WirelessBRASIL

WirelessBrasil  -->  Bloco Tecnologia --> Índice de 2013 --> "Post"

Obs: Os links indicados nas transcrições podem ter sido alterados ao longo do tempo. Se for o caso, consulte um site de buscas.


23/10/13

• Marco Civil da Internet: "Carta de intenções" a ser regulamentada posteriormente pelo governo? + Matérias recentes

Olá, "WirelessBR" e "telecomHall Brasil"!

01.
Na recente série de mensagens "contando a história" da Telebrás, registrei uma referência ao então deputado (hoje senador) Walter Pinheiro
(PT-BA), que considerei sensata:
(...)
Em 29 de abril de 2010 o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), declara que vê impossibilidade de alterar o estatuto da estatal sem aprovação de lei específica. “A Telebrás foi criada por lei e somente poderá ter suas atribuições alteradas por meio de nova lei, que não poderá ser aprovada ainda este ano”, argumenta.(...)
"Na opinião do deputado, o governo deve botar para funcionar o programa sem a necessidade de reativar ou criar uma nova empresa para esse fim. “As fibras óticas podem ser administradas pelas próprias empresas que as detêm, enquanto uma equipe, instalada, por exemplo, no Ministério das Comunicações, se encarrega da operação da rede”, sugere." (...)

02.
Anteontem, Pinheiro fez outra declaração, desta feita sobre o Marco Civil da Internet, que também considero sensata (o grifo é meu):
(...)
O senador Walter Pinheiro (PT-BA) defendeu, nesta segunda-feira (21), um maior detalhamento da neutralidade de rede no Marco Civil da Internet, deixando claro que não pode haver discriminação inclusive para provedores de conteúdo. “Não é possível deixar que essa questão seja regulamentada pela Anatel se a diretriz não estiver definida”, afirmou. Pinheiro já admite que o projeto será emendado no Senado, para que fique mais claro. "O projeto não pode ser uma carta de intenções", assinalou. (...)

Comento: em todos os textos do projeto já divulgados, este trecho do artigo 9º (o tal da "neutralidade") está intacto (o grifo é meu):
(...) Art. 9º
O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicativo.
§ 1º A discriminação ou degradação do tráfego será regulamentada pelo Poder Executivo e somente poderá decorrer de:   (...)

Quem acompanha a mídia, como nós fazemos, sabe que, em alguns momentos, as relações entre o Governo e a teles oscilam entre uma aparência de uma grande família ou de uma grande roda de amigos e, nestes casos, fica uma estranha sensação de algo incestuoso ou promíscuo.
Concordo com o senador Pinheiro e opino: aprovar o Marco Civil como uma "carta de intenções" para posterior regulamentação pelo Executivo é algo extremamente arriscado.
Quanto mais detalhe, melhor!
É preciso deixar muito claro qual é o "espírito do legislador"! (Ver matéria no final desta página, garimpada no baú do WirelessBRASIL:
O espírito do legislador e o inconsciente por Giselle Groeninga)

03.
Faço uma observação, talvez uma desinformação da minha parte.
Salvo engano, creio que não haja uma definição oficial do que seja "neutralidade" da rede.
O projeto de Marco Civil não cita explicitamente o termo "neutralidade".
A palavra "'neutralidade" aparece, en passant, no Regulamento do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM):
(...)
Art. 75. As Prestadoras de Serviço de Comunicação Multimídia devem respeitar a neutralidade de rede, conforme regulamentação, nos termos da legislação. (...)
A conferir.

04.
Ainda sobre o texto do Marco Civil.
Quem, fora do governo, está defendendo hoje o Marco Civil da Internet, com unhas e dentes, o faz de modo genérico, pois o texto final do Projeto ainda não está definido e não se sabe que barbaridades poderá conter. Já se tentou votar o projeto várias vezes.
E, por incrível que pareça, o governo ainda mexe e remexe do dito cujo:
"
Diversos órgãos do governo se reuniram na última quinta, 10 [de outubro], para bater o martelo na versão final do texto do Marco Civil da Internet. O texto está praticamente fechado, diz uma fonte, com exceção do parágrafo segundo do artigo 15, sobre o qual ainda há uma certa polêmica."

