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23/01/13
• Rádio Digital - O retorno (32) - Atuação do Conselho de Rádio Digital +
Panorama resumido sobre "Rádios Comerciais" e "Rádios Comunitárias"
Olá, WirelessBR e Celld-group!
01.
Atualizei o website
Rádio Digital no portal WirelessBRASIL.
O "mapa do website" é o seguinte:
-
Página inicial contendo um texto de "resumo comentado e acompanhamento";
- Coleção de "posts": 2012 -
(Em 2011 não houve postagem) -
2010 -
2009 -
2008 -
2007 -
2005 e 2006
-
Índice geral de artigos e notícias (2005 até hoje) (links para acessar a
"fonte" e a transcrição)
02.
A principal atualização do "resumo e acompanhamento" é o registro dos
documentos recentemente divulgados pelo Minicom sobre as últimas reuniões do
"Conselho Consultivo da Rádio Digital"
A transparência de um Conselho como este e do Minicom é uma obrigação mas,
estamos no Brasil, então é preciso louvar a publicação de tais documentos.
Seria muito importante que o Conselho resgatasse o resultado de todos os testes
realizados, desde 2005!
A mídia dita especializada continua praticamente omissa neste assunto.
Não anotei qualquer tentativa de participar das reuniões do Conselho e de
entrevistar seus membros.
03.
Transcrevo esta parte do "resumo" com as "novidades":
(...)
Em 28 de novembro foi realizada a segunda reunião do Conselho Consultivo.
Foram feitas três apresentações que podem ser acessadas
nesta página do Minicom:
-
INMETRO, Medições de campo dos sistemas de Rádio Digital,
-
Resultados da Campanha de Testes no Brasil e
-
Vantagens, Limitações e Observações.
Em 07 de dezembro de 2012 foi realizada a terceira reunião do
Conselho, com representantes dos dois padrões, HD Radio (IBOC) e DRM.
O diretor de Acompanhamento e Avaliação de Outorgas do Minicom, Octavio
Pieranti declarou: "Os padrões se apresentaram e conseguimos fazer um debate
franco com todos os segmentos".
As duas apresentações podem ser acessadas
nesta página do Minicom:
-
Apresentação do Conselho de Rádio Digital, DRM - Digital Radio Mondiale
-
Apresentação do Conselho de Rádio Digital, Empresa brasileira de tecnologias
digitais.
Em 13 de dezembro de 2012 ocorreu quarta e última reunião do
Conselho Consultivo em 2012.
As apresentações, que podem ser acessadas
nesta página do Minicom, foram:
-
Mapas de Cobertura de testes de Rádio Digital (Rádio Comunitária e FM),
-
Ginga no Sistema Brasileiro de Rádio Digital e
-
Mapeamento das condições técnicas das emissoras de rádio brasileiras e sua
adaptabilidade ao padrão de transmissão digital sonora terrestre.
04.
Continuo com a mesma opinião de sempre: sob qualquer ótica, não faz sentido
decidir a implantação do "Rádio Digital" neste momento. Tudo não passa do forte
"lobby" dos padrões "americano" e "europeu".
Na "era Helio Costa" a "pressão total" era pelo americano IBOC ("HD Radio") e
hoje os lobistas mais ativos na web lutam pelo DRM europeu.
Sobre o 'lobismo" dos dois padrões, nos bastidores, "não me informaram"...
O "Conselho Consultivo da Rádio Digital" tem forte presença do Minicom
cujos integrantes, "aparentemente", estão batendo cabeça.
Aqui está a "representação do Minicom" no Conselho:
- Secretaria de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das
Comunicações,
- Departamento de Acompanhamento e Avaliação de Outorgas da Secretaria de
Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações e
- Departamento de Indústria, Ciência e Tecnologia da Secretaria de
Telecomunicações do Ministério das Comunicações.
Em 23 de outubro de 2012, um
artigo do portal Convergência Digital cita: (...) O novo ministro também
já indicou sua preferência pelo IBOC. “Os técnicos no ministério mostram
tendência pelo modelo americano”, disse Bernardo ao Congresso Nacional, em
agosto do ano passado. Não é por menos que para alguns integrantes do conselho,
a agenda atual busca apenas referendar essa escolha.(...)
Permito-me destacar dois "ecos" das reuniões do Conselho Consultivo:
a.
Em 05 de dezembro de 2012 , já devidamente "digeridos" os resultados dos
testes apresentados na segunda reunião do Conselho, houve uma audiência pública
da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos
Deputados.
O destaque foi a declaração de Genildo Lins, secretário de Serviços de
Comunicação Eletrônica do Minicom:
"O ministério realizou nos últimos três anos testes com duas tecnologias de
radio digital – DRM e HDRadio – em 15 estações AM e FM. E, falo com pesar, os
resultados foram ruins, especialmente no FM de alta potencia. O sinal digital
cobriu 70% do que cobre o sinal analógico. Ouvintes que recebiam o sinal
analógico simplesmente vão deixar de receber”, afirmou o secretário."(...)
"Diante de resultados frustrantes, o Ministério das Comunicações já decidiu
que não fará tão cedo uma escolha sobre o padrão de rádio digital a ser
adotado no Brasil."
b.
No
texto divulgado pelo Minicom sobre a 4ª e última Reunião, consta uma
observação estranha e polêmica, feita pelo diretor de Acompanhamento e Avaliação
de Outorgas do Ministério das Comunicações, Octavio Pieranti:
"O conselho discute a possibilidade de realizar novos testes no ano que vem
com os padrões DRM (europeu) e HD Radio (norte-americano), já que a cobertura
dos testes feitos em julho não foi considerada completamente satisfatória.
