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04/12/12
• Loteamento das Agências Reguladoras (3) - Artigo de Gustavo Loyola:
"Agências reguladoras: herança maldita"
Olá, WirelessBR e Celld-group!
O "post" anterior desta "Série" revitalizada, está aqui:
28/11/12
•
Loteamento das Agências Reguladoras (2) - Editorial O Globo: "Resultado do
aparelhamento das agências".
Transcrevo abaixo esta matéria:
Leia na Fonte: ClippingMP - Origem: Valor Econômico
[03/11/12]
Agências reguladoras: herança maldita - por Gustavo Loyola
O autor, Gustavo Loyola é doutor em economia pela EPGE/FGV, foi presidente do
Banco Central e é sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, em São
Paulo.
Recorte:
(...) O fortalecimento das agências reguladoras, isoladamente, não terá o
condão de assegurar um fluxo suficiente de recursos privados para áreas de
infraestrutura como, portos, aeroportos, energia e telecomunicações. Porém, o
bom funcionamento de tais instituições se afigura condição necessária para que
os investidores se animem a empreender naqueles setores, sem as muletas
proporcionadas por abundantes subsídios creditícios e/ou a garantia da
proximidade com os detentores do poder.(...)
Boas Festas e um ótimo 2013!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL
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Leia na Fonte: ClippingMP - Origem: Valor Econômico
[03/11/12]
Agências reguladoras: herança maldita - por Gustavo Loyola
Gustavo Loyola, doutor em economia pela EPGE/FGV, foi presidente do Banco
Central e é sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, em São Paulo.
A recente divulgação de mais um escândalo de corrupção e tráfico de influência,
desvendado pela Polícia Federal, não deixa qualquer dúvida. A presidente Dilma
recebeu uma herança maldita de seu antecessor: o loteamento político e o
aparelhamento das agências reguladoras.
Pergunta-se: com esse tipo de gestão, como pode o governo federal pretender que
empresários privados sérios venham a investir em setores de infraestrutura
sujeitos à regulação estatal?
No artigo publicado neste espaço em 14/11, assinalei que a crescente incerteza
sobre as regras de jogo estão prejudicando os investimentos no Brasil,
notadamente em setores de infraestrutura que dependem da existência de segurança
jurídica e de adequado ambiente regulatório.
As agências reguladoras - possuindo autonomia e corpo técnico qualificado - são
um elemento institucional essencial para assegurar o cumprimento das regras do
jogo, levando em consideração de maneira equilibrada os interesses dos usuários
dos serviços, do governo e das empresas reguladas.
Como se sabe, é por meio das agências reguladoras que o Estado exerce a
regulação econômica para combater imperfeições de mercado, tais como monopólios
naturais, assimetrias de informação, externalidades negativas, etc. Nesse
contexto, desempenham importante papel no "nivelamento do campo de jogo" entre
os participantes do mercado.
Por outro lado, para evitar o risco de "captura" do regulador pelos entes
regulados, as agências devem ter autonomia técnica e financeira, sendo também
indispensável que seus dirigentes possuam mandatos fixos e capacidade técnica e
estejam ao abrigo da influência político-partidária. Por óbvio, tal autonomia
não significa independência absoluta, sendo fundamentais as questões de
transparência e de "accountability" dessas instituições.
Criadas no Brasil no governo FHC, a partir da privatização das empresas
concessionárias de serviços públicos, as agências proliferam-se desde então,
sendo também estruturadas nas esferas estadual e municipal.
Ocorre que tal tendência, longe de ser positiva, refletiu um continuado processo
de banalização dessas instituições que, a partir do governo Lula, tiveram
diminuída sua autonomia, ao mesmo tempo em que seus cargos de direção passaram a
ser loteados para atender interesses do PT e dos demais partidos da base aliada.
Nesse sentido, não é nenhum exagero dizer que Lula patrocinou um esforço
deliberado de esvaziamento das agências. Em consequência, o que se verifica hoje
é que, em muitos casos, as agências tornaram-se meras "repartições" dos
ministérios, sendo frequentemente atropeladas em suas funções, ao mesmo tempo em
que se observa a perda de transparência em suas funções regulatórias e o
surgimento de indícios de "captura" em algumas agências.
Ademais, seus cargos de direção se tornaram prebendas políticas, quando deveriam
ser preenchidos por profissionais com conhecimento e formação profissional
compatíveis com a função.
A propósito, em relatório de 2011, o próprio TCU afirmou que "a subjetividade
dos critérios possibilita a indicação de diretores que não possuem os
conhecimentos imprescindíveis para o exercício de cargo de natureza técnica."
Para exemplificar as escolhas bizarras frequentemente patrocinadas pelo governo,
basta mencionar o conspícuo caso de um indicado por um partido da base do
governo para diretor da ANTT que, ao ter seu parco currículo questionado pela
imprensa, admitiu candidamente que sua experiência no setor de transportes
limitava-se apenas à de "usuário"!
O lastimável episódio envolvendo dois diretores de distintas e importantes
agências reguladoras, ambos indicados por uma poderosa funcionária de terceiro
escalão, parece uma boa oportunidade para a presidente Dilma interromper o
processo de desprestígio dessas instituições.
Cabe reafirmar sua autonomia, dotá-las dos meios necessários ao desempenho de
suas funções e, principalmente, recrutar seus diretores com base em seu mérito
pessoal e profissional e não com base em indicações extravagantes, como se vê
hoje com alguma frequência.
O fortalecimento das agências reguladoras, isoladamente, não terá o condão de
assegurar um fluxo suficiente de recursos privados para áreas de infraestrutura
como, portos, aeroportos, energia e telecomunicações. Porém, o bom funcionamento
de tais instituições se afigura condição necessária para que os investidores se
animem a empreender naqueles setores, sem as muletas proporcionadas por
abundantes subsídios creditícios e/ou a garantia da proximidade com os
detentores do poder.
A propósito, vale lembrar que as sucessivas frustrações das previsões do governo
sobre o crescimento do PIB são mais um alerta de que o Brasil precisa
urgentemente de políticas que fortaleçam de forma perene as instituições
necessárias ao funcionamento de uma economia de mercado.
Transcrito do Valor Econômico de 3/12/2012