05.
Em um "post" de novembro de 2012 destaquei este trecho de uma das matérias, um resumo-resumido de todo este imbróglio:
(...)
Para entender o princípio do Marco Civil da Internet, é preciso retroceder às primeiras leis que queriam controlar e monitorar a web. Com medo de que as propostas restringissem a liberdade dos usuários, o Ministério da Justiça e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro propuseram, em 2009, uma espécie “Constituição” online.
O texto passou por uma consulta pública inovadora em WordPress, sofreu várias modificações, foi para a Casa Civil e só em 2012 chegou à Câmara. Nas mãos dos deputados, o projeto ainda correu por audiências, consultas e enfim foi formatado na versão que Molon apresentou na primeira semana de julho. Mas não houve consenso para a votação.
Todas as tentativas de votação esbarraram em conflitos com os deputados e nos interesses comerciais de empresas de telecomunicações, da indústria cultural e das empresas de internet.(...)

06.
Recorto de outro "post", este de dezembro e 2012 o trecho de uma matéria:
(...) O projeto petista de domesticar a Internet foi apresentado pela Presidente Dilma Rousseff em 24/08/2011 e converteu-se no Projeto de Lei 2126/2011, que “estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil”. A proposição, apelidada de Marco Civil da Internet, pretende ser “um primeiro passo no caminho legislativo”, conforme palavras dos autores do anteprojeto entregue à presidente. Se aprovado, muitas outras medidas virão para disciplinar a rede.

Não é crível que o PT esteja preocupado em zelar pela “privacidade”, “acesso à informação” e “liberdade de expressão” dos usuários, como aparece no texto do projeto. De fato, o PT é, por sua índole, um partido totalitário. Sempre se notabilizou por cercear a liberdade dos dissidentes, por censurar as informações desfavoráveis e por impor a todos a sua ideologia. Crer que o PT cuidará para que a Internet seja livre é o mesmo que crer que a raposa cuidará bem do galinheiro ou que o cabrito será um bom vigia da horta.

O texto do PL 2126/2011, na forma do substitutivo apresentado pelo relator Alessandro Molon (PT/RJ)[4], deve ser lido com muita cautela. O importante não está nas “boas intenções” descritas (“promover o acesso da Internet a todos”, “assegurar a liberdade de expressão e evitar a censura”...), mas nas exceções previstas para os direitos, bem como nos princípios (art. 3º), fundamentos (art. 2º) e regras de interpretação (art. 6º) da lei. (...)

07.
Quem bom que a Proteste se manifestou sobre o Marco Civil (ver matéria mais abaixo)!

08.
Muitas entidades e jornalistas também estão se manifestando e a blogosfera está muito ativa.
Quando se mobiliza a sociedade, mesmo com boas intenções, é preciso ter muito cuidado.
Dou um exemplo contundente, pouco divulgado, mas registrado nos "arquivos implacáveis" do WirelessBRASIL.
Creio que todos se lembram da famosa "Petição do AI-5 Digital", contra o não menos famoso "PL Azeredo".
A petição foi divulgada alguns dias antes do Senado ter melhorado - e muito! - o "PL Azeredo" (parece mentira, graças ao senador Mercadante...)
E o povo, desinformado, continuou votando no texto da petição, que já tinha caducado. Os autores, lamentavelmente, não tiveram a grandeza de corrigir a petição, que atingiu mais de 160.000 signatários.

09.
Para formação de opinião, transcrevo mais abaixo estas matérias recentes:

Leia na Fonte: Tele.Síntese
[22/10/13]  Marco Civil: Valente quer mais tempo para a construção do entendimento - por Miriam Aquino

Leia na Fonte: Tele.Síntese
[21/10/13]  Pinheiro defende maior detalhamento da neutralidade de rede no Marco Civil - por Lúcia Berbert

Leia na Fonte: Teletime
[21/10/13]  Em carta aberta, ProTeste denuncia "forte lobby" das operadoras contra o Marco Civil - por Helton Posseti

Leia na Fonte: Convergência Digital
[21/10/13]  Para deter os EUA, Brasil e Europa negociam regras comuns para computação em nuvem - por Ana Paula Lobo

Leia na Fonte: Convergência Digital
[21/10/13]  União Europeia: "Neutralidade de rede é o que mantém a Internet aberta" - por Luís Osvaldo Grossmann

Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
Portal WirelessBRASIL

------------------------------

Leia na Fonte: Tele.Síntese
[22/10/13]  Marco Civil: Valente quer mais tempo para a construção do entendimento - por Miriam Aquino

O presidente do grupo Telefônica Vivo acha que é preciso "pacificar os conceitos".

