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22/03/13
• Marco Regulatório de Telecom (18) - O "verdadeiro" Marco Regulatório das
Comunicações: "a atualização consumirá 10 anos"!
Olá, "WirelessBR" e "telecomHall Brasil"!
01.
Sou um crítico ferrenho da atuação de Paulo Bernardo, tanto na função anterior
de ministro do Planejamento, quanto na atual gestão do Minicom. Questiono sua
competência e seu foco de trabalho, pois creio que ele e sua esposa, D. Gleisi
Hoffmann, ministra-chefe da Casa Civil, só pensam "naquilo": eleições no Paraná.
Mas minhas restrições são construtivas e, pretensiosamente, pretendo ajudá-lo no
atual bombardeio, tipo fogo amigo, que enfrenta, vindo do seu partido, o
PT. :-)
Em resumo, o PT quer que o governo crie um "marco regulatório
das comunicações", visando a "democratização" dos meios de comunicação. A
parcela bem informada da sociedade, que "lê jornal", sabe que isto significa
"censura da imprensa".
O editorial de 05 de março do Estadão comenta o tema:
A 'democratização' petista (transcrição mais abaixo).
Creio que o "marco regulatório das comunicações" defendido pelo Paulo Bernardo é
outro (espero!), mas nem ele nem a mídia conseguem explicar ou definir
claramente.
Por aderência, e para formação de opinião, lá no final estão
outras matérias recentes, lembrando que o debate da "política partidária" é
assunto "off topic" nos Grupos.
Não gosto do PT, de Lula e de Dilma, nem sei como me livrar deles mas, com está
na moda o termo presidencial, estou me propondo a "fazer o diabo" para forçá-los
a realizar o melhor governo possível para estepaís, enquanto estiverem no
poder. Aprendiz de capeta, preciso de ajuda! :-))
02.
Outro ponto de atrito do PT com Paulo Bernardo é a "desoneração de impostos para
o setor de telecomunicações" e isto será tratado em outro "post". Mas vai um
recorte para ambientação:
(...) O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) e seu próprio partido, o PT,
estão em pé de guerra por causa dos incentivos fiscais concedidos a empresas de
telecomunicações no Plano Nacional de Banda Larga. O Diretório Nacional do PT
divulgou resolução, no início do mês, pedindo que o governo suspenda essas
desonerações, e militantes petistas, nas redes sociais, chamam Paulo Bernardo de
"traidor" e "privatista".(...)
Fonte: O Globo
03.
Em 2009 e 2010, fizemos, em nossos fóruns e no WirelessBRASIL, um cerrado e
isento acompanhamento da 1ª Confecom e continuo muito grato ao nosso
participante Marcio Patusco pela
página de capitaneou, antes, durante e depois do evento.
Este não é o "ponto" desta mensagem mas explico a tentativa de isenção
com este trecho do citado Editorial do Estadão:
(...) A Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada no final do
governo Lula, foi uma das mais audaciosas tentativas dos radicais petistas de
impor a mordaça aos veículos de comunicação que não se alinham ao lulopetismo.
Planejada pelo ex-ministro Franklin Martins com a indispensável aprovação de
Lula, a Confecom foi realizada com a participação de pessoas e entidades
escolhidas a dedo para elaborar o projeto de um novo marco regulatório das
comunicações à moda da esquerda petista - da qual o ex-ministro é um dos
luminares, ao lado de José Dirceu e de Rui Falcão. Pouco tempo depois, já na
Presidência, Dilma Rousseff engavetou o tal projeto, declarando que preferia "o
barulho da democracia ao silêncio das ditaduras".(...)
04.
Vamos ao ponto, então, que é o "marco regulatório das comunicações".
O que eu penso que o Sr. Bernardo pensa (ops!), ou pelo menos, o que eu gostaria
que fosse a ideia dele, está muito bem explicado nesta matéria de 2008,
garimpada nos arquivos da página da 1ª Confecom do WirelessBRASIL (Vale
conferir!!!):
05.
Este tipo de resumo é o que gostaria de sugerir como argumentação para o Paulo
Bernardo e é o que penso que deveria ser realmente o esforço para traçar um
"marco regulatório das comunicações" e sei que muita coisa está em andamento.
Para continuar o processo o Governo precisa aparelhar o Minicom e a
Anatel com uma equipe realmente competente e deslotear tais órgãos,
alijando a influência política perniciosa.
