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29/12/13
• Mazza: "Ficou para 2014..." + "Marco Civil não pode esperar mais um ano" + "Marco Civil sob a ameaça nacionalista"
Olá, "WirelessBR" e "telecomHall Brasil"!
O projeto do Marco Civil continua tramitando com "urgência constitucional" e trancando a pauta de
votações do Congresso.
Busca-se um acordo que evite que o projeto seja votado em plenário, emenda por
emenda: consta que sejam mais de 200.
"A alternativa foi negociar a retirada da urgência constitucional da proposta. O
pedido foi negado pelo governo, que mandou o recado: a decisão sobre a matéria
foi empurrada para 2014, mas terá que ser concluída nas primeiras semanas de
trabalho do próximo ano, se os parlamentares quiserem avançar com outras
propostas."
Creio que quem se esforça para apressar a votação
desconsiderando as gigantescas pressões políticas e comerciais, comete a
ingenuidade que de imaginar que, nestas condições, a "constituição da internet"
vai refletir o interesse da população.
O Congresso deve ser valorizado e prestigiado como a "Casa do Povo" mas seus
integrantes são "lamentáveis" e, repito, todo cuidado é pouco com o projeto do
Marco Civil.
A conferir.
02.
Transcrevo abaixo, para formação de opinião sobre a votação do Marco Civil da
Internet, estas três matérias:
Leia na
Fonte: Band / Colunas
[17/12/13]
Ficou para 2014... - por Mariana Mazza
Recorte:
(...)
Desde a semana passada, os movimentos sociais têm se reunido e discutido a saída
em massa dos debates sobre o Marco Civil. Nesse contexto, é bem provável que o
governo, e sua insistência na manutenção da urgência na tramitação da proposta,
aprove o Marco Civil sem o apoio da sociedade. Será uma grande contradição. O
texto que deveria servir de carta de princípios para proteger a sociedade na
Internet pode virar algo que a própria sociedade repudia, um instrumento de
censura e reforço de um modelo puramente comercial da Internet.
(...)
Leia na Fonte: Estadão
[29/12/13]
Marco Civil não pode esperar mais um ano - por Carolina Rossini
Recorte:
(...)
Privacidade e a neutralidade da rede, no entanto, ainda
estão em risco. Sobre o primeiro princípio, o último texto afirma que o disposto
no Marco Civil da Internet deve suportar o desenvolvimento de novos modelos de
negócio para a rede. A afirmação encontra-se no início da lei e não no artigo da
neutralidade (artigo 9), mas possui direto impacto sobre o princípio. Enquanto
permite diferenciação de preços por velocidades oferecidas, pode abrir uma
janela para diferenciação de serviços com base na diferenciação de conteúdo e
aplicações oferecidas. Esperamos que uma revisão do texto atente para esse
detalhe e preserve, como é, a internet aberta para todos. (...)
Leia na Fonte:
Computerworld
[17/12/13]
Marco Civil sob a ameaça nacionalista - por Paulo Humberg
Recorte:
(...) É perfeitamente defensável a ideia do governo de não
querer que dados da administração pública sejam armazenados em redes e
servidores estrangeiros. Não faz sentido, porém, estender a obrigação de guarda
local a empresas privadas. Isso terá reflexos no campo dos negócios para os
quais o governo não está atentando. A definição de que rede ou servidor utilizar
é estratégica para muitas companhias, que dependem da confiabilidade, do custo e
da eficiência do serviço.
Com a inclusão desse dispositivo no Marco Civil, o governo quer forçar as
empresas internacionais a instalar servidores no País. Mas, em vez de obrigar,
não seria mais adequado reduzir o custo Brasil e, assim, estimulá-las a
construir data centers aqui? E quem garante que a velocidade da rede não cairá
com a necessidade de uso de infraestruturas locais? Além dessas questões, há
outra a ser observada: qual a viabilidade da adoção, na prática, de uma
exigência desse tipo? Construir um data center é algo que não se faça da noite
para o dia.(...)
Boas Festas! Ótimo 2014!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL
Leia na
Fonte: Band / Colunas
[17/12/13]
Ficou para 2014... - por Mariana Mazza
2014 vai ser um ano agitado, para dizer o mínimo. Teremos Copa do Mundo,
eleições... E, de acordo com a ministra de Relações Institucionais, Ideli
Salvatti, teremos também a aprovação do Marco Civil da Internet. Depois de meses
de debates, pressões, discursos presidenciais em defesa da soberania brasileira
e da preservação dos direitos civis na web, o projeto alçado a salvador da
pátria ficou novamente para depois. O Marco Civil passará seu segundo réveillon
aguardando pacientemente na gaveta da mesa do Plenário da Câmara dos Deputados.