O presidente do grupo Telefônica Vivo, Antonio Carlos Valente, acha que é preciso mais tempo para o Congresso Nacional construir o consenso em torno do Marco Civil da internet. Segundo o executivo, os debates travados ontem no Futurecom entre o setor e os parlamentares demonstraram que não há consenso no Legislativo sobre o que o projeto de lei está de fato regulando. "É preciso pacificar o entendimento", defendeu.

O projeto de lei, que está sob urgência constitucional a pedido da presidente Dilma Rousseff, começa a trancar a pauta da Câmara dos Deputados a partir do dia 28 deste mês, caso não seja votado até lá. Ao trancar a pauta, todos os demais projetos de interesse do governo deixam de ser aprecidados pelos deputados enquanto não for votado.

Valente observou que o projeto trata de duas questões fundamentais relacionadas à internet - os direitos fundamentais e a regulação dos agentes econômicos. No caso dos agentes econômicos, ele observa, no entanto, que não há qualquer artigo em todo o projeto que trate dos investimentos.

Segundo o executivo, as teles não são contrárias à neutralidade da rede como princípio, mas acham que ela não pode amarrar ou impedir os usuários de comprarem pacotes de serviços diferenciados.

---------------------------------------

Leia na Fonte: Tele.Síntese
[21/10/13]  Pinheiro defende maior detalhamento da neutralidade de rede no Marco Civil - por Lúcia Berbert

Senador disse, na abertura da 15ª Futurecom, que poderá emendar projeto.

O senador Walter Pinheiro (PT-BA) defendeu, nesta segunda-feira (21), um maior detalhamento da neutralidade de rede no Marco Civil da Internet, deixando claro que não pode haver discriminação inclusive para provedores de conteúdo. “Não é possível deixar que essa questão seja regulamentada pela Anatel se a diretriz não estiver definida”, afirmou. Pinheiro já admite que o projeto será emendado no Senado, para que fique mais claro. "O projeto não pode ser uma carta de intenções", assinalou.

A posição do senador difere frontalmente da que foi defendida pelo deputado Jorge Bittar (PT-BA), que quer no texto apenas generalidade, deixando o detalhamento para a regulamentação. “A internet é muito dinâmica, não pode ser amarrada”, argumentou. Ou seja, o projeto de lei que tramita na Câmara há dois anos não obtém consenso nem no Partido dos Trabalhadores e precisa ser votado até o final deste mês, quando vence o prazo da urgência constitucional.

No debate promovido pela Telebrasil na 15ª Futurecom, aberta nesta segunda-feira no Riocentro, não faltaram divergências sobre a neutralidade de rede. O presidente da Abranet, Eduardo Nager, o conselheiro da Anatel, Rodrigo Zerbone, defenderam o texto do relator sobre o tema. Segundo Zerbone, ele está condizente com o que diz a LGT (Lei Geral de Telecomunicações). “A norma diz que os provedores de conteúdo têm que ser tratados como usuários e, em outro artigo, proíbe discriminação dos usuários”, sustenta.

O diretor do Etno (a associação dos teles na Europa), Carlos Lopes, e o diretor-executivo do SindiTelebrasil, Eduardo Levy, entendem que é preciso flexibilizar a neutralidade, para permitir a otimização da rede. “Mas para isso, não é preciso discriminar conteúdo”, rebate o senador.

Investimentos

O representante da União Europeia, Carlos Albuquerque, disse que não comentaria o projeto do Marco Civil brasileiro, mas disse que há uma proposta de um novo marco regulatório da economia digital na Europa que defende a neutralidade de rede como a única forma de manter a internet aberta. “Sem internet aberta não há como conectar a todos”, ressaltou.

