Fonte: Telebrasil
[24/09/07] Convergência:
utilities com Smart Grid e PLC e operadoras de telecomunicações podem somar – I
e II - Entrevista com Dymitr Wajsman, da Aptel
Por ocasião do VIII Seminário Nacional de Telecomunicações da Aptel,
realizado em Brasília (DF), a TELEBRASIL entrevistou Dymitr Wajsman, diretor
da entidade que representa as telecomunicações nas empresas de
infra-estrutura. Em foco, o relacionamento entre telecomunicações e
utilities de energia. Ambas chegam com novas tecnologias ao domicílio do
cliente, em suas respectivas redes.
A Aptel, presidida por Luiz Jatobá, tem assento nos Conselhos Fiscal e
Consultivo da TELEBRASIL.
A Associação Nacional de Empresas Proprietárias de Infra-estrutura e de
Sistemas Privados de Telecomunicações realizou seu seminário anual, o VIII
da série, de 19 a 21 de setembro, na sede da Eletronorte, em Brasília (DF),
"consoante à sua missão de estimular a modernização das empresas associadas
através da utilização de sistemas privados de comunicação e de tecnologia de
informação por ele suportados".
Reza ainda o convite, subscrito por Dymitr Wajsman, e "bem como incentivar o
uso das infra-estruturas associadas a tais sistemas no desenvolvimento dos
sistemas públicos de telecomunicações". O objetivo principal do seminário é
ser "um fórum de discussões e fonte de informações sobre o uso de tecnologia
e serviços de telecomunicações na formação de sistemas privados nas
empresas, bem como alternativas para seu atendimento".
Dymitr Wajsman é diretor de Capacitação e de Novos Negócios da Aptel e
chairman da associação internacional UTC – Utilities Telecommunications
Council dos EUA. A entrevista transcorreu em clima cordial e, por prévio
entendimento, não se abordou os assuntos Eletronet e de políticas
governamentais para os setores de infra-estrutura. O seminário da Aptel
contou com o patrocínio de empresas que também são associadas da TELEBRASIL,
tais como CPqD, Damovo, NEC, Alcatel-Lucent, Motorola, Furukawa, Globalstar,
Nokia Siemens, Nortel e Ericsson.
Dentre as palestras, a de Heden Cruz, gerente geral de Telecomunicações da
Petrobras, com Telecomunicações, elemento crítico para instalação, operação
e manutenção nas empresas de utilidade (petróleo, gás e energia elétrica); a
de Dymitr Wajsman, com " compartilhamento de Infra-estrutura entre Setores
de Telecom e Energia Elétrica "; a de Flávio Roberto Antonio, da
Eletronorte, respondendo à interrogação se Prestar serviços de
telecomunicações em empresas transmissoras de energia elétrica ainda é um
bom negócio?; e a de Iran Lima Gonçalves, da Diretoria de Negócios e
Soluções do CPqD, com utilização da Tecnologia AdHoc pelas utilities para
viabilizar o Smart Grid.
ENTREVISTA
TELEBRASIL – A que se propõe a Aptel?
Dymitr – A Aptel reúne utilities – em bom português, empresas de serviços
públicos – que possuem sistemas privados de telecomunicações. Na verdade, é
uma associação de telecomunicações específica para as empresas nas quais
telecomunicações constituem um elemento crítico para sua operação.
TB – Há quanto tempo acontecem os seminários da Aptel?
Dy – Este é o VIII Seminário Nacional de Telecomunicações. É um evento que
tem crescido de importância e vem ganhando o reconhecimento das empresas
como um fórum de discussões e troca de experiências do setor de energia
elétrica, petróleo, gás e por aí.
TB – O que é Power Grid?
Dy – Powert Grid (malha de energia) significa, basicamente, rede elétrica.
No contexto da Aptel, a rede elétrica é um meio pelo qual transitam as
telecomunicações. A malha de energia é um elemento de infra-estrutura que
precisa ser controlado e automatizado, utilizando telecomunicações e TI
(tecnologia da informação) para fins empresariais e de melhoria de serviços
junto aos usuários.
TB – E o Smart Grid?
Dy – É uma denominação para sistemas de telecomunicações que estão sendo
estudados na Europa, nos EUA (lá se denominam Inteligent Grid ) e em outros
países para a rede elétrica ou qualquer fluxo industrial. O Smart Grid
inclui elementos de controle automatizados e telemedidos que incorporam
determinado grau de inteligência. Na rede elétrica, o Smart Grid envolve
infra-estrutura de medição automática, corte por inadimplência e religamento
de rede elétrica.
TB – O conceito de Smart Grid vai até o cliente final?