A ministra Ideli tem razão em um aspecto. "Este ano acabou", disse ela em
entrevista a jornalistas para justificar a transferência do projeto para a
agenda de 2014. O governo, no entanto, pretende manter a "urgência" da proposta,
fazendo com que o Marco Civil torne-se o principal obstáculo para as votações na
Câmara no próximo ano. Ano este que, por conta das eleições, tradicionalmente é
mais curto para o Legislativo, tornando as poucas votações possíveis preciosas
para os parlamentares.
O projeto foi colocado em regime de urgência em uma estratégia política depois
das denúncias feitas pelo ex-agente da NSA Edward Snowden de que o Brasil -
especialmente a presidente Dilma Rousseff - foi alvo da espionagem eletrônica
norte-americana. A jogada era colocar o Brasil à frente da cruzada contra a
bisbilhotagem diplomática, aprovando uma lei com o que existe de melhor nos
novos debates sobre governança de Internet e liberdade na rede.
Mas, passado o alvoroço causado pelas denúncias de espionagem norte-americana, a
manutenção da urgência transformou-se em risco para o tão sonhado Marco Civil.
Sob a pressão de destravar a pauta, os deputados pouco a pouco têm se mostrado
mais dispostos a ceder e concordar com um texto mais flexível, na esperança de
assegurar um acordo que permita a aprovação.
Como em toda discussão em que os interesses envolvidos são frontalmente opostos,
as últimas mudanças feitas no projeto agradaram um pólo e desagradaram outro. No
momento, o principal núcleo opositor, as teles, foram as beneficiadas. A
principal alteração foi incluir no texto a garantia de que as empresas de
telecomunicações terão plena liberdade para criar novos planos de negócio, desde
que os pacotes respeitem os novos princípios legais, como o da neutralidade -
que proíbe as empresas de darem tratamento diferenciado no tráfego dos dados na
rede. As companhias telefônicas gostaram da mudança e passaram a apoiar o Marco
Civil. Mas essa e outras mudanças afastaram antigos apoiadores.
Ontem, a primeira baixa foi registrada. O Partido Pirata do Brasil, um dos
principais movimentos civis em defesa da democratização da informação, divulgou
uma nota retirando o apoio ao projeto. Diz a nota: "o Partido Pirata do Brasil
reafirma que não apoiará este projeto do Marco Civil da Internet no estado em
que se encontra, uma vez que a proposta atual navegou para longe de nossa
ideologia, afastando-se sobretudo de nossos princípios de defesa da privacidade,
liberdade de expressão e democracia plena, não apresentando nessa última versão
benefícios para a sociedade que compensem as absurdas medidas de controle,
vigilância e censura agora propostas". Esta é a primeira manifestação civil
contra o texto, mas não será a única.
Desde a semana passada, os movimentos sociais têm se reunido e discutido a saída
em massa dos debates sobre o Marco Civil. Nesse contexto, é bem provável que o
governo, e sua insistência na manutenção da urgência na tramitação da proposta,
aprove o Marco Civil sem o apoio da sociedade. Será uma grande contradição. O
texto que deveria servir de carta de princípios para proteger a sociedade na
Internet pode virar algo que a própria sociedade repudia, um instrumento de
censura e reforço de um modelo puramente comercial da Internet.
Tudo pode ficar ainda mais intenso se Edward Snowden, que divulgou hoje uma
carta aberta ao povo brasileiro pedindo apoio para que o governo lhe conceda
asilo, entrar com um pedido formal na diplomacia. Se isso acontecer, será a
segunda tentativa. Quando saiu dos Estados Unidos, Snowden pediu asilo a 21
países, entre eles o Brasil. Mas, como tudo ocorreu antes de sermos envolvidos
pessoalmente na mega trama de espionagem, foi bem mais fácil negar a
solicitação. Um segundo pedido pode colocar o governo em uma saia justa. 2014
vai ser mesmo um ano agitado.