Como participante e curioso sobre o tema, este é o foco do debate, técnico e regulatório, que gostaria de incentivar em nossos fóruns para atualizar e/ou adaptar a relação constante do artigo acima.
06.
Não concordo com certos posicionamentos do Clube de Engenharia (não é o
caso de comentá-los neste momento) mas, dentro do tema deste "post", devo
lembrar a posição da entidade que nos foi enviada, em 2011, pelo já citado
Márcio Patusco, veiculada nos Grupos e registrada no WirelessBRASIL (e
também transcrita lá no final):
[02/03/11]
Marco
Regulatório das Comunicações - Posicionamento do Clube de Engenharia
07.
Transcrição de matérias recentes:
Leia na Fonte: O Estado de S.Paulo
[05/03/13]
A 'democratização' petista - Editorial Estadão
Leia na Fonte: O Estado de S.Paulo
[20/03/13]
Para ministro das Comunicações, PT mistura lei da mídia com investimento
Leia na Fonte: Estadão
[21/03/13]
O PT contra o ministro do PT - por Eugênio Bucci
Leia na Fonte: Estadão
[07/03/13]
O PT não está de todo errado - por Eugênio Bucci
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL
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Leia na Fonte: O Estado de S.Paulo
[05/03/13]
A 'democratização' petista
O que significa, exatamente, "democratização" dos meios de comunicação, que o
Partido dos Trabalhadores (PT) tão insistentemente reclama? O Brasil é um país
livre e democrático, principalmente quando comparado a regimes totalitários como
os de Cuba e do Irã, que o PT apoia mundo afora e onde não existe liberdade de
imprensa e de expressão. A presidente Dilma Rousseff já cansou de repetir que
restrições à liberdade de imprensa estão fora de cogitação em seu governo. Mas o
PT insiste, como fez mais uma vez na última sexta-feira, por meio de resolução
aprovada por seu Diretório Nacional reunido em Fortaleza, sob o título
"Democratização da mídia é urgente e inadiável". Com base nessa resolução o PT
vai aderir a uma campanha nacional de coleta de assinaturas para a apresentação
de projeto popular que defina um novo marco regulatório das comunicações.
A Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada no final do governo
Lula, foi uma das mais audaciosas tentativas dos radicais petistas de impor a
mordaça aos veículos de comunicação que não se alinham ao lulopetismo. Planejada
pelo ex-ministro Franklin Martins com a indispensável aprovação de Lula, a
Confecom foi realizada com a participação de pessoas e entidades escolhidas a
dedo para elaborar o projeto de um novo marco regulatório das comunicações à
moda da esquerda petista - da qual o ex-ministro é um dos luminares, ao lado de
José Dirceu e de Rui Falcão. Pouco tempo depois, já na Presidência, Dilma
Rousseff engavetou o tal projeto, declarando que preferia "o barulho da
democracia ao silêncio das ditaduras".
Mas o PT não toma jeito e continua insistindo, contra a opinião também de seu
maior aliado no governo, o PMDB. Na convenção nacional realizada no último fim
de semana, o partido do vice-presidente da República, Michel Temer, aprovou, em
resposta ao documento petista divulgado horas antes, uma moção de "defesa
intransigente da liberdade de imprensa". Numa demonstração clara de que não são
apenas as "elites" ou a "mídia oligopolizada e conservadora" que enxergam a
intenção petista de censurar a imprensa, declarou o deputado federal Lúcio
Vieira Lima, responsável pelo anúncio da moção: "Não podemos permitir que uma
agremiação defenda o cerceamento da liberdade de imprensa. (...) Essa moção é em
defesa do Brasil".
Mais uma vez, deliberada e maliciosamente o PT embaralha a questão do marco
regulatório das comunicações com o controle da mídia, ou seja, a censura. Um
novo marco regulatório das comunicações é necessário e urgente, principalmente
porque o marco em vigor, anterior ao advento da internet, está há muito tempo
defasado. E há questões que precisam ser regulamentadas, especialmente no campo
das telecomunicações. Mas a ambição do PT de fazer aprovar o controle da mídia,
embutido no novo marco regulatório das comunicações, já se transformou em
obstáculo às intenções do Palácio do Planalto de promover a necessária
atualização do estatuto em vigor.