Dy – Sim. O Prêmio Apex - Aptel de Excelência (N.R. Motorola patrocinou)
premia a empresa que melhor utiliza tecnologia para seus fins empresariais.
Foi premiada a Ampla (concessionária de energia elétrica no Estado do Rio de
Janeiro) por ter incluído características de rede inteligente em sua rede.
TB – Como assim?
Dy – A Ampla tinha um alto índice de perda de energia, por furto ou por
perda técnica, e, em dois anos, reduziu em 20,37%, e com a montagem de uma
rede diferente (N.R. Rede de Distribuição Aérea Transversal – DAT) dotada de
medidores inteligentes nos postes (Leitura Automática de Medidores – AMR).
TB – Ainda há mais?
Dy – Sim. O sistema utilizado na Ampla tem uma LAN (local área network) que
utiliza tecnologia Wi-Fi (sem fio), PLC (power line commmunication) para
transferir SMS (short message service) para centros de controle. Foi
desenvolvido um software para controlar os usuários, visando cortar o
fornecimento dos inadimplentes e religar quando quitam sua dívida.
TB – Deu resultado?
Dy – Com essas medidas, a Ampla, em pouco tempo, reduziu suas perdas em
20,37% (N.R. equivalente a um ganho operacional acumulado até 2007 de R$ 2,8
milhões). A Ampla utilizou diversos níveis de atuação e várias tecnologias e
por isso foi premiada com o prêmio Apex.
O Smat Grid, a malha inteligente das empresas de energia elétrica e as
operadoras de telecomunicações são discutidos.
TB – Agora, duas perguntas sobre o Smart Grid e que têm a ver com o setor
detelecomunicações ...
Dy – Pois não.
TB – O Smart Grid é só para prestar serviços internos para a utlility ou
também é para prestar outros serviços (de telecomunicações) para o cliente,
já que a rede está lá na casa dele?
Dy – E qual seria a segunda pergunta?
TB – Como o setor de telecomunicações pode participar ou somar com as
utiliities referente ao Smart ou Inteligent Grid?
Dy – Muito bem, vamos por partes. Na verdade, o Smart Grid é a utilização da
tecnologia de telecomunicações para melhorar o desempenho das utilities
junto a seus clientes. Como isso acontece? Se você evitar fraudes e colocar
mais "usuários pagantes" na rede, reduz-se o custo para seus clientes. Se
você reduz as fraudes, reduz-se o custo para os clientes que pagam.
TB – Isso é o ângulo da empresa de energia elétrica ...
Dy – Exatamente. Tal redução de custos só é possível utilizando
telecomunicações.
TB – Então, telecomunicações são importantes para as utilities ?
Dy – As telecomunicações são um elo importantíssimo. Nós a chamamos de
telecomunicações críticas.
TB – Criticas?
Dy – Sim. Tudo que você faz em uma empresa de energia elétrica ou de
petróleo, gás, enfim, em qualquer empresa de serviços públicos, é apoiado
nas telecomunicações. Sem telecomunicações nada funciona. Hoje, tudo é
remoto, tudo é controlado.
TB – Muito bem, vamos à segunda pergunta.
Dy – Como as empresas do setor de telecomunicações podem participar ou somar
com as utiliities referente ao Smart ou Inteligent Grid?
TB – Sim. As utilities poderiam prestar serviços de telecomunicações?
Dy – Eu não estou vendo isso. Esse pensamento já ocorreu lá nos idos de
1996/1997, quando as empresas de energia elétrica pensavam em abrir grandes
empresas de telecomunicações. Depois, com o advento e melhoria da tecnologia
PLC, as utilities pensaram que elas poderiam prestar serviços de
telecomunicações.
TB – Isso é mundial?
Dy – Mundial. Aliás, no Brasil se repetiu o fenômeno. Várias empresas
tentaram fazer subsidiárias para prestar serviços de telecomunicações.
Discute-se a tecnologia PLC ( Power Line Communication ) que faz a
informação chegar à casa do cliente pela rede de energia elétrica.
TB – As utilities usam a tecnologia PLC para chegar à casa do cliente?
Dy – PLC é apenas uma tecnologia como qualquer outra. Não há diferença
nenhuma em relação à outra trecnologia.
TB – Então, o uso da tecnologia PLC depende do momento?
Dy – Sim. Depende da situação. Você pode ter um medidor inteligente com PLC,
para coletar seus dados. Você pode ter um medidor inteligente com WiFi, para
também coletar seus dados. Você pode coletar seus dados de qualquer forma.
TB – Apenas isso?
Dy – Bom, no momento que você tem um medidor na casa do cliente ligado por
WiFi ou por PLC, você pode estender os serviços dados a esse cliente
trazendo-lhe telefonia e dados.
