WirelessBRASIL - Bloco TECNOLOGIA

Fevereiro 2012             


09/02/12

• Comentário de Rubens sobre o tema "metas da banda larga" e resposta de José Smolka

José Smolka responde aos comentários do participante Rubens, repercutindo sua mensagem registrada neste "post":
08/02/12
"J'Accuse" - Comentário de José Smolka sobre o tema das metas de qualidade da banda larga

No final desta página está a relação dos demais "posts" sobre o imbróglio OI x "Metas da banda larga".

Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL

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de J. R. Smolka smolka@terra.com.br por yahoogrupos.com.br
para Celld-group@yahoogrupos.com.br, "wirelessbr@yahoogrupos.com.br"
data 9 de fevereiro de 2012 04:16
assunto [wireless.br] Re: J'Accuse

Oi Rubens,

Vamos inline, pra variar :-) .
 
Rubens escreveu:
O problema é que o modelo brasileiro de privatização da planta fixa privilegiou a arrecadação da venda para o Tesouro como meta, efetivamente vendendo mercados cativos aos prestadores que hoje compõe Oi e Telefônica. Todas as medidas que já se tentaram (como unbundling) e estão se tentando (como a nova Telebrás) são tentativas de pequeno alívio dos efeitos disso, com efeitos sempre limitados.
 
Em inglês este tipo de raciocínio é chamado hindsight. Algo como "olhando para trás", ou "olhando em retrospectiva". O que é sempre muito mais cômodo. Como se costuma dizer, o papel mais fácil é o do auditor, que chega depois da batalha terminada para enfiar a baioneta nos sobreviventes.

Claro que o objetivo da privatização do então Sistema Telebrás era arrecadar o máximo para o Tesouro. Se você for vender um patrimônio seu (um carro, ou uma casa, por exemplo) você não vai tomar medidas para maximizar a sua arrecadação? E existia um modelo, que na época parecia sensato, de promover a competição pela outorga de licenças "espelho" e "espelhinhos" do STFC (em regime privado?). Dessa época, se não me falha a memória, a única sobrevivente foi a GVT.

Taí um bom case para os acadêmicos de administração: a GVT sobreviveu e cresceu por suas próprias virtudes ou por inépcia da BrT em aplicar os mesmos mecanismos "passivos agressivos" usados pela Telefónica e pela Oi? Ela é apenas um acaso feliz ou a prova que o famigerado PMS pode, sim, ser enfrentado e vencido?

Se a implantação da GVT aqui na Bahia servir de exemplo geral, então é muito interessante notar que ela entrou no mercado construindo rede de acesso própria, sem depender de unbundling da Oi. Ainda, usando como exemplo o meu caso particular, mudei de provedor de STFC e de banda larga fixa para a GVT não por falta de qualidade da rede da Oi. isso nunca foi problema, pelo menos para mim. Mudei para uma empresa que oferece qualidade de rede similar ou melhor, que aparentemente tem menos tumulto administrativo interno (que se reflete no atendimento, no billing, etc.), por um preço mais agressivo. E estou satisfeito.

Rubens escreveu:
O regulamento de metas de qualidade vai numa outra direção, que é o de assumir que as operadoras com PMS não terão competidores em grande parte dos mercados, então se deve fazer com que o discurso delas seja compatível com a oferta já que não serão os inexistentes competidores que conseguirão isso.

 
Para o SCM creio que minha exposição do caso GVT serve de contra-exemplo da sua afirmativa. Para o SMP o buraco e beeem, bem mais embaixo.

Rubens escreveu:
Não há no regulamento de metas de qualidade uma obrigação de que se venda acessos de 15 Mbps, por exemplo; as detentoras de PMS poderiam oferecer apenas 65000 bps se assim
quiserem, nem estabelece um nível de preço por Mbps. Ele apenas regula a relação entre o marketing e a engenharia da PMS para ser compatível com a expectativa do cidadão médio ao ouvir "acesso de (...) Mbps".

 
Acho que, aqui, vale comentar sobre uma percepção generalizada, que também é estimulada pela mídia (especializada ou não). O argumento básico é mais ou menos assim: "se em São Paulo, ou Rio, ou Brasília, está esta m****, então imagine só como deve ser no resto do Brasil".

Quando se trata de banda larga fixa, o que eu observo é que as reclamações sobre qualidade da rede ocorrem mais naqueles estados onde, desde o antigo Sistema Telebrás, a qualidade da rede já era sofrível. As antigas Telesp e Telerj eram sacos de pancada históricos com relação à má administração em geral, e da rede em particular. Infelizmente as maiores operadoras pós privatização tiveram seus pontos focais, em termos administrativos, justamente sobre as piores operadoras estaduais, e muito daquele tempo ainda permeia as práticas administrativas de hoje em dia. Peço aos leitores de estados como Minas Gerais, Bahia, Paraná, Ceará ou Rio Grande do Sul, onde as operadoras estaduais pré privatização tinham fama (justificada) de boa prestação de serviços, que me digam: aí existe reclamação generalizada quanto à qualidade da rede para a banda larga fixa? Reparem: penetração do serviço para o interior é outra conversa. Estamos falando de onde a rede já existe.