No documento divulgado por seu Diretório Nacional, o PT afirma que o
"oligopólio" que controla a mídia no Brasil "é um dos mais fortes obstáculos,
nos dias de hoje, à transformação da realidade do nosso país". Na verdade, o
grande obstáculo à transformação da realidade, principalmente a das questões
fundamentais da política, tem sido o PT. Em matéria de organização política, há
10 anos no governo o PT faz questão de deixar tudo exatamente como está, pois é
o que interessa a seu plano de perpetuação no poder.
Quem escamoteia os fatos e só divulga o que é de seu interesse é o próprio PT,
que deu uma demonstração patética disso ao montar um grande painel fotográfico
no Congresso Nacional. As fotos que ilustram a trajetória do partido ao longo de
30 anos pulam 2005, o ano do mensalão. Mas os criminosos condenados José Dirceu
e José Genoino aparecem com destaque em fotos relativas, respectivamente, aos
anos de 1992 e 2000. É um exemplo daquilo que os petistas entendem por
"democratização" da informação.
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Leia na Fonte: O Estado de S.Paulo
[20/03/13]
Para ministro das Comunicações, PT mistura lei da mídia com investimento
Inconformado com ataque a desonerações nas telecomunicações, Paulo Bernardo acha
'incompreensível' que partido não separe os temas - por Vera Rosa
No momento em que aumentam as críticas do PT a setores da imprensa, o ministro
das Comunicações, Paulo Bernardo, disse achar "incompreensível" que o partido
"misture" regulação da mídia com investimentos e deflagre uma ofensiva contra as
isenções fiscais concedidas pelo governo às empresas de telecomunicação.
Bernardo garantiu que "não há e nunca vai haver" marco regulatório para jornais
e revistas e mostrou inconformismo com ataques feitos pelo PT ao pacote de
desonerações.
"É incompreensível que um partido que está há dez anos no governo seja contra a
desoneração e critique o nosso esforço para baixar impostos. Será que o PT acha
que são as teles que pagam esse imposto? O custo é alto e quem paga é o
consumidor", afirmou Bernardo, que é filiado ao PT desde 1985.
Contrariado com o que chamou de "erro" do partido, o ministro foi além: "Alguns
militantes nossos misturam regulação da mídia com investimentos em
telecomunicações. Isso não pode acontecer. São assuntos separados".
Em resolução intitulada Democratização da Mídia é Urgente e Inadiável, aprovada
no último dia 1.º, em Fortaleza, o Diretório Nacional do PT conclama o governo a
"reconsiderar" a decisão de adiar o envio ao Congresso do projeto que cria o
marco regulatório das comunicações. No documento, os petistas cobram, ainda, a
revisão das isenções concedidas às empresas e pedem que a presidente Dilma
Rousseff "reinicie o processo de recuperação da Telebrás".
Correção. Bernardo telefonou recentemente para o presidente do PT, o deputado
estadual Rui Falcão (SP), e pediu correção do valor citado na resolução para as
desonerações fiscais. O texto aprovado dizia que o alívio fiscal concedido às
empresas, com o novo Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), alcançava R$ 60
bilhões, número dez vezes maior do que o anunciado pelo governo.
"Eu pedi ao Rui (Falcão) que corrigisse. A nossa previsão é para desonerar R$ 6
bilhões em cinco anos, e não R$ 60 bilhões, como estava na resolução do PT",
disse o ministro. "Com isso, queremos fortalecer a infraestrutura de
telecomunicações no Brasil e baixar preços."
A alteração foi feita no documento publicado no site do PT, mas nada mudou em
relação às cobranças ao governo. Durante o julgamento do mensalão pelo Supremo
Tribunal Federal, no ano passado, petistas acusaram a imprensa de parcialidade
na cobertura, com o objetivo de atingir o partido nas eleições.
Para Bernardo, há "muita confusão" sobre o que é marco regulatório da mídia. "A
Constituição veda a censura e, portanto, o marco regulatório não pode ser
confundido com controle da imprensa nem com nenhum tipo de controle de nada",
insistiu o ministro. "O que não pode é ter discriminação. Além disso, precisamos
de um conteúdo regional na programação. Não é fácil regular isso."
Na prática, Dilma não quer encaminhar ao Congresso o projeto que trata da
regulamentação de rádio e TV porque há resistências à proposta. Em 2014, ano
eleitoral, a discussão do tema ficará ainda mais difícil.
Candidata a um segundo mandato, a presidente não pretende comprar essa briga.
