mas não levou muito até se descobrir que o FUST, o tal fundo de conectividade para todos, o tempo todo, em todos os lugares, poderia ser um elemento essencial do fomento à infraestrutura nacional de informação, a base da internet realmente nacional, para todos. mas… querias, querias, mas não foi.
e não é, até hoje. até 2010, os fundos de telecomunicações haviam arrecadado R$48 bilhões e tinham gasto perto de R$5 bilhões, segundo a FSP. e o resto? a principal hipótese dos menos críticos é que os outros R$43 bilhões haviam se transformado em superávit primário, aquele buraco negro das contas federais que suga todo e qualquer recurso que passa perto dele. no começo deste ano, havia mais de R$10 bilhões só no cofre do FUST, aquele fundo que deveria, como já dissemos, ajudar a criar conectividade de qualidade para todos, o tempo todo, em todos os lugares.
sabe o que mais? outro estudo, recente, descobriu que, sem incentivos [que viriam justamente dos fundos federais], a penetração de banda larga no país será duas vezes maior em dez anos [de 21 acessos por 100 habitantes, hoje, para 45 por 100 em 2022]. com incentivos, seriam 74 acessos por cada 100 habitantes. sabe o que diz o minicom? “…em algum momento talvez tenhamos que discutir alguma forma de subsídio ou medidas de universalização”. ora… e os recursos do FUST, por acaso, são para que?
desde 1998, segundo a LCA consultores, as teles investiram quase 400 bilhões de reais no brasil, o que seria inimaginável estivesse o setor nas mãos do estado. e boa parte dos resultados de tal investimento virou imposto, pois o brasil tem a terceira maior carga tributária do mundo para telecom, perdendo apenas para a turquia e uganda. parte deste imposto foi coletado para ser investido, de volta e por lei, no desenvolvimento do mercado e na correção de suas anomalias.
em qualquer mercado privado, regulado ou não, em qualquer país, o estado tem responsabilidades políticas, estratégicas e de investimento que condicionam e direcionam os investimentos privados. mas aqui, toda vez que sai um novo estudo, parece que o estado é surpreendido ao “descobrir”, mais uma vez, que sua ação é [e sempre foi, sempre será] necessária, por um grande número de razões e em nome de muitas causas.
essa história de que “em algum momento” o governo deveria começar a imaginar “alguma” ação de “universalização” parece mais um reflexo da omissão contínua do estado em relação aos problemas das infraestruturas nacionais [e telecom é só uma delas; pense água, esgoto, luz, estradas, aeroportos…] do que uma verdadeira vontade de resolver os problemas que são a base do custo e ineficiência do brasil. afinal, se há recursos [como mais de 10 bilhões só no FUST] que deveriam estar sendo usados para resolver o problema… por que é mesmo que estamos parados, esperando o próximo estudo, para nos surpreendermos com nossa inação?…
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Leia na Fonte: Portal da Band / Colunas
[18/09/12]
Dilma sanciona pacote de bondades para as telecomunicações - por Mariana
Mazza (foto)
A
presidente Dilma Rousseff deixou para o último dia a sanção da Medida
Provisória 563, agora Lei 12.715/2012. Essa nova lei trata principalmente da
desoneração da folha de pagamento para diversos setores e, por isso, ganhou
especial atenção durante sua tramitação no Congresso Nacional. O texto
inclui também um senhor contrabando, como os parlamentares chamam as
inclusões de assuntos diferentes do tema principal em uma MP: um pacote de
bondades fiscais para o setor de telecomunicações. Essas benesses prometem
dar um novo impulso aos investimentos na medida em que reduz
consideravelmente os custos do setor.
Quase tudo que o governo propôs foi aprovado. E os parlamentares ainda
ajudaram com a inclusão de mais alguns itens no rol de benefícios. Uma das
mudanças mais importantes é a redução das taxas relacionadas ao Fundo de
Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) para os equipamentos usados nas
comunicações machine-to-machine (M2M), ou seja, os serviços de dados que
tanto crescem no Brasil. O setor comemorou e o SindiTelebrasil, em nota,
declarou que o país venceu a primeira batalha na guerra para reduzir o custo
Brasil das telecomunicações.
As empresas têm mesmo com o que se alegrar. As taxas de fiscalização pesam
muito no bolso das empresas e dos consumidores. Afinal, não se iludam, no
fim das contas, quem paga essas taxas somos nós quando adquirimos um
telefone ou um modem. Mas, apesar dos benefícios, o destaque de hoje dos
noticiários foi o único veto imposto por Dilma ao pacote de bondades das
teles.
