WirelessBRASIL - Bloco TECNOLOGIA
Fevereiro 2012
10/02/12
•
Loteamento de agências reguladoras
01.
No dia 7, em sua Coluna no Portal da Band, Mariana Mazza comenta uma eventual
"Lei Geral das Agências" que pode emergir de debates no Congresso.
Antes de transcrever o comentário da jornalista (próximo "post") permito
recordar duas matérias de 2008 - mas muito atuais! - sobre o tema "loteamento
das agências reguladoras", com a recomendação de "vale conferir". :-)
Leia na Fonte: O Globo
[07/06/08]
O erro original - por Míriam Leitão
Recorte:
(...)
A agência é um órgão de Estado, e não do governo. A idéia é que seja um
organismo independente de todas as pressões. Defende o mercado da ingerência
indevida do governo; defende a sociedade das distorções criadas pelo mercado;
defende as empresas participantes do abuso de poder de mercado de empresas
dominantes.(...)
Fonte: Estadão -
Editorial
[18/06/08]
Loteamento de agências (Obs: link original descontinuado)
Recorte:
(...) Desde o início do primeiro mandato, o governo
do presidente Lula vem trabalhando para destruir o sistema de agências
reguladoras. Agências desse tipo, existentes em países desenvolvidos, são
órgãos de Estado, não de governo. Devem funcionar com independência
política, proporcionando estabilidade e previsibilidade às condições de
investimento em setores básicos, como energia, transportes e
telecomunicações. O presidente Lula e seus principais auxiliares nunca
aceitaram essa concepção, assim como jamais aceitaram os critérios de
impessoalidade e competência na gestão pública.(...)
02.
O assunto "loteamento" e "agências como órgãos de estado e não de governo" é
recorrente em nossos fóruns e aqui estão alguns links anteriores:
04/12/09
•
Loteamento da Anatel + Juiz de Fora + Manaus... Outras?
22/07/09
•
Msg de José
Roberto S. Pinto - Da série "Loteamento": Anatel loteada, aparelhada, capturada,
sitiada...
17/07/09
•
Matérias do
Estadão com opiniões de Flávia Lefèvre: Inoperância e "loteamento da Anatel" +
"Panes nas teles"
05/06/09
•
"TCU
critica Anatel" + "Loteamento da Anatel": João Rezende
09/05/09
•
"Loteamento
da Anatel": João Rezende aprovado + "Não sou pascácio, na Anatel também quero um
Nicácio" + Dora Kramer: "De onde menos se espera é que saem as melhores
surpresas"
20/02/09
•
"Loteamento" da Anatel: "Resumo" + Rateio político coloca João Rezende na Anatel
indicado pelo PT
19/01/09
•
"Loteamento" da Anatel: "Sucessão no congresso tem reflexos na Anatel" - Artigo
do Estadão
01/09/08
• Emilia
Ribeiro e o "loteamento" da Anatel
18/06/08
•
Fusão Oi/BrT
e PGO (11) - Editorial do Estadão: "Loteamento de Agências"
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL
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Leia na Fonte: O Globo
[07/06/08]
O erro original - por Míriam Leitão (foto)
A impressão digital neste novo escândalo do governo Lula já pode ser
identificada. Ele nasceu do fim da independência das agências reguladoras. Desde
o primeiro dia, o governo mostrou não entender a razão de as agências serem
independentes. Houve todo tipo de interferência; nomeações políticas,
aparelhamento. O PT confundiu com perda de poder o que era modernização do
aparelho do Estado.
Logo que começou o primeiro mandato, foi aberta a temporada de caça à
independência das agências. O presidente Lula definiu a nova ordenação — que não
entendeu — como "terceirização" do poder. Demitiu ou enfraqueceu quem entendia o
que é uma agência, retirou poderes delas, nomeou para os cargos de direção
políticos derrotados nas eleições, indicados políticos, pessoas valorizadas por
suas carteirinhas ideológicas. Com atos como esses, preparou o terreno para todo
tipo de impropriedade e improbidade. Assim surgem distorções econômicas,
incerteza regulatória, interferência para atender a grupos políticos e
interesses privados. Assim surgem os intermediários e suas nebulosas transações.
