamente essas questões aí.
Na defesa do consumidor, o grande problema é que o Procon é chapa branca, ele só
cuida dos problemas na área privada. Só faz 50% de defesa do cidadão. Não
podemos ter um Procon que cuide de tudo, também na área de serviços que são
prestados pelo Estado?
Teria que ser não-estatal. Não pode ser uma coisa estatal. Achar que o governo
vai nomear alguém para (criticá-lo) vai dar incompatibilidade, vai dar
dificuldade.
Não poderia ter uma espécie de fundação?
A própria sociedade civil. O movimento de saúde é dos mais organizados do País.
Talvez educação não seja. Não tem tanta cobrança sobre a escola pública como se
tem sobre a saúde pública. Mas saúde tem conferência de três em três anos, é
obrigado a ter conselho municipal. Você só pode fazer um hospital se passar pelo
conselho. E convenhamos: é um pessoal chato, que eu conheço muito (risos).
Educação não tem. Talvez tenha que estimular fórmulas de fazer isso em outras
áreas. Não diga que eu falei que o pessoal dos movimentos é chato (risos).
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Fonte: Tele.Síntese
[02/02/11]
Orçamento da Telebrás dá até setembro - por Lia Ribeiro Dias
Para interligar as 1.163 cidades previstas no
cronograma do Plano Nacional de Banda Larga, a Telebrás precisará de aporte
orçamentário, antecipa Rogério Santanna.
Para interligar as 1.163 cidades previstas inicialmente no cronograma do Plano
Nacional de Banda Larga, a Telebrás precisará de aporte orçamentário. O número
de cidades foi definido com base no orçamento previsto para a estatal neste ano,
R$ 1 bilhão – reduzido para R$ 740 milhões. “Pode não dar para tudo, mas são
recursos que permitem tocar a empresa até setembro, no ritmo previsto”, diz o
presidente da estatal, Rogério Santanna. “O governo é que vai ditar o ritmo”,
acrescenta, lembrando que “o mais importante em orçamento é ter a rubrica,
porque sempre pode ser complementado.”
Nesta entrevista ao Tele.Síntese, Santanna reafirma que o papel da Telebrás é
promover a inclusão digital e levar internet de qualidade para o interior do
país, além de ser uma opção para os pequenos provedores, que hoje pagam até R$
9,5 mil por megabit. A estatal já cadastrou 272 provedores, cuja necessidade
demanda 24 Gbps no trecho inicial da rede da Telebrás. “O papel da Telebrás é
também introduzir concorrência onde não tem, porque a situação é de monopólio na
maioria das cidades brasileiras”, afirma Santanna. Nas suas contas, tirando as
184 maiores cidades, há 2.135 onde o mercado é monopolista e nas demais ninguém
quer atuar alegando que não há retorno econômico.
Tele.Síntese – O cronograma de iniciar a ligação de cem cidades em abril está
mantido?
Rogério Santanna – Sim, está mantido. Até agora, não há nenhum fato que
justifique alteração do calendário. Temos alguns limitadores que podem gerar
atraso, que são as assinaturas de convênios com as elétricas e com a Petrobras,
mas que eu acredito serão assinados até início de fevereiro, portanto, não
teremos prejuízos em relação a isso.
Tele.Síntese – E o valor para a utilização das fibras já está resolvido?
Santanna – Nós estamos discutindo ainda, mas isso não é o maior problema. O
principal é o acordo; o valor pode ser discutido caso a caso porque tem
situações diferentes, de fibras diferentes (depreciações diferentes), o valor
será um aditivo setorial para cada trecho e para cada situação, porque tem que
ter um teto.
Tele.Síntese – E as licitações para a iluminação das fibras e construção de
backhaul já encerraram?
Santanna – Algumas estão em fase final, porque tem recurso, isso demora um
pouco. Em relação às demais, já estamos fechando quase todos os processos, sem
grandes problemas.
Tele.Síntese – O TCU já se manifestou após a resposta da Telebrás no caso da
licitação da infraestrutura, onde houve recurso?