Já o representante do Morgan Stanley, Diego Aragão, asseverou que o banco não recomenda investimentos em telecomunicações no Brasil em função da alta carga tributária que incide sobre o setor e pelo baixo retorno do capital investido. “A selic tem taxas maiores que a recuperação obtida pelas empresas”, salientou.

------------------------------------

Leia na Fonte: Teletime
[21/10/13]  Em carta aberta, ProTeste denuncia "forte lobby" das operadoras contra o Marco Civil - por Helton Posseti

A ProTeste, associação de consumidores, entregará na próxima quarta, 23, a deputados e senadores uma carta aberta pedindo a aprovação do PL 2.126 de 2011 – o Marco Civil da Internet – com garantia de neutralidade de rede e liberdade de expressão. A associação se reunirá com os integrantes das Comissões de Defesa do Consumidor e de Ciência e Tecnologia e lideranças dos partidos.

No documento a associação critica o que chamou de "forte lobby" das operadoras para alterar o texto proposto pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ), relator da matéria. A ProTeste defende a manutenção do texto do artigo 9º, que obriga os provedores de conexão (as teles) a tratar de forma isonômica qualquer tipo de pacote de dados.

Além disso, a associação defende a exclusão do parágrafo segundo do artigo 15, segundo o qual o provedor pode ser responsabilizado caso não retire do ar conteúdo que infringe direitos autorais quando for notificado. Para os demais tipos de conteúdo, a responsabilização do provedor se dá quando ele não cumprir ordem de judicial de retirada.

"Sob o falso argumento de defesa dos direitos autorais há empresas no setor de radiodifusão também fazendo lobby. Querem que uma simples notificação possa criar responsabilidade para o provedor caso mantenha a publicação de conteúdo que contrarie os interesses privados destes grupos econômicos. Fica evidente a intenção de criar mecanismos lesivos de censura privada", diz a carta aberta.

Outro pedido da ProTeste na carta aberta é para que seja mantido o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI) "para coordenar e integrar todas as iniciativas de Internet no País". Em uma das primeiras versões do relatório do deputado Molon, o CGI deveria ser "ouvido" para se definir as exceções em que a regra da neutralidade poderia ser quebrada. O texto atual, entretanto, estabelece que essas exceções serão estabelecidas pelo Poder Executivo.

A carta da ProTeste aparece em um momento crucial para o Marco Civil da Internet. Isso porque, de acordo com o prazo da urgência constitucional solicitada pela presidenta Dilma Rousseff para o projeto, ele tem até o dia 28 de outubro para ser votado na Câmara dos Deputados. Caso contrário, a pauta da Casa passa a ser bloqueada até a sua votação.

--------------------------------------

CARTA ABERTA AOS DEPUTADOS FEDERAIS E SENADORES DA REPÚBLICA

PELA APROVAÇÃO DO MARCO CIVIL DA INTERNET COM GARANTIA DE NEUTRALIDADE DAS REDES E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A PROTESTE Associação de Consumidores vem à público denunciar o forte lobby que as operadoras de telecomunicações vêm fazendo para alterar o Projeto de Lei nº 2126/2011 (Marco Civil da Internet). Querem restringir o acesso amplo e sem discriminação às redes de banda larga.

Defendemos a manutenção do texto do artigo 9º, do PL, que obriga os provedores do serviço de acesso à internet a tratar de forma isonômica todo e qualquer consumidor, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicativo, sendo vedada qualquer discriminação ou degradação do tráfego de dados.

Além disso, a Associação quer que se garanta a liberdade de expressão, e que os conteúdos publicados na internet só possam ser retirados por ordem judicial.
Sob o falso argumento de defesa dos direitos autorais há empresas no setor de radiodifusão também fazendo lobby. Querem que uma simples notificação possa criar responsabilidade para o provedor caso mantenha a publicação de conteúdo que contrarie os interesses privados destes grupos econômicos. Fica evidente a intenção de criar mecanismos lesivos de censura privada.

Queremos garantir a manutenção do Comitê Gestor da Internet, órgão criado desde 1995, para coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços de Internet no país. Ele promove a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados com excelência reconhecida internacionalmente, e é composto por representantes de diversos segmentos da sociedade e governo.