Como temos grande preocupação com zonas de sombra e com a cobertura, nós
cogitamos fazer novos testes."
Comento rapidamente a declaração do diretor Pieranti:
Se as tecnologias não sofrerem evolução, somente serão obtidos "resultados
satisfatórios" em novos testes se forem escolhidas regiões sem obstáculos e
sombras. Óbvio, pois não?
Desconheço qual a sua "preferência" (se é que existe) mas, francamente, a
observação do diretor Pieranti foi, no mínimo, infeliz...
O diretor Octavio Pieranti precisa conversar com secretário Genildo Lins que já
informou, repetindo o que foi citado acima, "que o Ministério das Comunicações
já decidiu que não fará tão cedo uma escolha sobre o padrão de rádio digital a
ser adotado no Brasil".
Permito-me opinar solenemente que todos os testes possíveis e imagináveis já
foram feitos e a relação de "todas" as matérias sobre o tema está mais
abaixo, nesta página. Ufa!
05.
Como citei, o DRM está em grande atividade de divulgação do padrão (conforme o
serviço "Alerta do Google" para o termo "Rádio Digital").
Além das considerações técnicas, no meu entender, o DRM utiliza dois argumentos
duvidosos.
O primeiro é que o DRM "não possui fins lucrativos" e o segundo é que pode ser
abrasileirado pelo middleware de interatividade Ginga.
Os dois argumentos estão tecnicamente corretos mas são para "inglês ver".
O polêmica "interatividade com o Ginga" ainda não vingou na TV Digital e não
deveria ser considerada como "argumento sério" para o Rádio Digital.
Quanto a ausência de "fins lucrativos" do DRM este trecho de
entrevista de um representante, explicita a "pegadinha" (o grifo é meu):
(...) O consórcio é composto por mais de 100 associados, que são: 8
universidades, institutos de pesquisa da Europa e do mundo inteiro; fabricantes
de transmissores, de receptores; a BBC de Londres. Atualmente, a nossa
presidente é da BBC de Londres, é membro do consórcio.
Então, é um grupo de entidades que se reuniu, que criou o sistema e que hoje
divulga o sistema. Essa divulgação é através do consórcio. Então, o consórcio
não faz negócio. Seus membros fazem.
Então, assim, nós já criamos a plataforma Brasil do consórcio DRM. Ou seja, de
semelhantes sem fins lucrativos no Brasil, que nós já temos associados da
indústria brasileira, tanto de transmissores quanto de receptores. Já temos
universidades, já temos vários sócios que estão prontos para que no momento, se
o nosso sistema for o sistema escolhido, a plataforma DRM Brasil, como é
chamada, está pronta para começar a organizar esse processo de digitalização."
(...)
06.
Acrescento comentários novos, que não constaram dos "posts" anteriores, sobre o
panorama da radiodifusão brasileira.
Antes de se pensar em adotar um novo padrão é preciso "organizar e fiscalizar" o
parque brasileiro de emissoras de radiodifusão.
Este "parque" é um verdadeiro caos, terra de ninguém!
Grosseiramente, permito-me dividir este "parque" em duas partes:
- Rádios Comunitárias e
- Rádios Comerciais
07.
Vejamos uma definição de "Rádio Comunitária" (grifos meus):
(...) Vinte e cinco watts é a potência máxima de transmissão que uma emissora
de rádio comunitária pode atingir no Brasil de acordo com a lei 9612,
aprovada em fevereiro de 1998. Isso equivale a 0,025% da média de 100 mil watts
que uma rádio comercial alcança. Pressupondo a utilidade de informar e entreter
ouvintes de pequenas comunidades, a lei estabelece que, partir de sua antena
transmissora, o serviço de radiodifusão comunitário deve limitar-se a 1 km.
As fundações e associações comunitárias, sem fins lucrativos, que estão aptas,
segundo a lei, para executar o serviço recebem uma outorga que lhes garantem
autorização por três anos, sendo possível renovação por igual período." (...) [Fonte
transcrita mais abaixo]
Sobre a "situação real" desse "parque" creio que este trecho um artigo de 2011
("O
que o ministro pode fazer") é bem representativo e contundente (grifos
meus):
(...)
2. Revisar os processos das quase 4 mil rádios outorgadas. Nossa
estimativa é de que somente 10% do que foi outorgado é rádio comunitária de
verdade. Considere-se que o Minicom está ciente dessa irregularidade;
pior, ele é cúmplice do que está acontecendo.
3. Estabelecer norma que permita a cassação das outorgas das rádios
pseudo-comunitárias, por receberem as concessões de forma espúria, ilegal,
imoral. Cito como exemplo: a "rádio comunitária" da igreja católica em
Copacabana (RJ), Rua Hilário Gomes, 36; a "rádio comunitária" da Casa da Benção,
em Taguatinga (DF); a "rádio comunitária" Paullus FM, no município de Diamante
(PB). Essas igrejas deveriam ter vergonha por se apossar – de forma ilegal! – de
bens públicos. Existem centenas de rádios assim. O vergonhoso é que o Minicom
seja cúmplice dessa ilegalidade e a Anatel seja omissa diante desses casos.(...)
Cabe aqui destacar um trecho do "resumo e acompanhamento":
Em 09 de novembro, a AMARC – Associação Mundial de Rádios Comunitárias
(Brasil) divulgou um
artigo
em que expõe sua preferência pelo padrão DRM: (...) "Com a adição do Ginga ao
DRM, somadas possíveis melhorias, o padrão aqui proposto é o DRM-B, um padrão de
radiodifusão digital baseado no DRM com adaptações nacionais.".(...)
