WirelessBRASIL - Bloco TECNOLOGIA

Fevereiro 2012             


10/02/12

• "J'Accuse" - José Smolka comenta mensagem de um participante do debate

de J. R. Smolka smolka@terra.com.br
para Celld-group@yahoogrupos.com.br
data 9 de fevereiro de 2012 20:38
assunto Re: [Celld-group] J'Accuse

Nota de Helio Rosa
Smolka tinha escrito:
"E, para terminar, porque as regras de qualidade devem ser impostas somente sobre as operadoras STFC e SMP? Os usuários de acesso em banda larga via rádio, ou de provedores fixos condominiais, por exemplo, não terão direito a saber nada sobre a qualidade da rede que os atende? Porque o tratamento de "brocoterapia" (v. dicionário de baianês: brocar, v.i., bater, dar porrada...) só se aplica às operadoras? Só por causa da percepção generalizada de que "elas tem dinheiro, podem pagar"? Isto não é regulação. É preconceito."

O participante "B" comenta:
"Acho que a resposta é porque eles tem virtual monopólio em suas áreas (o tal PMS). E também pelo subsidio cruzado (entre a assinatura do serviço público e o serviço prestado em regime privado) que apesar de proibido, todos sabem que acontece."
HR


Smolka (foto) responde:

"B"
Tenho a sensação que isto vai ser difícil de ser aceito por você, mas mesmo assim vou tentar.

A situação de competição no mercado de telecom, em minha opinião, me parece análoga à seguinte estorinha: imagine que vai haver uma corrida de 100 m rasos. Em uma das raias está o Usain Bolt (que já correu esta distância em 9,58 s - e ainda pode melhorar esta marca), Nas outras raias estão pessoas comuns, como eu (quando tinha 17 anos consegui 12 s cravados, mas foi uma vez só, e faz muuuito tempo :-) ) e você.

Me parece que o "lightning" Bolt tem decididamente PMS nesta prova. Então existem duas maneiras possíveis de tornar a competição mais equilibrada: ou nós damos alguma vantagem para nós, assim, tipo, nós largamos vários metros à frente; ou nós colocamos alguma dificuldade para ele, tipo obrigá-lo a correr com os pés presos a correntes e pesos.

As duas formas parecem equivalentes, mas só o são no resultado final esperado (nós e ele passamos a ter chances equilibradas - não certeza - de ganhar a corrida). Na primeira forma o Usain Bolt pode desenvolver todo o seu potencial, sem que isso afete a nossa possibilidade de ganhar a corrida. Na segunda forma o que veremos é uma caricatura do grande corredor em ação, e uma corrida entre um aleijado artificial e alguns incompetentes.

Com esta analogia pretendo demonstrar que todo o nosso modelo regulatório é do segundo tipo. Não é voltado ao incentivo para que os competidores de menor porte possam desenvolver-se, e até aprender, com a convivência com competidores maiores e mais experientes. Simplesmente cria barreiras artificiais para que o competidor com PMS não possa atuar com toda sua capacidade.

Eu prefiro o primeiro tipo. Estímulo e oportunidade para que os competidores menores possam operar e crescer, mesmo convivendo com competidores maiores e agressivos. Repare que, no primeiro modelo, se os competidores pequenos não conseguirem aproveitar a vantagem oferecida, ninguém trabalhará direito (nem os pequenos nem os que tem PMS). E quem será mal servido é o consumidor.

Mas, no segundo modelo, a probabilidade é que mais de um competidor (até mesmo o que tem PMS) consiga ofertar serviços decentes aos consumidores, e atingimos dois objetivos: prestação de serviços adequada ao consumidor e desenvolvimento de empresas que poderão, com o tempo, prescindir do benefício e tornarem-se, elas também, detentoras de PMS.

Não sei como ser mais claro. Só desenhando.

[ ]'s
J. R. Smolka