A presidente vetou o artigo 34 da nova lei, que permitia ao Ministério das
Comunicações conceder créditos do Fistel às operadoras em troca de
investimentos no setor. A ideia do Minicom era dar um estímulo à troca das
redes de cobre por sistemas mais modernos, de fibra óptica. O Ministério da
Fazenda não gostou muito da ideia e sua posição acabou prevalecendo na queda
de braço ministerial. A derrota pode ter sido uma decepção para os planos do
Minicom e das empresas, mas parece não ter magoado nenhum pouco o setor. Não
há uma linha sequer de lamentação sobre o veto na nota divulgada pelas
companhias. Dentre tantas boas notícias presentes na nova lei, chorar pelo
veto poderia parecer ingratidão neste momento.
Mas a negativa de Dilma sobre a política de concessão de créditos pode ter
efeitos mais poderosos sobre o setor. Já faz um tempo que as autoridades que
comandam as telecomunicações brasileiras têm adotado medidas de incentivo
aos investimentos por meio da troca de benefícios. Esse quid pro quo ganhou
corpo na Anatel, com a agência estimulando a troca de multas e outras penas
previstas na lei e nos regulamentos por compromissos de investimento. Na
visão da agência, todos saem ganhando com a troca já que a autarquia tem uma
enorme dificuldade de receber as multas que impõe às empresas. O escambo da
pena por investimento teria efeito imediato para a sociedade na medida em
que garantiria avanços perceptíveis para os consumidores, coisa que nem
sempre acontece com as punições pecuniárias.
Com o tempo, essa nova filosofia foi se cristalizando dentro da Anatel e
contaminou também o Ministério das Comunicações. Nessa nova ordem, nasceu a
ideia de trocar o pagamento do Fistel por investimentos nas redes, vetado
agora por Dilma. Mas se essa troca tem sido tão frutífera, porque excluí-la
da nova lei? A explicação técnica dada pela Fazenda é que a pasta não
conseguiu identificar claramente a natureza desse crédito a ser concedido.
A dificuldade em enxergar a espécie desse animal é bem coerente. Apesar de o
Minicom falar em crédito, a troca de Fistel por investimento tem cara de
renúncia fiscal. Afinal, no modelo proposto estaríamos devolvendo as taxas
pagas pelas empresas. E, se é para devolver, o mais lógico seria
simplesmente não cobrá-las. Isso nos leva à próxima pergunta: por que ainda
se cobra o Fistel? Porque é este o fundo que deveria financiar a
fiscalização das telecomunicações.
Quando foi criado, o Fistel deveria ser repassado integralmente para a
Anatel, sustentando os planos de fiscalização das companhias. Como o setor
evoluiu muito na última década, o fundo cresceu assustadoramente,
tornando-se uma arca do tesouro para a Receita Federal. Aos poucos, o
repasse para a Anatel foi minguando e a maior parte dos recursos passou a
ser retida pela Fazenda para ajudar na formação do superávit primário. Essa
manobra aconteceu porque os recursos do Fistel fazem parte das chamadas
verbas carimbadas, ou seja, só podem ser usadas pela Anatel como previu a
lei. Se a agência não usar o dinheiro, ele sobra no caixa público, ajudando
no superávit.
Obviamente o Ministério da Fazenda não quer abrir mão dessa ajudinha nas
contas públicas. Mas a questão importante aqui é por que o Ministério das
Comunicações, ao invés de reforçar o caixa da Anatel, preferiu propor a
devolução do dinheiro às teles por meio de crédito. Tenho minhas diferenças
com alguns projetos da Anatel, mas em um ponto concordamos: faltam recursos
para que a agência exerça seu trabalho com excelência, longe das influências
nocivas do poder financeiro das empresas que ela fiscaliza. Sendo assim,
apoiaria totalmente a proposta se a briga do Minicom fosse pelo repasse
pleno do Fistel à Anatel. Mas não dá para concordar que a Anatel continue
com um caixa pífio enquanto o governo concede créditos para as empresas
privadas com o dinheiro que deveria servir para fiscalizá-las.
O veto pode colocar um freio na campanha de trocar qualquer coisa por
investimentos. Investir faz parte do negócio de uma empresa e não dá mais
para tratar essa questão como se as companhias telefônicas precisassem
sempre de um empurrãozinho para melhorar suas redes. Reduzir o custo Brasil
é essencial para todos os setores produtivos. Mas é sempre bom lembrar que
nem toda taxa é sem propósito. E que trocar recursos da fiscalização por
investimento sem explicar muito bem como isso será feito é inaceitável.