08.
Sobre as "Rádios Comerciais" aqui está um trecho de matéria de 2007,
sendo que a realidade, hoje, pode ser bem pior do que o levantamento mostrado:
Leia na Fonte: Informativo Intervozes
[Nov 2007]
Concessões de Rádio e TV: onde a democracia ainda não chegou
Recorte:
A lei que não vale.
Veja o que diz a Constituição:
Artigo 54. Os Deputados e Senadores não poderão:
I - desde a expedição do diploma:
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia,
empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de
serviço público,
salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; (...)
Artigo 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
(...)
Entretanto:
- 53 deputados possuem diretamente veículos de comunicação;
- 27 senadores possuem diretamente veículos de comunicação;
- 40 geradoras de televisão afiliadas e 705 retransmissoras da Rede Globo estão
nas mãos de políticos;
- 128 geradoras de televisão e 1765 retransmissoras estão nas mãos de políticos;
- Dos 80 membros da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática,
pelo menos 16 têm relação direta com emissoras de rádio ou TV;
- Só em 2004, 10 deputados votaram na renovação de suas próprias concessões;
- Metade das 2.205 autorizações dadas a rádios comunitárias entre 1999 e 2004
estão sob o controle de grupos partidários.
09.
O comentário de sempre, resumindo a ópera: Tudo isso é uma vergonha!
10.
Transcrevo mais abaixo:
- Relação
de matérias sobre os testes realizados ao longo do tempo
Leia na Fonte: Observatório da Imprensa
[25/01/11]
O que o ministro pode fazer - por Dioclécio Luz
Leia na Fonte: Oboré
[25/09/12]
Seminário reúne rádios comunitárias para discutir nova legislação - por João
Paulo Brito
Leia na Fonte: Painel Brasil
[28/12/12]
Rádio Digital - Entrevista com o jornalista Marcelo Goedert, representante do
consórcio internacional DRM
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL
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Leia na Fonte: Observatório da Imprensa
[25/01/11]
O que o ministro pode fazer - por Dioclécio Luz
O novo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, declarou que está disposto a
colaborar com as rádios comunitárias (RCs), criando uma secretaria especial para
tratar do assunto. A proposta é certamente bem-vinda. E se soma à nossa
esperança de que ele não faça como os seus antecessores, que enrolaram,
prometeram e nada fizeram pelas RCs.
Reconheçamos, porém, que, em alguns casos, a enrolação se deu com o apoio de
"entidades da sociedade civil". Por exemplo, durante a I Conferência Nacional de
Comunicação (Confecom), realizada em 2009, a Associação Brasileira de
Radiodifusão Comunitária (Abraço) divulgou um pretenso "acordo" assinado com
representantes do governo Lula, com possíveis conquistas para as RCs. Na verdade
foi um grande blefe, uma fraude, desmascarada aqui mesmo no Observatório (ver "Um
acordo ou um blefe?"). Essa mesma Abraço teria (ela nunca desmentiu isso)
sido cúmplice do governo no envio ao Congresso Nacional do Projeto de Lei (PL)
nº 4573/08, que criminaliza mais ainda a operação de rádios comunitárias sem
concessão e descarta a anistia aos que foram punidos por operar rádios sem
autorização.
Mas, vamos considerar que estamos inaugurando um novo tempo e que o ministro
Paulo Bernardo tenha chegado com boas intenções e disposto a fazer algo pelas
rádios comunitárias. É possível, Paulo Bernardo tem uma história política
decente. Diante disso, trazemos algumas sugestões ao novo ministro das
Comunicações no que se refere às rádios comunitárias.
Relações promíscuas com padres e pastores
Eis o que o ministro pode fazer:
1. Mudar urgentemente o primeiro e segundo escalão do Ministério. Esse grupo tem
demonstrado um comprometimento histórico com as grandes redes e irá boicotar
todo avanço que o ministro propuser nessa área.
2. Revisar os processos das quase 4 mil rádios outorgadas. Nossa estimativa é de
que somente 10% do que foi outorgado é rádio comunitária de verdade.
Considere-se que o Minicom está ciente dessa irregularidade; pior, ele é
cúmplice do que está acontecendo.
3. Estabelecer norma que permita a cassação das outorgas das rádios
pseudo-comunitárias, por receberem as concessões de forma espúria, ilegal,
imoral. Cito como exemplo: a "rádio comunitária" da igreja católica em
Copacabana (RJ), Rua Hilário Gomes, 36; a "rádio comunitária" da Casa da Benção,
em Taguatinga (DF); a "rádio comunitária" Paullus FM, no município de Diamante
(PB). Essas igrejas deveriam ter vergonha por se apossar – de forma ilegal! – de
bens públicos. Existem centenas de rádios assim. O vergonhoso é que o Minicom
seja cúmplice dessa ilegalidade e a Anatel seja omissa diante desses casos.
4. Promover inquérito administrativo para apurar e punir os envolvidos na
outorga de RCs às igrejas e políticos, resultado de interferências políticas e
religiosas dentro do Minicom. Tornar público o resultado desses inquéritos,
revelando os nomes dos servidores públicos que mantiveram essas relações
promíscuas com padres e pastores para outorgar RCs. Sobre o assunto ler o estudo
publicado neste Observatório, de autoria de Venício A. Lima e Cristiano Lopes,
intitulado "Coronelismo
eletrônico de novo tipo (1999-2004): as autorizações de emissoras como moeda de
barganha política".