TB – Sim, mas é preciso lembrar que telecomunicações é um "sistemão" mundial
em que todo mundo pode (em tese) acessar todo mundo. Isso é até representado
por uma nuvem ...
Dy – É claro que esta nuvem que você descreveu não está contida dentro da
empresa de energia.
TB – Então, não há nenhum problema regulatório envolvido?
Dy – Não vejo nenhum problema regulatório envolvido, ao se fazer serviços
internos à empresa.
TB – Internos sim, mas e a nuvem?
Dy – Para os serviços externos, a tendência mundial é que as utilities se
associem a empresas de telecomunicações para realizarem esse tipos de
serviço.
TB – Uma questão de interesse mútuo?
Dy – Sim.
TB – Então, não há problema?
Dy – O problema todo reside numa dicotomia.
TB – Uma dicotomia?
Dy –Sim. As empresas de telecomunicações desejam receber uma rede pronta (a
rede elétrica) para instalar seus terminais nas dependências do cliente.
TB – E as utlilities?
Dy – Já para estas só interessam instalar esses terminais quando houver
interesse para a automação de sua rede de energia, ou seja, quando houver
Smart Grid.
Prossegue a entrevista, que toca nos assuntos da disputa pelo cliente de
telecomunicações e na inclusão social.
TB – Conclui-se da dicotomia?
Dy – Bom, enquanto não houver um acordo entre essas duas vertentes –
empresas de energia e operadoras de telecomunicações –, as empresas de
energia vão fazer aquilo que irá melhorar sua performance técnica e as
operadores de telecomunicações vão procurar meios de instalar os melhores
sistemas a seus clientes, sem utilizar, a meu ver, um meio muito
interessante.
TB – O que acontece no restante do mundo?
Dy – Nos EUA, diversas empresas já ultrapassaram esse estágio.
TB – Um exemplo?
Dy – Uma grande utility no Texas está instalando uma rede de
telecomunicações que vai prestar serviços aos clientes. É uma tendência
mundial com casos de sucesso e outros de insucesso.
TB – Fale-nos dos casos de sucesso ...
Dy – As utilities que se associam a operadoras de telecomunicações têm mais
chances de sucesso, a longo prazo.
TB – E no Brasil?
Dy – Está acontecendo algo que o Brasil precisa muito. As empresas de
energia elétrica estão trabalhando muito o lado social. Hoje, existem
experiências como o caso Procempa no Rio Grande do Sul, que, junto com a
empresa de energia, está fazendo experiência na grande Porto Alegre.
TB – Fale mais sobre empresa de energia ajudando na inclusão digital.
Dy – No Brasil, o que se começa a ver é o uso das tecnologia PLC e outras
que podem trafegar sobre as redes de infra-estrutura para a inclusão social.
É uma área onde o Governo pode ser um player .
TB – Então se trata de usar PLC para o velho problema da última milha?
Dy – Sim. No Brasil, a tecnologia PLC está sendo vista como uma das
tecnologias para solução da última milha. É ela que, "mixada" com fibras
ópticas ou Wi-Fi, pode ser empregada para missões em aplicações de cunho
social.
TB – Seriam empresas de energia elétrica de telecomunicações somadas?
Dy – O melhor caso de inclusão está situado em Porto Alegre. Participam
quatro entidades: a CEE – Companhia de Energia Elétrica –, com suas fibras
ópticas; a Procempa, que faz o processamento de dados da Prefeitura com a
tecnologia de TI; o Ceta-Senai RS, que trouxe a tecnologia de medicina de
longa distância; e a UFRS, com o know-how acadêmico. Essas quatro entidades
desenvolveram um grande projeto envolvendo fibras ópticas, PLC e wireless.
Integraram um bairro chamado Restinga, a 40 quilômetros de Porto Alegre.
TB – Quem dá a última milha é o PLC?
Dy – Sim. O erro que se fazia era pensar que determinada tecnologia podia
ser dominante perante as outras. Hoje, o entendimento é que PLC no Brasil e
no mundo – vou fazer uma palestra na Alemanha sobre isto – é uma
possibilidade rápida de se fazer uma inclusão social.
A entrevista passa a tratar de entendimento entre Aptel e TELEBRASIL
referentes ao Smart Grid e inclusão digital.
TB – Como jornalista, tenho curiosidade sobre a viabilidade de uma
aproximação, digamos um “memo de entendimento”, entre Aptel e TELEBRASIL
enfocando o problema da inclusão digital e do Smart Grid?
Dy – É totalmente viável.
TB – É viável, mas é também desejável?
Dy – Com certeza. A Aptel é uma entidade que representa as telecomunicações
das empresas de energia, gás e petróleo. Elas utilizam as redes de
telecomunicações públicas das operadoras para prestarem seus serviços. Essas
utilities têm interesses e negócios com as operadoras de telecomunicações.
