WirelessBRASIL - Bloco TECNOLOGIA
Maio 2012
28/05/12
• Editorial do Estadão: "As pressões
sobre as agências"
Olá, WirelessBR e Celld-group!
01.
Transcrevo mais abaixo este Editorial de hoje, do Estadão:
Leia na Fonte: O Estado de S.Paulo
[28/05/12]
As pressões sobre as agências
Recorte como aperitivo:
(...) "A pressão política sobre as agências reguladoras, na verdade, só aumentou
desde o primeiro mandato do presidente Lula, que jamais disfarçou sua
contrariedade com a plena autonomia desses órgãos da administração indireta -
cujos diretores, por exemplo, têm mandato fixo e não podem ser demitidos ad
nutum -, em cuja missão de defender o interesse público está implícita a
necessidade de, eventualmente, contrariar interesses políticos. É claro,
portanto, que não é apenas a Anvisa que está sujeita à constante pressão de que
se queixa Dirceu Barbano. Exemplos como esse evidenciam a necessidade de
preservar o espírito com que as agências foram criadas, livres da ingerência
mal-intencionada de homens públicos a serviço de interesses privados."
02.
O assunto "loteamento" e "agências como órgãos de estado e não de governo" é
recorrente em nossos fóruns, com foco na Anatel, e aqui estão alguns "posts"s
anteriores:
10/02/12
•
Mais
controle sobre as agências - por Mariana Mazza
10/02/12
•
Loteamento de agências reguladoras
04/12/09
•
Loteamento da Anatel + Juiz de Fora + Manaus... Outras?
22/07/09
•
Msg de José
Roberto S. Pinto - Da série "Loteamento": Anatel loteada, aparelhada, capturada,
sitiada...
17/07/09
•
Matérias do
Estadão com opiniões de Flávia Lefèvre: Inoperância e "loteamento da Anatel" +
"Panes nas teles"
05/06/09
•
"TCU
critica Anatel" + "Loteamento da Anatel": João Rezende
09/05/09
•
"Loteamento
da Anatel": João Rezende aprovado + "Não sou pascácio, na Anatel também quero um
Nicácio" + Dora Kramer: "De onde menos se espera é que saem as melhores
surpresas"
20/02/09
•
"Loteamento" da Anatel: "Resumo" + Rateio político coloca João Rezende na Anatel
indicado pelo PT
19/01/09
•
"Loteamento" da Anatel: "Sucessão no congresso tem reflexos na Anatel" - Artigo
do Estadão
01/09/08
• Emilia
Ribeiro e o "loteamento" da Anatel
18/06/08
•
Fusão Oi/BrT
e PGO (11) - Editorial do Estadão: "Loteamento de Agências"
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL
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Leia na Fonte: O Estado
de S.Paulo
[28/05/12]
As pressões sobre as agências
As agências reguladoras federais são órgãos da administração indireta criados na
segunda metade da década de 90 para cumprir a missão, essencialmente técnica, de
regulamentar e fiscalizar as atividades de empresas privadas concessionárias de
serviços públicos. Com o claro intuito de preservar a natureza técnica de seu
trabalho, as agências foram estruturadas de modo a evitar ingerência política em
suas decisões. Mas faltou combinar isso com os políticos, segundo revela matéria
do repórter Jamil Chade publicada na edição da última terça-feira do Estado: a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é alvo constante de políticos,
geralmente parlamentares, que fazem lobby em favor da indústria farmacêutica e
das empresas prestadoras de serviços de saúde.
"Se você não recebe os caras (os parlamentares), sua vida vira um inferno",
desabafou o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano. Em 2011, deputados,
senadores e governadores solicitaram 140 audiências com o diretor-presidente ou
com diretores da entidade, na maior parte dos casos para defender a liberação de
produtos farmacêuticos.
Em tese, com certa boa vontade, é possível admitir como normal e compatível com
sua condição de representante da sociedade, que um parlamentar se disponha a
ajudar homens de negócios na defesa de pleitos justos junto à administração
pública. Mas, a simples presença de um senador ou deputado numa audiência com
servidores públicos tem uma inevitável conotação de ingerência política numa
área em que, por definição, as decisões devem ser eminentemente técnicas. E ao
comparecer de parlamentar a tiracolo numa audiência com administradores
públicos, os pleiteantes pretendem mesmo é fazer pressão política. Senão,
bastaria que enviassem seus técnicos para dialogar com os da agência.
O depoimento do presidente da Anvisa é categórico quanto as más intenções de
muitos dos senadores e deputados que o procuram. Alguns deles pedem até que a
audiência não conste da agenda. E relata a resposta que deu a uma dessas
solicitações: "Como assim, deputado? Nossa agenda é pública. Vamos tratar de
alguma coisa que não pode ser pública?".
Dirceu Barbano explica a postura que assume em casos como esse: "Não estou ali
para medir a lisura do que as pessoas estão fazendo. O que fazemos é um processo
padronizado de atendimento". E acrescenta, referindo-se ao parlamentar que faz
lobby: "Qual é a relação dele com a empresa, não é problema meu. É um problema
ético dele". A Anvisa garante que todas as audiências a empresas que tenham
processos em andamento são concedidas, por técnicos da agência, em salas
especiais onde as conversas são gravadas. Ao final, é lavrada uma ata que todos
assinam. Mas, quando há políticos envolvidos, "em respeito ao Legislativo"
adota-se um procedimento mais flexível que só não dispensa a ata final.
A questão do lobby político junto à Anvisa veio à tona recentemente, a partir da
revelação de que, em 21 de setembro do ano passado, o senador goiano Demóstenes
Torres, hoje sem partido e ameaçado de ter o mandato cassado desde que foram
descobertas suas ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, agendou uma
audiência com Barbano para defender interesses do laboratório Vitapan, de
propriedade do bicheiro.
A pressão política sobre as agências reguladoras, na verdade, só aumentou desde
o primeiro mandato do presidente Lula, que jamais disfarçou sua contrariedade
com a plena autonomia desses órgãos da administração indireta - cujos diretores,
por exemplo, têm mandato fixo e não podem ser demitidos ad nutum -, em cuja
missão de defender o interesse público está implícita a necessidade de,
eventualmente, contrariar interesses políticos. É claro, portanto, que não é
apenas a Anvisa que está sujeita à constante pressão de que se queixa Dirceu
Barbano. Exemplos como esse evidenciam a necessidade de preservar o espírito com
que as agências foram criadas, livres da ingerência mal-intencionada de homens
públicos a serviço de interesses privados.