Moedas de troca na bodega da política
5. Elaborar um novo Decreto regulamentando a Lei 9.612/98, das rádios
comunitárias. O Decreto em vigor, nº 2.615/98, contém irregularidades e cria
mais restrições do que a lei já prevê. Por exemplo, ele limita o alcance a 1 Km,
estabelece uma burocracia kafkiana, cria uma dezenas de punições, não define o
que é apoio cultural...
6. Promover cursos e oficinas para as rádios comunitárias, conforme prevê o
artigo 20 da Lei 9.612/98. Doze anos depois de promulgada a lei consta que o
Minicom não fez nada neste sentido. Isto é, o Minicom não cumpre a lei.
7. Impedir que o Minicom e a Anatel continuem com a política de exclusão para
quem faz rádio comunitária. Essa é uma postura histórica. Como exemplo, podem
ser citadas as Resoluções da Anatel (60/98 e 356/04) que determinam canais de
operação para as RCs fora do dial. Isto é, propõe-se um gueto, um campo de
concentração: se o dial de FM vai de 88 a 108 MHz, a Anatel determina que a RCs
irão operar na faixa de 87,5 a 87,9 MHz.
8. Encaminhar ao Congresso Nacional uma nova proposta de lei para as RCs. Mas
isso não é o suficiente; o governo tem que fazer a sua defesa. Revogar a lei em
vigor – nº 9.612/98 – é uma necessidade. Ela é tão restritiva, excludente, que
bem poderia ter sido assinada por Benito Mussolini.
9. Elaborar Medida Provisória (MP) anistiando as milhares de pessoas acusadas de
"operar emissora sem autorização". Esta MP recuperaria o substitutivo do
deputado Walter Pinheiro (PT-BA), detonado pelo governo ao encaminhar PL com o
mesmo objetivo, mas com intenções nada decentes. A MP deve tocar em três pontos:
1) anistiar os que foram punidos; 2) propor nova redação ao artigo 183 da lei
9.472/97, que estabelece cadeia (2 a 4 anos) para este tipo de crime,
substituindo por punição administrativa; 3) revogar o artigo 70 da lei 4.117/62,
criado pelo Decreto 236/67, obra da ditadura militar que está sendo utilizada
até hoje.
10. Extinguir o "banco de negócios" instalado no Palácio Planalto. Funciona do
seguinte modo: processos de rádios autorizadas pelo Minicom são negociadas com
parlamentares e religiões antes de serem enviadas ao Congresso Nacional; são
moedas de troca na bodega da política. Claro, só andam as RCs que têm padrinhos
poderosos.
Coragem será percebida quando moralizar o sistema
11. Nomear um interlocutor do Minicom para o setor. Salvo exceções, os indicados
pelo Executivo até são ignorantes no tema e enrolões – prometiam o que não
podiam cumprir e nunca aprenderam sobre o que é rádio comunitária. Tá na hora de
se indicar alguém com o mínimo de conhecimento no assunto e o mínimo de respeito
ao movimento.
Estas medidas certamente irão atrair a ira daqueles que querem manter as RCs em
guetos, como os nazistas fizeram aos judeus. Eles irão procurar Paulo Bernardo e
Dilma Rousseff e se posicionar contra qualquer reforma legal ou administrativa
que beneficie as rádios comunitárias. O que incomoda a esses poderosos se traduz
como uma questão de classe: os senhores da Casa Grande não admitem que a senzala
tenha acesso a um meio de comunicação que lhe permita pensar, crescer,
desenvolver, decidir sobre o seu destino. Os da Casa Grande e os da catedral
querem continuar manipulando as pessoas, impedindo seu acesso aos bens e
serviços que o Estado fornece ou deveria fornecer.
Os inimigos das RCs estão dentro e fora do Estado. No Estado, temos
historicamente o Minicom, mas a Anatel ganha de todos no capítulo ferocidade
contra as rádios comunitárias. Fora do Estado, há as grandes redes de
comunicação (Globo, SBT, RBS, etc.) e as igrejas cristãs. As igrejas estão
disputando quem constrói o maior latifúndio da comunicação, incluindo rádios
comunitárias. A ganância, a ambição dessas religiões – católicas e protestantes
– é do tamanho do deus em que acreditam.
A batalha é imensa. Paulo Bernardo está chegando agora, mas os padres e bispos
estão acostumados a transitar nos palácios desde quando eles inventaram um deus
e uma religião. É o ambiente do poder. Quem vai dizer não para as sete famílias
da comunicação ou para o Vaticano? Padre de direita ou de esquerda, sempre teve
as portas abertas, incluindo aquela onde se guardam os tesouros. A coragem de
Paulo Bernardo será percebida quando ele moralizar o sistema, limpar a sujeira
denunciada, e dizer não aos padres, pastores e falsos líderes sociais.
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Leia na Fonte: Oboré
[25/09/12]
Seminário reúne rádios comunitárias para discutir nova legislação - por João
Paulo Brito
Vinte e cinco watts é a potência máxima de transmissão que uma emissora de rádio
comunitária pode atingir no Brasil de acordo com a lei 9612, aprovada em
fevereiro de 1998. Isso equivale a 0,025% da média de 100 mil watts que uma
rádio comercial alcança. Pressupondo a utilidade de informar e entreter ouvintes
de pequenas comunidades, a lei estabelece que, partir de sua antena
transmissora, o serviço de radiodifusão comunitário deve limitar-se a 1 km.
