05/06/12
• Radio Digital: O Retorno (5) - Helio Costa "desistiu" do IBOC e
Ethevaldo Siqueira comentou + Matérias publicadas em 2008
Olá, WirelessBR e Celld-group!
Em prosseguimento à Série sobre o "retorno" da tentativa de implantação do
Rádio Digital sem amplo debate, relaciono mais abaixo as manchetes das poucas
matérias de 2008.
A surpresa veio no apagar das luzes de 2008 quando o ministro Helio Costa,
"desistiu" do padrão IBOC, em artigo do próprio punho, comentado por Ethevaldo
Siqueira.
A "desistência" de Helio Costa foi um dos artigos com menor repercussão na web,
na época! Mistério...
Aas duas matérias estão transcritas no final desta página:
Fonte: Estadão
[29/12/08]
Hélio Costa abandona projeto de rádio digital - por Ethevaldo Siqueira
Fonte: Caros Ouvintes
[21/12/08] E o
rádio digital? Uma análise responsável - por Hélio Costa, jornalista,
senador da República, ministro das Comunicações
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL
Rádio Digital
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Notícias sobre Rádio Digital no ano de 2008
Fonte: Adnews Origem: Estadão
[29/12/08]
Hélio Costa abandona projeto de rádio digital - por Ethevaldo Siqueira
Fonte: Caros Ouvintes
[21/12/08]
E o rádio digital? Uma análise responsável - por Hélio Costa, jornalista,
senador da República, ministro das Comunicações
Fonte: ABERT
[11/12/08]
Abert entrega relatório final para rádio digital
(com 500 páginas, resultante de 9 meses de trabalho do Instituto
Mackenzie) + Nota de Helio Rosa sobre esta notícia
Fonte: Caros Ouvintes
[05/12/08]
E o rádio digital? - por Nair Prata
Fonte: Wall Street Jounal
[04/11/08]
Weak Signals: Can HD Radio Find Listeners? - by Sarah McBride
Fonte: Convergência Digital
Fonte: O Globo Online
[25/06/08]
Hélio Costa diz que implantação da rádio digital deve ocorrer em 2008 - por
Mônica Tavares - O Globo
Fonte: Estadão
[25/05/08]
Televisão na Finlândia já é 100% digital - por Ethevaldo Siqueira [mas o
Rádio Digital foi descartado]
Fonte: TELECO - Seção: Rádio e TV
A mudança de posição foi radical. Depois de ter defendido
abertamente durante quase três anos e meio o padrão de rádio digital
norte-americano (Iboc ou HD), apresentando-o como o único aceitável
para o Brasil, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, acaba de
retirar seu apoio àquela tecnologia, também preferida pela
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
O ministro reconhece agora o que todos os técnicos independentes
vinham afirmando desde 2006: em todo o mundo, a tecnologia de rádio
digital ainda tem muitos problemas que não permitem sua adoção no
Brasil.
O recuo de Hélio Costa, embora tardio, é um fato positivo, pois
seria muito pior se o País adotasse o padrão Iboc. O maior prejuízo
ficaria com as 5 mil emissoras de rádio brasileiras, que seriam
levadas a investir numa tecnologia que ainda funciona precariamente.
O que mais estranhou os observadores nesse episódio foi a posição da
Abert, ao defender apaixonadamente o padrão norte-americano, mesmo
diante da comprovação de seus problemas.
MARCHA A RÉ
Hélio Costa anunciou sua nova posição no domingo passado, em artigo
no jornal O Estado de Minas (leia-o no site Caros Ouvintes,
http://www.carosouvintes.org.br/blog/?p=2111), em resposta à
jornalista e professora Nair Prata, que havia cobrado do ministro,
no início de dezembro, o cumprimento de suas promessas quanto ao
rádio digital.