"Esse assunto, de fato, não foi priorizado nos últimos dois anos", reconheceu o
ministro. "Agora, em 2013, a nossa prioridade é o Plano Nacional de Banda Larga
2.0, e a desoneração que fizemos é preparatória para isso."
A intenção do governo é universalizar o acesso à internet. Para isso, o
ministério vai estimular investimentos em redes de telecomunicações, basicamente
em fibra ótica, e também oferecer o serviço por intermédio de satélites ou
rádio.
Iniciativa popular. "O PT é contra qualquer tipo de censura, mas é inadiável o
alargamento da liberdade de expressão e também da democracia nos meios de
comunicação", afirma o deputado Rui Falcão, quando questionado sobre o assunto.
O último documento produzido pelo diretório petista conclama os militantes a
apoiar projeto de iniciativa popular para um novo marco regulatório das
comunicações e cobra do governo a abertura de diálogo com os movimentos sociais
"para democratizar as mídias no País", uma demanda histórica no partido.
No diagnóstico do PT, a manutenção da neutralidade da internet também está
ameaçada "por grandes interesses comerciais". O partido decidiu, ainda, convocar
uma conferência nacional, ainda neste ano, para centrar fogo no polêmico tema.
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Leia na Fonte: Estadão
[21/03/13]
O PT contra o ministro do PT - por Eugênio Bucci
Eugênio Bucci é jornalista e professor da ECA-USP e da ESPM.
A oposição no Brasil vai mal. Marina Silva não sabe se conseguirá legalizar seu
partido - a sua "Rede", que ainda nem nasceu direito e já se encontra ameaçada
de extinção. Eduardo Campos encarna a crise existencial de um triângulo
desamoroso: não discutiu suficientemente a relação entre sua própria pessoa, seu
partido e a diáfana "base aliada" - essa entidade que não tem base, não tem
tantos aliados assim, não ajuda, mas também não atrapalha. Aécio Neves ainda mal
começou e já começou mal: seus pronunciamentos iniciais criticando a presidente
da República por só pensar em reeleição padecem de uma amnésia suicida. Será que
ele não se lembra de que quem só pensava em reeleição era o primeiro governo de
Fernando Henrique Cardoso, que mudou as regras do jogo (durante o jogo) apenas
para faturar um segundo mandato?
Em suma, o governo de Dilma Rousseff corre solto. Ou, também solto, fica parado.
Faz e não faz o que bem quer, fala o que bem entende - e às vezes fala do que
não entende. Sem ser incomodado. O Palácio do Planalto vê subir a inflação e os
índices de popularidade. Em recente pesquisa do Ibope, divulgada nesta semana,
63% dos entrevistados consideram o governo Dilma "bom" ou "ótimo" (eram 62% em
dezembro). Detalhe: para nada menos que 20% dos eleitores brasileiros, Dilma é
melhor que Lula.
Do ponto de vista da presidente-candidata, se melhorar, desanda. Seu grande cabo
eleitoral é a oposição inerte. Nada em seu governo encontra obstáculos. Os
ministérios não conhecem o que seja resistência programática. Todos têm apenas
apoiadores. Todos menos um: o Ministério das Comunicações acabou trombando com
um partido que lhe faz oposição sistemática. Esse vetor oposicionista atende
pelo nome de Partido dos Trabalhadores. Isso mesmo, o PT. O mesmo partido ao
qual o ministro titular da pasta, Paulo Bernardo, é filiado desde 1985, o mesmo
partido que apoia o governo de Dilma Rousseff combate ferozmente o Ministério
das Comunicações.
O PT quer para já a chamada regulamentação dos meios de comunicação. No
documento Democratização da Mídia é Urgente e Inadiável, aprovado dia 1.º de
março em Fortaleza, o Diretório Nacional do PT conclama o governo a enviar ao
Congresso Nacional um projeto de marco regulatório das comunicações. Na
resolução os petistas cobram também a revisão das isenções concedidas às
empresas do setor.
Ontem o Estado trouxe declarações do ministro Paulo Bernardo contestando as
afirmações do partido que lhe faz oposição. Ele qualifica de "incompreensível" a
atitude do partido de misturar dois temas que, na sua visão, são distintos: a
regulação da mídia e investimentos públicos. É também "incompreensível", a seus
olhos, que o PT deflagre uma ofensiva contra as isenções fiscais concedidas pelo
governo às empresas de telecomunicação. "Será que o PT acha que são as teles que
pagam esse imposto?", indaga o ministro. E ele mesmo responde o óbvio: "O custo
é alto e quem paga é o consumidor".