Tudo passa a ser possível quando órgãos que regulam sofrem esse grau de
desidratação de suas prerrogativas; esse grau de aparelhamento.
Todos os males sofridos pela Anac vieram desse erro original. A ex-diretora
Denise Abreu, que tanta polêmica provocou, era considerada "do grupo de José
Dirceu". O também controverso ex-presidente da Anac Milton Zuanazzi era "do
grupo de Dilma Rousseff". O outro ex-diretor Leur Lomanto era um político sem
mandato. Foi o caso também do atual diretor geral da Agência Nacional do
Petróleo, que se qualificou para o cargo por ser ex-deputado sem mandato do
PCdoB, partido da base aliada.
O governo Lula transformou as agências em apêndices dos ministérios. Ao fazer
isso, produziu um recuo no tempo. Voltou-se aos departamentos anexos aos
ministérios que decidiam preços dos serviços públicos; como o departamento de
águas e energia elétrica, o dos combustíveis, entre outros, de viva memória e
nenhuma saudade. Foi para substituir esses apêndices que surgiu a moderna
regulação.
A agência é um órgão de Estado, e não do governo. A idéia é que seja um
organismo independente de todas as pressões. Defende o mercado da ingerência
indevida do governo; defende a sociedade das distorções criadas pelo mercado;
defende as empresas participantes do abuso de poder de mercado de empresas
dominantes.
As agências existem em setores regulados pois trata-se de concessionários de
serviço público; por estarem em área na qual o mercado sozinho cria distorções.
Uma empresa que controle uma via única de acesso — seja oleoduto, estrada
ferroviária, linha de transmissão — pode impor esse poder através do veto à
passagem. A agência garante o direito de passa$a todas as companhias e assim
garante a competição.
No caso de haver uma empresa com poder dominante no mercado, a regulação
independente dará a garantia aos grupos que queiram entrar no mesmo setor de que
eles não estarão submetidos ao poder excessivo da empresa dominante. Ao regular
as ações potencialmente conflituosas entre as companhias, as agências dão
garantia ao próprio mercado para investir; ao combater conluio entre empresas,
dão garantias ao consumidor desses serviços ou produtos. Não são agências de
defesa do consumidor propriamente ditas, como os procons, mas, ao garantirem o
funcionamento do mercado, acabam protegendo os interesses e direitos do
consumidor.
Seus dirigentes têm mandato e contas a prestar à sociedade. Elas têm que estar
protegidas da pressão política, cujos interesses são sempre temporários e
mutantes. Têm que estar blindadas contra o risco de serem capturadas pelas
empresas que atuam neste mercado. O maior desafio da ANP, quando foi criada, era
ser independente em relação ao enorme poder da Petrobras. No começo, até
conseguiu isso, porém, no governo Lula, foi gradualmente perdendo essa função
até cair naquilo que é uma das distorções clássicas: um regulador controlado
pela empresa que deveria regular.
Foi neste ambiente que ocorreram as transações para a compra da tradicional,
admirada, mas financeiramente arruinada, Varig. Ela estava falida, mas tinha
ativos valiosos. Pagar a dívida e resgatá-la era um modelo velho, que o governo
sabiamente rejeitou. No entanto, se interferiu da forma como a ex-diretora da
Anac está dizendo, cometeu o pior de todos os erros. O caso é grave, precisa ser
apurado. A ex-diretora ficou estigmatizada por seus atos e palavras, mas agora
está cumprindo o papel de trazer a público diálogos e atos inaceitáveis. O pior
que o país pode fazer é não dar atenção, achando que se trata apenas de uma
vingança pessoal ou de mais uma das muitas brigas intestinas do PT. Ao falar,
ela está correndo riscos. Tendo provas e indícios do que relata, precisa ser
levada a sério para que se façam as investigações e apurações necessárias. Já há
outros depoimentos validando parte do que ela disse; existem fatos dando
consistência a certos aspectos do que revelou. Existe, sobretudo, o terreno
propício a distorções nesta relação, sem transparência e limites institucionais,
entre o governo e as agências reguladoras.
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