WirelessBRASIL - Bloco TECNOLOGIA
Janeiro 2012
12/01/12
• Ethevaldo Siqueira: "Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, decepciona"
Transcrição:
Fonte: Blog de Ethevaldo Siqueira/ Estadão
[06/01/12]
Paulo Bernardo decepciona - Ethevaldo Siqueira (foto)
Há exatamente um ano, manifestávamos nossa esperança no que poderia ser o
desempenho de Paulo Bernardo, como novo titular do Ministério das Comunicações (Minicom).
Agora, um ano depois, lamentamos dizer que seu trabalho ficou muito aquém do que
poderia ter sido.
Examinemos
sua contribuição em cada um dos segmentos prioritários das Comunicações. Ei-los:
1. Resgatar o papel do Minicom
O ministro sabe que entre as grandes prioridades do setor estão o novo marco
regulatório institucional, o compartilhamento da infraestrutura de banda larga (unbundling)
e a universalização dos acessos de alta velocidade. Paulo Bernardo, no entanto,
não mostrou nenhum interesse em aprofundar esses temas prioritários.
2. Preparação da Lei Geral das Comunicações
Nada foi feito ao longo de 2011 com relação à maior das prioridades no setor, a
Lei Geral de Comunicações. Como novo marco regulatório, essa lei deverá abranger
todas as formas de comunicação (telefonia, radiodifusão, correios, TV por
assinatura, internet e outras), sob o guarda-chuva de uma única agência
reguladora.
3. Tirar as rádios e TVs das mãos de políticos.
Logo após tomar posse, o ministro nos deu a esperança de que iria fazer uma das
coisas que o Brasil espera há décadas de sua área: moralizar as concessões de
rádio e TV. Mas não moveu uma palha para mudar a situação absurda e ilegal de um
terço de todas as concessões e autorizações nessa área, hoje nas mãos de
senadores, deputados, governadores, prefeitos ou de seus parentes ou laranjas.
São cerca de 1.200 emissoras de rádio e 150 de TV.
4. Telebrás: ou funciona ou fecha
Especialistas independentes fazem hoje duas perguntas: “Será que vale a pena
manter uma estatal comprovadamente inoperante, lenta, com orçamento ridículo, na
área da banda larga? Ou será que a finalidade única de sua existência é mesmo
dar emprego a amigos do governo e de seu principal partido?”
5. Combater rigorosamente a corrupção
Os Correios parecem ter eliminado a corrupção. O grande problema em 2011 foi a
estranha e irredutível recusa do ministro em anular uma licitação suspeita da
Telebrás, cheia de irregularidades e indícios veementes de superfaturamento da
ordem R$ 120 milhões, comprovados por peritos do Tribunal de Contas da União
(TCU).
Mesmo contrariando a manifestação candente do representante do Ministério
Público, Lucas Furtado, feita no TCU e no Congresso, o ministro preferiu fechar
os olhos às denúncias e adotar a fórmula heterodoxa e polêmica, sugerida pelo
Tribunal, para que a Telebrás “renegociasse” os preços com os fornecedores.
A ética manda que toda licitação suspeita e viciada seja anulada, em defesa do
dinheiro público, que pertence a todos nós, 190 milhões de brasileiros. Se a
Telebrás ou o Minicom anulassem a licitação viciada e fizessem uma nova
licitação, com todo rigor, o País economizaria no mínimo R$ 150 milhões.
6. Fortalecimento da Anatel
Um dos caminhos para a modernização da Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel) seria contar com um orçamento condigno, com os recursos do Fundo de
Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) que, por lei, lhe pertencem. Em lugar
disso, o governo Dilma Rousseff – como seus antecessores, Lula e FHC – corta o
orçamento da agência e ainda confisca cerca de R$ 2 bilhões por ano do Fistel.
A Anatel precisa de equipamentos avançados e mais especialistas capazes de
fiscalizar com rigor as operadoras de telecomunicações, as emissoras de rádio e
TV, para coibir a ação das emissoras piratas e exigir mais qualidade dos
serviços.
Enfraquecer as agências é suicídio político, pois elas são órgãos de Estado
essenciais para o efetivo cumprimento da lei e o aprimoramento das políticas
públicas. E pior: de nada adiantará criticar as teles e operadoras de outros
serviços se o governo retira sistematicamente das agências os meios para que
elas fiscalizem seriamente o setor.
7. Maiores tributos do mundo
Nenhum outro país, exceto a Turquia, cobra impostos tão elevados sobre serviços
de telecomunicações como o Brasil. São escandalosos 43%. Pense, leitor, no que
significou isso ao longo dos últimos 11 anos, quando os governos estaduais e a
União arrecadaram mais de R$ 380 bilhões de tributos de nossas contas
telefônicas. Esses R$ 380 bilhões saídos de nossos bolsos equivalem a quase dez
vezes o lucro líquido total das operadoras no mesmo período.
Além da cobrança de impostos tão elevados, o governo federal (desde FHC e Lula)
vêm confiscando a quase totalidade dos três fundos setoriais: o Fistel, acima
mencionado, o Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust) e o Fundo de
Tecnologia das Telecomunicações (Funttel). Em 11 anos, o valor acumulado desse
assalto chega a R$ 35 bilhões.
Imagine, leitor, se o País tivesse aplicado apenas esses R$ 35 bilhões das
telecomunicações em um projeto de universalização da banda larga.
Assim, depois de um ano de gestão de Paulo Bernardo à frente do Ministério das
Comunicações, nossa conclusão só pode ser uma: o ministro decepcionou todos
aqueles que, como eu, esperávamos alguma coisa bem melhor dele.
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