Quanto a isso, a resolução do Diretório Nacional cometeu um erro grave:
multiplicou por dez o valor das desonerações fiscais. Segundo o documento
petista, conforme anotou a reportagem do Estado, em matéria assinada por Vera
Rosa, "o alívio fiscal concedido às empresas, com o novo Plano Nacional de Banda
Larga (PNBL), alcançava R$ 60 bilhões, número dez vezes maior do que o anunciado
pelo governo". A pedido de Paulo Bernardo, o partido corrigiu-se (o valor
correto é R$ 6 bilhões), mas não recuou um dígito sequer na oposição que faz à
pasta das Comunicações.
Paulo Bernardo tem bons argumentos contra seus antagonistas. "A Constituição
veda a censura e, portanto, o marco regulatório não pode ser confundido com
controle da imprensa nem com nenhum tipo de controle de nada", alega. Tem
absoluta razão. Existe, de fato, em algumas áreas da oposição ao Ministério das
Comunicações um certo furor censório, por assim dizer, o que precisa ser
examinado mais de perto.
Em parte por vingança contra os veículos que deram ampla cobertura ao julgamento
do mensalão, em parte por oportunismo populista, há quem argumente à boca
pequena que regular os meios de comunicação é uma forma de enquadrar o
jornalismo, forçando as emissoras a adotar pautas mais favoráveis às agendas
oficiais. Ondas assim vêm se agigantando no Equador, na Venezuela e na
Argentina. Se bem-sucedidas, levarão a uma relativa asfixia dos debates
democráticos. É curioso como existe ainda hoje quem enxergue nesse caminho uma
saída. Mais que curioso, é desconcertante notar que setores da esquerda na
América do Sul tenham tomado para si estratégias autoritárias que as ditaduras
militares tentaram, sem sucesso, impor aos meios de comunicação. O governismo
imposto nunca dá certo - à esquerda ou à direita, tanto faz.
Para complicar ainda mais o irracionalismo do cenário - o partido do governo
fazendo oposição cerrada (não obstante aberta) a um dos ministros do governo -,
temos então esta discrepância: militantes que se dizem democráticos defendendo
políticas autoritárias para enquadrar veladamente o noticiário.
Diante disso, o Ministério das Comunicações erra ao silenciar. Com sua
morosidade acaba dando forças ao PT. Paulo Bernardo bem sabe que o Brasil
precisa de uma nova legislação que dê jeito em vícios graves da radiodifusão;
sabe que isso nada tem que ver com censura, mas com modernizar o mercado,
inibindo ainda mais as possibilidades de censura. Não por acaso, todos os países
democráticos dispõem de marcos regulatórios claros - e, ao menos nesse quesito,
vão muito bem.
O Ministério das Comunicações faria bem se tomasse a iniciativa e convocasse a
sociedade para a elaboração de um novo marco regulatório. Assim, deixaria para
trás as chantagens do PT e o imobilismo dos que querem deixar tudo como está
(como se fosse possível).
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Leia na Fonte: Estadão
[07/03/13]
O PT não está de todo errado - por Eugênio Bucci
Eugênio Bucci é jornalista e professor da ECA-USP e da ESPM.
O Diretório Nacional do PT, reunido em Fortaleza durante o final de semana (dias
1 e 2 de março), divulgou uma nota oficial para "conclamar o governo a
reconsiderar a atitude do Ministério das Comunicações, dando início à reforma do
marco regulatório das comunicações". O partido do governo explicita a sua
divergência com o governo. Ou, mais precisamente, com o Ministério das
Comunicações, que preferiu deixar o assunto para depois.
Com sotaque portenho, o Diretório Nacional proclama: "O oligopólio que controla
o sistema de mídia no Brasil é um dos mais fortes obstáculos à transformação da
realidade do nosso país". O Brasil não é a Argentina, Dilma Rousseff não é
Cristina Kirchner, mas talvez a turma que redigiu o comunicado quisesse mudar
também esses detalhes da "realidade do nosso país". O texto promete convocar uma
"Conferência Nacional Extraordinária de Comunicação do PT, a ser realizada ainda
em 2013, com o tema Democratizar a Mídia e ampliar a liberdade de expressão,
para Democratizar o Brasil".