TB – Elas são provedoras umas das outras ...
Dy – Sim. Então, em princípio, não há nada contra para haver entendimentos.
Obviamente, uma associação é uma associação. Ela precisa auscultar seus
associados ...
TB – ... uma Assembéia Geral ou uma pesquisa interna ...
Dy – ... e ver com quem está tratando, definir os parâmetros dos
entendimentos e avaliar se há interesse. Por que uma associação pode
certamente influenciar, mas ela não define a ação de seus associados. Entre
as empresas de energia elétrica e as operadoras de telecomunicações, é
normal que hajam pontos em que elas concordam e outros sobre os quais podem
discordar.
TB – As empresas são clientes umas das outras ...
Dy – Sim. Elas podem utilizar, de maneira complementar, as redes das outras.
Isso é extremamente favorável.
TB – Isso é concórdia?
Dy – Sim. É a concórdia, mas também há pontos de discórdia.
Nesse momento, a entrevista passou a discutir o problema do preço cobrado
pelo uso de dutos e postes.
TB – Um exemplo de discórdia?
Dy – O compartilhamento da infra-estrutura.
TB – Dutos e postes?
Dy – Uns acham que têm o direito de usar a infra-estrutura dos outros por um
determinado preço que esses outros acham que não é o preço adequado.
TB – Existem órgão reguladores, Anatel e Aneel...
Dy – Sim. Está em audiência pública o assunto do compartilhamento da
infra-estrutrura. O uso dos postes e dos preços envolvidos. A idéia de
consulta pública é fazer uma fórmula de preço. Esse preço regulado pelas
agências não está em lei nenhuma, então não sabemos se é legal. Só existe
fórmula de preço nos Estados Unidos.
TB – Como é regulamentação desse assunto nos EUA?
Dy – A regulamentação sobre a infra-estrutura nos EUA sofre de uma
distorção. Só a FCC que trata de telecomunicações regula. A FERC ( Federal
Energy Regulatory Commission ), a Aneel de lá, não regula o preço do uso de
poste. Na Europa, tudo é negociado e não há discórdia. A Nota Técnica que
foi emitida pela Agência sinaliza a utilização do modelo norte-americano.
TB – No Brasil e nos EUA, a regulamentação sobre compartilhamento de
infra-estrutura difere?
Dy – Sim. Nos EUA, quem entra na justiça sobre o preço cobrado pelo uso de
infra-estrutura são as empresas de energia elétrica e no Brasil são as
empresas de telecomunicações.
Finalizando ...
Dy – Pela Diretoria da Aptel e, obviamente, consultados nossos associados,
posso dizer que temos o máximo de interesse em falar com os associações e as
empresas de telecomunicações e verificar quais os pontos realmente
necessários onde devam ocorrer acordos.
TB – Como isso poderia ser feito?
Dy – Isso é fácil de fazer. As associações reúnem suas próprias diretorias e
verificam que pontos devem ser objeto de acordo e consultam seus associados.
TB – Então, as empresas de energia, em relação às de telecomunicações,
mantêm uma posição pragmática?
Dy – As empresas de energia elétrica estão utilizando cada vez mais os meios
de telecomunicações para melhorar seu desempenho, em seu core business.
Todas as sobras de rede, enfim, tudo que puder ser aplicado em negócios de
telecomunicações, as empresas de energia vão certamente buscar parceiros.
TB – E as empresas de telecomunicações são um parceiro natural ...
Dy – Exato e as associações têm como finalidade mediar um acordo dentro dos
parâmetros que já comentei na entrevista.
TB – Alguma coisa que queira acrescentar?
Dy – Não, apenas muito obrigado.
Por ocasião do VIII Seminário Nacional de Telecomunicações da Aptel,
realizado em Brasília (DF), a TELEBRASIL entrevistou, em mesa-redonda, José
Gonçalves Viera e Agostinho Celso Pasqualicchio da Associação Nacional de
Empresas Proprietárias de Infra-estrutura e de Sistemas Privados de
Telecomunicações. Em foco, o impacto das tecnologias Smart Grid e PLC
utilizadas pelas utilities nas convergências das telecomunicações e as
perspectivas de parceria entre as distribuidoras de energia elétrica e as
operadoras de telecomunicações.
A Aptel, presidida por Luiz Jatobá, tem assento nos Conselhos Fiscal e
Consultivo da TELEBRASIL.