As fundações e associações comunitárias, sem fins lucrativos, que estão aptas,
segundo a lei, para executar o serviço recebem uma outorga que lhes garantem
autorização por três anos, sendo possível renovação por igual período.
A capital paulista é a cidade brasileira que possui o maior número de rádios
comunitárias autorizadas. Segundo dados da Abraço (Associação Brasileira de
Radiodifusão Comunitária), em 2008, ano em que milhares de emissoras de rádios
comunitárias foram legalizadas em todo o Brasil, haviam no município de São
Paulo pelo menos 130 associações de bairro legalmente aptas a receberem a
outorga que autoriza o funcionamento de uma rádio. Mas apenas 31 receberam a
autorização. Destas, segundo a Abraço, pelo menos 40% não terão suas outorgas
renovadas.
O principal problema, porém, na opinião dos radiocomunicadores é a sustentação.
A Lei não admite a veiculação de propaganda ou horário comercial na programação
das rádios comunitárias; autoriza patrocínios em forma de apoio cultural, no
qual a rádio não pode citar endereço, promoção ou qualquer atividade realizada
pela instituição comercial que a patrocina.
Sem o interesse dos comerciantes em patrocinar as rádios e precisando pagar as
contas, as rádios comunitárias precisam apelar para outros caminhos que a
mantenham com as portas abertas. Entre os “padrinhos” interessados estão as
igrejas (católicas e protestantes), políticos ricos – principalmente em época de
campanha -, e o narcotráfico.
Por estas e outras razões, a AMARC (Associação Mundial de Rádios Comunitárias)
realizou neste sábado (22/09) um seminário para discutir um novo marco
regulatório para a categoria. Cerca de 70 radiocomunicadores representando 30
rádios comunitárias da região sudeste do Brasil (RJ, SP, ES e MG) se reuniram no
Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e, ao fim do dia, se dividiram em grupos
para discutirem propostas nos campus da “definição, objetivo e conteúdo de uma
rádio comunitária”, “acesso universal e tecnológico”, “financiamento e recursos
públicos” e “autoridades competentes e procedimento de outorga”.
O seminário, em que a OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes -
escritório paulista da AMARC - ajudou a organizar, contou com a presença de
representantes de coletivos, pesquisadores e entidades que lutam pela
democratização da mídia no Brasil, entre eles os coletivos Intervozes e Artigo
19, a UNIRR (União e Inclusão em Redes e Rádio) e a Abraço.
Este foi o quarto de um ciclo de cinco encontros regionais sobre legislação e
direito à comunicação que já passou pelo Nordeste (Fortaleza - CE), Sul (Arroio
do Sal - RS) e Norte (Altamira – PA), e deve se encerrar em Brasília, em
novembro, quando as propostas recolhidas em todas as regiões serão apresentadas
às autoridades competentes.
Políticas públicas
O jornalista, professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF),
Dênis de Moraes, crítico voraz da legislação de radiodifusão comunitária,
apresentou exemplos de avanços legislativos no campo da democratização da mídia
em países vizinhos, como Venezuela, Equador e Argentina e concluiu que “o
problema também é político, não é só jurídico e legal.”
João Brant, do Coletivo Intervozes, também concordou que é preciso políticas
públicas que garantam condições iguais para que todos se comuniquem. “É muito
diferente a liberdade de expressão de uma rádio comunitária com a liberdade de
expressão de uma comercial que atinge toda a população. É obrigação do Estado
garantir a igualdade na comunicação.”
Em 2007, o Intervozes elaborou uma pesquisa, publicada em novembro daquele ano
no informativo intitulado “Concessões de Rádio e TV – Onde a democracia não
chegou”, no qual aponta que das 39 emissoras de rádios FM comerciais que
transmitem em São Paulo, 36 tinham suas outorgas vencidas e 22 delas estão
outorgadas para outros municípios mais ainda assim podem ser sintonizadas na
capital paulista.
O delegado regional do Ministério das Comunicações, Mario Daolio, que acompanhou
o seminário ao lado de Carlos Gold, coordenador de outorgas de rádio
comunitárias do MinC, quando questionado se o ministério tinha conhecimento
desta denúncia acenou em positiva e disse que “já estão sendo tomadas
providências judiciais para a normalização da situação”.
Propostas
Além das propostas oriundas dos quatro seminários regionais realizado pela
AMARC, outras sugestões para serem implementadas em 2013 visando a integração e
a unidade das rádios comunitárias foram apresentadas por Sergio Gomes, diretor
da OBORÉ. Entre elas, o projeto “Seja Bem-Vindo: a casa é sua”, um intercâmbio
entre radialistas comunitários, no qual os radiocomunicadores de um determinado
local vão visitar a emissora de outro bairro ou cidade. “É preciso que um
conheça o outro, que saibam o que todos estão fazendo. Temos que aprender a
caminhar separados e golpear juntos”, afirmou o jornalista que também ressaltou
a necessidade de pressionar para que a Anatel fiscalize de fato as
irregularidades presentes nas outorgas comerciais.
Outra proposta de Sergio Gomes foi a criação de uma Mesa de Trabalho com a
Câmara Municipal de São Paulo para tratar especificamente da sustentação
financeira das rádios comunitárias. “Quanto custa [para se manter uma rádio
comunitária]? Quem paga? É preciso trabalhar em cima de ideias concretas. A
OBORÉ batalha para que as rádios tenha ao menos o dinheiro mínimo para pagar uma
conta de luz e água. É preciso se reunir com a Câmara para discutir o Plano
Diretor da Cidade e retomar o trabalho para que o novo plano contemple o Plano
Diretor de Radiodifusão Comunitária”.