Santanna – Ainda não, até porque o pleno não julgou, uma decisão monocrática do
relator mas que ainda não foi (...) Esse processo, eu diria, é no mínimo
estranho, porque o edital foi feito, publicado, os principais jornais
acompanharam a abertura do edital, fora a publicidade oficial que fizemos em
relação a isso, e lá pelas tantas, quando o processo está no fim, quando estavam
sendo assinados os contratos com as vencedoras, aparece uma empresa chamada
Sette Engenharia e pede para olhar todo o processo. Ela teve acesso a todo o
processo e ai encaminho recurso para CGU, TCU, e tentou algumas ações judiciais.
A única coisa que prosperou foi o recurso ao TCU, que pediu para que parássemos
a contratações dos demais lotes. E isso está nos dando trabalho, ter que olhar
coisa por coisa... A acusação é absurda, no mínimo estapafúrdia porque o segundo
colocado no leilão de registro de preço de um dos lotes de infraestrutura entrou
na Justiça comum dizendo que nós assinamos o contrato com a Clemar, a primeira
colocada, por preço inexequível e nós tivemos que mostrar para o juiz que o
preço não era inexequível. E aí outro entra com recurso (a Sette Engenharia) e
diz que nós temos um preço superfaturado. Esta mesma empresa também entrou com
recurso na Telebrás no edital de enlaces e torres, onde pensávamos em fazer o
leilão de torre e o radio junto. Acatamos o recurso e separamos. Só que, no
lugar de participar do leilão, a Sette enviou uma correspondência dizendo o
seguinte: 'vocês vão obter um preço superfaturado nessas áreas de torres'. E nós
colocamos torres e postes num item só. Ele queria que separássemos também torres
e postes. O que não foi possível, pois tornaria a gerência complexa demais. Esta
empresa nos mandou uma lista de preços para torres e rádios e não participou do
pregão. Um detalhe: o preço dele é mais caro do que o que nós obtivemos, em
alguns casos, mais de 100%. Quer dizer, quem realmente ia superfaturar era ela,
porque mandou a lista para dizer vocês vão obter preços maiores que esses e eu
estou dizendo que esse negócio está superfaturado. Só que funcionou ao
contrário, demonstrando que quem cobraria mais caro seria a Sette, se fosse
contratada pelo seu preço de lista .
Então essa empresa está com litigância de má-fé para atrapalhar o processo; fez
confusão no processo, dizendo que compramos um container caro demais, só que ele
cotou um container sem ar condicionado e o nosso tem ar, chave, elétrica, está
comparando laranja com banana para gerar confusão no tribunal. Mas nós vamos em
cima dela. Terminado esse processo, demonstrado que não há superfaturamento,
vamos processá-la por litigância de má-fé e por calúnia.
Tele.Síntese – O fator de haver esse atraso no processo licitatório, no caso
envolvendo infraestrutura, não vai retardar ainda mais?
Santanna – O atraso não existe hoje, porque o tribunal não mandou parar o que já
tinha sido contratado, mandou suspender a assinatura de novos contratos até que
ele se pronunciasse. Nós temos um registro de preço, e o registro de preço
permite fazer muitos contratos, para cada trecho fazemos um contrato. Acredito
que agora, com a volta das atividades, a área técnica do Tribunal vai analisar
todos os dados, toda a nossa contestação.
Tele.Síntese – Diante desse quadro, vocês começam por que área a interligação do
país?
Santanna – Vamos começar pelo anel Sudeste-Nordeste -- estamos chamando por esse
nome, mas na verdade não é bem assim porque passa por Brasília, por Tocantins
... Sai de Brasília, passa por São Paulo, Rio de Janeiro, sobe toda a costa do
Brasil e volta lá pelo Tocantins e vem sair aqui no Distrito Federal. E tem
outro ramo que sai do Rio de Janeiro, passa por Belo Horizonte e volta aqui para
Brasília. São esses dois enlaces.