------------------------------

Leia na Fonte: Convergência Digital
[21/10/13]  Para deter os EUA, Brasil e Europa negociam regras comuns para computação em nuvem - por Ana Paula Lobo

Para reconstruir a confiança do consumidor na oferta dos serviços em nuvem - abalada, de acordo com o ministro conselheiro da União Europeia no Brasil, Augusto de Albuquerque, Brasil e Europa negociam a adoção de regras comuns para validar as ofertas de cloud. A proposta tem uma série de ações, mas uma delas é considerada essencial: o estabelecimento de uma multa de 2% na receita global das empresas que venham a usar a espionagem para obter informações de terceiros.

"Só há uma maneira de empresas capitalistas sentirem o efeito da lei que é a punição que venha a doer no bolso. Estamos propondo isso na Europa. E a instituição da multa. Esse artigo poderá virar lei e será votada em abril de 2014", informou Albuquerque, que participou nesta segunda-feira, 21/10, do painel sobre Marco Civil da Internet, realizado como pré-evento do Futurecom 2013.

Albuquerque ressaltou que as preocupações do Brasil e da Europa no mundo da computação em nuvem são bastante semelhantes: garantir a confidencialidade e a integridade dos dados. "Isso é crucial para que tenhamos serviços sólidos. O momento é o de restaurar a confiança nessas ofertas, uma vez que ela ficou muito abalada com a comprovação da espionagem das agências dos EUA", sustentou, deixando claro que esse é o momento para que empresas europeias e brasileiras ganhem mais espaço e minimizem o poderio das americanas.

"Queremos uma norma comum para ter uma indústria não dependente dos Estados Unidos e a sua espionagem sistemática", reiterou.Entre as medidas que serão votadas pelo Parlamento Europeu está também a obrigatoriedade de os dados dos europeus ficarem hospedados no território europeu.
"A transferência de dados é uma realidade e não há como impedir, mas podemos e queremos ter os dados das nossas empresas em nosso território e não onde o provedor americano quer hospedar", detalhou.

Vale lembrar que a obrigatoriedade do armazenamento de dados também é questão exigida pela presidenta Dilma Rousseff, após a descoberta das ações de espionagem dos Estados Unidos nos e-mails do governo e de estatais, como a Petrobras. Não se sabe, porém, se essa ação virá no Marco Civil da Internet ou na Lei de Proteção de Dados Pessoais, que está em formulação pelo ministério da Justiça. A ação comum entre Brasil e Europa será debatida em um workshop em Brasília, agendado para o dia 11 de novembro. Outra ação importante para consolidar a oferta de serviços na nuvem é a integração entre as startups brasileiras e europeias. Já há uma ação em curso que é o intercâmbio de conhecimento e de negócios entre as startups europeias e brasileiras.

---------------------------------

Leia na Fonte: Convergência Digital
[21/10/13]   União Europeia: "Neutralidade de rede é o que mantém a Internet aberta" - por Luís Osvaldo Grossmann

Futurecom 2013 - Cobertura especial - Patrocínio: Embratel

O representante da União Europeia no Brasil não mediu palavras para defender a neutralidade de rede durante o debate promovido sobre o Marco Civil da Internet, pré-evento que reuniu operadoras e políticos no Futurecom 2013, que acontece até o dia 24/11, no Rio de Janeiro.

“A neutralidade de rede é o que mantém a Internet aberta”, sustentou Augusto de Albuquerque. “O usuário é que decide que conteúdo quer, não o operador, nem o governo. Bloquear e estrangular peer-to-peer e voz sobre IP é inaceitável como gestão de tráfego pelas operadoras. Não concordamos que para fornecer qualidade sejam tomadas atitudes discriminatórias.”

O depoimento veio a calhar porque nesta mesma semana a Comissão Europeia deve se posicionar sobre o novo pacote de medidas que afetam diretamente o setor de telecomunicações mas que, como explicou, parte de uma abordagem mais abrangente. “Estamos a tratar como a economia digital pode afetar todos os outros setores”, insistiu.