Até aí não há novidade nenhuma no flamejante palavreado do PT. Desde 2005, pelo
menos, dirigentes da sigla fustigam empresas jornalísticas, numa escalada que
não cessa. Afirmam que o julgamento do mensalão resultou de um complô urdido
pelos donos de jornal em conluio com ministros do STF. Agora, a ameaça de
convocar manifestações e forçar o governo a enquadrar órgãos de imprensa parece
ser mais um capítulo de uma novela já conhecida, um tanto gasta, cujo objetivo é
radicalizar o debate eleitoral que se avizinha. Num ambiente polarizado, será
mais fácil jogar a culpa de todos os males do PT nas costas dos repórteres - e
transformar "o oligopólio que controla o sistema de mídia no Brasil" no vilão do
continente. A campanha de 2014 seria, então, uma campanha contra a "mídia
oligopolizada", o dragão da maldade. O PT entraria na sua própria novela como o
santo guerreiro. Salve, Jorge.
Mas a história não acaba aí. A questão é menos óbvia e mais complexa do que
parece. Fora o panfletarismo e o tom inflamado, quase raivoso, há um ponto no
qual o PT está com a razão. Ao menos em parte, está certo: o marco regulatório
está na ordem do dia. Com ou sem disputa eleitoral, com ou sem maniqueísmos
melodramáticos, o Brasil precisa de um novo marco regulatório da radiodifusão (e
dos mercados conexos). Isso não tem nada que ver com cercear o conteúdo ou
censurar o noticiário (como talvez queiram uns ou outros, petistas ou não), mas
o contrário: a boa regulamentação só aumenta o grau de liberdade, como vemos
hoje nos Estados Unidos, no Canadá e em vários países da Europa. Ela não é
sinônimo de censura. A má regulamentação, ou a ausência dela, é que traz
prejuízos maiores, inclusive para a liberdade.
Como afirmou o Estado em editorial de dois dias atrás, "um novo marco
regulatório das comunicações é necessário e urgente, principalmente porque o
marco em vigor, anterior ao advento da internet, está há muito tempo defasado".
A nova legislação, sem ideologismos, deveria organizar a matéria (hoje dispersa
um espinheiro normativo confuso e obsoleto), promover as atualizações que as
tecnologias digitais exigem, destravar o crescimento do mercado (aprimorando as
condições de concorrência) e arejar ainda mais a democracia (assegurando mais
diversidade ao debate público e à cena cultural).
O PT fala de oligopólios e monopólios. Sem dúvida, precisamos de uma lei que dê
os critérios (numéricos, de preferência) pelos quais se possa definir o que é
monopólio ou oligopólio numa dada região (critérios que hoje não existem), mas
esse está longe de ser nosso único entrave. Mais sério, hoje, é o problema da
fusão indiscriminada de igrejas, partidos políticos e emissoras (ou redes
inteiras) de rádio e televisão, o que tende a ferir a laicidade do Estado (e a
radiodifusão, sendo serviço público, deve primar pela observância da mesma
laicidade que vale para o Estado), o fisco e a concorrência leal entre as
empresas (pois as igrejas gozam de benefícios tributários que as emissoras não
têm e, se a separação entre as duas esferas não for rígida, as emissoras podem
encontrar reforços financeiros impróprios quando se associam a igrejas). Sobre
esse assunto a nota do PT não fala nada.
A influência crescente de políticos sobre empresas de comunicação é outro vício
grave. Há parlamentares que são acionistas, parentes de acionistas ou mesmo
dirigentes de emissoras, o que gera um flagrante conflito de interesses: como o
Congresso Nacional é chamado a falar na concessão de canais de rádio e TV, seus
integrantes não deveriam ter parte com esses negócios. Também por isso um novo
marco regulatório é urgentemente necessário.
Há mais. O uso abusivo da propaganda de governo tem permitido ao poder uma
interferência crescente sobre os meios de comunicação. Embora o governo federal
mantenha esses gastos em patamares relativamente estáveis há anos, os governos
de Estados e municípios vêm expandindo sem limites a sua publicidade. A ocasião
de rever o marco regulatório seria uma oportunidade para disciplinar também essa
matéria. Sem restrições, a verba de publicidade governamental concorre para
desequilibrar e desvirtuar o mercado, arranhando o ambiente de liberdade de
imprensa. Lembremos que na Argentina, onde há uma conflagração entre órgãos de
imprensa e governo, o kirchnerismo elevou os gastos de publicidade oficial de 46
milhões de pesos em 2003 para 1,5 bilhão em 2011 (cerca de US$ 300 milhões).