Tele.Síntese – Paralelamente à ligação dos dois ramais vocês vão construir o
bachkhaul para ligar as cidades?
Santanna – Sim. Nossa meta é ligar, este ano, 1.163 cidades que estão a 50
quilômetros desse backbone de fibra óptica, isso vai ter trecho de fibra da
Petrobras e trecho de fibra da Eletrobrás.
Tele.Síntese – Como você vai cobrir esses 50 quilômetros?
Santanna – Os 50 quilômetros serão cobertos por radioenlace – é um dos editais
que temos aqui. Essa licitação que eu mencionei que envolve torres e rádio são
os editais de radioenlace.
Tele.Síntese – Você vai levar o ponto até a cidade. Dentro da cidade o que a
Telebrás vai interligar?
Santanna – Nosso objetivo é ligar os pontos de governo, aqueles mais relevantes,
alguns diretamente, outros com parceria dos provedores locais. Por exemplo, se
tivermos numa pequena cidade um provedor, ele pode fazer a última milha pra
ligar prefeitura, posto de saúde, o que seja.
Tele.Síntese – E a oferta para a população será feita pelos provedores?
Santanna – Sim, pelos provedores. Já temos 272 provedores cadastrados, que nos
informaram suas necessidades, quanto pagam hoje por link. A necessidade de links
informada soma 24 Gbps de demanda nesses trechos.
Tele.Síntese – Essa demanda é só de pequenos provedores ou envolve operadora?
Santanna – Só de pequenos provedores.
Tele.Síntese – Nessa fase vocês não vão vender capacidade para a operadora?
Santanna – Não, nós vendemos para quem quiser. Esses provedores expontaneamente
nos procuraram, pois viram que estávamos começando a fazer esses enlace, hoje
pagam caro no mercado. Acabou de sair um daqui que disse que estava pagando R$
1.200 o megabit.
Tele.Síntese – Um grupo de provedores fez uma reivindicação em relação ao preço,
que o preço de R$ 230 por um megabit estava elevado e não viabilizava o
negócio...
Santanna – Em primeiro lugar é preciso dizer o seguinte. Você está se referindo
a reunião dos provedores com o ministro Paulo Bernardo, em que eles disseram que
contratavam por R$ 180. Bom, temos que separar os provedores em dois mundos. O
mundo dos provedores maiores, que são associados, são grandes, que compram em
escala, compram com a operadora. Muitos deles são clientes da Eletronet e esse
preço de R$ 180 que eles falam é um preço de transporte. A Eletronet dá
transporte para eles, pega eles em sua cidade e leva até São Paulo, onde compram
internet. Só é bom lembrar que a Eletronet não paga imposto, não paga
fornecedor... Não é desse preço que estamos falando. Por R$ 230 estamos vendendo
a saída para a internet para o provedor lá na sua cidade, isso ai custa uns R$
30 a R$ 50 reais que é a saída da internet. Preço de transporte não é preço de
saída da internet. Alguns dos grandes provedores conseguem de fato comprar saída
e transporte por R$ 180, esses estão bem, com um preço bom, não precisam comprar
de nós, podem continuar comprando de seu fornecedor. Entre os 272 provedores
cadastrados aqui na Telebrás - tem provedor comprando a R$ 9,5 mil o mega. Mas
essa não é a realidade dos pequenos provedores. Até porque o pequeno provedor
atende duas a quatro cidades no máximo e paga um preço muito variável dependendo
do tamanho da cidade e da concorrência. Quanto menor a cidade, maior o preço.
Agora, se o governo decidir que quer abaixar o preço, tem que botar mais
dinheiro na Telebrás. Simples, a conta é econômica. Não estamos subsidiando
nada. Esse preço foi acordado com a Fazenda para dar retorno para essa empresa
em três anos, de acordo com o modelo teórico que nós fizemos. Agora vamos ver,
na prática, se vamos conseguir alcançar o que a gente projetou como alvo.