O artigo 266 do Plano Diretor Estratégico (PDE) do Município de São Paulo
estabelece que é dever do executivo desenvolver o Plano Diretor de Radiodifusão
Comunitária e incorporá-lo ao PDE abrangendo pontos como definição de regras
para instalação de rádios comunitárias, formas de participação do Executivo na
produção de conteúdo e democratização do acesso aos meios de transmissão.
Em encontro realizado também no Sindicato dos Jornalistas em 27 de agosto deste
ano, em que se debateu a liberdade de expressão, contando com a presença da
professora e filósofa Marilena Chauí, vários candidatos a vereadores assinaram
um documento que continha um conjunto de propostas para a democratização da
comunicação, entre elas, o compromisso em desenvolver o Plano Diretor de
Radiodifusão Comunitária.
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Leia na Fonte: Painel Brasil
[28/12/12]
Rádio Digital - Entrevista com o jornalista Marcelo Goedert, representante do
consórcio internacional DRM
Nota: Na fonte, não consta a data do vídeo e do texto.
Acessei em 28/12/12. HR
Ver vídeo
aqui.
Transcrição:
Apresentadora Rosa: Olá, está começando mais um Painel Brasil e eu recebo
Marcelo Goedert.
Ele é jornalista, representante do consórcio internacional DRM, Digital Radio
Mundiale aqui no Brasil. O nosso assunto é a implantação da rádio digital no
Brasil. Tudo bem, Marcelo?
Marcelo Goedert: Olá Rosa, tudo bem? Prazer em estar aqui com vocês.
Rosa: Muito obrigada, agradeço a sua presença, que eu sei que essa entrevista
vai ser bastante esclarecedora, para que as pessoas tomem conhecimento do
andamento da implantação das rádios digitais no Brasil.
Primeiramente, eu gostaria que você explicasse o que é a rádio digital, para que
os nossos internautas comecem a dar esse primeiro passo no conhecimento dessa
nova tecnologia da radiofonia no Brasil.
Marcelo: Bom Rosa, o rádio digital é uma nova transmissão radiofônica. Hoje nós
temos o rádio analógico, que é transmitido para uma emissora de rádio, todos
conhecem através de um transmissor com uma antena, e nós temos receptores de
rádio no carro, hoje, no celular, em casa, que a gente sintoniza rádio como há
90 anos isso acontece.
Aliás, o rádio é o único meio de comunicação eletrônico, que ainda utiliza o
mesmo sistema de transmissão há 90 anos. Então, isso colocou o rádio numa
situação difícil, com as novas mídias digitais a concorrência aumentou, então o
rádio vem perdendo cada vez mais espaço e a digitalização é um passo muito
importante para o rádio no Brasil, para modernizar essa plataforma de
transmissão.
Então, o rádio digital segue os mesmos padrões, vão continuar a ser as emissoras
que vão transmitir, via antena, vão ter aparelhos receptores de rádio, só que o
sinal, em vez de ser transmitido em ondas hertzianas, como foi esse tempo todo,
é transmitido em digital agora, em zeros e uns. Então, o transmissor codifica e
o receptor decodifica o sinal digital da emissora de rádio. Então, ele não
depende de internet, o rádio digital não precisa de internet e, assim, o
receptor atual de rádio não pega o rádio digital.
Rosa: Ah, é isso que eu queria perguntar.
Marcelo: Pois é, não.
Rosa: Vamos ter que mudar tudo, então.
Marcelo: Sim, temos que trocar nossos receptores. É claro que não é de hoje para
amanhã. A gente tem uma previsão de estudos, de um período de transição entre 5
e 10 anos. Não vai ter um apagão analógico, a rádio que você está ouvindo, que
você gosta não vai sumir de repente do seu dial e agora você só vai escutar se
tiver um receptor digital. Não é isso. Inclusive, tem um grande período aí que
vai ser o que estão chamando de "simulcasting", que vão transmitir nos dois
formatos, tanto em analógico quanto em digital, a mesma emissora. Então, a
emissora vai passar a transmitir em digital, vai transmitir nos dois formatos.
Quem tem o receptor digital, vai ouvir em digital. Quem tem o receptor
analógico, vai ouvir em analógico.
Rosa: E aí, a pessoa terá, no caso, como você colocou, de 5 até 10 anos para
essa mudança.
Marcelo: Não. A gente está prevendo. Nós fizemos um plano de implantação, porque
a implantação do rádio digital envolve todos os atores do rádio, desde a
indústria, que produz os transmissores, que produz os receptores, até os
radialistas que precisam aprender a gerar novos conteúdos no rádio digital,
porque o rádio digital tem condições de levar para o ouvinte bem mais do que um
rádio analógico leva hoje.
Rosa: Você comentou anteriormente, antes da nossa entrevista, que uma rádio,
hoje analógica, poderá automaticamente ter 3 canais a mais. Ela é obrigada a
usar esses 4 canais ou ela pode usar gradativamente?
Marcelo: Não, ela não vai ser obrigada. Isso vai depender de regulamentação do
Governo, quando implantar o sistema.
Os sistemas de rádio digital que hoje estão disponíveis para o Brasil permitem
geração de 4 conteúdos na mesma frequência. Se vão gerar, ou não, é opção do
Governo normatizar e autorizar isso e opção da emissora querer transmitir. Mas,
eu digo 4 conteúdos porque a emissora pode transmitir através do sinal digital,
dados, não música. Então digamos, numa situação em que uma emissora pode
escolher até 3 canais de música e um canal de dados. O que é “dados”? Dados são
informação, são dados. O aparelho receptor de rádio digital, seja no seu carro,
seja onde você o tem, vai ter uma tela.