Na realidade, o jornal norte-americano apenas confirmou a conclusão
já conhecida havia muito tempo: depois de quase 5 anos de introdução
nos Estados Unidos, a nova tecnologia digital não conta hoje sequer
com 10% da adesão das emissoras.
Para se ter idéia da baixa penetração do rádio digital nos Estados
Unidos, basta lembrar que, do lado dos ouvintes, mesmo com preços
subsidiados, apenas 0,15% da população norte-americana adquiriu seu
receptor digital.
PROBLEMAS
Uma das características do padrão conhecido pelo nome de In Band on
Channel (Iboc) ou HD Radio, criado pela empresa Ibiquity, é utilizar
o mesmo canal de freqüência para transmitir um único programa,
simultaneamente, tanto no modo analógico quanto no digital. A idéia
é excelente, mas, até agora, o sistema não tem funcionado de forma
satisfatória.
Nas transmissões em AM e FM, o padrão Iboc apresenta, entre outros,
o problema do atraso (delay) de 8 segundos do sinal digital, em
relação ao analógico. Como o alcance do sinal digital é menor do que
o analógico, nos limites de sua propagação, a sintonia oscila entre
um e outro, com grande desconforto para o ouvinte.
Embora pareça ser a grande saída, a idéia de usar o mesmo canal para
transmissões analógicas e digitais, adotada pela empresa Ibiquity,
não tem tido sucesso na prática. O fato indiscutível é que essa
tecnologia ainda não está madura e apresenta diversos problemas
sérios, como a impossibilidade de se utilizarem receptores portáteis
- pois o consumo de energia é tão elevado que as baterias se
descarregam em poucas horas.
Na Europa, outras tecnologias têm sido propostas em faixas de
freqüências exclusivas para o rádio digital, o que, no entanto,
obrigaria à troca de todos os receptores. Conclusão: ainda temos que
esperar que o mundo desenvolva uma solução melhor para a
digitalização do rádio.
ANÚNCIOS PRECOCES
O ministro Hélio Costa, desde que tomou posse no Ministério das
Comunicações, em julho de 2005, tem anunciado numerosos projetos
puramente imaginários que nunca se concretizam ou que se revelam
inviáveis.
Na abertura do evento internacional Américas Telecom, em outubro de
2005, em Salvador (Bahia), ele anunciou que o Brasil já vivia "a era
do rádio digital" (quando apenas algumas emissoras iniciavam os
primeiros testes com o padrão norte-americano HD Radio ou Iboc). Na
mesma ocasião, anunciou ao auditório que a Grande São Paulo veria as
imagens da Copa do Mundo de 2006 com imagens da TV digital, que só
entrou no ar em 2 dezembro de 2007.
Entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2005, afirmou
categoricamente que o Ministério das Comunicações iria investir não
apenas o montante de R$ 600 milhões anuais dos recursos do Fundo de
Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), bem como o
saldo acumulado então superior a R$ 4 bilhões.
Até hoje o Brasil não utilizou praticamente nada do Fust. No ano de
2006, o ministro garantiu que o Japão havia concordado em instalar
uma indústria de semicondutores (circuitos microeletrônicos) no
Brasil, em contrapartida à escolha do padrão de TV digital
nipo-brasileiro. Na verdade, o Japão jamais prometeu essa fábrica.
Ethevaldo Siqueira - O Estado de S.Paulo
Fonte: Caros Ouvintes
[21/12/08]
E o rádio
digital? Uma análise responsável - por Hélio Costa, jornalista,
senador da República, ministro das Comunicações
O rádio digital, mesmo nos países de origem, tem ainda muitos problemas,
que precisam ser solucionados antes de tomarmos uma decisão que terá um
impacto direto nas comunicações.