Tele.Sintese – O ministro Paulo Bernardo disse, recentemente, que a Telebrás não
terá o monopólio no atendimento ao governo, que esse mercado será dividido com a
iniciativa privada. Isso muda algum plano da Telebrás?
Santanna – Não muda nada. O ministro Paulo Bernardo, na minha avaliação, disse
aquilo que a gente já sabe, essa conversa de que a Telebrás terá o monopólio não
para de pé. Nós não fornecemos voz, quem fornece voz são as concessionárias; não
fornecemos telefonia celular, e os maiores gastos do governo com telefonia são
nessas áreas, que representam 2/3 da conta. E nós poderemos disputar algumas
contas corporativas no segmento de dados. Nem tudo, porque a capilaridade é
pequena e, provavelmente, será feita pelo link da operadora. O que o ministro
está dizendo é correto, mesmo que nos conseguíssemos 100% das contas
corporativas isso não representaria nem 20% do gasto do governo, essa
possibilidade não existe. Essa conversa das operadoras de que vão perder R$ 20
bilhões – porque eu não vi ninguém mostrar onde é que estão esses R$ 20 bilhões.
Esse mercado não é o do governo. Elas podem estar se referindo à perda que vão
ter nos mercados onde são monopolistas e praticam sobrepreço na venda dos links.
Isso pode acontecer pois vamos vender o link por R$ 230 o megabit e elas vão ter
que baixar o preço.
Tele.Síntese – Se não vão atender toda a parte de dados corporativos do governo,
qual será o mercado-alvo da Telebrás?
Santanna – As ligações do Serpro, da Dataprev, da Polícia Federal, da parte de
Segurança Pública, a área militar, obviamente dependendo da decisão deles. Cada
órgão vai tomar uma decisão, se quer ou não quer ser atendido pela Telebrás. O
nosso alvo são aqueles sistemas que exigem segurança e privacidade do governo.
Não são todos mas são aqueles mais importantes, na área da saúde, onde se
precisa banda, na educação, nas universidades, o que envolve parceria com a RNP,
esse é o nosso foco.
Tele.Síntese – Falando em parceria, como estão as negociações com os governos
estaduais e outros órgãos de governo?
Santanna – Vários estados já nos procuraram e temos negociações adiantadas. O
Ceará é um deles; a Etice, empresa estadual de comunicações, que já tinha
procurado o governo há bastante tempo. Nós é que estamos atrasados. O Espírito
Santo, inclusive o governador Casagrande esteve aqui; algumas cidades como
Campinas com a qual já assinamos um convênio, Belo Horizonte com a qual estamos
trabalhando. Já assinamos um acordo com a Abep (entidade nacional das empresas
estaduais de processamento de dados e comunicações ) e com o Proderj, do estado
do Rio de Janeiro. A Copel do Paraná também já nos procurou.
Tele.Síntese – O Ceará será o piloto de interligação entre a rede da Telebrás e
as estaduais, não é?
Santanna – Não posso dizer que seja o piloto porque temos muitas coisas andando
em paralelo, que vão acontecer juntas. Mas, entre os estado que já tem uma
infovia, o Ceará é talvez o mais organizado. A rede do Ceará tem
complementariedade com o nosso backbone porque tem quatro pontos onde nós não
nos encontramos. Então, nós os ajudamos e eles nos ajudam porque eles vão para
lados que nós não vamos e a gente vai para lados em que eles precisam ter saída
de internet.
Tele.Síntese – E essa negociação , como ela está sendo feita em termos de preço?
Envolve transação financeira ou só troca de capacidade?
Santanna – Preferencialmente, vamos fazer troca de capacidade. Depois, cada caso
é um caso, vamos tentar encontrar equivalências. Nosso objetivo é que o estado
seja bem servido de internet, é fazer inclusão digital; fazer com que a internet
tenha qualidade. A parceria com o estado tem também esse objetivo, de levar a
internet para seu interior.
Tele.Síntese – Há uma estimativa em quanto esse processo de sinergia entre
estados e Telebrás pode ampliar a cobertura?