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Leia na Fonte: Estadão
[29/12/13]
Marco Civil não pode esperar mais um ano - por Carolina Rossini
Carolina Rossini é advogada e diretora do Open
Technology Institute (New America Foundation)
Mais um ano se passa sem que os brasileiros consigam ver aprovada a sua
Constituição da Internet – o Marco Civil. O projeto é o resultado de um intenso
processo de consulta pública e construção multisetorial iniciado em 2009 e que
se tornou um exemplo mundial de democracia participativa. Mas nem mesmo todos os
compromissos políticos negociados ao longo desses anos, principalmente em 2013,
foram suficientes para lidar com disputas políticas regadas pela oposição do
poder econômico das empresas de telecomunicações.
Em uma época pós-Snowden, na qual a Casa Branca está por decidir o futuro do
direito à privacidade dos cidadãos do mundo em seu processo de revisão dos
poderes da NSA, todos saímos perdendo se o acerto final não for favorável aos
direitos dos usuários.
Os pontos de maior conflito são também os que refletem os elementos cruciais
defendidos pela presidente Dilma em seu histórico discurso sobre governança da
internet na ONU, em Nova York, em outubro. São eles a liberdade de expressão,
privacidade, o respeito aos direitos humanos e a neutralidade da rede.
Com a versão de novembro de 2013 reapresentada na segunda semana de dezembro com
algumas alterações para acomodar a pressão das teles, grande destaque foi dado à
liberdade de expressão e à prevalência de maiores garantias ao devido processo
legal na relação entre usuário, provedor e autoridades judiciais e policiais.
Privacidade e a neutralidade da rede, no entanto, ainda estão em risco. Sobre o
primeiro princípio, o último texto afirma que o disposto no Marco Civil da
Internet deve suportar o desenvolvimento de novos modelos de negócio para a
rede. A afirmação encontra-se no início da lei e não no artigo da neutralidade
(artigo 9), mas possui direto impacto sobre o princípio. Enquanto permite
diferenciação de preços por velocidades oferecidas, pode abrir uma janela para
diferenciação de serviços com base na diferenciação de conteúdo e aplicações
oferecidas. Esperamos que uma revisão do texto atente para esse detalhe e
preserve, como é, a internet aberta para todos.
O direito fundamental à privacidade também sofre com a possibilidade aberta na
lei para a localização forçada de servidores no país e a obrigação à guarda dos
registros de acesso de todos os usuários. A localização forçada de dados não
responde à vigilância internacional (ou nacional) como alguns podem pensar. A
internet é global e as comunicações são globais. A infraestrutura da internet é
global. Ao ouvir uma música, ver um filme, fazer uma compra online, fazemos com
que nossos dados circulem por inúmeros cabos e fibras, muitos desses submarinos
e a maioria deles propriedade de empresas multinacionais. Manter parte dos dados
no território nacionais simplesmente não funciona.
Bem-vinda, entretanto, é a regulamentação das ações das empresas e o que as
empresas fazem com os dados de seus usuários. Isso sim pode servir para ajudar a
proteger a nossa privacidade ou, pelo menos, garantir práticas mais
transparentes. O suporte a novas tecnologias, como acesso sem fio comunitário e
planos para cidades digitais, também oferece grande ajuda contra a vigilância.
Por tudo isso, a privacidade na internet representa claramente um dos principais
desafios da nossa próxima década e pode ser a oportunidade para o Brasil reter
um papel de destaque na governança global da internet.
Um dos primeiros passos nesse sentido é aprovar o Marco Civil e, esperamos,
antes do encontro internacional que o Brasil vai hospedar em abril de 2014, no
qual líderes do mundo todo e representantes de todos os setores afetados pela
rede vão se reunir em São Paulo para discutir um novo modelo de governança
global da internet.
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Leia na Fonte: Computerworld
[17/12/13]
Marco Civil sob a ameaça nacionalista - por Paulo Humberg
Paulo Humberg é CEO da A5 Internet Investments,
companhia com foco em produtos digitais como comércio eletrônico, mídia digital
e serviços financeiros.
O projeto do Marco Civil está pronto para ser votado há pelo menos um ano.
Depois de um longo de período de hibernação, a iniciativa voltou aos holofotes
por causa das denúncias de que a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA
espionou a presidente Dilma Rousseff, a Petrobras e o Ministério das Minas e
Energia.
Quando isso foi revelado, o governo federal pediu agilidade ao Congresso na
aprovação do projeto, que passou a ser visto pela presidente como uma resposta
legal à bisbilhotagem comandada pelo governo americano. O texto final deve ser
votado em breve.