O artigo de Nair Prata (3/12) sobre o projeto de rádio digital, em estudos
no Ministério das Comunicações (Minicom), merece reparos em virtude dos
inúmeros equívocos cometidos pela autora. O primeiro é não ver que a TV
digital está com o seu cronograma de instalação adiantado em 18 meses e que,
em apenas um ano, desde seu lançamento, em 2 de dezembro de 2007, cerca de
46% da população brasileira, inclusive a de Belo Horizonte e região, já tem
cobertura de TV digital. Os Estados Unidos levaram 10 anos para chegar a
esse índice em um país que tem aproximadamente a mesma extensão territorial
do Brasil. Diferentemente da TV, o rádio digital continua enfrentando sérios
problemas nos seus países de origem. Em retrospecto, quando chegamos ao
Ministério das Comunicações, há três anos, algumas das principais emissoras
brasileiras já estavam testando, sem observação de normas técnicas, o
sistema norte-americano IBOC de rádio digital. O grupo de trabalho que
criamos para supervisionar as decisões sobre o rádio digital sugeriu a
realização de testes oficiais e rigorosos com o IBOC e também com os padrões
europeus. O nosso objetivo é encontrar as ferramentas básicas de um sistema
que transmita em ondas médias (OM) e freqüência modulada (FM), de modo a que
o receptor do rádio digital possa captar as transmissões no sistema
analógico atual, em OM e FM, e passar automaticamente para o digital onde a
tecnologia estiver disponível. Caso contrário, precisaríamos de três
receptores diferentes: um para o rádio analógico que você tem em sua casa ou
no carro, um para captar a transmissão em FM digital e outro para captar a
transmissão em ondas médias ou OM digital.
Os padrões norte-americano e europeu de rádio digital têm diferenças
fundamentais. Enquanto o IBOC transmite no mesmo canal, sem utilização de um
novo espaço no espectro eletromagnético, tanto em OM quanto em FM, o europeu
DAB (digital audio broadcasting) , precisa de freqüências diferentes para a
transmissão em ondas médias e não faz transmissões em FM, ou freqüência
modulada. O DRM, por sua vez, também só transmite em OM e precisa de novos
canais, impossibilitando a sua utilização nas principais cidades
brasileiras. Só recentemente o padrão europeu DRM informou que está
estudando um sistema de freqüência modulada, transmitido no mesmo canal, no
sistema digital. A empresa IBiquity, detentora da patente do IBOC, ou Radio
HD, se prontificou a trazer os equipamentos para os testes que estão sendo
conduzidos no Brasil pela Universidade Mackenzie, supervisionados pelo
Ministério das Comunicações, Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Os
europeus, entretanto, até agora, não viabilizaram a aparelhagem necessária
às medições de campo, fundamentais para uma avaliação científica e correta
dos seus padrões. Outra questão que os três sistemas precisam resolver é a
transmissão em baixa potência, que ainda não está definida, para que o rádio
digital, no Brasil, não exclua as rádios comunitárias autorizadas,
principais instrumentos de interação dos bairros e pequenas comunidades. Na
verdade, esperamos que os EUA e a Europa resolveram os problemas que
encontraram na implantação do rádio digital e que impediram, até agora, a
sua popularização.