Santanna – Nós iremos atingir, sem nenhuma complementariedade, 4.283 municípios.
Com a participação dos estados, eu acho que chegaremos a mais de 5 mil
municípios tranquilamente. Há regiões onde precisamos muito da parceria com
estado, ou com a operadora que passa por lá, para poder cobrir, caso de Minas
Gerais, do interior da Bahia, do Sul e Sudeste do Rio Grande do Sul – nosso
backbone não vai cobrir a área de Pelotas, Jaguarão, Livramento. Para chegar até
lá precisamos da parceria com a CEE, a companhia estadual de energia, com a qual
estamos começando a conversar.
Tele.Síntese – Os recursos liberados com os quais a Telebrás conta são
inferiores aos previstos – para este ano ficaram fatando R$ 400 milhões, é isso?
Santanna – Não, vamos separar as coisas. Uma é aporte de capital na Telebrás. O
previsto era R$ 1 bi (R$ 600 milhões mais R$ 400 milhões), que viraram R$ 526
milhões, mais R$ 16 milhões, o que dá 542 milhões. Isso não é orçamento porque
eu tenho em caixa R$ 280 milhões, que eu não tinha autorização orçamentaria para
gastar. Então, se eu somar os R$ 542 milhões com os R$ 280 milhões – menos, R$
200 milhões pois tenho que gerenciar o passivo –, tenho de orçamento em torno de
R$ 740 milhões. Pode não dar para tudo, mas são recursos que permitem tocar a
empresa até setembro, no ritmo previsto. O mais importante em orçamento é ter a
rubrica, porque sempre pode ser complementado. O governo é que vai ditar o
ritmo. Se ele não aportar novos recursos, vamos fazer menos do que estamos
propondo fazer, ou seja, dificilmente conseguiremos interligar as 1.163, que
consumiriam os R$ 1 bilhão previstos, a menos que consigamos preços muito
melhores..
Tele.Síntese – O resultado da licitação do processo de registro de preço, ele
foi positivo, do ponto de vista de economia?
Santanna – Sim, sem dúvida. Está um pouco mais baixo no conjunto. Ainda não
fechamos todos os editais, mas a projeção, se não ocorrer nenhum impedimento
jurídico, teremos um preço final abaixo das projeções o que nos permitirá ir um
pouco mais longe.
Tele.Síntese – Como você avalia o movimento do mercado, agora que a Telebrás
está se preparando para operar, iluminando fibra, construindo backhual ...
Santanna – Lá no Rio Grande do Sul tem um ditado que diz o seguinte: “a motuca
tira o boi do mato”. A motuca é uma mosquinha que incomoda o gado. A Telebrás é
a motuca, vai tirar o boi do mato. A turma vai investir em banda larga e tudo
aquilo que diziam que não dava porque era caro, inviável, vão fazer e vão chegar
às metas que estamos dizendo que vão chegar porque é esse o papel da Telebrás:
introduzir concorrência onde não tem, porque a situação é de monopólio na
maioria das cidades brasileiras. Tirando as 184 maiores, há 2.135 onde o mercado
é monopolista e nas demais ninguém quer atuar porque dizem que não há retorno
econômico. Pela nossa avaliação, o país teria 912 cidades onde, de fato, só uma
rede seria viável em função da falta de capacidade de econômica da população. Em
todas as demais, dá para ter oferta de banda larga por mais de uma rede.
Tele.Síntese – Como a Telebrás se encontra hoje do ponto de vista de estrutura?
Santanna – Hoje a gente já tem a condição necessária para operar nesse primeiro
ano. Estamos nos preparando para fazer um plano de cargos e salários para
estruturar a empresa, para adequar os salários à realidade do mercado de
telecomunicações, fazer um concurso para completar as vagas que temos aqui. São
367 vagas autorizadas na Telebrás, e hoje temos 220 funcionários, desses 74
vieram da Anatel e ainda tem gente chegando. Além dos cargos de confiança,
contratamos gerentes técnicos para algumas áreas para dar o start na empresa.