Em entrevista exclusiva, a TELEBRASIL ouviu dois especialistas com
experiência no setor de energia elétrica que detalharam e comentaram, com a
segurança de quem trabalha a muitos anos no meio, aspectos interessantes
sobre a tecnologia PLC ( Power Line Communication ), sobre o emergente
conceito de Smart Grid , além da sinalização sobre um road map para
aproximação entre distribuidores de energia elétrica e operadores de
telecomunicações.
O engenheiro José Gonçalves Viera, tocantinense de Indianópolis, é
superintendente de Novos Negócios e Captação da CELG (Companhia Energética
do Estado de Goiás) – uma das empresas fundadoras da Aptel, em abril de 1999
– e é diretor de Inovações Tecnológicas da Associação Nacional de Empresas
Proprietárias de Infra-estrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações.
Ele é engenheiro de telecomunicações pela UnB (1977). Agora está voltado
para o desenvolvimento de negócios.
O economista Agostinho Celso Pasqualicchio, goiano de Anápolis, está há 20
anos no setor de energia elétrica, com experiência na Eletropaulo. Hoje é
professor da Universidade Mackenzie (SP) e consultor da Aptel. Ele é
economista pela USP com pós-graduação na Universidade de Illinois (USA).
ENTREVISTA
TELEBRASIL – Em que estágio técnico se encontram o PLC ( Power Line
Communication ) e o Smart Grid ( rede inteligente )?
Viera – Em 1999, a Aptel realizou, no Rio de Janeiro, seu primeiro seminário
sobre PLC da América do Sul (N.R. a TELEBRASIL cobriu o evento). Nessa
época, achávamos que essa tecnologia tinha tanto obstáculos que dificilmente
iria vingar. Falava-se em 20 e 30 anos para que o PLC ficasse viável.
TB – E agora, passados oito anos?
Vi – Tal como o celular e o computador pessoal, a tecnologia PLC agora é uma
realidade. É uma tecnologia bastante adequada para um nicho do distribuidor
de energia elétrica, pois utiliza a capilaridade da rede elétrica.
TB – Estamos falando no PLC que chega ao cliente ou o que fica na alta
tensão?
Vi – Há dois tipos de PLC: o indoor , que chega, em tese, a todas as tomadas
elétricas da casa, e o PLC de acesso. De uma maneira bem geral, o PLC tem um
equipamento master, próximo ao transformador de energia elétrica, um outro
equipamento no quadro elétrico da casa e um modem que fica dentro do
domicílio.
TB – E o PLC em média tensão?
Vi – Já estamos trabalhando com o PLC em média tensão, isto é, até 13.8 kV.
Na CELG, temos um P&D já aprovado pela Aneel e em franco desenvolvimento
junto à Fitec, cujo título é Aplicação de PLC em média tensão banda larga
para supervisão de rede elétrica dentro do conceito de Smart Grid .
TB – O PLC, no Brasil, é utilizado nos domicílios ou pela empresa de
energia?
Pasqualicchio – Em ambas as situações.
TB – E a questão dos custos?
Pa – Eu acho que os custos ainda podem baixar. O potencial de uso, sobretudo
em domicílios mais antigos – em que os eletrodutos têm dificuldade em arcar
com uma nova fiação – é muito elevado. Com sua popularização, os custos do
PLC indoor devem baixar e o potencial de inserção digital dessa tecnologia
nas próprias casas deverá aumentar.
TB – Então, a inclusão digital pode ocorrer via PLC?
Vi – Não só pode como deve. A Aptel, em 2004, juntamente com outros
parceiros, desenvolveu o Projeto Barreirinhas, no Maranhão. Nesse projeto, o
PLC ajudou a comunidade dando-lhe acesso à informação.
TB – Já houve outros Barreirinhas?
Vi – Estamos partindo para o Barreirinhas 2, com maior quantidade de pontos.
A própria CELG instalou PLC em suas dependências. A Eletropaulo tem
desenvolvido um trabalho muito significativo. A CEE do Rio Grande do Sul e a
própria Copel também têm aplicações.
A entrevista prossegue com diálogo técnico e econômico sobre a tecnologia
de Power Line Communication e surge o Projeto Opera da UE.
TB – Qual a taxa de transmissão do PLC?
Vi – Os atuais equipamentos de PLC já estão com taxa nominal de 200 Mbit/s.
Pesquisas recentes indicam que as taxas do PLC podem ainda ser mais altas.
No início, essas taxas eram de poucos Mbit/s. O conceito que hoje utilizamos
na CELG é o de um mix de tecnologias. A tecnologia PLC se adequa ao ambiente
de rede de transmissão e ao multisserviço, tanto indoor quanto em média
tensão.
TB – O PLC é utilizado para medição do consumo de energia elétrica?