Rosa: Ah, entendi.
Marcelo: Então, por exemplo, um exemplo simples: a emissora pode estar tocando
uma música e transmitir a foto do cantor. A emissora pode estar tocando uma
música e transmitir a lista das próximas músicas ou dos próximos programas que
vão entrar no ar. A emissora pode estar transmitindo um jogo de futebol e pelos
dados, pela telinha, transmitir resultado dos outros jogos.
Rosa: E ela pode também, simultaneamente, colocar os 4 canais dela e a pessoa
clicar, ou touch, e mudar para aquela programação que ela quer naquele momento?
Marcelo: Sim, sim. A emissora pode ter um canal A, B e C de música, e o canal D
são dados. Então, o canal D está ali na tela, é o que ela está enviando para a
tela da pessoa, que pode ser como eu falei: texto, pode ser foto, pode ser o que
ele quiser. E os canais de música, a pessoa vai querer ouvir, vai ouvir a "rádio
nacional A, B ou C", qual a programação que você quer ouvir? Então, a rádio pode
trabalhar... Pode talvez exibir a mesma programação com algum tempo de atraso,
como as televisões a cabo faziam em algum tempo atrás. Tinha uma emissora 1 e 2.
A 2 transmitia a mesma programação com 6 horas de atraso. Então, ela pode fazer
isso ou transmitir uma programação totalmente diferente. Então, na mesma
frequência, a emissora pode ir até 4 conteúdos. Aí a emissora vai escolher o que
vai transmitir, se vai transmitir, porque ela pode escolher não transmitir.
Rosa: O que é que você acredita? Que isso vai viabilizar mais economicamente as
rádios, as emissoras? Como é que você vê esse mercado, a partir daí?
Marcelo: Olha, a digitalização, como eu falei anteriormente, é um passo muito
importante porque ela eleva a mídia rádio, ela traz o rádio para o mundo
digital. E aí pode haver a convergência com outras mídias. Então, assim, o rádio
digital pode transmitir dados e se ele tiver conectado na internet, digamos que
você vai ouvir no seu celular, se o seu celular tiver conectado na internet a
emissora pode botar um botão na tela pra você votar em uma música ou pra você
saber mais daquele conteúdo, você vai ter interatividade. A vinda pro seu
receptor é via antena, via rádio. A volta é via internet, o seu receptor tem que
estar conectado na internet. Então, essa interatividade acontece se você tiver
em casa, ouvindo rádio, e você tem wi-fi na sua casa, você está com seu rádio
conectado. O rádio digital, por exemplo, os aparelhos que já são fabricados no
exterior, eles tem uma saída USB. Então, pense que uma rádio pode transmitir,
através desses dados, um cupom em que você vai clicar na tela, nesse USB
conectado na sua impressora, você vai imprimir um cupom, vai na loja e tem um
desconto.
Então, você vê que o rádio digital ele leva o rádio a um patamar de poder
convergir, com as novas mídias digitais, pode conversar agora com as novas
mídias digitais, trocar informação. Você pode passar de uma mídia para outra, e
transferir conteúdo, o que o rádio analógico hoje em dia não permite. O rádio
analógico hoje só transmite o sinal musical e ele não “conversa” com mais
ninguém.
Então, isso gera uma possibilidade de negócios muito grande, para as rádios
comerciais. Imagina no spot de rádio, o cliente não precisa mais botar o
telefone, ele vai botar o telefone na tela. Ou outros dados... Você pode
anunciar um evento e dizer: "Olha, na tela tem um botão. Se você quer comprar
seu ingresso agora, clique no botão..." há a hipótese de eu estar conectado na
internet, você já vai lá, compra o ingresso e na compra do ingresso a empresa do
evento já sabe que aquele ouvinte comprou seu ingresso porque ouviu na emissora
"X". Então pode haver uma remuneração. Então a radio digital abre vários novos
modelos de negócios.
Rosa: É um negócio interessante. Porque você sabe que no Brasil há 3 rádios para
cada cidadão brasileiro. Então, é um número extraordinário. Agora, ele é muito
difundido hoje no interior do país. De repente, a única comunicação que as
pessoas recebem é através do rádio. Você está há 25 anos nesse ramo de rádio,
como que você acha que vai ser essa interiorização? Ou isso aí vai levar mais de
10, 15 anos?
Marcelo: Não, eu só queria voltar um pouco no que eu falei do lado comercial que
o rádio digital vai ganhar, mas tem o lado social também. Porque toda essa
informação que virá via dados e que vai chegar também através de outros canais
de conteúdo, vão chegar até o interior. Então, uma rádio educativa pode estar
transmitindo música num canal, cursos no outro canal e tudo acessível, com
imagem, com tela. Você pode ensinar uma pessoa a escrever aparecendo a palavra
na tela. Então, assim, a digital abre novas possibilidades sociais, de educação,
de todo esse lado social, enfim, formação, transmissão e formação de conteúdo
etc. Então, a rádio digital pode ajudar.
Como vai ser essa transição no interior vai depender muito do modelo que o
Governo adotar. Vai depender muito de como o Governo vai conduzir esse processo
de digitalização. O sistema do qual sou representante, DRM, tem planejamentos de
receptores daqui a 3 anos, que vão custar, no máximo 20 dólares, que hoje são 40
reais, um receptor de rádio, com tela. Isso é uma projeção. A gente pode até
chegar a um valor menor, dependendo da quantidade. Então isso vai permitir que o
interior do país possa acessar.