Embora a abordagem na Europa caminhe para o que as operadoras de lá consideram como “mais flexível que o Marco Civil”, o representante da UE foi taxativo: “O problema é que não há regras claras sobre neutralidade de rede na UE, deixando mais de 90% dos europeus sem proteção legal a seu direito de acesso a uma internet aberta.”

Lá, onde a tentativa de legislar foi precedida de um amplo estudo, verificou-se que 94% dos prestadores de serviço de telecomunicações bloquearam serviços ‘concorrentes’ – aplicações como Skype, por exemplo. “Se as companhias querem diferenciar suas ofertas, têm todo o direito de fazer isso, mas atitude discriminatória, não”.

Para o diretor do Sinditelebrasil, Eduardo Levy, as empresas que atuam no Brasil concordam. “Não queremos ler conteúdo de nada ou discriminar conteúdo. Mas sem uma leitura mínima dos dados não temos como ter uma rede bem gerenciada. Não concordamos com alguns pequenos e fundamentais detalhes [do projeto] que poderão restringir investimentos futuros das empresas.”

Detalhes

O debate também evidenciou que divergências continuam – e começam dentro do partido da presidenta da República, que quer ‘urgência’ na votação do Marco Civil. Com a ausência do relator, deputado Alessandro Molon, outros dois petistas, o senador Walter Pinheiro (BA) e o deputado Jorge Bittar (RJ), mostraram que o tema não está pacificado sequer ‘internamente’.

Para Bittar, que foi bastante crítico ao texto, “o problema é que o Marco Civil entrou na regulação econômica da Internet na questão da neutralidade, e entrou em um nível de detalhamento que não precisaria; poderia deixar para a Anatel regulamentar. Prefiro uma redação de caráter mais claro, geral, com limites que não sejam estabelecidos rigidamente em lei”.

Ansioso para que o projeto chegue logo ao Senado, Pinheiro defende o oposto. “É importante escrever as diretrizes. A regulamentação não será na lei, mas se não deixarmos claras as diretrizes, vai se escrever o que? Não pode sair da cabeça da Anatel, porque vai dar problema”, avalia, ao defender uma lei menos genérica. “Se a Câmara não incluir, vamos ter que reescrever no Senado.”

-----------------------------------

Fonte: Instituto Brasileiro do Direito da Família
[18/08/04]  
O espírito do legislador e o inconsciente por Giselle Groeninga

Origem: Boletim do IBDFAM nº 27
 
É comum aos operadores do Direito falar do espírito do legislador em suas argumentações, mormente em tempos de hermenêutica. Já para os leigos, o espírito do legislador assemelha-se mais a uma entidade que é invocada nas dificuldades, referendando o que estaria, a partir de determinado ponto de vista, latente na letra da lei. Quanto mais abertas as cláusulas, mais tende-se a tentar apreender e interpretar qual teria sido a intenção do legislador, e muitas vezes se tem até a impressão que se tenta transferir para este o peso da responsabilidade e as inerentes dificuldades trazidas pela interpretação da lei e sua aplicação nas relações humanas, que têm a característica de escapar à um excesso de lógica que se tenta lhes imprimir.
 
Apreender o espírito do legislador representa um esforço extra, uma vez que o entendimento da norma deveria ser claro à maioria das pessoas. As dificuldades deveriam estar mais na aplicação às particularidades das relações, e menos no compreender e dizer o Direito. Mas, como sabemos, ele está sujeito à dinâmica e à subjetividade das relações, não só em sua aplicação, mas nas fontes e em sua formulação....
 
A interpretação do espírito do legislador seria o equivalente a desvendar, por meio dos instrumentos da lógica, aquilo que não se revela diretamente à consciência. Mas, por vezes, é preciso ousar por outros caminhos. Há leis que representam um verdadeiro labirinto em que se faz necessário um fio de Ariadne para que possamos adentrá-lo e encontrar caminhos possíveis, sobretudo quando a lei é confusa, como no caso da sucessão dos cônjuges ou companheiros. Neste caso, cabe ir além da mera interpretação da lógica contida na norma, e buscar que estaria por trás de tal confusão e que produz, como se tem visto, interpretações das mais diversas e mesmo contrárias, vindas dos mais renomados juristas. Ler mais