Vi – Quando se fala em serviços PLC para distribuição de energia elétrica, a
medição do consumo é um nicho extraordinário e que se adequa muito bem. Haja
visto que o meio de transmissão é o próprio cabo elétrico. A aplicação do
PLC não é só na parte de medição, mas também na de supervisão de rede, de
controle de fraudes.
TB – Já houve algum estudo de custos sobre o uso do PLC para a inclusão
digital?
Pa – Sim. Diversos estudos foram feitos. Um dos mais interessantes é o de
Barreirinhas, no sul do Maranhão, com IDH (índice de desenvolvimento humano
) de menos que 450, o que é muito baixo. Em Barreirinhas, há uma quantidade
grande de escolas. A CELG e a Eletropaulo, juntamente com outros
fornecedores, trouxeram a conexão Internet para a comunidade via sistema
satelital GESAC, com distribuição pelo PLC.
TB – É economicamente viável?
Pa – É especialmente viável. Você utiliza a rede elétrica. Ela é um bem que
está lá e que não deve ser subutilizado de forma nenhuma.
TB – Já há fabricação local de PLC?
Vi – Utilizam-se componentes importados. O que se tem aqui são
representantes de fabricantes estrangeiros.
TB – O que é o projeto Opera (N.R. Open PLC Rechearch Alliance)?
Pa – É um projeto da Comunidade Européia ( N.R. integra o projeto banda
larga para todos ), constituído por 11 países europeus mais o Brasil, que é
representado pela CELG. São 26 entidades participando. É um projeto muito
importante, que dá visibilidade ao Brasil lá fora.
TB – Vai haver financiamento?
Vi – Em parte. Nós entramos com metade dos custos, digamos assim. O projeto
Opera já está em andamento e vai até 2008. Vão ser três testes de campo na
Europa – Lisboa, Madri e Áustria – e um no Brasil, na CELG.
TB – E o Opera em relação à UTC norte-americana?
Vi – A diversidade vai somar para nós. Não se estuda mais a viabilidade do
PLC; essa fase acabou. O Opera é um imenso projeto para estudar aplicação e
desenvolvimento de negócios. No Opera são oito grupos de trabalho, com a
CELG participando de quatro. Eu gosto muito de citar o grupo de trabalho n o
6, que é sobre business plan para uso da tecnologia PLC.
TB – Então, o PLC é uma realidade?
Pa – Os subúrbios parisienses já usam. A cidade de Saragosa, na Espanha, já
utiliza PLC em um experimento para voz, dados e imagens.
Vi – O Projeto Opera abrange esses três serviços e mais as aplicações do
controle da distribuição de energia elétrica com telemedição, telemetria,
telessupervisão e telecontrole.
A entrevista passa a discutir o conceito de Smart Grid ou rede
inteligente.
TB – E o Smart Grid nesse contexto?
Vi – O Smart Grid é um conceito que chegou há pouco no Brasil, mas que na
Europa e nos EUA já vêm sendo desenvolvido há algum tempo. Genericamente, o
Smart Grid é um projeto no qual você vai aplicar uma plataforma e meios de
comunicação. Com eles, você vai supervisionar a rede de distribuição de
energia elétrica em vários de seus aspectos, dentre eles, interrupção de
energia, qualidade da rede e medição.
TB – O Smart Grid utiliza a própria rede de energia elétrica?
Vi – Na verdade, Smart Grid é um conceito formal e operacional para uma rede
elétrica eficiente. Pode utilizar qualquer tecnologia para prover dados
necessários a essa finalidade. Dentro desse conceito de rede elétrica
eficiente – um conceito que se quer para o Brasil –, a Aptel está
trabalhando juntamente com a Universidade Mackenzie (SP).
TB – Como o Projeto Opera se relaciona ao conceito de Smart Grid?
Vi – No conceito do Opera, como eu fiz questão de explicar, vai haver um
grupo de trabalho coordenado pela Diretoria da Aptel sobre Smart Grid . Este
é um novo conceito, irreversível, para automação da operação de energia
elétrica com custo/benefício altamente favorável. Temos utilities no Brasil
bem adiantadas quanto ao uso do Smart Grid , como, por exemplo, a
Eletropaulo.
TB – Como funciona o Smart Grid?
Pa – Ele é um conceito que traz diversas vantagens, dentre elas a otimização
dos custos de infra-estrutura da empresa. Por exemplo, na falta de energia
em determinado segmento do sistema, hoje, pelo sistema tradicional da década
de 60/70, não se contempla a imediata recomposição da rede.
TB – São os apagões?
Pa – Exatamente, são os apagões. Na verdade, se houver um sistema
inteligente que isole a parte que foi afetada ou prejudicada no sistema de
energia, isto passa a ser uma vantagem muito grande para a empresa, ao
reduzir custos com manutenção de estruturas e de atendimento a clientes em
call centers.