Eu defendo a seguinte atitude com relação aos problemas de qualidade da rede fixa: estratifiquem as reclamações, por tipo e por localidade. Eu aposto que a maior parte das reclamações sobre desempenho não podem ser imputadas às operadoras, e, as que podem, majoritariamente localizam-se nas regiões suspeitas de praxe. A solução real não é ficar gritando sobre números altos de reclamações dos assinantes. Isso é, muitas vezes, apenas um ranço derivado de uma postura básica anticapitalista equivocada. O que realmente é necessário é tratar e entender estes números para orientar ações eficazes e eficientes para o bem do consumidor.

Agora a questão da banda larga móvel... Esta sim, começa pela burrice de marketing das operadoras em anunciar uma velocidade que não tem como ser consistentemente experimentada pelo usuário, a menos que ele fique sempre em locais pouco carregados da rede. Não é má vontade, não é maquiavelismo. É física. E não dá para revogar as leis da física por decreto.

Problema dois: todas as operadoras (e quem tem menos justificativa para ter se deixado levar nisso foi a Vivo) subestimaram o impacto de tráfego de dados nas redes 3G. Até o EDGE as taxas de dados eram modestas, e o máximo que dava pra fazer eram aplicações de baixo tráfego. A RIM (Research in Motion Ltd., fabricante do BlackBerry) foi a estrelas desta época, porque não dependia de taxas altas para sincronizar as caixas postais de correio eletrônico dos usuários. As redes de acesso HSPA são outros quinhentos. Dá para usar o seu terminal (smartphone, tablet, notbook + modem HSPA) praticamente como se estivesse ligado na rede fixa. A Apple inovou no modelo de negócio, com o iTunes e a app store para o iPhone. E, de repente, tudo que as operadoras imaginavam sobre tráfego de dados nas redes 3G foi para o beleléu.

Este excesso de tráfego 3G colocou um stress acima do projetado sobre o backhaul das BTS/Node-b (e, aqui no Brasil, o hindsight mostra que isto poderia ter sido evitado - ou pelo menos minimizado). Continuaram a expandir o backhaul com tecnologia de transmissão de rádio TDM (no máximo passaram de PDH para SDH/Sonet), quando o que era realmente necessário era fibrar as regiões metropolitanas e conectar as BTS/Node-b com enlaces Ethernet.

O gargalo que temos hoje é consequência do atraso nesta migração tecnológica do backhaul. Está mudando, mas ninguém tem condição de alocar o orçamento necessário para substituir tudo numa paulada só (a estimativa de investimento para isso, de uma só operadora, girava na cada dos 4 bilhões de Reais). Então, novamente, é uma questão de tempo e paciência para resolver. Só que agora existe um stress novo: o início do overlay da rede 4G (LTE) sobre a estrutura 3G/2G existente, que deve atingir pelo menos as sedes da Copa do Mundo até 2014.

Os problemas são concretos. E não ai ser berrando na imprensa, ou tentando ser assertivo sobre sua autoridade, ou pela via judicial, que ninguém vai conseguir uma mudança significativa neste estado de coisas. E eu culpo a Anatel, especialmente a Superintendência de Serviços Privados (SPV), por simplesmente juntar material para agradar os desejos políticos dos conselheiros, em vez de opinar seriamente sobre o estado real das redes dos provedores, e avaliar coerentemente as limitações práticas para a evolução delas.

E, para terminar, porque as regras de qualidade devem ser impostas somente sobre as operadoras STFC e SMP? Os usuários de acesso em banda larga via rádio, ou de provedores fixos condominiais, por exemplo, não terão direito a saber nada sobre a qualidade da rede que os atende? Porque o tratamento de "brocoterapia" (v. dicionário de baianês: brocar, v.i., bater, dar porrada...) só se aplica às operadoras? Só por causa da percepção generalizada de que "elas tem dinheiro, podem pagar"? Isto não é regulação. É preconceito.

[ ]'s
J. R. Smolka

P.S.: Me ocorre ainda um outro aspecto, com relação aos indicadores baseados nos registros de reclamação feitos pelos usuários. Faltou colocar no texto dos regulamentos um adjetivo, usado no Sindec, por exemplo: reclamações FUNDAMENTADAS.

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"Posts" anteriores sobre mesmo tema:

Fonte: WirelessBRASIL:

08/02/12
Comentário de José Roberto S. Pinto sobre o tema "metas da banda larga" e resposta de José Smolka
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