Vejam os exemplos: a edição do Wall Street Journal de 4 de novembro trouxe
um artigo assinado pela editora de tecnologia Sarah McBride, no qual diz que
“apesar dos milhões de dólares gastos no desenvolvimento e divulgação do
Rádio Digital HD, os consumidores, até agora, não têm informações
suficientes e ainda não demonstram qualquer entusiasmo pela nova
tecnologia”. A revista Radio World, editada por engenheiros de rádio, em
artigo de Paul J. McLane, diz que apenas 0,0015% dos norte-americanos ouvem
o rádio digital, que está sendo testado comercialmente por 1,8 mil rádios de
um total de 13 mil emissoras existentes no país. A FCC, a agência reguladora
norte-americana, informa que o Radio HD cobre, atualmente, só 1,5% do
território norte-americano e que tem apenas 450 mil usuários em uma
população de 300 milhões de pessoas. A revista Radio World critica, também,
o preço do receptor de rádio digital nos EUA: US$ 80 (R$ 170), o mais
barato. Imagine a que preço esse rádio chegaria ao Brasil. Na Europa, a
implantação do rádio digital também está com enormes problemas. A
conceituada publicação Observatório do Direito à Comunicação, em 22 de
fevereiro deste ano, fez uma análise crítica da questão sob o título “A
transição para o rádio digital ainda está em xeque na Europa”. O artigo
relata o “relativo fracasso do rádio digital, em ondas médias, reafirmando
que os testes demonstraram que a qualidade do áudio do sistema DAB ou
transmissão de rádio digital é pior do que o áudio da transmissão FM
analógica”. O jornal inglês The Guardian, por sua vez, foi ainda mais
incisivo na observação técnica que fez, e reproduziu assim o pensamento dos
radiodifusores europeus: “Nós temos medo de dizer isso publicamente, mas, se
pudéssemos, todos nós (dirigentes de rádios digitais) devolveríamos nossas
licenças de DAB amanhã”. O analista de mídia do Dresdner Kleinwort, Richard
Menzies-Gow, completou: “Os custos são altos e o formato não gera lucro”.
Como se vê, claramente, nem mesmo nos Estados Unidos e na Europa o rádio
digital está aprovado. O Brasil está atento a tudo isso e só tomará uma
decisão quando ela for tecnicamente correta e atender o interesse público. A
demora não é nossa. O rádio digital, mesmo nos países de origem, tem ainda
muitos problemas que precisam ser solucionados antes de tomarmos uma decisão
que terá um impacto direto nas comunicações, na indústria eletroeletrônica e
principalmente nas políticas públicas de inclusão digital. Por outro lado,
como fez na decisão da TV Digital, o Governo Brasileiro não escolherá “um
sistema de rádio digital até o fim de 2008″, como diz equivocadamente a
articulista. Vamos indicar as ferramentas que devem compor a arquitetura do
rádio digital. Na verdade, entre outras exigências, já amplamente
divulgadas, o sistema terá de contemplar a transmissão em FM e OM, no mesmo
canal, cobrir todas as zonas de sombras do rádio analógico, dar à indústria
brasileira acesso aos detalhes técnicos do padrão, promover a transferência
de tecnologia e não ter custo para o rádio-ouvinte.
Assim, ao contrário do que diz um e-mail divulgado pelo Núcleo de Pesquisa
de Rádio e Mídia, e citado pela articulisa Nair Prata no Estados de Minas, o
Minicom não propôs qualquer parceria com a empresa americana IBiquity. O que
sugeriu foi que as indústrias brasileiras de eletroeletrônicos procurem os
detentores das patentes dos sistemas norte-americano e europeus para
discutir a transferência de tecnologia e os direitos de uso, especialmente
do IBOC estadunidense, um sistema proprietário e com várias ferramentas
exclusivas que demandam pagamento de royalties. Os mais recentes testes do
rádio digital, realizados na cidade de São Paulo pela Universidade
Mackenzie, concluíram, em julho último, que o IBOC, em ondas médias,
apresenta sérios problemas de propagação, com áreas de sombra maiores do que
as que são observadas no sistema analógico. O sistema europeu, DRM, por sua
vez, só agora anuncia que está trabalhando com a possibilidade de
transmissão em FM, no mesmo canal. Ainda ao contrário do que diz a
articulista, o Ministério das Comunicações não defendeu, e nem defende, a
adoção de qualquer dos sistemas estudados enquanto os técnicos do Minicom e
da Anatel não estiverem satisfeitos com os testes que estão sendo realizados
no Brasil e forem criteriosamente avaliadas as experiências com o rádio
digital nos EUA e na Europa. Certamente, precisamos modernizar o rádio, mas
só podemos fazer isso quando os sistemas estiverem funcionando a contento,
seguindo as normas técnicas exigidas no exterior e no Brasil.
* Jornalista, senador da República, ministro das Comunicações