Vi – O Smart Grid, rede inteligente ou rede eficiente, faz o controle de
falhas, a automação de alimentadores e de subestações e integra processos.
Permite que a distribuidora de energia elétrica tenha uma estratégia para
com seus clientes, orientando-os sobre a melhor forma de consumir a energia.
O conceito de Smart Grid para energia elétrica equivale, em
telecomunicações, ao conceito de controle de módulos e componentes da rede.
TB – A idéia básica do Smart Grid ?
Vi – O que se quer, agora, é enxergar a rede de energia elétrica sob a ótica
da inteligência dessa rede para com os consumidores. Para isso, precisamos
implantar uma plataforma de telecomunicações.
TB – Os investimentos para o Smart Grid são elevados?
Pa – Não, frente aos benefícios colhidos. A prospecção de custo/benefício,
levando em conta diferentes arquiteturas e técnicas e com base em
determinado nível de investimentos, indica resultados totalmente favoráveis.
Hoje, a relação custo/benefício do Smart Grid no Brasil é de 1:3 a 1:5. Ou
seja, você vai investir uma unidade e seu retorno será três a cinco vezes
maior na média quatro vezes.
TB – As arquiteturas do Smart Grid são proprietárias?
Pa – Sim, por enquanto.
TB – Que aplicações de Smart Grid existem no mundo?
Vi – Trata-se de um conceito relativamente novo. Recebemos, através da
Aptel, um convite para visitar um grande projeto nos EUA. No Texas, há um
projeto de Smart Grid em franca operação. No Brasil, já existem empresas
distribuidoras interessadas (N.R. o entrevistado lê uma longa lista), além
da Universidade Mackenzie e da USP e da própria Aptel, que firmou um
convênio "guarda-chuva" com a Mackenzie.
TB – Em termos de Smart Grid, vão ser só projetos-piloto ou vai ser "para
valer"?
Vi – Ótima esta sua observação. Agora não se trata mais de dizer que vamos
estudar alguma coisa e que ela poderá vir a se tornar realidade, tal como no
começo do PLC. Agora são projetos de desenvolvimento e de aplicação nas
distribuidoras de energia. E o PLC? Como ele transmite seus dados através da
rede de energia elétrica, é uma das tecnologias – talvez uma das principais
– que integra o conceito de Smart Grid .
A entrevista passa a tratar da convergência entre as empresas
distribuidoras de energia elétrica e as operadoras de telecomunicações.
TB – Uma pergunta em tema amplo, o Smart Grid permitirá que as empresas de
energia elétrica ofereçam serviços de telecomunicações?
Vi – Essa colocação é importante. O conceito de Smart Grid é direcionado
para dar mais eficiência ao sistema de energia elétrica e cria um mercado
competidor. Em minha opinião, a médio prazo, as empresas distribuidoras de
energia competem entre si e a que for mais eficiente vai levar vantagem. É
bom lembrar que no conceito de Smart Grid , o que se quer é o controle de
todos os processos, de maneira automatizada.
TB – Sim, mas como é que fica o Smart Grid no oferecimento de serviços de
telecomunicações?
Vi – Veja bem, não vamos misturar conceitos. O Smart Grid precisa de uma
plataforma de comunicação para oferecer as descritas facilidades. É preciso
estabelecer um projeto de rede de comunicação para que o Smart Grid possa
oferecer todas essas facilidades.
TB – Isso é uma das vertentes...
Vi – Sim. Agora, como a gente pode ter um modelo de parceria?
TB – Um modelo de negócios?
Vi – Isso, um modelo de negócios. Eu, particularmente, defendo que as
operadoras de telecomunicações podem ser boas parceiras. Não aquele modelo –
se me permite a colocação – do compartilhamento de postes.
TB – Postes estão fora dessa discussão, não é?
Vi – Sim. A disputa do aluguel de postes está totalmente fora. São coisas
totalmente diferentes do PLC e do Smart Grid . É bom nem lembrar. É um ponto
de atrito. O que queremos não são pontos de atrito e sim de convergência.
Algumas operadoras de energia elétrica estão com o conceito de utilities .
No caso, é formar sua plataforma de comunicação e fazer parcerias para cair
na "nuvem" oferecida pelas telecomunicações.
TB – Haveria clima para as operadoras de telecomunicações participarem na
implementação do Smart Grid e disponibilizarem serviços?
Pa – Eu vou sustentar minha colocação em termos estruturais. Hoje em dia, o
ser humano gasta um terço da energia total disponível no Planeta com
transportes. Não sei o quanto o setor de telecomunicações pode colaborar,
quanto à redução do consumo de energia. Aparentemente, energia elétrica e
comunicações são setores distintos e opostos, mas estão aí integrados.