Recusar o debate sobre um novo marco regulatório só porque a ideia foi abraçada
pelo PT é um erro primário. Estamos falando aqui de uma necessidade estrutural
do mercado e da democracia, não de uma bandeira de esquerda. Se alguns se
aproveitam dessa necessidade para pedir censura, cabe aos democratas de qualquer
partido esclarecer, limpar o terreno e propor a modernização necessária. Que já
tarda.
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02/03/11
• Marco
Regulatório das Comunicações - Posicionamento do Clube de Engenharia
Agradeço ao participante Marcio Patusco Lana Lobo pela remessa do
documento contendo o "Posicionamento do Clube de Engenharia" em relação
ao "Marco Regulatório das Comunicações".
Márcio é o titular de um website sobre a
1ª Confecom, organizado a partir das suas mensagens veiculadas em nossos
Grupos.
Marcio Patusco Lana Lobo é formado em Engenharia de Telecomunicações pela PUC-RJ em 1973, trabalhou na NEC do Brasil na implantação da Rede Nacional de Telex da Embratel, e posteriormente na própria Embratel, onde coordenava o planejamento de introdução de novas tecnologias. Foi representante brasileiro em reuniões da União Internacional de Telecomunicações - UIT, e autor do livro RDSI a Infraestrutura para a Sociedade da Informação. Atualmente atua na Divisão Técnica de Eletrônica e Tecnologia da Informação - DETI - do Clube de Engenharia e nas Comissões Brasileiras de Comunicações - CBCs - da Anatel.
Recorto da mensagem que encaminhou o documento, este trecho explicativo:
(...) Minha Divisão
Técnica, acompanhou todas as etapas da Confecom, em seguida, o Seminário de
Convergência de Mídias organizado pela Secom, e agora nos preparamos para a
discussão do Marco Regulatório como representantes da sociedade civil.
Na semana passada estive no evento Políticas de Telecomunicações em Brasília,
onde estiveram presentes O Ministro Paulo Bernardo, o Presidente da Anatel,
Ronaldo Sardenberg e o Secretário de Comunicações Cezar Alvarez, entre outros.
Os assuntos, como não poderia deixar de ser foram basicamente, Marco
Regulatório, PNBL e PGMU III. Com relação à nova lei de comunicações, me parece
bastante importante a manifestação da sociedade em geral a respeito, razão pela
qual o Clube de Engenharia se posicionou, como sempre com colocações em defesa
da Engenharia e da Indústria genuinamente nacionais, seus profissionais, e
considerando ainda critérios democráticos de responsabilidade social. (...)
Obrigado, Márcio! Sucessso!
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CLUBE DE ENGENHARIA
FUNDADO EM 24 DE DEZEMBRO DE 1880
Marco Regulatório das Comunicações
Posicionamento do Clube de Engenharia
O Clube de Engenharia, com seus 130 anos de história em defesa da Engenharia,
dos seus profissionais e da indústria genuinamente nacional, acompanha e tem
procurado dar sua contribuição na formulação de um novo texto regulatório para o
setor de comunicações no Brasil.
Desde a Conferência Preparatória de Comunicações em 2007, passando pela
realização da Conferência Nacional de Comunicações - Confecom - em 2009, e ainda
pelas recomendações da UIT - União Internacional de Telecomunicações - face às
necessidades de adequação das regulamentações às novas realidades tecnológicas,
já havia o entendimento de que o arcabouço regulatório brasileiro nas
comunicações se constituía de um conjunto fragmentado e desatualizado de leis
que não atendiam aos requisitos da convergência digital e dos anseios da
sociedade pela democratização da comunicação.
No final de 2010, a Secom – Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República –, após evento que uma vez mais evidenciou a necessidade das mudanças,
reuniu um conjunto de proposições para compor uma nova Lei de Comunicação que
seria levada como contribuição ao novo governo eleito para se constituir, após
as devidas discussões, no novo Marco Regulatório para o setor.
