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Fevereiro 2012
08/02/12
• A falta de engenheiros - Editorial
Estadão
Leia na Fonte: Estadão
[27/02/12]
A falta de engenheiros - Editorial
Crescimento do PIB e programas do governo aumentaram a demanda desses
profissionais
Enquanto o Brasil forma cerca de 40 mil engenheiros por ano, a Rússia, a India e
a China formam 190 mil, 220 mil e 650 mil, respectivamente. Entidades
empresariais, como a Confederação Nacional da Indústria, têm feito estudos sobre
o impacto da falta de engenheiros no desenvolvimento econômico brasileiro. E
órgãos governamentais, como a Financiadora de Projetos (Finep), patrocinam desde
2006 programas de estímulo à formação de mais engenheiros no País.
Segundo estimativas do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea),
o Brasil tem um déficit de 20 mil engenheiros por ano - problema que está sendo
agravado pela demanda por esses profissionais decorrente das obras do PAC, do
Programa Minha Casa, Minha Vida, do pré-sal, da Copa de Mundo de 2014 e dos
Jogos Olímpicos de 2016.
No País há 600 mil engenheiros, o equivalente a 6 profissionais para cada mil
trabalhadores. Nos Estados Unidos e no Japão, a proporção é de 25 engenheiros
por mil trabalhadores, segundo publicações da Finep. Elas também informam que,
dos 40 mil engenheiros que se diplomam anualmente no Brasil, mais da metade opta
pela engenharia civil - a área que menos emprega tecnologia. Assim, setores como
os de petróleo, gás e biocombustível são os que mais sofrem com a escassez
desses profissionais.
Para atenuar o problema, o governo federal lançou no ano passado o
Pró-Engenharia - projeto elaborado com o objetivo de duplicar o número de
engenheiros formados anualmente no País, a partir de 2016, e de reduzir a
altíssima taxa de evasão nos cursos de engenharia, que em algumas escolas chega
a 55%. Das 302 mil vagas oferecidas pelas escolas brasileiras de engenharia,
apenas 120 mil estão preenchidas. O problema da evasão é agravado pela falta de
interesse dos jovens pela profissão, que decorre, em parte, da falta de preparo
dos vestibulandos, principalmente nas disciplinas de matemática, física e
química. Elaborado por uma comissão de especialistas nomeada pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o projeto prevê
investimentos de R$ 1,3 bilhão.
Mas, apesar de sua importância para a remoção de um dos gargalos do
desenvolvimento econômico do País, o Pró-Engenharia ainda não saiu do papel. O
projeto está à espera do aval dos novos ministros da Educação, Aloizio
Mercadante, e da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp. "O Pró-Engenharia
poderia ter deslanchado, mas tomamos duas bolas nas costas", diz o presidente da
Capes, Jorge Guimarães.
Segundo ele, o maior problema que o Pró-Engenharia vem enfrentando, para ser
implementado, é o que ele chama de "fogo amigo" no âmbito do governo.
"Primeiramente, foi um documento do Ipea dizendo que o País não precisa de
engenheiro, que já tem muitos deles nos bancos. Mas isso ocorreu numa época em
que a engenharia não tinha demanda. Em segundo lugar, foram os reitores de
universidades federais que soltaram um documento mostrando um aumento de cerca
de 12% nas matrículas dos cursos de engenharia. Se não se atacar a evasão, o
número de matrículas poderá ser aumentado em 300%, mas o problema da falta de
engenheiros não será resolvido", afirma Guimarães.
Ele também lembra que, para reduzir a taxa de evasão dos cursos de engenharia, a
Capes, além do Pró-Engenharia, vem reformulando os currículos, para torná-los
mais próximos do mercado de trabalho. Em vez de estimular a especialização
precoce, como ocorre hoje, a ideia é valorizar uma formação básica e
interdisciplinar, na qual as disciplinas de engenharia são complementadas por
matérias como economia, planejamento estratégico, gestão e empreendedorismo. "No
4.º e no 5.º ano o aluno vai se especializar no que quiser e ganhar visão de
mercado", diz o presidente da Capes.
Desde sua posse, a presidente Dilma Rousseff tem falado muito em crescimento
econômico. Mas, para que ele ocorra, é preciso que seus ministros sejam mais
eficientes na implementação dos projetos anunciados.