E tem outra questão, o nosso sistema é o único que digitaliza as ondas curtas. É
um sistema que foi criado para ser um sistema mundial, para ser um sistema que
atenda todas as bandas do rádio. Todas as frequências, não só o lado comercial,
que hoje está centralizado na FM, mas as ondas curtas, as ondas tropicais, que
são ondas de segurança, ondas educativas. As ondas curtas e a AM é o que chega
na beira do rio, como você está falando, é o que chega lá no interior do Mato
Grosso, são as ondas curtas e a AM. Então, por exemplo, ele digitaliza muito bem
essas ondas curtas e a gente tem condições de chegar a essas populações
rapidamente.
Rosa: Marcelo, são dois sistemas que estão aí disponíveis e um deles será
escolhido e quando vai acontecer essa definição?
Marcelo: Olha, a promessa do Ministério das Comunicações é que até o final deste
ano seja definido o sistema brasileiro de rádio digital.
Rosa: A partir daí, a escolhida terá, para iniciar esse
sinal, vamos supor, tem que ter uma estrutura interna. Essa estrutura interna do
Brasil já existe ou ela ainda vai ser feita?
Marcelo: Não, já existe estrutura interna. Eu posso falar pelo meu sistema. Nós
já temos uma estrutura interna, porque, como é que funciona o DRM? O consórcio
DRM ele é uma entidade sem fins lucrativos, com objetivo de divulgar e organizar
a norma. O consórcio é composto por mais de 100 associados, que são: 8
universidades, institutos de pesquisa da Europa e do mundo inteiro; fabricantes
de transmissores, de receptores; a BBC de Londres. Atualmente, a nossa
presidente é da BBC de Londres, é membro do consórcio.
Então, é um grupo de entidades que se reuniu, que criou o sistema e que hoje
divulga o sistema. Essa divulgação é através do consórcio. Então, o consórcio
não faz negócio. Seus membros fazem.
Então, assim, nós já criamos a plataforma Brasil do consórcio DRM. Ou seja, de
semelhantes sem fins lucrativos no Brasil, que nós já temos associados da
indústria brasileira, tanto de transmissores quanto de receptores. Já temos
universidades, já temos vários sócios que estão prontos para que no momento, se
o nosso sistema for o sistema escolhido, a plataforma DRM Brasil, como é
chamada, está pronta para começar a organizar esse processo de digitalização.
E ai, qual é o primeiro passo? O primeiro passo é marcar uma data para o início
da operação do rádio digital no Brasil. E por que é importante marcar uma data?
Assim, na Europa e em outros países que já adotaram nosso sistema, porque aí
tudo converge para aquela data. Aí a indústria de transmissores vai começar a
produzir transmissores, a indústria de receptores vai começar a produzir, as
rádios vão começar a aprender a fazer rádio digital, vão começar a ver quanto
custa, quanto precisa.
Vai todo mundo trabalhar para chegar naquele dia. Seja daqui a 6 meses, 1 ano. O
Governo é que vai decidir. Chegar naquele dia, haja conteúdo, hajam emissoras
transmitindo digital, haja rádios nas prateleiras das lojas para quem quiser
comprar. Os carros já estejam saindo da concessionária com a opção do rádio
digital, os celulares já tenham chips adaptados, "olha se você quiser um chip
para rádio digital você pode botar", tudo converge para aquele dia de
lançamento. Diz "olha, a partir de hoje o Brasil está transmitindo".
Rosa: Marcelo, esse é um assunto que a gente poderia falar o dia inteiro, com
certeza absoluta. Então, assim, para encerrar. Alguém que queira mais informação
a respeito desse assunto, qual seria uma página na internet que pudesse acessar?
Marcelo: Olha, a página do DRM Brasil, www.drm-brasil.org, ou a página do DRM
internacional, que é www.drm.org, lá tem em português também, tem uma versão
toda em português, que é uma página internacional, mas tem uma versão toda em
português. São as páginas que eu recomendo.
O Ministério das Comunicações também tem uma parte de rádio digital no site
deles. Onde eles inclusive publicaram todos os testes que foram feitos, com os
dois sistemas de 2010 para cá. Todos os testes, tanto em AM quanto em FM, o
resultado lá com críticas e com avaliações dos testes, no site do Ministério das
Comunicações. Então, lá também tem muita informação interessante.
Rosa: Ótimo, adorei a entrevista. Tenho certeza que os nossos internautas também
gostaram bastante, porque é uma novidade. A tecnologia, não é, Marcelo, é uma
coisa linda que a gente está passando agora. Essa história de você poder,
através de um celular, através da televisão, através de nossas várias mídias,
não é, essa convergência é muito interessante.
Marcelo: Pois é justamente para poder entrar nesse jogo da convergência que o
rádio precisa digitalizar-se. E a gente vive uma situação no Brasil em que nós
temos pouco mais de 30 emissoras de TV. E nós temos quase 10 mil emissoras de
rádio. Veja a dimensão de uma coisa e de outra. É muito importante, é um
processo grande, porque nós temos aí rádios comunitárias, rádios comerciais,
rádios educativas, rádios públicas. quatro tipos de rádio, cada uma com a sua
função, cada uma com seu objetivo. E o Brasil precisa digitalizar e precisa
digitalizar com um sistema que atenda todo mundo. Isso que é muito importante.
Rosa: Ok, obrigada.
Marcelo: Foi um prazer, obrigado.
Obrigado Rosa.