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Fonte: Teletime
[30/09/13]
Net quer convencer Anatel de que compartilhar rede de cabo é inviável - por
Samuel Possebon
A Net Serviços está tentando convencer a Anatel de que a ideia de impor à
operadora, por conta de sua posição no mercado de banda larga, a obrigatoriedade
de compartilhamento de rede é, além de inviável tecnicamente, um risco aos
investimentos que a operadora pretende fazer no mercado e à própria competição
que a operação de cabo da empresa tem proporcionado na banda larga.
A Net busca, em essência, conseguir um "feriado regulatório" para suas redes de
cabo, similar à exceção que a Anatel dará as novas redes de fibra (até porque
boa parte das redes HFC é composta de fibra). O problema da Net é que a Anatel,
ao elaborar o Plano Geral de Metas de Competição (PGMC), considerou o grupo
Telmex (o que inclui a Net) como detentor de Poder de Mercado Significativo
(PMS) no mercado de redes de acesso, tornando compulsório o compartilhamento da
rede para velocidades de até 10 Mbps. A inclusão da Net como PMS nesse mercado
se deu nos últimos instantes da aprovação do PGMC.
Segundo apurou este noticiário, o argumento que a Net levou à Anatel é o de que
não existe, em nenhum país do mundo, essa obrigação. Na verdade, há três países
que impuseram a operadoras de cabo o compartilhamento de rede: Dinamarca (onde a
incumbent controla a rede HFC), Hungria e Bélgica, sendo que nos últimos dois
casos não há efeitos práticos da obrigatoriedade do unbundling.
Especialistas ouvidos por esse noticiário lembram que a própria Lei do Cabo, de
1995, tinha um mecanismo similar ao unbundling, que previa o compartilhamento de
30% da rede, mas que nunca foi utilizado simplesmente porque era inviável
tecnicamente.
Sem frequências
Um primeiro problema, segundo disse a Net à Anatel, é técnico: a rede HFC não
comporta o conceito de unbundling, mesmo em se tratando da modalidade
intermediária, de bitstream. Isso porque a rede é uma só, compartilhada por
todos os usuários, e a distribuição dos sinais se dá por RF, e não por IP. Para
compartilhar uma parte da rede, seria necessário separar uma frequência
específica para os terceirizados e duplicar equipamentos de roteamento e banda
larga, inviabilizando economicamente a rede e a oferta competitiva. A Net hoje
não teria frequências disponíveis para segregar uma parte de sua rede para
operadores competitivos, pelo menos nas grandes cidades. Onde a rede tem espaço
ocioso é justamente onde a operadora acabou de colocar a infraestrutura em pé,
ou seja, onde vai começar a competir agora.
Além disso, mesmo que houvesse frequências para compartilhar com outros
operadores, seria necessário usar técnicas pouco ortodoxas, como o Cable Modem
Steering, algo que nunca foi utilizado em larga escala e, por isso mesmo, seria
oneroso e colocaria em risco a estabilidade da rede. Segundo engenheiros ouvidos
por este noticiário, mesmo que a rede fosse completamente IP (o que não é o
caso, nem deve ser nos próximos dez anos), fazer o unbundling de bitstream seria
possível apenas com a quebra dos princípios básicos da neutralidade de rede.
Para os operadores de cabo, o investimento em dotar a rede de capacidade para 1
Mbps e 150 Mbps é praticamente o mesmo, diferentemente do que acontece com as
redes das concessionárias de telefonia fixa, que compartilharão o obsoleto par
trançado, mas não precisam fazer o unbundling de novas redes de fibra que venham
a ser construídas.
Competição
Outro ponto crítico colocado pela Net é competitivo: onde a operadora está
presente, a penetração da banda larga é 250% maior do que onde a empresa não
está; e a velocidade é 170% maior. Ainda que a operadora seja líder no mercado
de banda larga, com cerca de seis milhões de acessos, ela não está sozinha em
nenhuma praça. E, ao contrário, prevê ampliar em 100% sua cobertura. Isso,
contudo, depende do sucesso em realizar os R$ 3,5 bilhões em investimentos
previstos, mas ainda não executados, e que podem ser revistos pelo acionista
controlador caso as regras de compartilhamento se apliquem às redes da
operadora.
Segundo dados levados pela Net à Anatel, o custo de viabilizar o unbundling de
bitstream tornaria a oferta competitiva extremamente cara aos competidores. A
operadora teria, então, feito um grande investimento sem nenhuma possibilidade
de retorno.