TB – Estão convergindo?
Pa – Exatamente, trata-se de convergência. Tenho observado uma coisa curiosa
em nossas palestras na Aptel. Empresas que aparentemente teriam tecnologias
e soluções opostas com base em telecomunicações, hoje, totalmente
divergentes, propõem a sua integração. Você agora tem uma plataforma e
aquele conceito da década de 90 de oferecer tudo com exclusividade está
sendo superado. Uma empresa pode oferecer uma solução, incluindo a
integração com uma plataforma de outra empresa que seria supostamente sua
concorrente.
TB – De onde se conclui?
Pa – Concluímos que o benefício para todas as empresas é interessante, pois
ocorre um redução brutal de custos com ganhos de eficiência.
TB – Então, poderia haver um entendimento entre os segmentos de energia
elétrica e de telecomunicações?
Vi – Eu acredito que estamos chegando a uma fase bastante interessante,
envolvendo os conceitos de convergência e de integração de facilidades. É
hora para sentar à mesa e conversar sobre isso. No caso da CELG, estamos
abertos para haver um planejamento conjunto, em que se conjuguem esforços e
facilidades.
TB – Já houve algum estudo, de ordem jurídica ou regulatório, sobre essa
convergência?
Pa – Nós, na Aptel, fazemos um acompanhamento muito grande da legislação e
ao mesmo tempo mantemos um objetivo de integração. A Aneel é para o setor
elétrico, a agência regulatória de base, em conseqüência do modelo
implantado em 1990, com o conceito de modicidade.
TB – O que vem as ser modicidade?
Pa – Para o setor de energia elétrica, é o conceito para que a população
goze de um produto de qualidade, ao mais baixo preço. Por exemplo, o fim do
descruzamento tarifário que o setor tinha até recentemente. A proposta para
o descruzamento tarifário veio do uso do conceito de modicidade tarifária.
Em qualquer receita adicional ou ganho de produtividade do setor de energia
elétrica, uma parcela deve ser transferida para benefício da população.
TB – As telecomunicações tem o conceito de modicidade?
Pa – Não. Nas telecomunicações, o princípio é o de que ganha quem apresentar
o menor custo. Por exemplo, o preço dos serviços de provedores de Internet
varia de acordo com as bases que eles deve amortizar, pelo princípio de
custo/benefício. Então ganha, para qualidades iguais, quem apresentar o
menor preço.
A entrevista discute o conceito de um possível road map entre dois
importantes segmentos da infra-estrutura.
TB – Como seria um road map para a convergência entre empresas de energia
elétrica e as operadoras de telecomunicações?
Vi – Historicamente, as empresas de energia elétrica sempre tiveram pactos
próprios para as suas áreas operativa, distributiva e de controle comercial
de seus clientes. Recentemente, as empresas de energia elétrica desejaram
potencializar o melhor o uso de sua infra-estrutura para outro tipo de
serviços. Daí o PLC e o Smart Grid para baratear e dar melhor serviços a
seus clientes.
TB – E o road map ?
Vi – Eu acho que se abre um caminho para a convergência entre as operadoras
de telecomunicações e as empresas de energia elétrica. Na verdade, algumas
empresas de energia elétrica já possuem em seu core business, a prestação de
serviços de telecomunicações para os meios corporativos em parceira. Temos a
Copel Telecom, a Infovias da Cemig, a Eletropaulo e a CELG e outras empresas
trabalham dentro dessa ótica. Não no sentido de competir e sim de agregar
valor a seu core principal de negócios, através de parcerias. As prestadoras
de serviços de telecomunicações encaixam 100% dentro dessa ótica.
TB – Palavras finais?
Vi – A Aptel vai trabalhar em conjunto com seus colaboradores, empresas
distribuidoras, universidades, indústria, fornecedores, órgão governamentais
no conceito de Smart Grid para que ele saia da fase dos conceitos e dos
estudos e passe para a de soluções práticas para o bem da sociedade.
Firmamos um convênio guarda-chuva com a Mackenzie e vamos convidar
colaboradores para encontros multidisciplinares, inclusive para o Smart Grid
.
TB – Incluindo o setor de telecomunicações?
Vi – Talvez não no início, pois se está modelando o conceito, mas certamente
abrem-se parcerias a médio prazo.
Pa – O que estamos pensando é o que será o setor elétrico das próximas
décadas. Ele não é mais um setor com as idéias de 1960 e 1970. Ele vai usar
toda a integração e toda a inteligência que o ser humano criou em benefício
da sociedade. O setor elétrico quer colaborar com a inclusão digital, com o
setor de educação e o bem estar da população. A proposta futura do setor
elétrico e da Aptel é esta.