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19/09/12
• Mariana Mazza: "Dilma sanciona pacote de bondades para as telecomunicações"
Leia na Fonte: Portal da Band / Colunas
[18/09/12]
Dilma sanciona pacote de bondades para as telecomunicações - por Mariana
Mazza (foto)
A
presidente Dilma Rousseff deixou para o último dia a sanção da Medida Provisória
563, agora Lei 12.715/2012. Essa nova lei trata principalmente da desoneração da
folha de pagamento para diversos setores e, por isso, ganhou especial atenção
durante sua tramitação no Congresso Nacional. O texto inclui também um senhor
contrabando, como os parlamentares chamam as inclusões de assuntos diferentes do
tema principal em uma MP: um pacote de bondades fiscais para o setor de
telecomunicações. Essas benesses prometem dar um novo impulso aos investimentos
na medida em que reduz consideravelmente os custos do setor.
Quase tudo que o governo propôs foi aprovado. E os parlamentares ainda ajudaram
com a inclusão de mais alguns itens no rol de benefícios. Uma das mudanças mais
importantes é a redução das taxas relacionadas ao Fundo de Fiscalização das
Telecomunicações (Fistel) para os equipamentos usados nas comunicações
machine-to-machine (M2M), ou seja, os serviços de dados que tanto crescem no
Brasil. O setor comemorou e o SindiTelebrasil, em nota, declarou que o país
venceu a primeira batalha na guerra para reduzir o custo Brasil das
telecomunicações.
As empresas têm mesmo com o que se alegrar. As taxas de fiscalização pesam muito
no bolso das empresas e dos consumidores. Afinal, não se iludam, no fim das
contas, quem paga essas taxas somos nós quando adquirimos um telefone ou um
modem. Mas, apesar dos benefícios, o destaque de hoje dos noticiários foi o
único veto imposto por Dilma ao pacote de bondades das teles.
A presidente vetou o artigo 34 da nova lei, que permitia ao Ministério das
Comunicações conceder créditos do Fistel às operadoras em troca de investimentos
no setor. A ideia do Minicom era dar um estímulo à troca das redes de cobre por
sistemas mais modernos, de fibra óptica. O Ministério da Fazenda não gostou
muito da ideia e sua posição acabou prevalecendo na queda de braço ministerial.
A derrota pode ter sido uma decepção para os planos do Minicom e das empresas,
mas parece não ter magoado nenhum pouco o setor. Não há uma linha sequer de
lamentação sobre o veto na nota divulgada pelas companhias. Dentre tantas boas
notícias presentes na nova lei, chorar pelo veto poderia parecer ingratidão
neste momento.
Mas a negativa de Dilma sobre a política de concessão de créditos pode ter
efeitos mais poderosos sobre o setor. Já faz um tempo que as autoridades que
comandam as telecomunicações brasileiras têm adotado medidas de incentivo aos
investimentos por meio da troca de benefícios. Esse quid pro quo ganhou corpo na
Anatel, com a agência estimulando a troca de multas e outras penas previstas na
lei e nos regulamentos por compromissos de investimento. Na visão da agência,
todos saem ganhando com a troca já que a autarquia tem uma enorme dificuldade de
receber as multas que impõe às empresas. O escambo da pena por investimento
teria efeito imediato para a sociedade na medida em que garantiria avanços
perceptíveis para os consumidores, coisa que nem sempre acontece com as punições
pecuniárias.
Com o tempo, essa nova filosofia foi se cristalizando dentro da Anatel e
contaminou também o Ministério das Comunicações. Nessa nova ordem, nasceu a
ideia de trocar o pagamento do Fistel por investimentos nas redes, vetado agora
por Dilma. Mas se essa troca tem sido tão frutífera, porque excluí-la da nova
lei? A explicação técnica dada pela Fazenda é que a pasta não conseguiu
identificar claramente a natureza desse crédito a ser concedido.
A dificuldade em enxergar a espécie desse animal é bem coerente. Apesar de o
Minicom falar em crédito, a troca de Fistel por investimento tem cara de
renúncia fiscal. Afinal, no modelo proposto estaríamos devolvendo as taxas pagas
pelas empresas. E, se é para devolver, o mais lógico seria simplesmente não
cobrá-las. Isso nos leva à próxima pergunta: por que ainda se cobra o Fistel?
Porque é este o fundo que deveria financiar a fiscalização das telecomunicações.
Quando foi criado, o Fistel deveria ser repassado integralmente para a Anatel,
sustentando os planos de fiscalização das companhias. Como o setor evoluiu muito
na última década, o fundo cresceu assustadoramente, tornando-se uma arca do
tesouro para a Receita Federal. Aos poucos, o repasse para a Anatel foi
minguando e a maior parte dos recursos passou a ser retida pela Fazenda para
ajudar na formação do superávit primário. Essa manobra aconteceu porque os
recursos do Fistel fazem parte das chamadas verbas carimbadas, ou seja, só podem
ser usadas pela Anatel como previu a lei. Se a agência não usar o dinheiro, ele
sobra no caixa público, ajudando no superávit.
Obviamente o Ministério da Fazenda não quer abrir mão dessa ajudinha nas contas
públicas. Mas a questão importante aqui é por que o Ministério das Comunicações,
ao invés de reforçar o caixa da Anatel, preferiu propor a devolução do dinheiro
às teles por meio de crédito. Tenho minhas diferenças com alguns projetos da
Anatel, mas em um ponto concordamos: faltam recursos para que a agência exerça
seu trabalho com excelência, longe das influências nocivas do poder financeiro
das empresas que ela fiscaliza. Sendo assim, apoiaria totalmente a proposta se a
briga do Minicom fosse pelo repasse pleno do Fistel à Anatel. Mas não dá para
concordar que a Anatel continue com um caixa pífio enquanto o governo concede
créditos para as empresas privadas com o dinheiro que deveria servir para
fiscalizá-las.
O veto pode colocar um freio na campanha de trocar qualquer coisa por
investimentos. Investir faz parte do negócio de uma empresa e não dá mais para
tratar essa questão como se as companhias telefônicas precisassem sempre de um
empurrãozinho para melhorar suas redes. Reduzir o custo Brasil é essencial para
todos os setores produtivos. Mas é sempre bom lembrar que nem toda taxa é sem
propósito. E que trocar recursos da fiscalização por investimento sem explicar
muito bem como isso será feito é inaceitável.
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