É muito bem-vindo que o Marco Civil volte a ser discutido. Estamos falando de
uma iniciativa surgida, no final de 2009, de forma democrática, desenvolvida
colaborativamente por meio de um blog. O problema é que seu retorno à baila se
deu por vias tortas, no furacão das denúncias de espionagem digital, o que pode
resultar na desfiguração de sua proposta original, com reflexos ruins para a
sociedade e os negócios digitais.
Por conta da falta de compreensão da complexidade sobre o que é a Internet – em
termos tecnológicos e comerciais –, corremos o risco, hoje, de ver uma
iniciativa de vanguarda ser engolida por um nacionalismo exacerbado.
Um dos aspectos mais preocupantes é o fato de o relator, o deputado Alessandro
Molon (PT-RJ), ter incluído no texto final do projeto um dispositivo que abre a
possibilidade para que os provedores de acesso à internet e os portais, por
exemplo, sejam obrigados a ter, no Brasil, data centers capazes de armazenar
dados dos internautas.
Molon, que é a favor da neutralidade de rede e manteve esse item no documento,
incluiu o dispositivo sobre os data centers a pedido da presidente Dilma
Rousseff. Com esse artigo no Marco Civil, o governo quer assegurar que os
gigantes da Internet fiquem sujeitos à legislação brasileira. A intenção seria
evitar o que aconteceu no episódio NSA: companhias como Google e Microsoft foram
obrigadas pelo governo dos EUA a fornecer dados de usuários de diversos países,
incluindo o Brasil. E as empresas obedeceram, pois mantém seus servidores nos
EUA e estão subordinadas à legislação daquele país.
É perfeitamente defensável a ideia do governo de não querer que dados da
administração pública sejam armazenados em redes e servidores estrangeiros. Não
faz sentido, porém, estender a obrigação de guarda local a empresas privadas.
Isso terá reflexos no campo dos negócios para os quais o governo não está
atentando. A definição de que rede ou servidor utilizar é estratégica para
muitas companhias, que dependem da confiabilidade, do custo e da eficiência do
serviço.
Com a inclusão desse dispositivo no Marco Civil, o governo quer forçar as
empresas internacionais a instalar servidores no País. Mas, em vez de obrigar,
não seria mais adequado reduzir o custo Brasil e, assim, estimulá-las a
construir data centers aqui? E quem garante que a velocidade da rede não cairá
com a necessidade de uso de infraestruturas locais? Além dessas questões, há
outra a ser observada: qual a viabilidade da adoção, na prática, de uma
exigência desse tipo? Construir um data center é algo que não se faça da noite
para o dia.
Reação do mercado
O movimento do governo gerou críticas de associações da indústria digital. No
dia 22 de outubro, cerca de 30 deputados receberam uma carta assinada por 45
entidades internacionais de comércio. Elas pedem a exclusão de qualquer
dispositivo que obrigue a guarda dos dados de Internet em território nacional.
No Brasil, a reação partiu de entidades como a Câmara Brasileira de Comércio
Eletrônico (câmara-e.net) e a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia
da Informação e Comunicação (Brasscom).
A primeira divulgou uma carta aberta na qual defende que “o tema da guarda de
dados, pela sua importância estratégica e pelos impactos na vida dos cidadãos,
das empresas, do governo e da sociedade brasileira nas próximas décadas, seja
impreterivelmente inserido na mesma dinâmica democrática e participativa
empregada para a elaboração do Marco Civil da Internet, com amplos debates,
discussões e consultas públicas.”
A Brasscom, por sua vez, argumenta que a obrigatoriedade do armazenamento de
dados em servidores no Brasil resultará no aumento dos custos das companhias de
TI. A consequência será a migração para o exterior de atividades hoje
desenvolvidas aqui pela corporações internacionais Para dar um parâmetro, um
estudo da entidade indica que a construção de um data center no Brasil custa US$
61 milhões, valor superior ao necessário no Chile (US$ 51 milhões) e EUA (US$ 43
milhões).
Como se vê, o assunto é complexo e possui diversas implicações comerciais – além
da discussão sobre a segurança digital. Por isso é essencial que o tema seja
analisado com sobriedade e, acima de tudo, com conhecimento técnico. O que não
podemos é deixar que os ecos de um nacionalismo ultrapassado embacem um debate
extremamente relevante para o desenvolvimento do País.