O Clube de Engenharia reconhece que os avanços tecnológicos e o surgimento de
novas modalidades de comunicação e transmissão de informações e dados tornaram
anacrônico o arcabouço regulatório brasileiro nas comunicações. Cria-se,
portanto, a inadiável necessidade de construir um novo conjunto de leis. Para o
Clube estas leis devem ter como diretrizes:
• a convergência tecnológica, em seus diversos aspectos;
• a manutenção do controle público sobre os meios de comunicação;
• a valorização da cultura brasileira e do aumento do nível cultural de nossa
sociedade;
• a democratização do acesso à informação pela população brasileira;
• e o desenvolvimento tecnológico que leve à expansão da Engenharia e das
empresas genuinamente nacionais.
Entendendo que as modificações técnicas e sociais a serem introduzidas no Novo
Marco Regulatório das Comunicações deverão beneficiar o conjunto da sociedade
brasileira, bem como adequar as leis brasileiras a um ambiente moderno de
prestação de serviços, dentre as diversas propostas de mudanças que vêm sendo
colocadas como necessárias, o Clube de Engenharia apóia as mencionadas a seguir.
- A nova lei deve abordar telecomunicações e radiodifusão dentro do mesmo
arcabouço regulatório de forma a poder acomodar as características de serviços
convergentes;
- A Banda Larga deve ter tratamento de serviço público de modo a incluir
requisitos de universalização, qualidade, continuidade e tarifas;
- Estabelecer regras que definam os requisitos de outorgas e propriedade dos
meios e serviços de telecomunicações, como por exemplo, os limites ao capital
estrangeiro, a proibição à propriedade cruzada, o impedimento à formação de
monopólios e oligopólios, e restrição a que políticos com mandato possam ser
proprietários de empresas de comunicação, buscando a pluralidade e a prevalência
do interesse público;
- Separar as capacitações de rede das de conteúdo, estabelecendo regras de
prestação de serviços para cada uma delas e criando formas de fomento que
propiciem incentivos à cadeia produtiva nacional para cada um desses segmentos;
- Estabelecer um novo arranjo institucional das comunicações que defina
claramente as áreas de atuação das agências e dos ministérios, e que venha a
fortalecer a função do Estado brasileiro na defesa dos interesses da nossa
sociedade;
- Regulamentar os artigos 220 (liberdade de expressão), 221 (produção e
programação de rádios e TVs), 222 (propriedade dos meios de comunicação), 223
(outorgas e concessões) e 224 (conselho de comunicação social) da Constituição
de 1988, até hoje sem as leis respectivas, procurando dar meios para que a
sociedade garanta direito de acesso à informação convivendo com regras para sua
veiculação;
- Estabelecer cotas de programação regional, nacional e independente para TV
aberta e por assinatura, de modo a desenvolver mercados para a cultura e
produções nacionais;
- Criar regras para permitir a utilização dos recursos do Fust, Funttel e Fistel,
e outros incentivos fiscais específicos, na aquisição de recursos de rede, em
pesquisa e desenvolvimento para a inovação em novos sistemas nas empresas, em
centros de pesquisa e universidades e no fomento das empresas genuinamente
nacionais;
- Possibilitar incentivos fiscais em áreas estratégicas de serviços de forma a
subsidiar segmentos de mercado de menor poder aquisitivo e para o incentivo ao
desenvolvimento da indústria nacional;
- Fortalecer e melhorar a qualidade dos instrumentos de radiodifusão do estado,
como forma de realizar difusão cultural, bem como dar concessão de canais
abertos a organizações da sociedade civil sem fins lucrativos, visando
possibilitar uma maior democratização na comunicação de massa;
- Fortalecer a atuação da Telebrás para assegurar a universalização do acesso
aos mais diferentes meios de comunicação, utilizando para isto a implantação do
Plano Nacional de Banda Larga – PNBL.
- Dentro das ações previstas no PNBL, dar prioridade crescente na aquisição de
equipamentos e contratação de bens e serviços nacionais, tanto aos centros de
pesquisa, com destaque ao CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento –, quanto
às empresas de capital nacional, inclusive como forma de reverter a
desindustrialização que caracteriza o setor, responsável por seguidos déficits
na balança comercial de produtos eletroeletrônicos.
O Clube de Engenharia acredita que a adoção dessas propostas que comporiam o
novo Marco Regulatório e suas consequentes implementações, associadas a
definições que estabeleçam uma política industrial para o setor, criarão as
condições de um novo desenvolvimento da indústria e da engenharia com cadeia
produtiva nacional, permitindo que, paralelamente, o país esteja capacitado a
prestar serviços com maior abrangência e qualidade aos seus cidadãos, observando
critérios democráticos de responsabilidade social.