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Leia na Fonte: Teletime
[10/03/17]
Datora defende utilização de MVNOs para IoT em vez de roaming permanente -
por Bruno do Amaral
A solução para a questão do roaming permanente em Internet das Coisas (IoT) no
Brasil pode não exigir mudanças drásticas no modelo atual, mas sim um meio termo
entre a total liberação e restrição, com a participação de uma empresa local
como representante de tele estrangeira. "O meio termo sou eu", declara o
presidente da operadora móvel virtual (MVNO) brasileira Datora, Tomas Fuchs.
A empresa tem em seu modelo comercial uma parceria atacadista com a operadora
Vodafone há mais de dois anos para atuar no País com serviços de
máquina-a-máquina (M2M) utilizando a rede da TIM, atendendo aos requisitos
regulatórios da Anatel e, especialmente, lidando com o complexo sistema
tributário brasileiro. "O nosso projeto foi todo em cima disso (a proibição do
roaming permanente), e nos últimos anos temos cases de sucesso", diz,
salientando não ver benefícios se o Brasil liberar a situação para teles
estrangeiras.
No argumento de Fuchs, há questões de soberania nacional também, como a
necessidade de armazenamento de dados por cinco anos e o atendimento à
legislação em eventuais quebras de sigilo. Tampouco o argumento técnico de
complexidade para atribuição de perfis de SIMcard em equipamentos – como um
módulo em um carro, por exemplo – é aceito pelo executivo, uma vez que a Datora
trabalha com atualizações over-the-air (OTA) de SIMs "chapa branca" para o
Brasil. Assim, não é necessário que a fabricante em outro país precise saber de
antemão o destino final do produto.
Do lado tributário, a justificativa é que o problema vai além da coleta do
Fistel. "Uma empresa vendendo fora do Brasil tem uma diferença enorme para a
gente, ela sai sem Fistel, PIS/Cofins, Fust e Funttel; e se considerar estados
como o Rio de Janeiro, ainda têm um valor mais alto do ICMS", explica. "Teria
que ter uma filial em cada estado por causa do ICMS, como o cara vai contribuir
para cada um?", indaga. O modelo de MVNO, sugere Fuchs, seria o mais adequado
porque atende às obrigações e consegue lidar com uma base grande de acessos com
receita média (ARPU) baixa, focando nos serviços.
Pressão externa
A pressão das operadoras internacionais é grande, inclusive da própria Vodafone.
Na contribuição à consulta pública sobre Internet das Coisas da administração de
telecomunicações e informações do departamento de comércio dos Estados Unidos (NTIA)
em junho do ano passado, a tele cita a proibição de roaming permanente no Brasil
como exemplo de regulação que impacta negativamente a implantação global. A
companhia alega ter "perdido receitas M2M" enquanto implantava a parceria local
com a Datora, além de "Capex significativo adicional", complexidade que provoca
atrasos e "custos operacionais altos em uma base constante". Afirmam ainda que
há impacto para fabricantes porque seria necessário utilizar dois SIMcards: um
global para exportações para outros países, e um específico para a exportação
para o Brasil. Antes da parceria com a brasileira, a tele chegou a tentar o
roaming permanente com a Anatel, mas sem sucesso.
Tomas Fuchs explica que sente a pressão das teles internacionais. "Óbvio que é
muito mais fácil fazer roaming permanente, você entra em acordos de roaming,
trabalha com preços do mercado e entra com a tarifação das operadoras, é uma
vantagem competitiva tremenda", explica, citando ainda a possibilidade de a
empresa utilizar a rede das quatro grandes teles no País – e não só da que
presta serviços para a MVNO, como é o caso da Datora. O executivo considera
haver um pensamento derrotista de achar que o Brasil não consegue fazer uma
solução própria, e que importa-la é melhor. "É justamente o contrário. Porque
fazer pesquisa e desenvolvimento no Brasil assim? Minha maior preocupação é a
gente achar que vai tudo se resolver porque vai ter empresas de fora podendo
(fazer roaming permanente), e eu não acho que seja uma visão tão simplista
assim", diz.
Porém, caso o Plano Nacional de IoT do governo opte por adotar o roaming
permanente no País, Fuchs reconhece que sentiria o impacto. "Vai me fazer
repensar o modelo? Vai. Vai me fazer pensar em ir para outro país", declara.
"Deixo de ter investimento no País, monto uma MVNO na Europa e resolvo meu
problema." Mas ele diz que não vê o Brasil muito aquém de outros países em M2M e
IoT atualmente: em janeiro, a base nacional registrava 12,859 milhões de acessos
(somando as duas categorias Padrão e Especial). E justifica ainda que há maior
dificuldade na hora de argumentar pelo investimento em IoT em plena crise, mas
que isso se reverterá assim que a situação econômica melhorar.
Tecnologia
A Datora assinou durante a Mobile World Congress em Barcelona na semana passada
um acordo com a Ingenu, que opera a rede dedicada a serviços de IoT Machine
Network nos EUA. A parceria implantará uma rede com a tecnologia RPMA (Random
Phase Multiple Access, que é um tipo de rede de alto alcance e baixo consumo –
LPWA) da Ingenu, e terá foco em serviços de agricultura, monitoramento
ambiental, logísticas e cidades inteligentes. A MVNO brasileira fará a
implantação e integração da rede Machine Network em Minas Gerais inicialmente, e
em mais cem áreas metropolitanas, com prazo de conclusão até 2018.