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Fonte: Observatório da
Imprensa - Origem: O Estado de S. Paulo
[17/02/11]
Pauta pró-governo da TV Cultura é criticada no ar - por Gabriel Manzano e
Roberto Almeida
Pauta da TV Cultura é criticada, no ar, por ser favorável ao governo
Por cerca de três minutos, os telespectadores do Jornal da Cultura, transmitido
de segunda-feira a sábado pela TV Cultura de São Paulo, puderam assistir, na
noite de terça-feira, a uma cena praticamente inédita na televisão brasileira -
alguém criticar, ao vivo e em cores, o próprio noticiário que estava sendo
levado ao ar, qualificando uma reportagem de ‘merchandising’.
O episódio ocorreu quando a apresentadora Maria Cristina Poli perguntou aos dois
comentaristas do jornal, Demétrio Magnoli e Eugênio Bucci, o que achavam de uma
reportagem exibida, que exaltava várias realizações da Secretaria da Saúde
paulista, incluindo uma entrevista do secretário Guido Cerri.
‘Eu fiz jornalismo e aprendi que notícia, quando se trata de governo, é uma
coisa prática, já adotada. Notícia é quando o governo tomou uma atitude, não
quando diz que vai fazer alguma coisa’, disse Magnoli.
A apresentadora estranhou: ‘Você está criticando a matéria, Demétrio?’ A
resposta: ‘O que estou dizendo é que isso parece merchandising do governo’. Com
a naturalidade possível, ela voltou-se para Bucci, perguntando-lhe se
concordava. ‘Eu concordo sim’, avisou o comentarista. ‘É importante ter claro
que o protagonista de notícia é o interesse público. Ou então, uma medida que
modifica a realidade. Mas intenções não têm esse poder.’
Cristina ameaçou outra pergunta, mas Bucci foi em frente: ‘Elas (as intenções)
podem criar uma expectativa que não será confirmada. Deve-se usar o jornalismo
mais para cobrar o poder do que para promover suas ações.’ A apresentadora
empenhou-se em defender a reportagem: ‘Vocês não acham que a cobrança só é
possível quando isso é divulgado?’ Magnoli manteve a crítica: ‘Todos os atos de
governo são públicos. O que se pode fazer é ir lá daqui a seis meses e saber se
foi feito’. E ela, encerrando: ‘Sim, isso é jornalismo.’
Em frente. Num esclarecimento sobre o episódio, a TV Cultura defendeu ontem o
‘formato mais analítico’ do jornal, que ‘tem como principal proposta o debate,
com diferentes pontos de vista dos convidados’. Adiantou que os dois
comentaristas ‘permanecem no telejornal, expondo sempre suas opiniões com total
liberdade’.
Magnoli concorda com a explicação. ‘Aceitei participar do programa justamente
por causa dessa inovação’. Ele considera ‘um acerto’ o jornal mandar para o ar
uma crítica a uma notícia que acabava de ser exibida: ‘Acho ousada a proposta de
se convidar comentaristas que possam criticar até o próprio jornal’.
Propaganda oficial. A reportagem sobre saúde, que foi definida como
‘merchandising’ pelos dois convidados, proclamava que ‘a ideia é oferecer
serviços de qualidade, para impedir que (os doentes) venham para a capital’. O
secretário Guido Cerri afirmava, na entrevista que encerrava a matéria, que
‘cada região tem de ter recursos para atender a todos os pacientes’.
O problema, diz Magnoli, é que os governos ‘tendem a tentar usar as tevês
públicas para fazer propaganda oficial. Mesmo não sendo uma prática corrente da
televisão, algumas dessas pautas acabam passando. Foi o que aconteceu.’
Para ele, faltou dizer, naqueles três minutos do debate sobre a reportagem, que
a publicidade dos atos de governo é feita pela publicidade estatal, ‘o que é um
assalto inconcebível ao bolso dos consumidores que pagam altos impostos’.
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